Edição 87

É dia...

14 de Março: Dia Nacional da Poesia

Augusto França

A equipe Construir Notícias não poderia falar de poesia sem destacar o município pernambucano considerado o berço imortal da poesia, São José do Egito, que fica a 404 quilômetros da capital.

São José do Egito é uma das cidades do Sertão do Pajeú mais conhecidas. Teve início no século XIX, quando fazendeiros construíram ali uma capela dedicada a São José, em torno da qual foi surgindo a povoação. Antes de ter esse nome, a cidade foi chamada de outros dois nomes: São José das Queimadas e São José da Ingazeira.

A cidade respira arte. As crianças adquirem o prazer pela poesia já nos primeiros anos escolares, pois, em São José do Egito, a disciplina Poesia Popular compõe o currículo da rede municipal de ensino. O ponto turístico mais conhecido de São José é o Beco de Laura, ou Travessia Cultural do Centro Antigo. Entre as décadas de 1950 e 1960, localizava-se no beco o hotel de Dona Laura; então, o local ficou conhecido por esse nome. O beco passou por uma reforma, tendo sido reinaugurado no dia 17 de julho de 2013.

Todas as paredes das construções do beco têm poemas de poetas populares, como Cancão, Biu Crisanto, Antônio Marinho, Neném Patriota e vários outros, além de conter também pinturas que imortalizaram a imagem desses poetas. O beco também dá acesso à Igreja Matriz de São José, outro ponto turístico bastante procurado por quem visita a cidade. Além do beco, podemos encontrar o Sebo Cultural da cidade de São José do Egito, cujo acervo de livros novos e usados, CDs, DVDs, folhetos e muita poesia faz com que o visitante adentre não só no universo cultural da poesia de autores nacionais, mas principalmente dos da região do Pajeú.

A cidade tem vários codinomes. Capital do Repente, Terra da Poesia e Berço Imortal dos Cantadores são alguns de seus nomes expostos nas paredes do beco, que encantam e inspiram quem por ali passa. Em São José do Egito há um poeta a cada esquina, como afirmam as pessoas que lá vivem.

Nesta fonte perene do sertão
Eu me banho de verso todo dia.
Arlindo Lopes “Pirraia”

Segundo Neném Patriota, poeta e professor, em 1830 já havia cantador na cidade de São José do Egito. As raízes culturais dos cantadores, assim como a forma como eles compõem seus versos à base de improvisação e perfeição métrica fizeram com que Ariano Suassuna (na época com 19 anos de idade) e Rogaciano Leite pedissem a Valdemar de Oliveira para organizarem o primeiro festival de cantadores no Teatro de Santa Isabel, no Recife. De imediato, receberam um não como resposta, pois os cantadores eram tidos na época como um subproduto da poesia e, em um palco onde se apresentaram grandes nomes, como Castro Alves, Rui Barbosa e Tobias Barreto, violeiros não poderiam se apresentar. Mas Ariano e Rocaciano insistiram e acabaram sendo atendidos. No segundo dia de apresentações, Valdemar de Oliveira estava chorando na plateia, impressionado com os cantadores. Manuel Bandeira, assistindo à apresentação de cantadores, ficou tão impressionado que escreveu os versos que se seguem:

imagem_27Cantadores do Nordeste
Manuel Bandeira

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição
Vi cantar Dimas Batista
E Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João,
Um, a quem faltava um braço,
Tocava c’uma só mão.
Mas como ele mesmo disse
Cantando com perfeição
Para cantar afinado
Para cantar com paixão
A força não está no braço
Ela está no coração.
Saí dali convencido
Que não sou poeta, não,
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
Otacílio, seu irmão,
Como faz qualquer violeiro
Bom cantador do sertão
A todos os quais, humilde,
Mando a minha saudação.

Quando os poetas populares da cidade são indagados sobre de onde vêm tantos poetas, alguns dizem que, segundo a lenda, um cantador, antes de morrer, enterrou uma viola às margens do Rio Pajeú. Sendo a lenda verdade ou não, São José do Egito é realmente o berço nacional dos cantadores, terra da poesia e merece todos os nomes e reconhecimentos que a ela são dados.

Agradecemos ao Secretário de Cultura, Turismo e Esporte da cidade de São José do Egito, senhor João Carlos Rocha, pelas fotos e informações cedidas para a composição desta matéria.

Augusto França é pedagogo. Contato: franca.augusto@outlook.com.

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