Edição 82

Profissionalismo

A afetividade no processo de ensino-aprendizagem

Maria Ione Alexandre Coutinho

1. Introdução

As rápidas transformações ocorridas na sociedade e a intensidade com que as informações se modificam cada vez mais se refletem no ensino. Desse modo, exige-se que a escola não seja uma mera transmissora do saber, mas que propicie um ambiente estimulante; que privilegie a descoberta, a criatividade; que permita que a criança construa o seu conhecimento de forma mais motivada, significativa e prazerosa; que favoreça o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva; que propicie um espaço onde existam trocas de experiências, diálogo, cooperação e afetividade no processo de ensino-aprendizagem.

A escola atualmente é o local onde o aluno permanece grande parte de sua vida. Consequentemente, desempenha uma função importante na formação desse aprendiz. É indispensável enxergar o educando como um ser singular, pensante, construtor do seu próprio conhecimento e, de certa forma, composto por seus afetos, suas emoções, seus sentidos e suas percepções.

Frente a esse contexto, torna-se evidente que uma das dimensões mais importantes no processo de ensino-aprendizagem é a dimensão afetiva, pois sua presença na educação potencializa e impulsiona o processo educativo de tal forma que o educando se sente mais motivado pela aprendizagem que lhe é proposta.

A relação entre afetividade e cognição no desenvolvimento do educando e no contexto educacional está diretamente relacionada com o bom desempenho escolar. A criança que se sente amada, valorizada e respeitada adquire autonomia e confiança, desenvolve uma autoestima positiva acerca de si mesma, o que significa que ela terá mais condições de aprender e desenvolver a sua personalidade. Nesse sentido, essas questões nos despertam a necessidade de uma maior reflexão e compreensão acerca da relação que a afetividade estabelece com a aprendizagem do educando, assim como sua importância e suas contribuições no processo educativo.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a contribuição da afetividade na aprendizagem das crianças na escola.

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2. Conceituando afetividade

A afetividade é a dimensão constituinte de todo ser humano, ela exerce um papel fundamental na nossa vida psíquica, pois as emoções e os sentimentos são os “combustíveis” que alimentam o nosso psiquismo e estão presentes em todas as expressões de nossa vida. É a mais evidente manifestação da nossa subjetividade, na qual se encontram os sentimentos, as emoções, as paixões, o medo, o sofrimento, o interesse, a tristeza, a alegria. Nesse aspecto, podemos considerar a afetividade como:

[…] o conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob as formas de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre de impressão de dor ou de prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (BARRETO, 1998, p. 71).

Segundo Capelatto (2005), a afetividade é a dinâmica mais profunda e complexa da qual o ser humano faz parte. Surge a partir do momento em que um sujeito se liga ao outro através do amor. É a mistura de todos os sentimentos: amor, ciúme, raiva, inveja, saudade; e aprender a cuidar corretamente de todas essas emoções é que vai possibilitar ao sujeito uma vida emocional plena e equilibrada.

A dimensão afetiva pode ser considerada como a energia vital que impulsiona e conduz o homem no transcorrer de sua existência. A afetividade move o sujeito para que ele possa desempenhar a ação. Desse modo, é um elemento indispensável no desenvolvimento humano, pois a sua presença ou a sua ausência influencia definitivamente esse desenvolvimento; ela é a “substância” que nutre as nossas ações e que consequentemente potencializa a vida.

Nesse sentido, a afetividade pode ser considerada como a mola propulsora de nossa vida. Ela influencia decisivamente a nossa percepção, a nossa memória, o nosso pensamento, a nossa vontade e as nossas ações, além de ser um componente essencial para a formação e o equilíbrio da personalidade:

A afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte. Ela “está” em nós como uma fonte geradora de potência, de energia. Dizemos que, até os 12 anos, a vida do ser humano é extremamente afetiva e, a partir daí, o futuro adulto já tem estabelecidas suas formas de afetividade. A afetividade domina a atividade pessoal na esfera instintiva, nas percepções, na memória, no pensamento, na vontade, nas ações, na sensibilidade corporal — é componente do equilíbrio e da harmonia da personalidade (ROSSINI, 2001, p. 09).

A afetividade propicia as inter-relações entre os sujeitos, assim como as com o meio no qual estão inseridos, ocasião esta em que vivenciam as emoções e os sentimentos, ou seja, reagem afetivamente aos acontecimentos. É um elemento contagiante que nos torna capazes de “[…] afetar o outro a partir de comportamentos, sentimentos e reações” (LIMA, 2010, p. 53). Só o afeto é capaz de mobilizar e contagiar as pessoas existentes à nossa volta.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), a vida afetiva é parte integrante da nossa subjetividade. Para que nossas expressões sejam compreendidas, é preciso que sejam considerados os afetos que as seguem. Nossos pensamentos e ações, aquilo que está no nosso íntimo, só terão significado se compreendermos o afeto que vem juntamente com eles. Para que possamos compreender o ser humano de forma integral, é necessário entendermos que ele não é um ser fragmentado, apenas formado pela dimensão cognitiva, mas principalmente pela dimensão afetiva.

Evidentemente, os afetos proporcionam um sentido especial à nossa vida; eles traduzem claramente nossos sonhos, palavras, desejos, gestos, fantasias, expectativas, pretensões, enfim, todas as nossas atitudes e pensamentos. Os afetos determinam a forma como os indivíduos visualizam o mundo, como também seu modo de manifestar-se dentro dele.

Outra especificidade dos afetos consiste no fato de eles estarem vinculados à nossa consciência, o que implica dizer que aquilo que sentimos podemos transmitir ao outro por meio da linguagem. Através desse mecanismo, podemos expressar as nossas emoções.

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Portanto, os afetos são os elementos que conduzem os nossos comportamentos, estimulam e energizam a nossa aprendizagem.

A afetividade é o que transporta a nossa vida — a alegria, a felicidade, a esperança, o entusiasmo, a motivação, o prazer e o principal de todos: o amor, que é o prolongamento do domínio, que é o coração. É inconcebível uma educação em que não exista a afetividade em sua composição, pois “[…] sem afeto não há educação” (CHALITA, 2004, p. 149).

Desse modo, podemos afirmar que a afetividade assume um papel fundamental na compreensão do aprendiz em sua totalidade e em todas as suas dimensões, com enfoque na vida afetiva, que constitui o seu lado puramente subjetivo, sendo também responsável por contribuir e fortalecer o desenvolvimento de outros aspectos formadores da estrutura humana. Portanto, os afetos são os elementos que conduzem os nossos comportamentos, estimulam e energizam a nossa aprendizagem.

3. Conceituando aprendizagem

Inicialmente, para que se possa compreender a aprendizagem e seus inúmeros processos, é fundamental definirmos o que significa aprender.

Segundo Nunes e Silveira (2009), essa palavra deriva do latim aprehendere, que significa agarrar, pegar, apoderar-se de algo. Com base nesse conceito, a aprendizagem pode ser analisada como um processo no qual os indivíduos se apropriam de conhecimentos, habilidades, valores, estratégias, condutas e informações; portanto, a aprendizagem está relacionada à mudança, à significação, à amplitude das vivências internas e externas, à transformação de cada ser, à cultura na qual ele está inserido.

Aprender já traz em si a incorporação de um conhecimento novo aos saberes que já possuímos, e, consequentemente, isso resulta na modificação dos conhecimentos que o sujeito já possui. Convém destacar que a aprendizagem apresenta uma visão específica para cada ser, cada qual tem sua própria modalidade, singularidade e subjetividade, as quais devem ser respeitadas no decorrer da aprendizagem.

Segundo Bossa (2000), para Fernández todo sujeito apresenta sua modalidade de aprendizagem, ou seja, meios, condições e limites de que todo ser humano dispõe ao aproximar-se do conhecimento e constituir o saber.

A aprendizagem, afinal, é a grande responsável pela inserção da pessoa no mundo cultural, e é por meio de uma participação ativa que cada ser se apodera dos saberes e métodos e com isso constrói em seu interior uma imensidão de representações simbólicas.

A aprendizagem é o processo através do qual o indivíduo se apropria dos conhecimentos e da experiência da cultura na qual ele está inserido. É através da aprendizagem que o indivíduo se torna capaz de atuar sobre o mundo interagindo com as coisas e pessoas, transformando a realidade e sendo por ela transformado, tornando-se capaz de sobreviver no contexto no qual ele está inserido para garantir a sua existência e a de sua espécie no mundo (LIMA, 2010, p. 07).

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), é evidente que a aprendizagem é um processo dinâmico, pois existem diversos tipos de aprendizagem, os quais são perceptíveis nos diferentes contextos das atividades humanas. Ela tem o seu início desde os primeiros instantes da vida e desenvolve-se nas primeiras ações cotidianas do ser humano, como o falar, o comer, o sentar e o andar. Porém essa não é a única instância em que ela ocorre; a aprendizagem sistematizada encontra seu espaço nas instituições educativas, como a escola, as quais estão diretamente ligadas com o desenvolvimento da sociedade e correspondem com o saber que cada cultura prioriza.

A aprendizagem é um processo contínuo, constante e diversificado, ou seja, o ser humano, ao longo de sua existência, está em constante situação de aprendiz. É importante compreender que “[…] a aprendizagem ajuda o homem a economizar energias na tentativa de resolver os conflitos cognitivo-afetivos que lhe são propostos pelo meio” (VISCA, 1991, p. 47).

Na concepção construtivista defendida por Jean Piaget, a evolução do conhecimento é um processo contínuo, o qual se constrói no momento da interação do sujeito com o meio (físico e social). Desse modo, a teoria construtivista entende o aluno como um ser ativo, construtor do seu próprio conhecimento, e, nesse processo, deve ser respeitado seu desenvolvimento natural.

Desse modo, “[…] a aprendizagem em Piaget é um processo complexo, que requer elaboração interna de um modo ativo e singular, não sendo um ato de incorporação passiva, mecânica” (NUNES E SILVEIRA, 2009, p. 90). Aprender consiste em uma formação interna, uma compreensão do objeto a ser apreendido e, ao mesmo tempo, uma possibilidade de interação com o mundo.

a_afetividade_mo_processo_img_3Segundo Nunes e Silveira (2009), na teoria de Vygotsky a aprendizagem está ligada à valorização das potencialidades e singularidades dos alunos, à atividade do sujeito diante dos desafios propostos pela situação de ensino e à mediação do outro. O sujeito é social e ativo em seu meio cultural. A aprendizagem é dinâmica e contínua, feita através da interação social. Nesse contexto, o professor tem a função de contribuir para essa aprendizagem, servindo de mediador entre a criança e o mundo.

Para Bossa (2000), atualmente a Psicopedagogia trabalha com o conceito de aprendizagem que conduz a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo, participa um equipamento biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma como o sujeito se relaciona com o meio. Essas disposições influenciam e são influenciadas pelas condições socioculturais do indivíduo e do seu meio.

Uma questão fundamental para a educação atual consiste na necessidade de estimular o aprender a aprender, enfatizando a aprendizagem humana, que acontece de forma processual e contínua. O aprender a aprender é condição essencial no processo de valorização do educando como um pesquisador ao longo de toda a sua vida, como ser autônomo, livre, ativo e participativo na sociedade da qual ele faz parte.

O enorme desafio do aprender a aprender é o desafio de formar seres aptos a governar a si mesmos, a desenvolver a liderança participativa, a aprender a dizer sim e a dizer não. De que serve uma multidão de seres repetidores de ideias alheias sem capacidade de pensar por si mesmos? O grave problema da formação inadequada é a ausência de objetivos definidos, sem a perspectiva de finalidade (CHALITA, 2004, p. 65).

A aprendizagem não pode ser considerada estática, o conhecimento está em constante transformação, e é necessário nós acompanharmos as mudanças no conhecimento para que não nos tornemos ultrapassados com ele. “O aprender a aprender não envelhece nunca” (CHALITA, 2004, p. 193). Dessa forma, o aprender a aprender é uma habilidade incessante na qual o ser humano está em constante busca de conhecimento.

4. A relação entre afetividade e cognição

A separação entre o campo afetivo e cognitivo tem uma longa tradição na educação. Sabemos que essa tendência dualista ainda não está totalmente superada nos dias atuais, pois afeto e cognição têm sido abordados separadamente, como dimensões isoladas no funcionamento psicológico humano.

Segundo Oliveira e Rego (2003), Vygotsky procurou elaborar uma nova concepção que tratasse de outra forma as relações entre mente e corpo e entre cognição e afeto. Ele enfatiza a necessidade de superar essa visão arcaica que fragmenta esse dois aspectos e tenta reuni-los no intuito de compreender o ser psicológico completo.

Quem separa desde o começo o pensamento do afeto fecha para sempre a possibilidade de explicar as causas do pensamento, porque uma análise determinista pressupõe descobrir seus motivos, as necessidades e os interesses, os impulsos e as tendências que regem o movimento do pensamento em um ou outro sentido. De igual modo, quem separa o pensamento do afeto nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo, volitivo da vida psíquica, porque uma análise determinista desta última inclui tanto atribuir ao pensamento um poder mágico capaz de fazer depender o comportamento humano única e exclusivamente de um sistema interno do indivíduo como transformar o pensamento em um apêndice inútil do comportamento em uma sombra sua desnecessária e impotente (VYGOTSKY, 1993, p. 25 apud OLIVEIRA E REGO, 2003, p. 18).

É evidente que Vygotsky reconhece que os aspectos cognitivos e afetivos estão desde cedo intimamente e dialeticamente relacionados e integrados. Para ele, essa relação deve ser analisada no decorrer da história do desenvolvimento, sob um ponto de vista genético. A Psicologia Histórico-cultural aborda um sujeito que é o produto do desenvolvimento de processos físicos e mentais, cognitivos e afetivos, internos (compostos pela história anterior do indivíduo) e externos (ligados às situações sociais de desenvolvimento em que o indivíduo se envolve). É por meio da interação dialética entre os vários campos genéticos que ocorre a formação de cada sujeito singular.

É de grande relevância destacar que, na concepção histórico-cultural, a linguagem exerce um importante papel na vida emocional, visto que oferece aos indivíduos, inclusos em diversas culturas, em distintos momentos históricos, um conjunto de categorias concretas para estabelecer os seus conteúdos. Por esse motivo, Vygotsky nos alerta que não experimentamos os sentimentos de forma pura, mesmo que somente estejamos conscientes de suas relações conceituais:

A forma de pensar, que junto com o sistema de conceitos nos é imposta pelo meio que os rodeia, inclui também nossos sentimentos. Não sentimos simplesmente: percebemos o sentimento em forma de ciúmes, cólera, ultraje, ofensa. Diz-se que depreciamos alguém. O fato de nomear sentimentos faz com que estes variem, já que guardam certa relação com nossos pensamentos. […] Consequentemente, as emoções complexas aparecem somente historicamente e são a combinação de relações que surgem como consequência da vida histórica, combinação que tem lugar no transcurso do processo evolutivo das emoções (VYGOTSKY, 1991, p. 86–87 apud OLIVEIRA E REGO, 2003, p. 22).

Com a função primordial da linguagem e a importância da interação social para o desenvolvimento pleno do sujeito, o homem opera baseado em conceitos construídos culturalmente, que formam e expressam não apenas os seus pensamentos, mas também as suas emoções.

Nessa visão, a constituição da vida afetiva social é mediada pelas representações construídas no contexto cultural ao qual o sujeito pertence. Os traços emocionais de um ser humano não se relacionam a fatores inatos (por exemplo, mulheres são mais frágeis, sensíveis, choronas, etc.; homens são mais frios, racionais, etc.), pois cada sujeito apresenta uma determinada forma singular de reagir, organizar e tratar as mesmas definições e influências sociais.

O homem aprende, através de sua cultura e da interação com outros seres humanos, a pensar, a falar, a agir, como também a sentir. Os processos cognitivos e afetivos, os modos de pensar e sentir são dotados de conceitos, relações e práticas sociais que os organizam como fenômenos históricos e culturais.

a_afetividade_mo_processo_img_4Segundo Souza (2003), a abordagem piagetiana rompe com a dicotomia inteligência e afetividade; ela apresenta o desenvolvimento psicológico como uno, em dimensões afetiva e cognitiva. Piaget defende a relação entre as construções cognitivas e afetivas ao longo da existência do indivíduo. Ilustra a concepção de que inteligência e afetividade são dimensões indissociáveis e integradas no desenvolvimento psicológico; portanto, não sendo possível a sua separação. Sem afeto, não existe interesse, necessidade nem motivação.

Para essa autora, durante o curso da Sorbonne Piaget explicitou reflexões importantíssimas sobre as relações entre afetividade e cognição no desenvolvimento mental da criança, a partir das quais ele definiu os seguintes pressupostos:

• Inteligência e afetividade apresentam naturezas distintas, porém indissociáveis na conduta concreta da criança; ou seja, não existe conduta exclusivamente afetiva, assim como não existe conduta exclusivamente cognitiva.

• A afetividade interfere permanentemente no funcionamento da inteligência, estimula ou perturba, acelera ou retarda.

• A afetividade não modifica as estruturas da inteligência, ela é o elemento energético das condutas.

Com relação ao papel da afetividade e da inteligência nas condutas, Piaget enfatiza que toda conduta visa à adaptação, sendo que o desequilíbrio reflete uma impressão afetiva privativa, a consciência de uma necessidade; a conduta cessa quando a necessidade é satisfeita e a volta ao equilíbrio gera um sentimento de satisfação.

Conforme Souza (2003), Piaget nos propõe que inteligência e afetividade são de naturezas distintas; a energia da conduta vem da afetividade, e as estruturas vêm das funções cognitivas. O campo total inclui, ao mesmo tempo, o sujeito, os objetos e as relações entre sujeito e objetos.

Desse modo, se toda conduta possui um aspecto afetivo (energético) e um aspecto estrutural (cognitivo), Piaget defende a ruptura da dicotomia entre afetividade e inteligência, sendo fundamental abordar os dois aspectos conjuntamente no desenvolvimento. Nesse sentido, os aspectos afetivos estão associados às condutas relacionadas às pessoas; e os aspectos cognitivos, às condutas relacionadas aos objetos. Em ambos os tipos de conduta existe afetividade e inteligência.

Diante do exposto, surge a real necessidade de construir um sistema educativo atual, que supere a clássica divisão e oposição entre afetividade e cognição, razão e emoção, que definitivamente rompa a concepção que prioriza o desenvolvimento do intelecto, dos aspectos cognitivos e racionais, os quais têm um papel de destaque na educação, e consequentemente os aspectos emocionais e afetivos são cada vez mais extintos de nossa vida.

Segundo Nunes e Silveira (2009), Wallon afirma que a escola tem de tratar adequadamente as emoções dos alunos, não aumentando as situações de frustração e ansiedade, porque isso pode prejudicar o funcionamento cognitivo da criança durante o seu processo de aprendizagem. O professor precisa também ter cautela com suas próprias reações emocionais expostas ao aluno. É importante que ele compreenda que o desenvolvimento humano transita por momentos conflituosos de intensa manifestação emocional e que deve agir sem se deixar ser influenciado por essas situações conflituosas, buscando sempre manter o equilíbrio e utilizando a razão, pois a boa relação entre professor e aluno é um fator imprescindível para a aprendizagem.

O professor precisa também ter cautela com suas próprias reações emocionais expostas ao aluno.

Convém ressaltar que nossos educandos conhecem muito do mundo no qual estão presentes, de fórmulas matemáticas, de lógicas e conceitos, mas desconhecem o que realmente são, o que realmente sentem sobre si mesmos. “Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada do mundo que são. O ser humano é um estranho para si mesmo” (CURY, 2003, p. 06).

Os alunos são preparados apenas para atingir o sucesso, porém não são preparados para as decepções e os fracassos. Dentro da sala de aula, professores e alunos são estranhos uns para os outros, não existe uma convivência afetuosa, sadia. Nossos alunos estão se transformando em verdadeiras máquinas de aprender, e a educação, diante desse paradigma, torna-se fria, alheia aos afetos, sem prazer, sem vida; estamos apenas informando, e não formando a personalidade desses seres.

As crianças e os jovens aprendem a lidar com os fatos lógicos, mas não sabem lidar com o fracasso e falhas. Aprendem a resolver problemas matemáticos, mas não sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para resolver cálculos, mas a vida é cheia de contradições. As questões emocionais não podem ser calculadas nem têm conta exata (CURY, 2003, p. 05).

É imprescindível que a educação promova a aprendizagem dos aspectos afetivos e também dos aspectos cognitivos como um meio de potencializar o desenvolvimento holístico do ser humano. Cada vez mais se torna evidente a necessidade de se contemplar uma formação afetiva, pautada nos princípios de solidariedade, respeito, amor, carinho, amizade, tolerância, espírito de grupo e confiança, como forma de potencializar a formação do sujeito.

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5. Considerações finais

A grande questão defendida neste trabalho consiste na importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem. Podemos considerar a afetividade como um elemento imprescindível nesse processo; ela é a energia que impulsiona e conduz a aprendizagem humana; sem ela, torna-se extremamente difícil impulsionar e motivar o aluno a desenvolver a construção do seu conhecimento.

Se o indivíduo não estiver bem afetivamente, ele não conseguirá desenvolver a sua aprendizagem. Nessa perspectiva, podemos compreender que a afetividade está intrinsecamente relacionada à aprendizagem. A afetividade tem o poder de influenciar positiva e significativamente a forma pela qual os seres humanos aprendem. É através da vivência afetiva que o aluno produz e edifica qualitativamente a sua aprendizagem.

É o afeto que propicia ao educando a força necessária para superar os obstáculos que a vida lhe impõe. Ele precisa se sentir seguro para resolver os conflitos que lhe são propostos pelo meio, e isso só é possível se ele estiver emocionalmente saudável.

Nesse sentido, as práticas pedagógicas desenvolvidas na escola devem primar pela dimensão afetiva, pois ela proporciona o bem-estar, o prazer e a felicidade, que são aspectos extremamente fundamentais para a elevação da autoestima e formação da personalidade do educando. Qualquer projeto educacional, por mais complexo e inovador que seja, dependerá do afeto para atingir os índices satisfatórios de uma boa aprendizagem escolar. Afeto e cognição são aspectos que estão mutuamente envolvidos e que interagem reciprocamente em benefício de uma aprendizagem positiva para o aluno.

Só o afeto é capaz de romper as algemas que impedem a verdadeira conquista da felicidade e da realização pessoal do sujeito. Desse modo, é inconcebível uma educação que não promova o afeto, pois sem ele nenhuma educação conseguirá sobreviver.

Maria Ione Alexandre Coutinho é educadora.
Endereço eletrônico: mariaione_07@hotmail.com.

 

 

Referências

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ROSSINI, Maria augusta Sanches. Pedagogia afetiva. 8. ed.: Vozes, 2001.
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