Edição 90

Profissionalismo

A aquisição da leitura nos anos iniciais e a descoberta de uma mente absorvente

Andréa Freitas Costa

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Introdução

Sabe-se que é cada vez mais comum no mundo globalizado que os indivíduos aprendam desde cedo a compreender o seu meio, e, para isso, é necessário que desfrutem de mecanismos que possibilitem essa conquista. Os professores, juntamente com os pais, têm que ter consciência da parceria que deve existir entre família e escola para que possam alcançar o objetivo esperado.

Este artigo tem como objetivo geral reconhecer que é possível promover, desde cedo, a leitura no indivíduo. A escola tem que utilizar metodologias de inserção da leitura desde os anos iniciais, e os professores e pais devem ajudar nesse processo de ensino-aprendizagem.

Para a formulação deste trabalho científico, foram utilizadas as metodologias bibliográficas de diferentes tipos de livro, tendo fundamentação teórica baseada no método montessoriano, no construtivismo e no sociointeracionismo.

O espaço escolar como ambiente para leitura

Nos espaços de uma determinada escola, encontramos à disposição dos alunos, professores e pais uma biblioteca, baús de leitura e outros benefícios que dão suporte e incentivo à leitura. Desse modo, o aluno dispõe de recursos para desenvolver suas habilidades literárias e ampliar sua visão de mundo.

As docentes observadas neste estudo trabalhavam a leitura diariamente com seus alunos e buscavam a interdisciplinaridade a partir do conteúdo de cada leitura realizada. Sendo assim, a maneira como o professor lê, as estratégias utilizadas, os textos oferecidos, a preparação do ambiente, o comprometimento e a responsabilidade dos professores são elementos que fazem toda a diferença no processo de inicialização da leitura nos anos escolares iniciais.

Percebemos que, durante as aulas observadas, os objetivos de leitura dos alunos foram alcançados, e os professores tiveram um papel fundamental nesse processo. Comprovou-se que, mesmo na Educação Infantil, as crianças são capazes de interagir com o que é oferecido a elas.

Dessa forma, percebe-se quão grande é a importância da aquisição da leitura desde o início da vida escolar. Ninguém nasce sabendo ler; aprende-se a ler à medida que se vive. Se o ato de ler livros geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras geralmente se aprendem por aí, na chamada escola da vida. Os pais, ao incentivarem seus filhos a fazerem várias leituras no ambiente, fazem com que estes percebam todos os estímulos à sua volta. Assim sendo, é necessário um ambiente aconchegante dentro das escolas, que possam proporcionar deleite aos pais e filhos que o frequentam.

A descoberta de uma mente absorvente

Segundo Maria Montessori, a criança é dotada de uma mente capaz de absorver e produzir uma revolução no campo educativo. A função do adulto não consiste em ensinar, mas em ajudar a mente infantil no trabalho do seu desenvolvimento. Quanto mais a criança cresce em idade, mais se torna inteligente e forte.

Ao estudarmos a língua, vemos que a palavra está ligada especialmente ao ouvido, enquanto o desenvolvimento do movimento está ligado à visão. Estes, portanto, são os sentidos particularmente ligados ao desenvolvimento da criança: audição e visão.

O trabalho de iniciação na língua escrita na escola não pode estar à margem dos aspectos comunicativos da língua. A escrita serve para saber coisas, para divertir, para estar informados, para aprender, para conhecer a marca de um produto, etc., portanto, é necessário levar em conta que a criança já tem experiência pelo que faz com a língua escrita quando chega à pré-escola.

Segundo Bassedas et al. (1999), as capacidades que a criança possui para compreender o mundo são capacidades cognitivas, ou seja, de raciocínio e de pensamento, que estão estreitamente relacionadas com a capacidade de utilização da linguagem verbal.

Sendo assim, em relação à aprendizagem da língua escrita na Educação Infantil, há muitos mitos (ex.: não se pode ensinar antes de…) e posições contrárias (é melhor o método fônico que o global ou vice-versa).

O trabalho de iniciação na língua escrita na escola infantil não pode estar à margem dos aspectos comunicativos da língua. Para Isabel Solé (1998), o grande desafio a ser enfrentado pela escola é o de fazer com que os alunos aprendam a ler corretamente, pois a aquisição da leitura leva o ser humano a agir com autonomia nas sociedades letradas.

Vivenciando uma leitura motivadora

Para que uma pessoa possa se envolver em uma atividade de leitura, é necessário que sinta que é capaz de ler. Uma atividade de leitura será motivadora para alguém se o conteúdo estiver ligado aos interesses da pessoa que o lê.

A autora Rossana Ramos (2005) sugere em seu livro 200 dias de leitura e escrita na escola diversas estratégias para o desenvolvimento da leitura em sala de aula, com o objetivo de proporcionar aos alunos a prática da leitura e da escrita. Para ela, as atividades de leitura não precisam ser necessariamente aplicadas nas aulas de Língua Portuguesa, mas sim, em todos os campos do conhecimento. Vejamos algumas estratégias didáticas da autora.

Verificar sempre as hipóteses de escrita de seus alunos antes de planejar suas aulas.

Incentivar os alunos a fazerem a releitura e reescrita de seus textos, para que criem mecanismos próprios de autocorreção.
Promover a produção de textos coletivos, pois promove o desenvolvimento da escrita.
Realizar atividades funcionais de escrita e leitura, produzidas e lidas pelos alunos.
Incentivar o aluno a ler pelo menos um texto por semana.
Trazer livros para a sala de aula ou levar os alunos frequentemente à biblioteca da escola, do bairro e/ou da cidade.
Ter sempre em mãos um dicionário e uma gramática.
Nunca criticar os alunos por não saberem algo, pois o objetivo é que eles sejam bons leitores e escritores.

Bassedas, Huguet e Solé concluem da seguinte forma: se é necessário ou não ensinar a ler e a escrever na pré-escola, depende; mas convém levar em conta que as informações de funcionamento do código escrito não podem aborrecer a criança quando ela faz perguntas sobre isso. É importante utilizar a língua escrita para o que é necessário, e a escola deverá apresentar proposta para a criança utilizá-la em situações que tenham sentido. Dessa maneira, a escola poderá despertar a curiosidade e as competências das crianças em relação aos conteúdos.

Considerações finais

Garantir o contato com as obras e apresentar diversos gêneros às crianças pequenas é a principal função dos professores de Educação Infantil para desenvolver os comportamentos leitores e o gosto pela literatura desde cedo.

Em relação aos dados de leitura, é possível verificar que todas realizaram com sucesso a tarefa de nomeação de letras; no entanto, na tarefa de reconhecimento da representação sonora de letras, algumas crianças sentiram mais dificuldades, enquanto a maioria conseguiu atingir o objetivo esperado.

Tais resultados, no entanto, não podem ser vistos isoladamente. É necessário associá-los aos resultados apresentados pelas crianças nas tarefas executadas por cada uma delas. Após a estimulação feita pelo professor e o uso da ludicidade, o desempenho das crianças na realização das tarefas de leitura foi significativamente melhor e se manteve em níveis esperados na última avaliação.

É importante compreender que a criança sabe coisas relevantes sobre a leitura, embora não saiba o código. Se deixarmos, a criança pode se basear nesses conhecimentos para aprender a ler. A criança pode aprender a utilizar a leitura como meio de aprendizagem e de prazer.

Ciente de que a leitura é importante e que as crianças têm acesso ao mundo das letras antes mesmo de entrarem nas salas de alfabetização, quanto mais cedo for iniciado o aprendizado da leitura, maior a possibilidade de ser formado um leitor assíduo.

Referências

BASSEDAS, Eulália et al. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.

LAKATOS, Eva Maria et al. Fundamentos da metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MONTESSORI, Maria. Mente absorvente. 2. ed. Amsterdam: Portugália,1978.

RAMOS, Rossana. 200 dias de leitura e escrita na escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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