Edição 57

Ambiente-se

A gestão escolar e o clima organizacional da escola

Sandra Montenegro

A gestão democrática tem sido bastante discutida em cursos de formação de professores, especializações, formações continuadas, etc. Concordamos que é necessário romper, a cada dia, com as posturas autoritárias que ainda permanecem no interior da escola pública e impedem a concretização de uma escola mais justa, mais inclusiva, respeitadora dos direitos humanos e construtora da emancipação humana.

Reconhecemos que o processo gestor constitui um ato político e não está descolado do projeto de sociedade, ou melhor, dos projetos de sociedade e de educação presentes no cenário social. Em linhas gerais, o gestor educacional que assume uma postura de mudança realiza o exercício de reflexão sobre sua ação, estabelece vínculos construtivos e não prescritivos com a comunidade escolar, não manipula e não busca legislar em causa própria. Tampouco utiliza a filosofia “Para os amigos, os benefícios da lei; para os inimigos, o rigor da lei”. Pelo contrário, é um gestor que se pauta pela ética na condução da sua vida.

Refletindo sobre alguns discursos em torno das competências para os gestores, observamos que a maioria dos autores concorda que as competências abaixo discriminadas são necessárias ao gestor da atualidade.

Reconhecer o valor do trabalho do outro.
Ter espírito de iniciativa.
Ser responsável por suas ações e pelas do seu grupo.
Ser aberto e reagir positivamente a mudanças.
Fixar e atingir seus objetivos.
Ajustar-se à dinâmica de seu grupo.
Planejar, conceber, começar e concluir tarefas.
Conviver com a incerteza e a complexidade.
Ter equilíbrio emocional.
Contribuir para o sucesso do grupo.
Liderar sem espírito de competitividade.
Enfim, são diversas as competências exigidas para a função de gestor. Todavia, assinalamos, neste artigo, a importância do clima organizacional, ou seja, a importância de o gestor ou de a gestora saber como os professores e as professoras se sentem dentro do espaço da escola, pois isso tem impacto na atuação docente, além de outros fatores que não podemos desconsiderar (condições de trabalho, oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, valorização do seu trabalho e da sua pessoa, tempo para estudar, etc.). Da mesma forma, o gestor ou a gestora necessita conhecer um pouco do perfil docente com o qual trabalha. Existem docentes e demais funcionários colaboradores que buscam contribuir para a melhoria da escola, estão presentes nas reuniões, ajudam, participam das decisões e se sentem responsáveis pela condução da escola.

São indicadores de problemas e precisam ser analisados cuidadosamente:

O absenteísmo, ou seja, as faltas excessivas de docentes e funcionários. Isso pode se refletir em diversas situações: cansaço, nível alto de estresse, desencanto com a profissão, entre outras razões.
A agressividade. Há funcionários que apresentam comportamento de agressividade, são rudes com os estudantes, com colegas ou com qualquer um que pareça ser um obstáculo. Existem aqueles com mania de perseguição, ou seja, sempre acreditam que as pessoas estão com segundas intenções; parecem estar sempre em posição defensiva.
O pessimismo, isto é, alguns não acreditam e não fazem nada para melhorar a situação da escola e das relações no ambiente de trabalho.
Essas questões foram levemente abordadas para lembrar que é por meio da cooperação e do envolvimento das pessoas que o trabalho coletivo da escola pode melhorar. Todas as pessoas podem ser geradoras de uma melhor condição de convivência no trabalho. Também levantamos tais questões para enfatizar que todas as pessoas possuem suas singularidades, suas dificuldades enquanto sujeito, trazem valores do espaço privado (família) para o espaço público (escola). O conflito faz parte da vida humana, e não existem escola ideal nem sociedade ideal; vários projetos da sociedade e da escola estão presentes no cenário social. Portanto, qualquer gestor ou gestora irá lidar com a diversidade de comportamentos, com uma relação extensa de exigências quanto às suas competências.

Consideramos importante que o gestor ou a gestora, ao perceber que o clima relacional apresenta dificuldades e impossibilita o desenvolvimento do trabalho coletivo, desenvolva as seguintes atitudes:

Propiciar condições reais para o diálogo, realizando reuniões com grupos pequenos e ouvindo as pessoas individualmente, pois, muitas vezes, o problema não está no grupo, mas localizado em dificuldades pessoais.
Quando os problemas se apresentarem como coletivos, devem ser divididos por todo o grupo. Todos devem participar da solução de problemas.
Buscar agir com justiça. Observar os direitos humanos dentro da escola (dos docentes, dos estudantes, dos pais, etc.).
Respeitar as individualidades, observando os limites de cada pessoa, mas, ao mesmo tempo, acreditando em seu potencial.
Não utilizar a perseguição como meio para atemorizar as pessoas ou imaginar que assim impõe mais respeito. Desse modo, o clima das relações irá piorar cada vez mais, uma vez que a base da confiança e da ética se fragiliza.
Desenvolver a habilidade de escutar e discernir se as queixas são procedentes ou não. Confiar e transmitir confiança ao seu grupo.
Desenvolver a atitude da organização e realizar reuniões marcadas com antecedência, com pauta conhecida por todos e, caso seja uma reunião deliberativa, evitar trazer assuntos que não são pertinentes para aquele tipo de reunião.
Conhecer os aspectos físicos da escola (segurança, observância dos direitos trabalhistas, facilidades de acesso a instalações sanitárias, cantina, meios de comunicação, etc.).
Tentar acompanhar o desempenho dos profissionais que estão apresentando problemas. Isso é necessário para que os problemas possam ser revertidos dentro do possível.
Sabemos que tudo o que foi acima citado não constitui um receituário, pois várias questões envolvem o fazer docente e o clima das relações interpessoais na escola, mas esperamos ter, no mínimo, apontado algumas atitudes mais práticas que devem ser vivenciadas dentro de um contexto apropriado, adequado ao momento e às circunstâncias.

Sandra Montenegro é professora adjunta da UFPE, no Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional.
E-mail: sandra.montenegro@yahoo.com.br.

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