Edição 93

Matérias Especiais

A importância do coaching educacional para a formação de professores: uma necessidade no processo de ensinagem

Andréa Kochhann
Patrícia Ramiro
Vanessa Amélia da Silva Rocha

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Introdução

Este texto apresenta uma visão da formação de professores, com base na relação do coaching educacional e das características desse profissional da educação – coach – , que influencia no processo de ensinagem de uma sala de aula marcada pela diversidade, inclusive de habilidades e competências.

A discussão compõe os estudos do Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade (Gefopi), trazendo uma abordagem significante e objetivando formar profissionais que estejam capazes de incentivar e lapidar o desenvolvimento do aluno, bem como criando possibilidades, fazendo com que o aluno supere seus traumas, seus medos e tantas outras barreiras relacionadas à dificuldade de aprendizado e relacionamento social.
O aprendizado e as formas de lidar com o cognitivo dos alunos em processo de consolidação do conhecimento podem ser favorecidos quando estão sendo regidos por um professor que atua com o coaching, que pode despertar, em sala de aula, cada aluno de acordo com seu potencial e sua habilidade.

A discussão se alicerça em um projeto de pesquisa intitulado Coaching Educacional e Emancipação Humana: Concepções, Sentidos e Construções, que faz parte de um projeto de pesquisa guarda-chuva intitulado Emancipação Humana: Possibilidades e Dificuldades de Alcance pela Práxis Acadêmica. O objetivo desse trabalho a partir da pesquisa é apresentar as concepções e a importância do coaching educacional como possibilidade de relação professor-aluno.

10_materialO coaching educacional e a ensinagem: concepções e sentidos

Discutir sobre a relação do coaching educacional para a formação de professores se apresenta como uma necessidade no processo de ensinagem. Aqui, o processo ensino e aprendizagem é substituído pelo termo ensinagem. A ensinagem, para Pimenta e Anastasiou (2002), é o processo educacional mais coerente para a atualidade, pois, se não há uma separação entre o ensino e a aprendizagem, não há motivos para uma separação linguística ou de escrita.

A ensinagem apresenta uma relação de ensino e aprendizagem de forma contínua, construtiva e que valoriza os relacionamentos interpessoais entre o professor e o aluno, bem como favorece o desenvolvimento das habilidades e competências dos alunos pela mediação do professor. Essa mediação que o professor estabelece com seus alunos, para que todos consigam alcançar seus êxitos, pode ser chamada de coaching.

A origem da palavra coaching é húngara e significa carruagem, que transporta alguém de um lugar para o outro com segurança. O condutor da carruagem deve ter experiência com o caminho, e a pessoa a ser levada se encontra dentro da carruagem. Essa concepção é conforme Underhill (2010), do séc. XV, referente à aldeia Kocs.

Em tempos mais recentes, a concepção de fazer com que uma pessoa chegue a determinado lugar desejado com segurança foi aplicada ao treinador de habilidades esportivas nos Estados Unidos. Cabe ao treinador-coach desenvolver as habilidades e competências dos jogadores-coachee de tal forma que todos do time se tornem os melhores e sejam vitoriosos nas partidas. Na atualidade, a concepção de coaching está associada às empresas. Nas empresas, o profissional coach auxilia os líderes da empresa a desenvolverem as habilidades de seus funcionários e, por consequência, aumentar os ganhos empresariais. Na sociedade capitalista, as empresas investem em estratégias para desenvolver as habilidades e competências de seus funcionários. Nesse cenário, estão inseridas a escola e as instituições de Ensino Superior. Apesar de a educação se fazer no seio da sociedade capitalista, a defesa que este artigo apresenta é que as relações no âmbito educacional não sejam para atender à competitividade do mercado, mas, sim, para valorizar as habilidades e competências de cada ser humano em sua totalidade.

A mediação possibilitada pelo trabalho pedagógico do professor pode favorecer a valorização do ser humano ou do mercado. Intenta-se que o processo de ensinagem estabeleça relações de crescimento mútuo e de respeito ao próximo de maneira que o valorize em sua singularidade, mas de maneira total. Isso pode, por consequência, fazer com que todos os seres humanos tenham suas habilidades e competências realçadas, fazendo com que as relações sociais sejam mais humanitárias e amadurecidas. Para tal, os líderes educacionais precisam ser coach. Zenker (2014, p. 02) afirma que:
Um coordenador, professor ou técnico da instituição pode ter a postura de transmissor de informações e conhecimentos. Nesse caso, não está sendo um verdadeiro coach; passa a sê-lo quando está centrado no outro, em seu potencial, nas suas necessidades, e conduz um processo de aprendizagem, levando-o a descobrir, a ter insights e a relacionar a temática com aspectos práticos da vida, promovendo a maturidade.
Conforme Zenker (2014), é papel do professor-coach valorizar ou despertar o potencial do aluno-coachee. Cabe ao professor criar possibilidades para o aluno descobrir o conhecimento e construí-lo. Para Silva (2013, p. 32), “O docente-coach apoia e incentiva o aluno a buscar, atingir e produzir suas metas nos planos estudantil, profissional e pessoal”.

11_materialA ensinagem pelo coaching educacional ocorre por um processo de parceria, em que o professor realiza a mediação, mas o aluno se permite ser mediado e deseja alcançar a autonomia de sua aprendizagem. Por isso, para Silva (2013, p. 32), “Nesse processo de parceria entre o professor e o aluno, o professor-coach viabiliza ao discente o alcance da autonomia na aprendizagem e na leitura de mundo, compreendendo a relação constante e dialética entre a teoria e a prática […]”.

O professor que desenvolve o papel de coach se envolve no processo de tal maneira que ultrapassa a teoria. A teoria é um componente do processo de coaching. A relação de cumplicidade e de emoção se torna maior do que a teoria. O envolvimento teórico é consequência do envolvimento pessoal.

Um coach é apaixonado pelas questões das pessoas, gosta de observar e entender os motivos por trás dos comportamentos, aprecia e sente-se feliz ao perceber o desenvolvimento de seu cliente. É um incentivador e ao mesmo tempo firme no rumo que levará em direção aos seus objetivos.
Um professor-coach deve ser apaixonado pelo que faz para assim conseguir envolver o aluno-coachee na ensinagem. Para Silva (2013, p. 32), “O professor-coach envolve emocionalmente os alunos nas atividades acadêmicas, aumentando significativamente a chance de ocorrer um aprendizado real e duradouro”.

Sobre essa paixão do professor, Dinsmore (2007, p. 23) associa a paixão de um coach empresarial à satisfação de seu cliente. Assim, o professor sente satisfação com o sucesso de seu aluno, pois:
Para Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), o coach precisa ter oito características básicas. A primeira é a comunicação. O professor-coach precisa “saber ouvir, perguntar, estabelecer empatia, gerar novas opções e entendimentos”. Geralmente, um professor autoritário não escuta seus alunos nem estabelece uma relação de confiança, mas, sim, de medo. Enquanto no coaching educacional a voz dos alunos se torna ponto de partida para a ensinagem.

A segunda é a motivação. Para Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), o professor-coach deve “ser automotivado, autotransformador e flexível, saber motivar, apoiar, entusiasmar, aumentar o nível de confiança e autoestima dos outros”. Um profissional motivado é capaz de motivar seus alunos, bem como um professor desmotivado se torna espelho de desmotivação. Pólya (1984) comunga dessa ideia.

O professor tem em sua prática educativa a corporificação, como discute Freire (2012), na qual passa a ser espelho de seus alunos e que deve fazer em seu cotidiano aquilo que propaga para que seus alunos façam. A regra da corporificação é faça o que eu faço. Professor automotivado motiva. Professor autotransformador transforma.

capacidade de enxergar o todo; perceber a relação entre os diferentes aspectos que compõem determinada situação; pensar em termos de processo, ou seja, perceber que mudanças e melhorias duradouras não são instantâneas, elas começam com a conscientização e ocorrem em etapas ? esses processos são cíclicos, isto é, estamos sempre mudando e buscando melhoria.
O planejamento é a terceira característica. Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28) alega que o professor-coach precisa “gerar foco, saber planejar, segmentar sonhos e objetivos, saber lidar com propósitos, crenças e valores”. A falta de planejamento pode levar à mesmice, deixando de instigar a vontade de apreender nos alunos, fazendo com que se desmotivem, criando barreiras na ensinagem. O planejamento não é apenas de conteúdo a ser trabalhado, mas, principalmente, de planos de ação de cada aluno, valorizando suas habilidades e despertando suas competências.

12_materialA quarta característica é a transformação. Segundo Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), torna-se necessário “entender o processo de mudança e transformação das pessoas, promover melhorias em si e nos outros” para se ser um professor-coach. Torna-se indispensável que o professor reflita sua ação e reaja a partir dela, sempre executando a lógica ação-reflexão-ação, transformando sua prática pedagógica para que traga melhorias. Transformar a situação de aprendizagem de seu aluno passa a ser o foco do professor-coach.

A quinta é a visão sistêmica. Mediante Vieira (2002, apud SILVA, 2013), é imprescindível que o professor-coach compreenda as diferenças entre seus alunos e que a transformação é um processo que não ocorre em um passe de mágica. Esse professor é consciente de sua tarefa e busca alternativas para desenvolvê-las da melhor forma possível. Não desiste, sempre persiste. Para Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), o professor-coach tem a:

Ética e caráter correspondem à sexta característica indispensável ao professor-coach. Na perspectiva de Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), é importante ao professor-coach “ter ética e caráter”. Como seres sociais, somos capazes de mudar, escolher e decidir; dessa forma, somos éticos, como alega Freire (2012). O caráter do professor pode se manifestar e se constituir enquanto profissional. Segundo o coaching educacional, esse caráter deve ser trabalhado em uma perspectiva humanista, considerando aspectos que compõem o ser humano.

A sétima é a flexibilidade e adaptabilidade. De acordo com Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), o professor-coach é aquele que “entende e se adequa às mais diferentes pessoas e situações, mesmo não estando de acordo com seus paradigmas”. Nesse viés, o professor deve ser flexível a ponto de se adaptar às concepções, à bagagem trazida pelo aluno, de forma a não haver segregação, mas, sim, uma união ao ensino já adquirido. Cada pessoa tem características próprias. Cada pessoa tem suas competências e habilidades. A partir desses conhecimentos, o professor-coach trabalha.

A oitava característica é a resiliência. Na perspectiva de Vieira (2012, apud SILVA, 2013, p. 28), a “capacidade de superar desafios, de sobrepor-se e construir-se positivamente frente às diversidades” é uma característica fundamental do professor-coach. Muitas vezes as questões emocionais são desconsideradas no ambiente escolar. Todavia, elas se fazem presentes, pois os alunos não deixam seus sentimentos em casa ao ir à escola. Portanto, o professor-coach deve ser resiliente consigo mesmo para conseguir ajudar seus alunos a superarem seus medos, suas angústias, seus traumas e tantos outros empecilhos emocionais. Para esse professor, não se pode fugir ou camuflar os conflitos, mas enfrentá-los com sabedoria e coragem. Esse propósito vem ao encontro das ideias de Suanno (2013, p. 33):

A atitude que cada pessoa assume nos momentos em que acontecem as ranhuras da vida pode ser transformada em oportunidade de crescimento. É diante das atribuições que a vida impõe a todos que os indivíduos devem procurar repensar suas posturas. Tais posturas conduzem o ser a uma imersão na realidade vivida e posterior emersão, como uma fênix, que renasce das cinzas de situações em que, aparentemente, não há mais esperança
de solução e de vida.

Para que o profissional coaching realize seu trabalho de maneira satisfatória e consiga resultados de grande valia, faz-se necessário que o aluno consiga superar seus medos, traumas e angústias, estabelecendo um elo para se fazer uma conexão entre aprendizagem e suas dificuldades, superando as barreiras existentes na ensinagem. A ensinagem por sua vez se faz presente no cognitivo do aluno quando trabalhada de forma significativa.

As concepções de um professor-coach para com seu aluno-coachee promovem o sentido de ser e fazer um coaching educacional. O que se espera é uma relação mais humana que promova a aprendizagem. Uma relação entre professor e aluno de mais confiança e comprometimento. Um (re)conhecimento do ser humano.

13_materialNa concepção de estar no caminho certo, é com as características de um professor-coach e suas habilidades adquiridas que o sucesso no processo de ensinagem será alcançado. Isso visa que o caminho a ser trilhado pode estar seguro. Nas discussões realizadas, buscou-se trabalhar a importância da relação do coaching educacional para a formação de professores, ou seja, a relação professor e aluno como uma necessidade no processo de ensinagem.

Destarte, ressaltamos a necessidade de se desenvolverem as habilidades e competências de um professor-coach para que ele possa auxiliar seu aluno no desenvolvimento das deles. Ressaltamos também as vantagens de se trabalhar com um profissional assim, que se preocupa para além do ensinar, não considerando apenas o cognitivo dos seus alunos, mas trabalhando também aspectos emocionais que interferem na ensinagem, desenvolvendo as potencialidades dos mesmos, fazendo com que eles alcancem seus objetivos de forma segura, trabalhando também a relação homem-natureza.

Quando o professor-coach consegue que seu aluno desenvolva o seu potencial, sua aprendizagem se torna natural, fazendo com que a autoestima do mesmo se eleve. O papel do professor-coach é fazer com que seu aluno-coachee execute seu planejamento com as habilidades que já possui. Ou seja, o coaching não é um consultor ou um terapeuta, é um desenvolvedor de habilidades.

Nessa perspectiva, a discussão se faz necessária nos cursos de formação de professores, visto que o ser humano possui habilidades e competências a serem valorizadas e desenvolvidas. Todavia, geralmente, a ferramenta essencial para o desenvolver dessas habilidades e competências é um profissional capaz de lapidar o potencial já adquirido de forma a favorecer a ensinagem. Considerando ainda que os diversos fatores envolvidos no processo, como o meio social, ambiental, econômico, cultural e psicológico, tornem-se aliados ao seu aprendizado. Dessa forma, a relação do coaching educacional para a formação de professores se torna de grande valia.

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Referências

DINSMORE, Paul Campbell. O coaching prático: o caminho para o sucesso: modelo pragmático e holístico usando o método project-based coaching. Rio de janeiro: Qualymark, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. – São Paulo: Paz e Terra, 2012. (Coleção Leitura).
KOCHHANN, Andréa; MORAES, Andrea Carla. Aprendizagem significativa: na perspectiva de David Ausubel. Anápolis: Universidade Estadual de Goiás, 2014.

PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática? São Paulo: Cortez, 1943.
PÓLYA, George. Dez mandamentos para professores. In: Sociedade Brasileira de Matemática. Disponível em: http://www.ifg.edu.br/matematica/images/donwloads/documentos/mandamentos.pdf

SUANNO, João Henrique. Adversidade, Resiliência e Criatividade: uma articulação oportuna? In: SUANNO, Marilza Vanessa Rosa; DITTRICH, Maria Glória; MAURA, Maria Antònia Pujol (Orgs.). Resiliência, criatividade e inovação: potencialidades transdisciplinares na educação. Goiânia: UEG/Ed. América, 2013.

SILVA, Magda Lima da. Coaching para docência do ensino superior: professor-coach – uma proposta. In: Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul./dez., 2013, p. 20-36. Disponível em: http://www.ratio.edu.br/dados/trabalhosociedade/primeirarevista/02%20COACHING%20PA RA%20DOC%C3%8ANCIA%20DO%20ENSINO%20SUPERIOR.pdf

UNDERHILL, Brian O. et alii. Coaching executivo para resultados: guia definitivo para líderes organizacionais. Tradução: Marc Broker. Osasco: Novo século, 2010.

VIEIRA, P. Curso de formação internacional em coaching integral sistêmico empresarial, pessoal e profissional. Febracis – Federação Brasileira de Coaching Integral Sistêmico. Apostila. Fortaleza: 2012.

ZENKER, Márcio. Melhores práticas de coaching em instituições educacionais: perspectiva da tecnologia educacional. Disponível em: http://www.metodista.br/atualiza/conteudo/material-de-apoio/didaticopedagogico/artigos/coaching.pdf . Acesso: março de 2014.

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