Edição 75

Lendo e aprendendo

Adoção: vínculo de amor independe da genética

Rosi Prigol

Adotar um filho não é simplesmente realizar o sonho acalentado de ser pai ou mãe. Antes de adotar um filho, adota-se uma pessoa em sua forma mais ampla e abrangente, com suas características individuais, peculiaridades de personalidade e destino pessoal.desenho_pais

O direito universal de a criança crescer e poder se desenvolver dentro de uma família deve ser garantido; pois ela, recebendo amor e respeito, poderá superar as barreiras que a sociedade muitas vezes coloca através dos preconceitos com que costumam segregar os diferentes. Quando uma criança passa a fazer parte de uma família, mesmo que tenha mais de cinco anos, ela tem a capacidade de incorporar todos os costumes e a cultura familiar.

Quem pode adotar?

Homens e mulheres, não importa o estado civil, inclusive solteiros, podem adotar uma criança. As exigências são que sejam maiores de 18 anos, que sejam 16 anos mais velhos do que o adotado e ofereçam um ambiente familiar considerado adequado.

Muitas pessoas acham que é difícil e que o processo é muito demorado. Um dos fatores da demora é a mudança que ocorreu depois da promulgação da nova Lei de Adoção (a partir de 2009), que prevê que a família de origem deve ter preferência absoluta sobre a adoção. Por isso, deve-se esgotar o tempo de procura pela família de origem, que demora em torno de três anos.

A demora também pode ocorrer pela exigência do perfil da criança a ser adotada. Nesse caso, ou as pessoas mudam esse perfil ou vão esperar na fila de adoção por anos. Uma das primeiras atitudes para quem quer adotar é participar de grupos de apoio à adoção, que existem em muitas cidades. É o lugar onde há troca de experiências e esclarecimentos.

Exigências podem atrapalharfamilia_colorida

No Brasil, existe uma grande preferência dos candidatos à adoção por crianças brancas e recém-nascidas. Assim, a quantidade de crianças pardas e negras em abrigos é muito maior. Em consequência, ficam muito tempo nessas instituições e, quando são adotadas, entram para a estatística da adoção tardia.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, o número de candidatos a pais é muito maior do que o de crianças e adolescentes que aguardam por uma família. Porém, as exigências quanto ao perfil desejado são os principais obstáculos para a adoção.

Além das exigências quanto ao perfil — que englobam idade, cor, presença de doenças, desinteresse na adoção de irmãos —, também existem mitos que se tornam, muitas vezes, grandes entraves para a adoção de crianças acima de dois anos de idade. As pessoas precisam entender a diferença que existe entre o filho ideal e o filho real e passar a olhar a adoção como uma forma de maternidade, e não de escolhas.

Dez passos para adotar uma criança

1. Tomar a decisão

2. Cadastrar-se

Procure o Juizado da Infância e da Juventude mais próximo de sua casa para fazer um Cadastro de Pretendentes para Adoção. Ligue antes para saber quais documentos levar — eles variam entre os juizados. Pessoas solteiras também podem adotar.

3. Escolher o perfil da criançamao_pai_bebe

No cadastro, indique o perfil da criança que deseja. Você pode escolher o sexo, a idade (no caso de crianças maiores de 3 anos, é chamada de adoção tardia), o tipo físico e as condições de saúde. Pense com calma e converse com outros pais para saber o que é bacana e o que não é em cada escolha.

4. Passar por uma entrevista

Em até dois meses, uma psicóloga do juizado agendará uma entrevista para conhecer seu estilo de vida, sua renda financeira e seu estado emocional. Ela também pode achar necessário que uma assistente social visite sua casa para avaliar se a moradia está em condições de receber uma criança. O poder aquisitivo influencia, mas não é decisório.

5. Conseguir o certificado de habilitação

A partir das informações no seu cadastro e do laudo final da psicóloga, o juiz dará seu parecer. Isso pode demorar mais um mês, dependendo do juizado. Com sua ficha aprovada, você ganhará o Certificado de Habilitação para Adotar, válido por dois anos em território nacional.

6. Mudar caso não consiga o certificado

Sua ficha pode não ser aprovada. O motivo pode ser desde a renda financeira até um estilo de vida incompatível com a criação de uma criança. Se isso acontecer, procure saber as razões. Você poderá fazer as mudanças necessárias e começar o processo novamente.

7. Entrar na fila de adoção

Com o certificado, você entrará automaticamente na fila de adoção do seu estado e aguardará até aparecer uma criança com o perfil desejado ou poderá usar o certificado para adotar alguém que conhece. Nesse caso, o processo é diferente: você vai precisar de um advogado para entrar com o pedido no juizado.

8. Aguardar a criança

A espera pela criança varia conforme o perfil escolhido. Meninas recém-nascidas, loiras, com olhos azuis e saúde perfeita — a maioria dos pedidos — podem demorar até cinco anos. A lei não proíbe, mas alguns juízes são contra a separação de irmãos e podem lhe dar a opção de adotar a família toda.

9. Conhecer o futuro filho

Você é chamado para conhecer uma criança. Se quiser, já pode levá-la para casa. Se o relacionamento correr bem, o responsável recebe a guarda provisória, que pode se estender por um ano. Mas, se a criança tiver menos de dois anos, você terá sua guarda definitiva. Crianças maiores do que isso passam antes por um estágio de convivência, uma espécie de adaptação, por tempo determinado pelo juiz e avaliado pelo assistente social.

10. Tornar-se pai/mãe

Depois de dar a guarda definitiva, o juizado emitirá uma nova certidão de nascimento para a criança, já com o sobrenome da nova família. Você poderá trocar também o primeiro nome dela. E, por fim, lembre-se do mais importante: o vínculo de amor não depende da genética.

Sugestões de sites:

www.amigosdelucas.org.br

www.apadrinhamentoafetivo.poa.ning.com

www.blog.amigosdelucas.org.br

Sugestão de leitura:

Cartilha da Adoção de Crianças e Adolescentes do Brasil, disponível em http://bit.ly/cartilha-adocao.

Rosi Prigol é presidente do Instituto Amigos de Lucas e mãe de Gilberto (27) e Luiza (24), filhos biológicos, e de Gabriel (6), Wesley (6) e Wendy (4), filhos através da adoção. Porto Alegre/RS.

Endereço eletrônico: presidencia@amigosdelucas.org.br.

http://lista10.org/uteis/10-passos-para-adotar-uma-crianca/

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