Edição 99

A fala do mestre

Agenda 2030. Resgatar o planeta ou esperar o fim?

Nildo Lage

26Décadas após décadas, cientistas persistem no acionamento dos alertas: o planeta está se aquecendo! O planeta está se aquecendo! É preciso conter os desmatamentos, reduzir as fontes poluentes — indústrias, automóveis — para a Terra não se transformar numa sauna! Os maiores vilões — agronegócio, grileiros, mineradoras — foram persuasivos… Nossos gestores não deram importância… Os alertas não interromperam… Não teve jeito… O planeta chegou ao seu limite, e as devastações não foram interrompidas… O humano é obstinado; todavia, se não refrear a destruição, o planeta azul se transformará num planeta de alienígenas. A virada do século salienta que o processo de hibridação da Terra será acionado, e os sinais emitidos já acendem medo, pânico, destruição, morte… Exceto consciência… Mesmo voltando o olhar e se deparando com a devastação, um planeta sem vida, poucos se comovem.

A cada fenômeno, discussões, promessas, horizontes… A Eco 92 abriu uma fresta para salientar as iminências. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável ganharam a passarela e desfilaram por plenários de câmaras e senados, gabinetes presidenciais, palácios reais… De tão controvertidos, prós e contras se engalfinham, contestam interesses. Entre bandarilhas e contumazes quebras de braço, não se entendem. Em meio às tréguas, acordos — recheados de méritos — são firmados… No transcorrer da cerimônia, consciência de intenções e ações são visualizadas… É tudo mágico… Janelas se maximizam… Dilatam os horizontes da vida… No fritar dos ovos, muito pouco foi feito, e a trilha que conduz o planeta para a vida — sustentabilidade — é ladrilhada para dar acesso ao progresso, acatar ambições de grupos.

O caos bate à porta. O que fazer? Como os poluidores encaram o caos? Qual é a posição do Brasil, que sentou à mesa dos grandes poluidores? Qual é a responsabilidade da sociedade, da educação na formação do cidadão sustentável?

Respostas são suasórias. Ninguém é inocente. Não foi falta de alertas nem deficiência de consciência, tampouco de informação… O fato é que, na jogatina PROGRESSO e VIDA, prevalece o progresso. Evoluir, produzir, prosseguir é mais importante que o viver… Para maquiar, a consciência com CIÊNCIA é asfixiada pela ferramenta que imerge o mundo no próprio mundo: a tecnologia. Arremetemos com tamanha presteza que a tecnologia compactou o planeta. Com um simples clique, assoalhamos o mundo, e, nesse mar de conhecimentos, dados e informações que germinam em tempo real, olhares se bifurcam, competências abrolham… A realidade flui… O progresso tem azáfama, precipita os passos… Perguntas ecoam… A natureza responde… O humano entra em pânico. O que falta? Falta responsabilidade. Responsabilidade para interromper o ritmo, conter a poluição… Emissão de gases que precipitam o aquecimento… Viver com o essencial para equilibrar um planeta extenuado por ter chegado ao seu limite de produção a ponto de perder o domínio do próprio clima.

As pérfidas convenções da Agenda 2030

Antes de controverter a Agenda 2030, que assenta países — excepcionalmente o bloco poluidor — face a face com o maior desafio do planeta: SUSTENTABILIDADE, é primordial que máscaras sejam lançadas por terra para que os autocratas entrevejam o caos que nos encurrala com catástrofes assoladoras e não venham com a pergunta sádica: O QUE É DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? A resposta está escancarada em outdoors que alertam a sociedade de que o futuro das novas gerações depende de atitudes do presente… O lance é que essa geração não sabe para onde vai, aonde ambiciona chegar, tampouco tem propósitos para o futuro…

O descaso com a vida é de uma dimensão que, a cada embate, não sai nada além de quebra de braços e da evasão de responsabilidades. Assim, vida saudável, com o fim da fome, redução da pobreza e sustentabilidade, é um horizonte que se fecha a cada dia.

Para muitos, energia elétrica é um luxo desconhecido… De tal modo, alcançar a meta do desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável é um alvo além do mundo, pois, sem políticas públicas, cada um abocanha o próprio hábitat, como ocorre em regiões onde reservas estão sendo destruídas pelos moradores para virarem carvão… É crime? Claro! Todavia, é um pedaço do Cerrado, da Mata Atlântica, da Caatinga, do Sertão ou a vida humana que se atrofia ante o descaso político, cujos representantes só pensam em enriquecer com desvios bilionários.

De tal modo, é impossível garantir padrões sustentáveis, amortizar a desigualdade, tampouco debelar mudanças climáticas, pois nossos gestores não querem nem saber quantas árvores terão que ser arrancadas, quantos animais, serão mortos… Ou se um bioma será extinto… O comprometimento com empresas que investem em campanhas eleitorais requer lealdade, e estas querem as suas fatias; uma delas, a Amazônia — a maior em diversidade, a maior em vidas, a maior em beleza… A maior do planeta —, está sendo fatiada e leiloada por um presidente fascista que não se condói ante a devastação, tão somente para atender interesses privados… Os impactos da sua extinção, excelentíssimo Temer? Não é da sua conta! Quanto valem a biodiversidade, os direitos dos povos indígenas e as comunidades ribeirinhas dos 46.450 km2 da Reserva Nacional de Cobre e Associados ante a abundância de cobre, ouro, titânio, tântalo, tungstênio guardados no seu solo?

A posta, cognominada Renca, é, simplesmente, do tamanho do Estado do Espírito Santo, maior do que a Suíça… Mas os ambiciosos têm pressa e não podem perder tempo contabilizando quantas espécies serão destruídas, extintas, nem quantas áreas protegidas — Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Reserva Biológica do Maicuru, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, Estação Ecológica do Jari, florestas estaduais do Paru e do Amapá, Reserva Extrativista Rio Cajari, Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d’Este — serão assoladas. Os “caçadores de tesouro” querem os minérios nobres ocultos sob as raízes.

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A parcela brasileira no aquecimento da fornalha

O governo não errou nas contas. O bioma amazônico é uma fábrica de lenha cuja produção é capaz de gerar calor para aquecer o mundo. O decreto vai além do uso do poder para beneficiar ambiciosos, extinguir espécies… É uma ameaça à vida, pois a floresta amazônica absorve bilhões de toneladas de gás carbônico, e, se for aniquilada, o planeta se transformará numa sauna, além de atrair fenômenos extremos, como ondas de calor, trombas-d’água e ciclones tropicais…

Tais ações posicionam o Brasil entre os grandes responsáveis pelo aquecimento global. Se o decreto cumprir seus desígnios, é o Juízo Final, pois, para crescer, as árvores absorvem CO2 e liberam oxigênio, e o desmatamento é a advertência em dobro, uma vez que o solo amazônico é riquíssimo em CO2… Se sobreviver o desmatamento, elevadíssimas quantidades desse gás — cuja propagação acelerará o derretimento das geleiras do Polo Norte — serão liberadas, e isso é apenas uma das consequências do desrespeito às leis da natureza.

O bioma amazônico é uma fábrica de lenha cuja produção é capaz de gerar calor para aquecer o mundo.

O passo que não pode ser refreado

Há a necessidade urgente de repensarmos nossa prática consciente que transforma hábitos predadores em ações ecologicamente corretas. Não temos mais tempo para contornar, pois o clima há tempos vem emitindo sintomas de desgoverno, e o meio ambiente grita, arremessa-se contra o humano, que não percebe que ciclones, terremotos, tempestades, secas e maremotos são respostas da natureza para que o humano evolua as suas técnicas de produção e acomodações na proporção em que procria… Asseverando em cada ação que a evolução humana, na busca de soluções sustentáveis, é o pilar da sustentabilidade…. Se os elos do relacionamento homem-homem-produção-moradia-consumo-natureza não forem acoplados, dificilmente impetraremos resultados positivos.

A essência humana tem impulsos que instigam ações destrutivas. O homem é rebelde desde a criação… Não se preocupa com o amanhã, tampouco com as gerações futuras. Assim, sustentabilidade se torna um empecilho aos insensíveis, a iniciar pela Educação que bloqueia o acesso a questões que conscientizem, despertem a necessidade de mudanças de hábitos para encarar a crise de mangas arregaçadas.

Todavia, olhar para o meio ambiente como um espaço que deve ser resguardado para a garantia e ostentação da própria vida exige abdicações, compartilhamento de responsabilidade… Assim, é preciso que o desenvolvimento econômico chegue a um consenso, para contrabalancear um planeta que se debate para sustentar a sua superpopulação… Produzir cidadão decreta acelerar a produção de pão… Mais vidas, mais espaço, mais alimento… Mais lixo… Atenuar a situação estabelece audácia e não fugir de questionamentos que incomodam: Onde alocar tanta gente sem destruir os biomas? Como produzir, produzir, produzir… Consumir… Sem extinguir? O que fazer com os resíduos do consumo? Planejamento, consciência de que crescer estabelece estrutura, uma gama de precauções.

Essa piada de que, na natureza, tudo se renova não arranca mais risos nem de toupeira… O planeta não é uma fonte inesgotável de alimentos… Entramos na era do quem chegar primeiro bebe água limpa… A falta de água é o reflexo de que o planeta está desidratado… Os fenômenos naturais salientam a lassidão de um planeta que não consegue matar a sede, tampouco saciar a fome dos seus moradores. O que fazer? Desacelerar ainda mais o crescimento populacional? Consumir conscientemente? Estamos no olho do furacão, cuja velocidade dos ventos não permite retroceder, é preciso avançar, avançar com sustentabilidade para ostentar a própria vida.

Nas décadas vindouras, a ciência aprimorará o ciborgue, genética e eletronicamente preparado para sobreviver em qualquer espaço, inclusive em ambientes sem gravidade.

Será tão somente o ano em que o mundo maximizará a janela para salientar o “homem digital”. Os presságios afiançam que, no limiar da quarta década do milênio, a Sociedade Secreta evoluirá espantosamente para assegurar ao homem recursos da autoprodução: cada cidadão será um megaempreendedor da Companhia ZÉ MANÉ S.A. O negócio da China alocará aos empreendedores a autossuficiência do próprio alimento, água, oxigênio… Pois desenvolverá aparatos para ostentar a vida onde quer que ela seja lançada.

Com tantas muralhas protetoras, para que pensar no futuro? Ser humano, meio ambiente e planeta? Que planeta? Um planeta sem pobreza, sem fome, com vida saudável… Educação? Inclusão? Igualdade? Sustentabilidade? Não será preciso… A vida será conduzida pela própria vida… Paz? Relaxa… Esqueça a asneira de enriquecimento de urânio, mísseis, bombas… Não existirão guerras… Não teremos divisas… O céu será o limite… Assim, para que se preocupar com a natureza?

O tempo-limite para tolos lutarem por enriquecimento de urânio é 2030, pois as artilharias testadas para a quarta década do milênio entrarão em ação sob o comando de potentes inteligências artificiais que dominarão a guerra do tempo — armas geofísicas que alterarão o clima de um país ou região. Como interromper, por um, dois, três anos, os ciclos de chuva sem que os grandes centros de pesquisas como a Nasa, a Agência Espacial Russa e a Agência Japonesa de Exploração Espacial identifiquem a razão? Isso é evolução tecnológica e retrocesso humano. O fato é que transformarão a área alcançada em desertos sem ter que derrubar uma árvore.

Não se abisme, professor, com os passos céleres da tecnologia, não necessitaremos de atmosfera, pois a consumação do homem digital poderá sobrevir antes de 2030… Não é ficção nem profecia apocalíptica… É fato. Nas décadas vindouras, a ciência aprimorará o ciborgue, genética e eletronicamente preparado para sobreviver em qualquer espaço, inclusive em ambientes sem gravidade, ou seja, fora da atmosfera terrestre, e os ajustes serão executados remotamente para que não sofra restrições biológicas, conflitos emocionais, traumas psicológicos…

É muita informação, educador? Se não suporta a sobrecarga… Sente, respire, levante o olhar e aprecie o laboratório da ÁREA 2030 para acompanhar o processo que se iniciará pelo cérebro, do qual será aproveitado tão somente a estrutura biológica, que sofrerá emulação completa: serão supridos e triplicados os neurônios com uma legião de neurônios eletrônicos superiores aos biológicos… Tais neurônios serão gerenciados por milhões de exércitos de nanobots — robôs na dimensão de uma molécula que agirão milimetricamente por ponto de atuação —, ações e reações específicas das regiões do cérebro para que não sofra lapsos.

Abordarmos esse universo, falta pouco… Alguns passos… Basta os especialistas da área concluírem com exatidão a conta das 100.987.234 células e conectá-las aos 10.298 acoplamentos… E, assim, transplantar e implantar um cérebro digital no humano… O clique sobrevirá quando os incansáveis ajustarem a combinação biológico-eletrônica… para que os condutores não interrompam a transição dos elétrons e obstruam a sincronia por meio dos semicondutores… Quando o ajuste sobreviver, a interface homem-máquina dará existência ao humano digital, preparado para receber dispositivos, aplicativos… Um HD capaz de armazenar todos os dados existentes na rede, pois ostentará uma memória artificial evolutiva que jamais entrará em conflito emocional ou psicológico.

O lado bom de viver no planeta híbrido é que o governo não terá dores de cabeça para sanar problemas de saúde, educação… As reclamações fluirão das seguradoras, que não terão clientes… Graças à eternização do humano… Nesse universo, as mulheres rirão… Rugas e gordurinhas não preocuparão aquelas que se atormentam com a idade, pois parte da legião de nanobots transportará uma overdose da fórmula da juventude e monitorará gordurinhas localizadas, rugas, quaisquer sinais de envelhecimento, e o mais bacana: esses dispositivos serão conectados a um tronco comandado pelo médico virtual, que acompanhará, em tempo real, a situação de todos os seus clientes com auxílio do seu celular, que é um megacomputador, e este — o médico virtual — alerta o segundo médico — o humano ― por meio de um aplicativo cada vez que um deles ― o paciente ― exigir sua presença ou intervenção… Essas informações do cliente para o médico — virtual ou humano — serão enviadas a longa distância por meio de uma unidade UART, que é um terminal para recepção e envio de informações…

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Nesse estágio, você, educador, será um mero apreciador do processo de evolução humano-tecnológica — porém, do outro lado do portão da escola, pois os alunos não necessitarão de professor. O Sistema de Ensino — uma central de processamento de dados comandada por um robô com megainteligência artificial — descarregará automaticamente, no supercérebro do computador — assim que o cidadão adquirir idade escolar —, os conteúdos do ciclo, e o PC-professor manterá a conexão com o aluno vinte e quatro horas por dia por meio de um chip instalado no cérebro, interligado ao mundo por um sensor magnético. Por estar integrado ao satélite científico, o chip promoverá a interface aluno-professor do futuro, e basta o educando pensar num determinado tema que receberá informações em todos os formatos: áudio, vídeo, texto, imagens na tela holográfica de alta definição que florescerá na palma da mão em todas as versões: do científico ao senso comum. Graças à interligação entre os conglomerados do conhecimento, para que dados e conteúdos não colidam e provoquem bloqueios no processo da aprendizagem, assim a gama de informações do aluno se expandirá em todos os ângulos e áreas, atingindo as metas da Educação no desenvolvimento integral do humano, que acontecerá harmoniosamente. E o mais interessante: por reter recursos para decodificar pensamentos, mapeará o PC-professor a mente do aluno, neurônio por neurônio, para que, no processo educacional, sejam ajustados desvios, traumas, bloqueios, sentimentos que apartam, como ódio, desejo de vingança, inveja, racismo, homofobia…

O que é isso, professor? Vai agir como os avestruzes, que não suportam pressões e introduzem a cabeça num buraco? Levanta a cabeça… Enquanto 2030 não coloca em operação as suas sediciosas armas, descruze os braços e conscientize a geração que está sentada à sua frente na sala de aula de que sustentabilidade é respeito à vida, a garantia para a subsistência da espécie humana no planeta azul… Não se intimide! Fale! Fale! Fale! Se não funcionar, grite! Grite! Grite… Todavia, não permita que grileiros e latifúndios ocupem o que ainda resta da Amazônia… Que o agronegócio dilacere a Mata Atlântica, o Cerrado… Por mais que a coisa esteja “preta”, ainda temos uma arma para redirecionarmos os rumos do nosso país: O VOTO! O voto é a nossa voz, a arma mais poderosa do cidadão para caçar corruptores… O Brasil entrou na TEMPORADA DE ELEIÇÃO, toma posse da sua “cartucheira”, engatilha, ajusta a mira e… POOOOU! Nas raposas que forçam uma entrada na Granja do Torto e rondam impacientes para abocanhar as nossas reservas… Redirecione a mira e…. POOOOU! Nas hienas que estão espreitando nossos biomas… POOOOU! Nas sanguessugas que absorvem os nossos recursos naturais e financeiros, podando a justiça e, assim, realinharemos a trajetória desse universo denominado BRASIL, que ainda é a nossa casa, cujos moradores necessitam de oxigênio.

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