Edição 17

A fala do mestre

Ariano Suassuna

O decifrador de brasilidades, como já foi chamado, é um dos principais preservadores da cultura brasileira. À sua obra, ele integra os valores mais arraigados de sua região. Nela encontramos, a um só tempo, elementos do Simbolismo, do Barroco e da literatura de cordel. Ficcionista, poeta, dramaturgo e pensador da cultura, Ariano Suassuna, transforma o Sertão num grande palco das questões humanas típicas de qualquer lugar do mundo. Criador do Movimento Armorial, que tem como projeto a confluência simultânea de todas as artes populares do Nordeste brasileiro, trabalha a favor da dignidade humana. O seu Romance d’A Pedra do Reino é considerado um dos melhores da literatura brasileira, e a peça O Auto da Compadecida, diversas vezes encenada por todo o mundo, já teve três adaptações cinematográficas.

Aos 16 de junho de 1927, nasceu, em Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa – PB, Ariano Villar Suassuna, filho de Rita de Cássia Villar Suassuna e João Suassuna. Após o seu nascimento, seu pai deixa o governo da Paraíba e leva a família para o Sertão da Paraíba, indo morar na fazenda Acauhan.

Na Revolução de 30, seu pai foi assassinado no Rio de Janeiro, fato que obrigou a família a transferir-se para Taperoá, onde residiu de 1933 a 1937. Em Taperoá, Ariano assistiu, pela primeira vez, a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, que mais tarde influenciaria suas obras e peças teatrais, tornando-se a improvisação uma de suas marcas registradas.

Em 1942, passou a residir no Recife e, em 1945, concluiu os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Oswaldo Cruz.

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Em 1946, ingressou na Faculdade de Direito, fez amizade com Hermílio Borba Filho, e, juntos, fundaram o Teatro do Estudante de Pernambuco. É datada de 1947, sua primeira peça, Uma mulher vestida de sol, e de 1948, Cantam as harpas de Sião (ou O desertor de Princesa), que foi representada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. No ano seguinte, foi a vez da montagem, pelo mesmo Teatro, de Os homens de barro.

Formou-se na Faculdade de Direito em 1950 e, naquele mesmo ano, recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz. Retorna a Taperoá para curar-se de doença pulmonar. Em Taperoá, no ano de 1951, escreveu e montou a peça Torturas de um coração. De volta ao Recife, em 1952, passa a dedicar-se ao exercício da advocacia até os anos de 1956; em paralelo, continua com a atividade teatral. Durante esses anos, produziu O castigo da soberba (1953), O rico avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955). Essa peça o projetou em todo o País e foi considerada como “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro” por Sábato Magaldi.

Em 1956, assume, como professor, a cadeira de Estética na Universidade Federal de Pernambuco e abandona a advocacia. Em 1957, suas peças O casamento suspeitoso e O santo e a porca, são encenadas pela Cia. Sérgio Cardoso, em São Paulo. Nos dois anos seguintes,1958 e 1959, são encenadas as peças O homem da vaca e O poder da fortuna, respectivamente. A peça A pena e a lei, encenada também em 1959, seria premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.

Com seu bom amigo Hermílio Borba Filho, fundou, em 1959, o Teatro Popular do Nordeste, onde encenou as peças a Farsa da boa preguiça (1960) e A caseira e a Catirina (1962). Em 1960, faz uma pausa na sua carreira de dramaturgo e dedica-se, exclusivamente, ao seu trabalho de professor da cadeira de Estética na UFPE.

Em 1967, torna-se membro fundador do Conselho Federal de Cultura.

Em 1969, foi nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE.

Como sempre esteve ligado à cultura, iniciou em 1970, no Recife, o Movimento Armorial, que tem como projeto a confluência simultânea de todas as artes populares do Nordeste brasileiro, trabalhando a favor da dignidade humana. Conclamou nomes expressivos da música para criarem uma música erudita nordestina e para juntarem-se ao Movimento Armorial, lançado, no Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto Três Séculos de Música Nordestina — do Barroco ao Armorial e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.

Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção e publicou os romances: Romance d´A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), e História d´O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados, pelo próprio Ariano, de “romance armorial-popular brasileiro”.

Em 1976, defende, pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, a tese de livre-docência A Onça castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira.

Em 1994, aposenta-se como professor.

De 1994 a 1998, assumiu o cargo de Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes.

Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 3 de agosto de 1989, foi ali recebido em 9 de agosto de 1990.

É membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2000).

Assim é Ariano Suassuna, um autor que traz nas suas obras a força do arcaico como traço da sua contínua presentificação e eternização.

Obras consultadas
Almanaque Abril. Quem é quem na História do Brasil. São Paulo: Abril Multimídia, 2000. p. 462.
Caderno de Literatura Brasileira. Instituto Moreira Salles. São Paulo, 2000.

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