Edição 10

Matérias Especiais

As crianças de Renoir

Como numa TV ou em qualquer material impresso, podemos nos dar conta, ao nos aproximarmos bem a ponto de encostar o nariz no monitor ou no papel, que estamos diante de uma ilusão, uma combinação de vários pontos formando imagens. Grosseiramente comparando, na pintura ocorre algo similar. No entanto, o que se vê é tinta, sutil ou violentamente, ou até numa violência sutil, impressa sobre a tela.

Várias obras são, muitas vezes, verdadeiras “fotografias”, retratos recortados minuciosamente da atmosfera real em que se vive, mesmo assim, ao aproximar-se extremamente, o que se vê são epitélios feitos de tinta.

No Impressionismo, no entanto, o que se vê é tinta, verdadeiramente tinta, à longa distância até, porém, o cotidiano, a vida, saltam em cores e luz das telas de seus pintores, pois este foi um movimento artístico que pregava o abandono às regras de composição, valorizava a pintura em pequenas pinceladas, o ambiente, o espaço, a natureza.

Deste movimento participaram grandes nomes da arte, como: Monet, Manet, Sisley, Morisot, Renoir.

Renoir foi escolhido aqui para representar, em todas as suas manchas de cores e luz, cenas de cotidianos familiares, o que foi, em sua obra, ficando em apenas algumas telas.

Pierre Auguste Renoir nasceu no dia 25 de fevereiro de 1841 em Limonges, França, era filho de um alfaiate e uma costureira. Com três anos, sua família mudou-se para Paris e ingressou numa empresa de decoração em porcelana, que fechou por causa da introdução de métodos industriais para fazer porcelana (reflexo da globalização já naquela época!). Passou a trabalhar para um pintor que abordava temas religiosos. O trabalho rendia um bom dinheiro e logo pôde tentar uma vaga na École des Beaux-Arts, pois já havia juntado dinheiro suficiente. Foi lá que conheceu alguns dos personagens que fariam o movimento Impressionista.

No início, não houve credibilidade no novo método de pintura, tanto é que os trabalhos produzidos por estes artistas, inclusive Renoir, foram rejeitados pelo Salão Oficial em Paris.
Decidido a mostrar seu trabalho, Renoir e outros organizaram sua própria exposição, que não foi sucesso financeiro, mas rendeu algo muito importante: o termo impressionistas deixou de ser pejorativo. Inclusive organizaram a segunda e a terceira exposições impressionistas.

Estas coletivas lhe renderam bons contatos, que passaram a colocá-lo diretamente com personalidades influentes da época. Foi quando, devido à influência dessas pessoas, quadros seus foram expostos no Salão Oficial, sendo um grande sucesso.

Nesta época conheceu Aline Charigot, sua amante e modelo, que depois se tornaria sua esposa. Mas, antes disso, Renoir decidiu viajar para a Itália. Fato que influenciou profundamente seu trabalho, pois ficou admirado com a obra dos renascentistas. Desde então começou a abandonar a forma impressionista de pintar e dedicou-se a pesquisar e estabelecer novas formas na pintura, espalhando as pinceladas e as tintas em camadas e vernizes. Este período foi importante por ele ter procurado a combinação entre o que já sabia de cores e o método tradicional de aplicação de tinta. Mais uma vez fomos presenteados com verdadeiras obras-primas, e seu trabalho finalmente reconhecido quando o governo francês lhe comprou Ao piano.

Na obra de Renoir podemos perceber que, ao tornar-se pai de família, com o nascimento de Pierre, primeiro filho com Aline, seu tema favorito passou a ser a família, a maternidade. Na vida familiar seguiram-se os filhos, Jean e Claude, sempre presentes em suas obras, bem como a própria Aline.

Renoir passou a apresentar sinais de artrite e reumatismo, o que dificultou a sua produção, pois chegou a precisar amarrar os pincéis às mãos. Escolheu também se dedicar à escultura. Já não podia trabalhar sozinho, mas contou com dois jovens artistas que produziam as peças seguindo suas orientações.

A primeira grande guerra eclodiu e dois de seus três filhos, Pierre e Jean, estavam envolvidos. Quando Renoir e Aline souberam que eles estavam gravemente feridos, entretanto recuperando-se, ficaram muito preocupados. Aline decidiu visitá-los. Quando voltou, já estava bastante perturbada por causa dos horrores da guerra que presenciou. Nunca mais se recuperou, foi internada em um hospital em Nice e morreu em 28 de junho de 1915. Depois disso, Renoir teria mais poucos anos de vida, morreu em 03 de dezembro de 1919.

1. Ao Piano – 1892. Coleção Madame Jean Walter, Paris – Na última década do século, Renoir muitas vezes pintou séries inteiras de quadros que representavam uma ou duas figuras. Essas variações de um tema correspondiam à pesquisa do artista durante o período de produção de retratos e nus. Apesar da deficiência de detalhe, esta tela ilustra a técnica impressionista de Renoir.

2. Maternidade, ou Mulher Amamentando seu Bebê – 1886. Coleção particular, Nova York – Nesta tela, mostra sua esposa amamentando seu primeiro filho. A reação do artista ao risco de as formas se dissolverem, como no estilo impressionista, gerou vívido contraste entre os contornos definidos do retrato e o fundo tipicamente impressionista.

3. Claude Renoir com seus Brinquedos – 1906. Coleção Madame Jean Walter, Paris – A vida em família sempre foi inspiração para Renoir. Um modelo favorito era o caçula, Claude, apelidado Coco, que o artista pintou em todos os tipos de pose espontânea, criança empenhada em descobrir os prazeres da vida.

4. Auto-retrato – 1976. Fogg Art Museum, Cambridge (Mass.). Por cortesia da Harvard University, Coleção Maurice Wertheim – A plasticidade sutil e delicada com que Renoir retratava seus modelos pode também ser vista neste auto-retrato, no qual o rosto é representado com cuidado, enquanto o fundo e a silhueta se mostram um tanto difusos.

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