Edição 42

Pensamentos

Brasil Sonhado

Eunice da Silva Moreira – Colégio Batista Mineiro – Belo Horizonte/MG

Estou sonhando com um Brasil com S,
S bem grande, S maiúsculo,
o mais maiúsculo dos S que já vi.
Um S destacado — preto ou encarnado —, espalhafatoso,
escandaloso, colocado bem no centro da palavra Brasil.
S com som de S, com pinta de S,
caprichado, desenhado,
impossível de não ser visto, e isto só para inglês nenhum
botar defeito… Aliás, todo estrangeiro que tiver que aterrisar
no solo desse novo Brasil, antes mesmo de receber
o tão sonhado Welcome, vai ter que se deparar com esse
“essão” do nosso nome!
Você até pensou que fosse com aqueles dois outros S da
Esso, não pensou? Pois é, pois pensou mal!
O S desse nosso Brasil é um S de verdade,
não é desses S de cara-metade que andam por aí!
É um S de sapateiro, de seleiro, de servente, de soldado…
de sargento ou de suboficial, que é um posto mais alto!

Estou sonhando com um Brasil com S,
S de seriema, de sanhaço, de sagüi e de sabiá-laranjeira!
Estou sonhando com um Brasil com S:
S de sensível, de sentimental, de senhor, de santifi cado.
S de sem-vergonha… é…
Sem vergonha de teimar,
de errar, de chorar, de voltar atrás,
de estender a mão…
Quem sabe, de pedir perdão?!
Estou sonhando com um Brasil assim:
em que a gente não precise se desentender ou chegar a
extremos por causa de comida, transporte, moradia ou
benefícios… (coisas dessa natureza!)

Estou sonhando com um Brasil com S,
S de Sandras, de Silvânias, de Severinos,
S de Sílvio Caldas… S de Sarney, por que não?!
Ele também não é brasileiro?
Estou sonhando com um Brasil que possua, no nome,
S de criança sapeca, de criança sadia!
S como o de sabedoria ou o de sensatez, que andarão pela
cabeça dos jovens ou adolescentes desse novo país.

Estou sonhando com um Brasil com S:
S de sambista; de Salgueiro; de seresteiro saudosista, enchendo
a vista com luar de Lua cheia, dedilhando canções
de amor à namorada.
Ah! Esse Brasil vai ser cheio de cores: verdes, amarelas,
azuis, brancas, rosas, cinzas e alaranjadas,
puras ou misturadas, nos seus efeitos e nos seus matizes
para cobrir a escuridão desses momentos infelizes,
para exterminar o negrume dessas sombras que, há muito,
desceram sobre as nossas cabeças!

Estou sonhando com um Brasil com S:
S de semente, S de safra, S de sobrevivência!
Estou sonhando com um Brasil com S de saldo, de superávit,
S de segurança, S de solução!
Nesse Brasil que eu sonho, lagos e lagoas vão ter água boa,
pronta pra ser bebida com a palma da mão.
Rios e mares vão ter peixes;
fábricas e usinas, vai haver de montão, e, o que é melhor,
todas vão ser nossas.
O progresso não vai comprometer a vida do homem;
saúde vai ser um fato, e não um relato de campanha eleitoral.
No dia em que esse S já for nosso, literatura vai ser um
barato, programação de rádio vai ser “massa”,
televisão vai ser um colosso,
revista e jornal vão sair até fiado!

A imprensa — de marrom —
vai passar a possuir um novo tom:
amarelado… Ou, quem sabe, esverdeado?
O fato, propalado,
decantado em verso e reverso,
vai cobrir todo o universo das ações do nosso povo, sem
nenhum motivo para segundas intenções.

Estou sonhando com um Brasil assim:
curtido, amado, esperado, soletrado pela boca das crianças,
apresentado nas cartilhas e nos livros de aprender a
ler, nas escolas deste país, que vão ser muitas!
Admirado pela juventude, respeitado pela sociedade,
cultuado pela gente mais velha!
Brasil do meu sonho!
Brasil em que eu deponho toda a minha fé! Brasil com
marca registrada,
com fi rma reconhecida,
selada nos cartórios das casas do povo!

Brasil sem dívidas, internas ou externas,
novas ou antigas.
Brasil cuja dívida maior seja a da gratidão
pelo carinho que te devota o teu povo!
Brasil do meu sonhar, eu te proponho
transformar em realidade o sonho que hoje sonho!
Coloque, nesse sangue novo que vem por ar,
um pouco do signifi cado desse S colocado no teu nome!

Vá, Brasil! Não fi ques aí deitado nesse teu berço encantado!
Solte esse teu alazão na direção de um novo norte!
Afi nal, eu vejo isso como uma questão de vida ou morte!
Esquece, Brasil, por um momento,
esse presente complicado que tu vives
e salta comigo esse muro!
É o teu futuro que te espera do outro lado!

Vá, Brasil! Avance sem medo,
somos mais de 180 milhões de brasileiros
a te propor tal mudança!

Que a tua voz, unida à nossa,
rasgue a amplidão dessas noites estreladas;
volteie morros, serras e escarpadas;
percorra a imensidão dos vales;
se aprofunde no abismo do mar;
se confunda com a voz dos peixes, das aves e dos animais;
para que, juntos, possamos colocar, no coração dos homens
que detêm o nosso progresso, esse nosso sonhar de esperança…
esse nosso grito de liberdade
há muito sufocado na garganta!

Referência Bibliográfica

Amae Educando. Nº 198 XXI. Setembro, 1998. Belo Horizonte, MG.
Págs. 46 e 47.

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