Edição 39

Lá Vem a História

Cadarços desamarrados

Madu Costa

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Era uma vez uma menina. Mariana, era este o seu nome. Magra, cabelos crespos, olhos de jabuticabas maduras e boca bem-feita. Mariana era linda! Ela era muito feliz com o seu nome, nele ela podia viajar. Mariana era sonhadora. Vivia no mar, no ar e tudo isso ela encontrava no seu próprio nome. Ela brilhava noite e dia e voava no tempo.

No mundo de sonhos de Mariana, tudo era leve e solto. Acho que é por isso que ela vivia sempre com o cadarço do tênis desamarrado. O cadarço do seu tênis corria solto e deixava rastros por onde passava. Lá ia Mariana, voando junto com o cadarço. Ela agora era uma pipa. O cadarço era sua rabiola. O sonho era a linha.

Fio comprido!…
E a menina voava, voava!…
O tempo passava… A menina passeava no tempo: pra lá e pra cá…

A mãe enrolava sua linha, ao chamar a menina para tomar banho ou para almoçar. Era hora de ir pra escola.
— Filha, amarra o cadarço do tênis.

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Está na hora de ir pra escola. Todos os dias é a mesma coisa! Amarra depressa, menina!
Mariana amarrava o cadarço. Bem de leve. Ela não gostava de nó cego.

Na escola, a professora dizia o mesmo:
— Amarra seu cadarço, menina! É perigoso deixá-lo solto. Já pensou se você pisa nele, cai no chão e quebra o braço?

A menina olhava para a professora e dava um nó apertado no cadarço. Era um nó no cadarço e outro na garganta… Isso só causa embaraço…

O tempo ia passando, e Mariana logo olhava pela janela e começava a voar.
— Professora! Posso ir ao banheiro?
— Pode sim, Mariana! Antes de ir, amarre o cadarço do tênis, ouviu?!
— Ah! De novo, o cadarço… Mariana dava um nozinho de nada e saía toda apressada.
Ela estava muito apertada.

Apertada na carteira. Apertada na sala de aula. Apertada de vontade de voar na imaginação.

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Era só chegar no pátio e começava a indagação:
— Aquela nuvem é um lagarto ou será um camaleão? Aquela outra é um tigre ou será um leão? Aquela é uma baleia! Ou será que é uma sereia?!

De repente, num estalo, a menina percebeu ter passado muito tempo, por maior que fosse o aperto. Ela voltou correndo para a sala de aula, com aquela cara de quem estava ainda mais apertada.

A professora olha bem séria para Mariana. E ela, já adivinhando o que a professora ia dizer, repete baixinho, olhando pro chão:
— Amarre o cadarço, menina! Já pensou se você cai e quebra o braço?

A menina olha, nesse momento, bem nos olhos da professora, dá um sorriso e num sobressalto:
— Já pensou se, em vez de bronca e de me mandar amarrar o cadarço, você abre seus braços e me amarra num abraço?

Antes que a professora possa ler seus pensamentos, olhando nos olhos da mestra, Mariana abaixa e amarra o cadarço sonhando com aquele abraço!…

Maria do Carmo Ferreira da Costa (Madu Costa) sempre gostou de escrever em prosa e em verso. É professora e contadora de histórias. Já publicou um livro de literatura infantil, chamado A janta da anta. O que ela mais gosta de fazer é dar aulas de literatura, por meio das quais exercita sua criatividade de produtora e de contadora de histórias. Acredita que, pela narração de histórias dos diversos gêneros, especialmente os contos de fadas, os alunos podem ser atingidos de forma lúdica. Madu é pedagoga pela UFMG e tem pós-graduação em Arte-Educação pela PUC Minas. É sócia na Consultaria de Arte Conta e enCanta, pela qual dá cursos de contação de histórias.
Telefones para contato: (31) 3482-9103/8723-4350

Fonte: Revista Amae Educando – Ano 40 Nº 350 – Setembro/2007.

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