Edição 10

Matérias Especiais

Compartilhando resultados de sucesso

Mães adotivas que engravidaram e, grávidas, permitiram-se o amor incondicional, que ignora os preconceitos, distancia os medos, põe abaixo os mitos que perpassam o processo de adoção. Elas priorizaram a oportunidade de amar e serem amadas, empreenderam na perspectiva de serem felizes por fazerem alguém feliz primeiro e consolidaram em suas vidas resultados de sucesso, comprovados por seus depoimentos e dos filhos e filhas gestacionados de coração.

Eneri: “Depois de 10 anos de casada, que fizemos uma série de atividades que nos desenvolveram profissionalmente, pensamos em ter uma filha, porém, como não chegava pelos meios biológicos, decidimos pela adoção. Após 5 anos da primeira adoção, tivemos a necessidade de adotar mais uma filha, para que a primeira tivesse uma irmã, o que foi uma coisa muito boa. Conversamos muito com a família do meu marido e a minha, para que todos ficassem ‘grávidos’ da idéia. Procuramos ler vários livros sobre o assunto e, depois de algum tempo, tentei reunir várias pessoas, com objetivos comuns, que também tinham filhos adotivos, para que formássemos um grupo de discussão da temática. Quanto à questão legal, é importante ficar acompanhando o processo no Juizado e quanto à questão psicológica, facilitou a conversa com a família e as leituras que fazíamos. Acho que foi um processo amadurecido, onde realmente tivemos consciência do que queríamos. É uma experiência muito rica, nós crescemos muito como pessoa.”

Maria Luíza (9 anos): “Adorei ser adotada, porque eu amo a família que eu vivo. Estou muito feliz com uma mãe, um pai e uma irmã que amo de paixão.”

Ângela: “A adoção é uma experiência maravilhosa, que necessita de um aperfeiçoamento contínuo em todas suas etapas. De uma forma verdadeira e natural, Camila conhece toda a história de sua vida. Acreditamos que, em quaisquer circunstâncias, a verdade deva prevalecer. Tivemos que conquistar cada centímetro de seu território, às vezes com carinho, às vezes com severidade, e outras com acompanhamento profissional. Mas, graças a Deus, tudo tem dado muito certo. Nossa recompensa é vista todos os dias, quando vemos nossa filha sorrir e fazer planos para seu futuro, futuro esse que está sendo construído com nossa ajuda e seu esforço pessoal, o que nos garante a grande realização do nosso sonho de ter uma filha, para darmos alegria, amor, respeito e toda dedicação que um ser humano necessita, sem pensar, nem nenhum instante, que estávamos fazendo um ato de bondade e sim, recebendo o maior significado do amor: uma filha. Somos uma família feliz.”

Camila (17 anos): “Quando meus pais me contaram, me senti a pessoa mais feliz desse mundo e agradeci muito a Deus por eles terem me escolhido para ser a filha deles, de ter vindo parar em uma família que se preocupa muito comigo e só quer me ver feliz. Considero-me uma pessoa de muita sorte, pois eu imagino o que seria de mim se não tivesse essa família tão maravilhosa.”

Zeneide: “Foi em 24 de setembro de 1993 que algo de maravilhoso aconteceu em nossas vidas: a chegada de Maria Clara, luz que continua iluminando nossa caminhada. Desde a sua chegada, eu e meu marido sempre conversamos sobre adoção, o desejo de adotar uma criança, os preparativos, as perguntas que poderíamos respondê-las e as que nunca teríamos respostas. Fizemos tudo isso com o propósito de que a verdade seria nossa companheira. Ainda recém-nascida, procurávamos conversar com ela sobre sua mãe biológica, dizendo que a perdoasse por tê-la entregue para ser adotada e percebíamos, ou desejávamos perceber, que ela nos compreendesse, e sorria nos dando a certeza de estarmos caminhando certo. No entanto, algumas vezes sofríamos, com pessoas que viam a adoção como um ato social por me julgarem ‘bondosa’, com o preconceito de outras acharem que todo filho adotivo não teria sucesso nunca e também com a idéia de que a mulher que não consegue gerar um filho não é feminina, não sente prazer e, com certeza, uma pessoa frustrada. Estamos vencendo esses preconceitos com amor e verdade. Nossa filha é uma criança inteligente, estudiosa, dengosa e birrenta. Pretende ser escritora e contadora de histórias, como sua ‘mãe’… Em dezembro de 2002, tivemos uma grande alegria, quando ela aceitou o convite, feito pela Escola Fazer Crescer, para ser solista do coral numa Cantata de Natal com apresentação no Teatro Beberibe. De início ela recusou, mas conversamos e mostramos que ela seria capaz e que teria um grande sucesso. Foi um espetáculo maravilhoso! No final da apresentação gritei internamente: ‘Essa é a minha Maria Clara, e é minha filha adotiva’.”

Sandra: “Com dificuldades para engravidar, eu e meu marido procuramos tratamento médico. Quando descobrimos que teríamos poucas chances de conseguir,  conversamos a respeito de adoção, o que já era um sonho na minha adolescência. Tomamos a decisão mais sábia: adotar uma criança e, por incrível que pareça, a mais tranqüila de nossas vidas. Começamos o enxoval com planos de aguardarmos a gravidez biológica até o primeiro semestre de 1991, e entregamos nas mãos de Deus a decisão! Sem restrições de sexo, raça ou cor, recebemos Aline, antes do nosso prazo, e foi muita bem-vinda. Minha gravidez foi de algumas horas, entre o instante que soubemos de sua existência e o outro em que a tive nos braços pela primeira vez, somando onze horas de emoção pura! Um ano e cinco meses depois, Deus presenteou-nos com Arthur. Porém, desta vez a ‘gravidez’ durou seis longos meses, período compreendido entre o dia da decisão do segundo filho e o dia em que o tivemos nos nossos braços. Tivemos ajuda de familiares e amigos, respaldo na prática da verdade, sobretudo acerca de suas histórias de vida, mas a nossa maior força foi a compreensão de que o dom da maternidade/paternidade não se dá na fecundação e sim, na aceitação dos planos divinos de acolher estas crianças como nossos verdadeiros filhos, o que nos levou a encarar a adoção com muita naturalidade e a consolidar, em nossos filhos, a certeza do nosso amor. Sinto-me completamente realizada como mãe e também feliz por saber que eles têm a certeza da plenitude do nosso amor.”

Aline (11 anos): “Acho que ser uma filha adotiva não muda nada a minha gratidão, afeto e respeito aos meus pais, irmãos e familiares. Acho também que os pais não devem esconder dos filhos que eles são adotados, pois, mais tarde, eles podem se sentir magoados e deprimidos, por seus pais terem escondido algo tão importante. Quero declarar que amo muito a minha família, pois a minha família me ama muito.”

Pompéia: “Na verdade, não nos preparamos para a adoção, nos preparamos para ser pai e mãe, onde os nossos filhos seriam nossos, não pelo processo biológico, mas pelo processo adotivo. Comunicamos aos nossos familiares a nossa ‘gravidez’, deixando muito claro que não tínhamos nenhuma informação sobre quais crianças receberíamos. Sabíamos, apenas, que seríamos pais de gêmeos, e isto nos bastava. Nós sempre tivemos como lema a verdade como base de qualquer boa relação. Assim foi também com nossos filhos. Desde o primeiro instante em que os colocamos nos braços, começamos a ‘contar’ para eles como estávamos felizes por eles serem nossos filhos e como isto tinha sido possível, ou seja, de que forma nós tínhamos nos tornado seus pais. Então, tudo se passou com muita tranqüilidade emocional. Entretanto, senti algumas dificuldades de ordem prática, por exemplo, na época em que adotamos não havia a Licença Adoção para as mães, ou seja, no outro dia que meus filhos chegaram, e eles tinham apenas 2 dias, tive que voltar normalmente a trabalhar. Isto foi uma coisa que, finalmente no ano passado, foi resolvido através de uma lei que concede à mãe adotiva o direito à licença maternidade. Nesse processo, ficaram a clareza e a certeza de que adoção não é apenas criação. Quando adotamos, assumimos uma pessoa como filho. Hoje, minha concepção sintoniza-se com o pensamento do psicólogo Luiz Schettine: ‘O filho biológico nós amamos porque é nosso filho; o filho adotivo é nosso filho porque amamos’, ou seja, com o filho adotivo o amor vem primeiro”.

Vitor (14 anos): “Adoção é caso sério, significa vida boa para aquela família, vida cheia de carinho, amor e de várias explicações para o filho. Então, para mim, adoção significa duas palavras VIDA NOVA”.

Hermes (14 anos): “O processo de adoção não é só querer adotar uma criança, mas é também um ato de carinho, amor e disposição para as crianças que necessitam de ajuda. Toda criança deve ter um tratamento especial de seus pais, irmãos e parentes, não sofrer preconceito, nunca excluí-la de sua família, mas sim, ter respeito e dedicação a elas. Tem uma coisa: quando se adota, não se faz isso simplesmente por querer, mas sim, por carinho. É isso que eu e outras crianças admiramos nas pessoas, como minha mãe, Maria de Pompéia Lins Pessoa. Ela é uma super-mãe, e só pensa no meu bem e no do meu irmão, Vitor. Ela contribuiu com o avanço da sociedade.”

Elizabete Andrade: “Ser mãe é a maior dádiva recebida de Deus. Sempre desejei demais um filho e, como o amor de mãe é incondicional, não era importante como ele seria, porém, era necessário que, como a minha primeira filha, também fosse um ato de amor. O meu primeiro encontro com Laís foi de muita emoção, a nossa descoberta… Em mim começou a nascer a semente de uma filha e nela a esperança de uma mãe. Em seis meses começou o processo de adoção legal, porque o de mãe e filha já existia. Hoje ela tem quase nove anos, ao longo destes, construímos sorrisos, lágrimas, vida, lar, uma família. A cada passo, por avanços e quedas, fomos nos conhecendo e construindo o maior dos encontros: mãe e filha. Claro que tivemos e temos atropelos, como todas as relações, afinal, desencontros afetivos também fazem parte do amor. Laís não foi escolhida, foi descoberta. Ela simplesmente nasceu de outra mãe, a biológica, e Deus cruzou os nossos caminhos, fazendo-a nascer em meu coração e, em nossa troca de amor mútuo, nos completamos.”

Roberta: “Cada vez que falo sobre o tema adoção, é como se voltasse no tempo, há nove anos, revivendo a primeira experiência sobre o assunto. Foram momentos felizes, inesquecíveis e de reflexão, que deixaram grandes recordações e ensinamentos, aumentando com a chegada do segundo filho, Artur. Estávamos casados há seis anos e ainda não tínhamos filho. Nunca havia pensado na possibilidade de fazer inseminação artificial, mesmo sendo sugerida pelo ginecologista. A idéia de adotar estava sempre presente. Quando comunicamos que iríamos adotar, as pessoas nos perguntavam sobre consangüinidade, índole e hereditariedade, o que nunca interferiu na idéia e na decisão. Um casal quando pretende ter seu filho biológico pesquisa sua árvore genealógica?! Assim, após quase três anos, adotamos a primeira filha, Isabela, ‘a flora da primavera’. Ela foi a primeira neta da família. Desde cedo pedia um irmãozinho e, na véspera dos seus quatro anos, chegou Artur, para presenteá-la de forma um pouco inesperada, mas muito amada! Através de canções de ninar e historinhas, tentávamos falar sobre adoção. Acredito que essa prática, orientada pelo Dr. Luiz Schettini Filho, inicialmente, foi mais uma forma de conscientização pessoal sobre o tema, mas que surtiu o efeito desejado. A revelação se processou de maneira suave, sem traumas e bem definida. Hoje, ela com nove e ele com cinco anos, representam a nossa vida. Costumamos dizer que não são filhos do coração e sim, do amor, da alegria e da emoção! Agradecemos a Deus todos os dias por termos tido a felicidade de tê-los como filhos.”

Maria Dolores: “Sou mãe de cinco filhos, dos quais duas adotivas, são eles: Roberto (26 anos), Luciana (26 anos), Demétrio (22 anos), Gabriela (11 anos) e Ana Eleonora (8 anos). Maria Gabriela chegou em nossa casa aos seis dias de nascida e Ana Eleonora aos três anos e meio. A adoção foi um momento sublime, onde o filho muito esperado chega. A espera, às vezes, é longa e incerta, pois não podemos prever a sua chegada. Vejo a adoção como uma forma de se ter um filho, você passa por todo o processo gestacional (deseja, espera, se prepara emocionalmente, compra enxoval, sonha, idealiza como ele será, até chegar o dia do grande encontro), pois filho não é aquele que se tem, mas aquele que se quer ter. Acredito que este sentimento de querer um filho é a fórmula, se é que existe, para o sucesso da adoção. Nossos filhos sempre souberam a verdade sobre seus passados, não apenas para não criar problemas futuros, mas como o direito de todo ser conhecer a sua história. Comentamos em casa as experiências adquiridas, anteriores à adoção, com a maior naturalidade, respeitando e valorizando. O convívio com os irmãos é normal, com suas ‘arengas’, xingações e abraços, são bastante inteligentes, desarnadas, amorosas. Bem, são crianças!”

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