Edição 21

Matérias Especiais

DE OLHO NAS PÁGINAS DOS LIVROS DE LITERATURA INFANTIL

No momento em que vivemos, em que a moeda reconhecida universalmente é a informação, a leitura confere um enorme poder à pessoa, uma vez que lhe permite manipular o próprio tempo, envolvendo-a em idéias e acontecimentos e fazendo-a interagir com o mundo de forma mais atraente. O livro alarga suas funções cada vez mais. Hoje, a necessidade de ler é fato presente no cotidiano de todos os povos. No entanto, não há literatura sem leitor. Ela nos enleva em sua ação libertadora e criativa, ao mesmo tempo em que provoca cada um de modo diferente. Um texto nunca é o mesmo para todos que o lêem. Uma boa leitura é como uma música que se vivencia. A arte da palavra e a leitura do imaginário se caracterizam por um certo grau de imprevisibilidade dos acontecimentos… As emoções que experimentamos quando entramos no universo do livro são únicas.

Ler é abrir-se para outras culturas. Identidade cultural não significa prisão ao espaço geográfico; é abertura ao que é autenticamente nosso e ao que, vindo de fora, pode nos fazer nós mesmos. A cultura universal é produto de todos os povos. O aluno só poderá contribuir com essa universalidade se, primeiro, constituir-se como indivíduo consciente de sua própria expressão cultural. É necessário, portanto, propiciar, nas salas de aula e na biblioteca, a dinamização da cultura viva, diversificada e criativa, que representa o conjunto de formas de pensar, agir e sentir da nossa gente, suas crenças, expectativas e esperanças. Quando o professor trabalha a literatura de forma eficiente, a sala de aula passa a ser o espaço da variedade de sujeitos, de objetos de leitura e de práticas culturais. O trabalho literário, além de contribuir para a formação do leitor proficiente, representa a única oportunidade de ler que muitas crianças têm.

Alguns fatores têm importância decisiva para o sucesso com literatura. O primeiro deles é o fator pessoal, que aponta para a atitude do professor diante do livro. O seu entusiasmo pode contagiar a classe e fazer o aluno “viajar” com o livro. Mas, se o professor não sabe apreciar a obra, pode desestimular o aluno, mesmo inconscientemente. Ao ler ou contar uma história, precisa tocar a imaginação dos alunos e ir além; precisa saber como usar a voz, a expressão corporal, o ritmo e o gesto, a fim de prender a atenção das crianças pelo encantamento e pela fantasia. Outro fator é o livre acesso aos livros. Os alunos de um professor construtivista, principalmente em um meio onde os pais lêem pouco, devem contar com um cantinho especial na sala de aula, onde livros, jornais, revistas, embalagens, etc. possam ficar expostos de forma a permitir-lhes fácil manuseio. Esse cuidado contribui para criar, na sala de aula, um ambiente alfabetizador. Os livros devem estar bem organizados, mas sem exageros. Às vezes, a organização formal dos livros em prateleiras constitui barreira para o aluno, que se sente inibido e receoso de tocar nas obras ali existentes.

A maioria dos professores não possui embasamento teórico mínimo sobre a ciência da leitura que sirva para direcionar-lhes a prática. É preciso que cada um busque conhecer um pouco mais sobre o que está envolvido na apropriação do processo de ler e sobre os aspectos fundamentais do ato da leitura: lingüísticos, fisiológicos, psicológicos e sociais. Só se ensina bem o que se conhece bem. No decorrer do ano, o professor pode realizar várias atividades, a fim de desenvolver na criança o gosto pela leitura e fortalecer o seu interesse pela obra literária.

Às sugestões a seguir, o professor deve somar sua competência e criatividade para enriquecê-las, tornando o seu trabalho com a literatura mais interessante e agradável.

A hora da história

Ler ou contar história deve ser uma atividade obrigatória na programação diária das classes da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental. Saber ouvir é um dos aspectos fundamentais na aprendizagem, e a leitura da história é uma atividade que se presta muito bem para desenvolver no aluno a capacidade de ouvir, ao acompanhar a seqüência lógica dos fatos da narrativa, procurando compreender o enredo. É uma atividade que enleva, atrai, dá alegria e atende também à necessidade infantil de fantasia, encantamento, repouso e relaxamento, além de enriquecer o vocabulário de maneira muito agradável, pelo contato com a modalidade culta da língua, uma linguagem mais elaborada e polida. Para muitas crianças, é outro modo de falar, bastante diferente do seu. Toda história apresentada em classe deve ser:

– Um prazer para quem lê ou conta.
– Um prazer para quem ouve.

Para otimizar esse processo, o professor deve tomar alguns cuidados: conhecer a criança, seus interesses e seu contexto social em sua fase de desenvolvimento. O professor precisa ter um conhecimento, mesmo que elementar, de Psicologia do Desenvolvimento Humano e de Psicologia da Aprendizagem. Isso vai lhe dar mais segurança quanto às reações e expectativas do aluno e o ajudará a adequar melhor a história ao ouvinte. Conhecer a história. Ler ou contar história é uma arte que pode ser desenvolvida com dedicação e estudo, a fim de contagiar os ouvintes com o próprio envolvimento na história. Para isso, é fundamental saber escolher bem a história que vai levar para os alunos. O conteúdo deve estar ligado às coisas que a criança conhece, respeitando a cultura local e, ao mesmo tempo, enriquecendo suas experiências. Deve estimular o “abre-te, Sésamo” da fantasia, tão importante nessa fase da vida. Esse “faz-de-conta” ajuda a estruturar de forma saudável a personalidade da criança. Nas classes de educação infantil, brincar representa um conteúdo muito importante, e o jogo de fantasiar deve fazer parte da rotina estruturada da sala de aula.

O professor precisa gostar da história que vai ler, a fim de se envolver com o texto e penetrar bem em seu conteúdo. Esse gostar do texto o ajuda a se entusiasmar, a se emocionar com os episódios à medida que lê. Além de gostar da história, precisa estudá-la bem antes da sua apresentação em classe, para garantir uma boa performance. Deve procurar conhecer com absoluta segurança o enredo e ater-se ao vocabulário, procurando adequá-lo à capacidade de compreensão dos ouvintes; trabalhar a dicção, a velocidade, o volume e a tonalidade da voz nas imitações de personagens, e caprichar nas expressões corporal e facial. É no momento da preparação que o professor verifica a necessidade de algum recurso visual, em tempo de prepará-lo com a devida antecedência.

Escolher um local agradável para ler a história. É muito importante que o professor varie o ambiente das atividades sempre que possível, principalmente na hora da história. Qualquer lugar tranqüilo e silencioso, onde a leitura do professor não seja interrompida e onde os alunos sintam-se à vontade, em clima para ouvir história, é um bom lugar! Como ler ou contar a história. O professor “contador” de história precisa procurar desenvolver em si algumas qualidades que lhe garantem sucesso: vibrar com a história, sentir a trama com os personagens, enfim, vivê-la; ter a expressão viva, ardente, sugestiva; narrar com naturalidade, sem afetação; saber modular a voz, sem exageros (a entonação de voz é muito importante e determina, em grande parte, o sucesso da atividade. É necessário adequar a voz à narrativa, com boa dicção, expressão correta e agradável, em tom adequado à acústica do ambiente); ser comedido nos gestos (o gesto é um dos recursos mais preciosos, mas deve ser usado com moderação, sem exageros, devendo ser simples, expressivo, variado, espontâneo e adequado à passagem narrada).

Outra preocupação do professor deve ser com o domínio do auditório. Antes de iniciar a leitura, deve negociar ou relembrar com a classe os combinados específicos para esse momento. O silêncio no início da atividade é indispensável. O interesse despertado pelo bom começo pode garantir a atenção de todos até o final. Os alunos ouvem com prazer histórias interessantes e que tiveram uma boa preparação prévia. A hora da história deve propiciar um momento mágico a cada criança, que a ouve embevecida, se for contada ou lida com imaginação, simpatia e entusiasmo. O professor deve estar consciente do papel da literatura no desenvolvimento da auto-estima, da criatividade e da construção de valores éticos e morais em seus alunos — como o respeito e a cooperação social —, além de despertar grande interesse pela obra literária apresentada. O professor deve tirar o máximo proveito das emoções que a história contém e valorizar a atividade de leitura como forma de lazer ativo, de crescimento pessoal, aliado à construção e à apropriação cultural, que constituem habilidades básicas de maior significado na formação do bom usuário da linguagem escrita.

A leitura novelística é outro recurso para o professor. Aproveitando o interesse dos alunos por uma obra, um autor ou algum acontecimento social significativo como bom motivo para ler, ele pode realizar a leitura de obras mais evoluídas ou mais extensas em capítulos diários. Pode ser muito interessante!

A história como ponto de partida

Os comentários das crianças sobre as partes de que mais gostaram apontam para um leque de possibilidades para o professor aproveitar o entusiasmo delas e fazer surgirem inúmeras outras atividades ricas e lúdicas na classe.

Uma história pode dar origem a um projeto de trabalho ou a módulos de aprendizagem para aprofundar aspectos do conteúdo programático. Por exemplo:

– Fazer a reescrita de um conto (ilustrar, montar, encadernar e promover uma tarde de autógrafo, com a participação dos pais, com muito brilho e entusiasmo).
– Recontar a história com fantoches confeccionados pelos alunos.
– Recontar a história com o uso do “microfone” de fantasia e escolher, pelo voto, o melhor contador de história da semana, tendo, antes, determinado coletivamente os critérios a serem observados no julgamento.
– Construir com os alunos uma “televisão” de caixa de papelão (ou madeira) para as apresentações “ao vivo” de recontos de uma história trabalhada em classe, com trilha sonora criada pelas crianças.
– Fazer o reconto coletivo, com os alunos se revezando na reconstituição da história, cada um dando seqüência à fala do colega ou recontando a história, com a mediação do professor.
– Realizar dramatizações espontâneas, em que as crianças representem os personagens de sua preferência.
– Explorar as ilustrações, identificando a parte do texto contemplada por elas.
– Caracterizar, oralmente ou por escrito, os personagens da história (uma excelente estratégia para identificar valores universais importantes para a cultura da paz e da felicidade).
– Desenhar, recortar, colar e montar cenas da história, assim como produzir textos sobre o material que criaram (é de suma importância o professor expor com entusiasmo essas produções das crianças).
– Cantar e recitar músicas e poemas cujos conteúdos podem ser relacionados à história.
– Dramatizar a história, como uma peça de teatro, com apresentação para outras classes da escola.
– Recontar a história semidramatizada, com a ajuda de teatro de sombras.
– Fazer transparências das principais ilustrações do livro de literatura — ou dos desenhos das crianças — e recontar a história utilizando o retroprojetor (o professor pode utilizar também o computador e outros recursos).
– Escrever história em quadrinhos.
– Recontar histórias e brincar com elas da melhor forma!

Crianças que estão aprendendo a ler se interessam por personagens de histórias semelhantes àquelas que elas vivem em seu cotidiano. Muitas revistas em quadrinhos são um excelente estímulo ao exercício da leitura, tão importante nesse início como durante todo o processo de escolarização.

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Jornal mural

O mural é um recurso valioso na divulgação, no incentivo e no envolvimento dos alunos em assuntos literários. Deve ser colocado em local estratégico, para acesso de todos os alunos, educadores e pais, sempre que possível. Pode conter notícias interessantes, como:

– Informações sobre ganhadores de algum tipo de prêmio em literatura infanto-juvenil.
– Resumos de livros pouco lidos e/ou de lançamentos de filmes ou de peças em cartaz, a fim de chamar a atenção das crianças sobre os mesmos.
– Notas de jornais ou revistas sobre concursos literários.
– Propagandas ou notícias de feiras de livros, tardes de autógrafos realizadas na localidade.
– Biografias e curiosidades sobre livros, autores ou ilustradores.
– Opiniões escritas por alunos sobre livros lidos.
– Resenhas dos livros lidos, escritas por alunos, publicadas em jornais ou revistas especializadas, com indicações da faixa etária a que a obra se destina (as crianças adoram fazer suas resenhas indicando livros aos colegas mais jovens!).
– Notícias de jornais e revistas sobre autores, livros, etc.
– “Chamadas” sobre novidades e curiosidades disponíveis no acervo da biblioteca, etc.

Exposição de obras

A exposição é um bom recurso para divulgar e tornar conhecidas as obras focalizadas. Pode ser realizada na biblioteca, se for bem freqüentada, ou em outro local de livre acesso e bem visível, numa periodicidade razoável.

Há várias maneiras de organizar uma exposição, todas bem interessantes:

– Por novidades, expondo as últimas aquisições da biblioteca.
– Por autor, reunindo as obras mais conhecidas de um mesmo autor, evidenciando autores premiados ou naturais da região onde a escola está inserida.
– Por preferência dos leitores, focalizando os livros mais lidos no mês, no bimestre, semestre ou ano.
– Pela arte-final dos livros, atividade que pode ser realizada em conjunto com as editoras locais ou de fácil contato (é importante essa parceria escola–editoras: para o professor, porque pode se aproximar das editoras, analisando, sugerindo e, mesmo, criticando suas obras; e para as editoras, porque possibilita o crescimento das duas instituições, comprometidas que são com a formação do leitor).

Envolvimento dos pais

O envolvimento dos pais no trabalho com a literatura infantil é muito importante. Dentre as finalidades desse envolvimento destaca-se a valorização do livro pela família, que, muitas vezes, faz pouco uso da leitura e, conseqüentemente, não influencia seus filhos. Fazer do livro um amigo da família é uma forma de levar diferentes modalidades de linguagem para o convívio diário do aluno e de oportunizar-lhe um contato fora da escola com o belo, com o imaginário, com a arte da palavra. Os pais podem ser fortes aliados e colaboradores da escola se lhes forem esclarecidos os objetivos e a importância da literatura na vida dos filhos. Esse esclarecimento é da competência do educador, que pode fazer com que também os pais descubram a leitura como fonte de lazer. Por outro lado, é sempre gratificante e produtivo ter os pais como partícipes do trabalho educativo. É nessa parceria escola–família que pode acontecer maior democratização do saber, e o professor pode contribuir significativamente para a elevação do patamar cultural da comunidade.

Encontro com autores e ilustradores

É também muito importante trazer autores e ilustradores de livros infantis e juvenis à escola para conversar informalmente com os alunos sobre o seu trabalho. É aconselhável fazer previamente um estudo das publicações do convidado antes do encontro: favorece o interesse e o envolvimento dos alunos com as obras, podendo transformar o evento em um acontecimento formidável para eles.

Sempre que possível, é bom planejar esses encontros com as editoras ou livrarias especializadas da localidade, podendo realizar uma feira de livros na escola, concomitantemente com a participação da comunidade.

A feira de livros é uma atividade muitíssimo rica para alunos, professores e pais, servindo como evento divulgador da escola. A feira atende também ao objetivo das editoras ou livrarias, que é o de divulgar e vender suas publicações. Vale a pena experimentar!

Visitas

O professor empenhado na formação do hábito de ler pode programar, em conjunto com o bibliotecário da escola, visitas diversas e muito produtivas:

– A livrarias ou a outras bibliotecas da cidade, com o objetivo de conhecer, valorizar as instituições locais e envolver o aluno com o livro.
– A editoras, a fim de conhecer a arte-final de um livro e tomar conhecimento do processo de montagem de uma obra literária.
– À biblioteca da escola, a fim de ouvir uma história lida ou contada pelo bibliotecário e, em seguida, conhecer novidades disponíveis na biblioteca.

Concursos

Promover concursos diversos, sem muita formalidade ou sofisticação, com planejamento coletivo feito com os alunos, definindo os critérios de participação e de avaliação a serem observados pelos jurados. Os participantes podem produzir desde redações narrativas mais simples até composição de poemas, acrósticos, peças de teatro, etc.

Promover concursos, também com planejamento participativo, para alunos declamadores de poemas, contadores de histórias, leitores de trechos atraentes de livros lidos, em leitura oral expressiva, apresentação de monólogos interessantes e bem preparados pelos alunos, etc. Tanto o planejamento como a preparação devem contar com a intervenção do professor.

Leitura compartilhada

É muito importante ler em voz alta para os alunos, para habituá-los a ouvir a linguagem escrita. A criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, compartilhando com ele do ato de ler. Ouvir um texto já é uma forma de leitura.

O aluno deve ouvir uma história todos os dias, desde o primeiro dia de aula, até que o hábito de ler esteja efetivado, por volta do final do primeiro ciclo do Ensino Fundamental. A leitura compartilhada de histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novas palavras, por isso o professor deve considerar a qualidade dos textos a serem apresentados em classe.

Leitura livre

Organizar momentos de leitura livre, nos quais as crianças possam escolher o livro ou a revista em quadrinhos que querem ler. O professor também deve escolher algo para ler. Para as crianças, é fundamental ter o professor como um bom modelo de leitor. O professor que lê histórias, que tem boa relação com a leitura, que gosta verdadeiramente de ler, tem um papel importantíssimo na formação do hábito de ler em seus alunos.

História com interferência

Muitas vezes, a leitura do professor tem a participação dos alunos, repetindo alguns elementos da história, facilmente memorizados por todos: um estribilho, um diálogo, alguma frase ou algum som onomatopaico que, a um momento previamente combinado, interferem na narração da história, enriquecendo-a consideravelmente. Trabalha, ainda, a atenção auditiva e a capacidade de concentração da criança.

Recontar histórias

É uma atividade riquíssima e auxilia a criança na apropriação do idioma no padrão culto. O professor lê a história, as crianças a escutam, observam as gravuras e são preparadas para recontar a história. Necessita-se, para esse trabalho, de pouca mediação do professor; basta reconstituir o texto original, podendo também contar com a colaboração dos colegas. É uma atividade que os alunos podem realizar em pequenos grupos, em duplas ou mesmo individualmente, utilizando fantoches ou não.

Práticas ou treinos de leitura

A prática ou o treino de leitura, diariamente, é de grande importância para as crianças, não sendo necessárias atividades escritas subseqüentes. Essas atividades devem acontecer com sentido para os alunos. O professor seleciona e organiza um rol de textos interessantes, para que o aluno possa fazer suas escolhas. No treino, a criança prepara uma pequena leitura individualmente — pode ser feita em casa. No dia seguinte, na classe, os alunos, organizados em duplas, “trocam leituras”, cada um lendo seu texto para o colega. O professor pode sortear duas ou três crianças, dentre as interessadas, para fazer a sua leitura à frente da classe.

Trabalhando com quadrinhos

A orientação para a leitura faz com que os alunos estabeleçam uma relação prazerosa com essa atividade e fiquem absolutamente entretidos, intensificando, assim, a sua boa convivência com o texto. O texto em quadrinhos conserva um íntimo parentesco com o conto de fada e, por extensão, com os mitos mais antigos da humanidade. Evidencia valores que pertencem ao consciente coletivo. Nos quadrinhos, os heróis destacam-se por alguma característica que os transformam, quase sempre, em tipos. Esses tipos permanecem imunes ao tempo, nunca modificando essas qualidades básicas — sua razão de ser. A trama básica se repete e a torna familiar a todos, fazendo com que a história em quadrinhos seja tão sedutora até para os adultos.

Algumas atividades apresentadas nesse livro podem ser utilizadas em salas de aula para incentivar o aluno a ler mais e a descobrir o prazer e a riqueza de um texto de qualidade.

É evidente que o professor precisa conhecer bem o livro antes de apresentá-lo à classe. Quando ele conhece a obra, fica fácil o seu envolvimento com o enredo e a proposição de questões inteligentes e provocadoras para os alunos sobre o livro. Isso implica uma constante atualização do docente, que deve ampliar cada vez mais o seu conhecimento literário, a fim de saber selecionar e apresentar obras adequadas à faixa etária dos seus alunos.

Um bom livro propõe questões, sugere pensamentos e dúvidas e instiga a imaginação e a criatividade dos alunos. A passagem do real para o imaginário se faz sem deixar de encaminhar o processo de conhecimento com a absoluta naturalidade que convém ao espírito infantil.

O professor precisa estar atento à sensibilidade da classe para com o livro — o nível de envolvimento dos alunos com o texto — e estimular as manifestações espontâneas dos pequenos leitores, sempre se policiando para que o pensamento das crianças seja respeitado. Deve evitar as avaliações tradicionais por meio de notas, de preenchimento de fichas, de perguntas e respostas preestabelecidas, mais ou menos rígidas. Também deve procurar ler para curtir o livro com as crianças, mesmo porque o estabelecimento do hábito de ler não se dá por imposição de leituras como tarefas escolares. O que precisamos avaliar é como anda o relacionamento do aluno com o texto. Se o trabalho for bem conduzido e orientado durante todo o processo, o aluno reage, questiona, problematiza, aprecia com entusiasmo e interesse a obra lida ou a ela apresentada. Enfim, posiciona-se diante do que lê, apropria-se de idéias e CRIA.

Luzia Bomtempo é habilitada em docência de séries iniciais do Ensino Fundamental, formada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas gerais (UFMG); habilitada em supervisão escolar – Psicologia da Educação, Orientação Educacional e Sociologia da Educação; pós-graduada em Especialização em Supervisão Escolar: Instituto de Educação de MG – Presp – PUC – MG; e especializada em Alfabetização (Leitura e Produção de Textos) – Presp.

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