Edição 65

Como mãe, como educadora, como cidadã

E não lhes faltava nada

Zeneide Silva

frutas

Quem tem mais ou menos minha idade (49 anos) vai lembrar muito bem do que relato aqui neste artigo.

Na época em que existiam mais casas do que apartamentos, as pessoas costumavam ter pequenas plantações em seus quintais, como pés de manga, bananeiras, cajueiros e algumas hortaliças.

Era costume das famílias oferecer aos vizinhos, como gesto de carinho, alguns de seus frutos no período de cada safra. Quem tinha bananeira oferecia banana, quem tinha cajueiro oferecia caju… era assim. Quem oferecia uma palma de banana, com certeza, depois de alguns dias, receberia um pouco de doce de banana e ficava muito feliz em saber que contribuiu para a execução do doce com seu gesto. O prato, a tigela, a travessa nunca voltavam vazios.

Essas atitudes formavam uma corrente de solidariedade; uns ajudavam os outros e, por isso, não lhes faltava nada.

Hoje vivemos numa era do individualismo, cada um só pensa no seu bem-estar. Fala-se tanto em cuidado com o planeta, em reciclagem, e mesmo assim a quantidade de lixo, de comida jogada fora é imensa. Tem gente que mora há anos no mesmo edifício, e não conhece sequer o vizinho do lado. Como não podem oferecer algo, acabam jogando no lixo o que poderia ser partilhado com seus vizinhos.

Lembro-me com saudade de uma família que morava na mesma rua que morávamos. Eles eram muito pobres, mas não lhes faltava nada, pois todos os vizinhos, que também eram pobres, ofereciam sempre algo para eles, desde comida até roupas para as crianças. Era uma família de quatro filhos. Eles faziam parte indiretamente de todas as famílias da rua.

Existia ainda um gesto muito interessante: cada mulher grávida, quando chegava sua hora de ir para a maternidade, não precisava se preocupar com a casa e com os filhos, pois a vizinhança ficava responsável por eles, cuidando deles e alimentando-os até a volta da mãe com seu filho no braço. E não lhes faltava nada. Isso era solidariedade.

Outro gesto acontecia dentro de nossas próprias casas: só ganhávamos roupas e sapatos uma ou duas vezes por ano — não conhecíamos a palavra consumo e, por isso, não tínhamos como ser consumistas, atitude hoje muito presente nas famílias em geral. E a roupa, o sapato, o fardamento escolar, os livros eram passados de irmãos para irmãos, e não lhes faltava nada.

Nossas vidas não se comparavam com a que nossas crianças vivem hoje. Éramos mais livres, mais família, mais cuidadosos, mais solidários e não precisávamos de nenhuma campanha em outdoor para sermos assim.

Sabe por que nada nos faltava?

Porque tínhamos, em nossa vida, o fundamental em nossos lares: o AMOR.

Não precisávamos de mais nada.

Tínhamos TUDO.

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