Edição 102

Em discussão

É possível haver ética na política?

Gilvander Luís Moreira

No Brasil, 2018 é um ano de eleição para presidente, governador, senadores, deputados federais e estaduais. É hora de não reeleger políticos profissionais e buscar eleger pessoas que tenham a política como vocação: aqueles que têm amor e respeito pelo próximo e que se engajam na política partidária para ajudar na superação dos muitos problemas sociais a partir das causas.

Política com P maiúsculo é mais que política partidária ou, involuntariamente, fazermos política. Política é como respiração. Não dá para viver sem respirar, como não dá para viver sem fazer política. Optamos o tempo todo, escolhendo ou rejeitando as coisas.

Estamos no meio de uma crise global e plural: política, econômica, ecológica, ética, civilizacional, institucional, etc. O redemoinho que nos envolve é grande. Urge recriarmos um modelo de convivência social e ecológica com relações éticas e estruturadas de fraternidade.

A importância das instituições
Decisiva para a ética na política não é simplesmente a ética privada dos governantes, mas o tipo de instituição política da qual dependem os cidadãos para ter acesso aos direitos que devem ser universais.

A convivência social exige a existência de instituições políticas, criadas para organizar e gerenciar as reações humanas nas sociedades mais complexas. As instituições têm um começo muitas vezes libertador. Todavia, com o passar do tempo, vão se enrijecendo e afastando-se de seus princípios e inspirações originais. É o que acontece com as instituições políticas também, salvo exceções.

Há questões de fundo que solapam as instituições políticas. Em nível institucional, por exemplo, o financiamento privado das campanhas eleitorais; em nível de relações humanas (ética), a perda de valores morais e de confiança na nossa capacidade de resolver socialmente nossos problemas, o que nos faz transferir para “salvadores da pátria” essa tarefa. Isso se sente na burocracia, na acomodação e no corporativismo do funcionalismo público, na desvalorização da experiência histórica, no consumo exacerbado, no individualismo, na absolutização da tecnologia (“o sistema não permite, tenho que seguir ordens/leis”), no descaso com os empobrecidos e na banalização do sofrimento. O caos nos serviços públicos — SUS, escolas públicas e órgãos públicos — é tão grande que passa a ser considerado natural esperar indefinidamente numa fila que não anda.

Mudar com ética?

Aqui, optamos por entender ética como jeito de conviver que encarna a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e pessoas políticas.

Quatro pontos são imprescindíveis para atingir de forma a contribuir para o processo de transfiguração das instituições políticas. Pensar e agir:

a) A partir do empobrecido. Karl Marx dizia que “O lugar social determina o lugar epistemológico”, ou seja, nossos olhos, em última instância, não estão no nosso rosto, mas nos nossos pés. Pensar e agir a partir do empobrecido, do enfraquecido, do pequeno é encarnar a regra de ouro.

b) De forma coletiva e participativa. Ninguém é salvador da pátria nem dono da verdade. Deve ser uma busca conjunta. Envolver todos na participação é vital. Discernir em mutirão a partir dos últimos.

c) A partir de toda a biodiversidade. Deve-se superar assim o antropocentrismo, que considera o ser humano como o centro/rei da criação. Não é. Hoje, sabemos que todos os seres vivos — terra, água e toda a biodiversidade — integram a mesma comunidade de vida. Nós, os humanos, dependemos de todos os outros seres.

d) A partir de um modelo econômico justo e sustentável ecologicamente. Isso implica elevar a Economia Popular Solidária ao status de política econômica de Estado e coluna mestra da sociedade. Ser vassalo da idolatria do mercado e do capital é algo imoral e só aprofunda a crise das instituições políticas.

Enfim, intuo que devemos dedicar 10% das nossas energias para tentarmos eleger os melhores políticos, aqueles que por vocação aceitam o pedido do povo para exercer mandatos. E devemos dedicar 90% das nossas energias na construção de movimentos populares autênticos que orientem a indignação dos pobres frente a tantas injustiças.

Questões para debate:
1 – Por que se fala tão pouco das instituições e tanto das pessoas políticas?
2 – Por que o povo brasileiro procura um “salvador da pátria”?
3 – Você concorda com o autor ao afirmar que é preciso dedicar 90% de nossas energias na construção de movimentos populares? Por quê?

cubos