Edição 21

Editorial

Editorial

Era uma vez um menino que adorava ouvir histórias antes de dormir. A cada noite, um criado enchia sua imaginação de fadas, bruxas, dragões, etc. O pequeno dormia feliz, exausto por vivenciar tantas aventuras, nas quais, com certeza, era sempre ele o herói, o vencedor. O menino era egoísta e, por mais que os amigos pedissem, não lhes recontava as histórias ouvidas. O tempo passou, o criado envelheceu, o menino cresceu e não quis mais saber de histórias. Eram outros os seus interesses, então. Já rapaz, apaixonou-se e quis casar. Um dia antes do casamento, o velho empregado foi ao quarto do noivo, ajudá-lo nos preparativos. Com surpresa, ouviu ruídos estranhos que vinham de um saco há muito esquecido atrás da porta. Veio-lhe à memória que aquele era o saco onde ficavam guardados os espíritos de todas as histórias que ele contava ao garoto, agora rapaz. Prestou atenção e ouviu que os espíritos das personagens que eram más planejavam uma vingança mortal àquele que, por egoísmo, manteve-os presos por tanto tempo. Os espíritos das personagens boas, por medo, mantinham-se calados. Usando de toda a sua experiência e sabedoria, o velho destruiu cada uma das armadilhas preparadas para o rapaz, matando até uma cobra escondida no quarto do jovem casal. A cobra foi o último recurso usado pelos espíritos maus em sua vingança contra o egoísta que os prendera durante tanto tempo. O criado contou então a todos sobre a vingança dos espíritos das histórias, esquecidos presos na velha sacola. Agradecido por ter sido salvo, o rapaz prontamente acreditou no que ouvira e, arrependido, prometeu que, de ora em diante, contaria muitas histórias. A cada história contada, os espíritos presos eram libertados para, felizes, povoarem a imaginação de outras pessoas.

O conto A sacola de couro, recontado por Zette Bonaventure, no livro O que conta o conto?, publicado pela Editora Paulus, que escolhemos para abrir este editorial, tem muito a ver com aquilo em que acreditamos sobre o imaginário infantil, na fala de Gaston Bachelard, que diz: “Sempre, imaginar será mais do que viver”… E o que faz a literatura em nossa imaginação senão torná-la sinônimo de ilusão? O imaginário é parte inseparável da existência humana, em todas as épocas e em todos os lugares, presente em todas as suas atividades. É por isso que se diz que o homem é um ser simbólico.

Pensada e produzida em torno do universo das histórias infantis, esta edição revela em nós, que fazemos a Editora Construir, o reconhecimento de que um caminho eficiente para formar leitor é aquele que o leva ao imaginário. Mergulhados no prazer de ler e na alegria de ouvir histórias, o leitor sente-se atraído pelo bom livro (aquele que trata de assuntos que dizem respeito ao seu universo), onde vibra e deleita-se na leitura através do imaginário projetivo, reflexivo e vivencial.

Ainda dentro dos nossos temas centrais O Poder da Imaginação Infantil na Educação e Comemoração do Dia Internacional do Livro – 02 de abril, apresentamos trabalhos que merecem ser lidos e refletidos: O Ofício de Narrar; Da Capa para Dentro do Livro; Com a Palavra, o Autor; O Resgate da Oralidade; A Imaginação Infantil; As Histórias da TV; O Encantamento dos Contos de Fada; e Coisas do Sertão.

Contemplados nas comemorações e dedicados ao livro, apresentamos dois belos projetos didáticos que servirão de referência para o desenvolvimento de vários trabalhos escolares: o Projeto A Arca de Noé e o Projeto Torneio de Leitura.

Garantindo o diferencial desta edição, Luiza Bomtempo nos mostra, em outra perspectiva, que uma boa leitura é como uma música que se vivencia, a arte da palavra, a leitura do imaginário, que se caracteriza por certo grau de imprevisibilidade…

Em sintonia com a leitura, trazemos, na Fala do Mestre, o humor na literatura infantil brasileira, com a fada Sylvia Orthof, estendendo-se, na seção Lendo e Aprendendo, com um passeio pela vida e obra dos consagrados contadores de história: Charles Perrault, irmãos Grimm e Andersen.

Na seção Em Discussão…, trazemos um modelo com orientações e estratégias para elaboração de Projetos Temáticos, da professora Márcia Mendonça, complementado pelo projeto A Casa do Escritor, de Valéria Pires, na seção Profissionalismo.

Em outras comemorações do bimestre, a Construir Notícias, na seção É dia de…, aborda o Direito do Consumidor, e, como não poderíamos esquecer do Dia Internacional da Mulher, prestamos uma homenagem a todas as mulheres na fala da sindicalista Margarida Alves.

Colaborando com o tema central, O imaginário infantil, as seções Lá Vem História…, com O Misterioso Tecelão, e O Livro da Vez — O Bordado Encantado, também tratam da importância do imaginário em nossas vidas. E, ao convidá-los, caros leitores da Construir Notícias, ao exercício prazeroso do imaginário, desejamos uma leitura frutuosa.

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