Edição 98

Lá Vem a História

Juventude digital

Daniel Alves Lima

Caro leitor, talvez esteja esperando ler soluções, dicas ou críticas sobre o tema. Confesso que pensei nisso! Todavia, quero deixar tal coisa para outros pesquisadores, estudiosos do assunto. Meu objetivo aqui é fazer um simples questionamento: Que juventude é essa que decretamos ser digital?

Para responder, retorno ao ano de 1976. No Ceará, surge uma grande composição que apresenta uma certa desilusão do indivíduo frente ao sistema social, político e econômico da sua época. O grande Belchior, de forma sublime, retrata, na letra da canção, a paixão pelo direito de viver, pelo amor e pelas amizades, o convívio familiar e a esperança de um futuro melhor:

Eles venceram, e o sinal está fechado para nós que somos jovens. (Como Nossos Pais, 1976)

A juventude digital não aceita ditadura, repressão, promessas, censuras, aflição e medo. Coisas que parece não encontrarmos no fantástico mundo digital. Nele impera a liberdade ou a grande ilusão de uma vida feliz. Apresento-me como quero ser. Mesmo estando só, sinto-me acompanhado, pois tenho seguidores que não vejo. Converso abertamente com estranhos e falo dos meus sentimentos. Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua, é que se fez o meu lábio, o meu braço e a minha voz.

Por isso que as tradições religiosas e os regimes de opressão estão cada vez mais na falência. O mundo digital dá liberdade. Permite realizar ações básicas de expressões que poderiam ser realizadas em público sem que o indivíduo seja reprimido, perseguido e torturado.

Você me pergunta pela minha paixão, digo que estou encantado com uma nova invenção. Vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão, pois vejo vir vindo no vento o cheiro de nova estação. Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração.

O interessante de perceber é que sempre o indivíduo buscou melhorias; nesse caso, a música apresenta o sertanejo que foi para a cidade grande em busca de uma melhor qualidade de vida. E nos grandes centros urbanos é possível encontrar “uma nova invenção”. Olhando para os anos 1970, o indivíduo tinha esperança de que dias melhores iriam vir. Pois, acontecimentos estavam surgindo para ficar na História:

1970 – Brasil tricampeão da Copa do Mundo de Futebol, realizada no México.

Depois de muito sucesso, acaba a banda de rock The Beatles.

1971 – A Intel lança o primeiro microprocessador do mundo, o Intel 4004.

1972 – São realizados os Jogos Olímpicos de Munique (República Federal da Alemanha).

É lançado o Odyssey 100, primeiro videogame do mundo.

1975 – A missão espacial Viking I explora o planeta Marte.

1976 – É fundada a empresa que seria o gigante da computação nas décadas seguintes: a Apple.

A televisão em cores começa a se tornar popular.

Margareth Thatcher torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra britânica da História.

1977 – Morre o rei do rock, Elvis Presley.

Desenhos que fizeram sucesso: Speed Racer, Pica-Pau, Pernalonga, Piu-Piu, Tom e Jerry, Gaguinho, Os Herculoides, Homem Pássaro e Popeye.

Já faz tempo, eu vi você na rua. Cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais.

Juventude escondida, conservadora, acovardados. Sem luta, rebeldia, em busca de seus direitos e ideais. Juventude “digitadora”, segue nas redes sociais e não nas ruas. Tudo parece continuar sendo semelhante à época de imposições e proibições.

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vive – mos como nossos pais.

Daniel Alves Lima é educador, filósofo e um apaixonado por Educação. Seus assuntos de maior interesse são: Educação e Tecnologia, Empreendedorismo Digital e Marketing Pedagógico. E-mail: danieualves@yahoo.com.br

cubos