Edição 85
Como mãe, como educadora, como cidadã
Mania nacional: qual a senha do wi-fi ?
Zeneide Silva
–Recentemente, li uma reportagem na revista Veja, edição 2.442, ano 48, nº 36, de 9 de setembro de 2015, intitulada A era da solidão acompanhada. Vejam alguns tópicos apresentados na reportagem:
–Dos brasileiros que possuem celular, 73% não saem de casa sem o aparelho e 90% dos usuários que utilizam o dispositivo para entrar na Internet o fazem junto com outras mídias.
–Pesquisa realizada por um restaurante nova-iorquino revelou que os frequentadores quase dobram o tempo de permanência no estabelecimento pelo simples fato de estarem conectados e mais da metade fotografa o prato escolhido.
–Entre os locais onde mais se verifica a substituição das relações reais pelas virtuais, está o aeroporto: 61% dos proprietários de celular declaram que acessam a rede enquanto aguardam o voo.
–Dos usuários, 77% navegam em transportes públicos.
No Brasil
–96% dos usuários de smartphone utilizam o aparelho em casa.
–87% usam o smartphone no trabalho.
–83% não abrem mão do telefone no restaurante.
–78% arriscam-se a olhar o celular no trânsito.
–90% usam o aparelho durante outras atividades, como ler ou assistir a um filme.
Acredito que, como educadores, deveríamos pensar, repensar, refletir um pouco sobre esse tema. A cada dia, a situação fica mais delicada. Devemos, então, criar estratégias para minimizá-la.
Cito algumas ocasiões em que, como mãe e como educadora, vivo o mesmo drama de vocês. Mas também compreendo que o primeiro passo para amenizá-lo deve ser dado por nós, diminuindo nossa ânsia por WhatsApp, Facebook, Twitter, Instagram, etc. Conversando com alguns educadores que também vivem essa situação, surgiram algumas ideias.
1
Estabelecer, com apoio dos pais e professores, um dia sem celular na escola. O contato para alguma eventual emergência seria feito através do telefone convencional da escola.
2
Deixar todos os aparelhos celulares juntos em uma mesa ao sair para algum restaurante.
3
Desligar ou guardar o celular durante o trajeto em uma viagem de carro e viajar conversando, rindo. Aqui conto-lhes um caso que poderia ter sido até trágico. Lembro que uma mãe, em plena agitação da manhã, arrumava-se para levar seu filho à escola e resolvia coisas ao celular. Passou o caminho todo ao telefone e, como ela mesma disse, chegando à escola, percebeu que havia deixado o filho em casa, levando apenas a mochila escolar. Imaginem vocês: percorrer uma distância de dez quilômetros sem dar uma só palavra com o filho no carro…
4
Elaborar projetos com os adolescentes, levando-os a refletir sobre o tema: A Internet não muda a índole de ninguém. O que vicia, na verdade, é a possibilidade de melhorar o conceito sobre si mesmo, e isso é justamente o que aumenta a solidão: o abismo entre a persona virtual e a real.
5
Criar momentos de conversa informais em sala de aula, permitindo que os alunos dialoguem livremente sobre assuntos de interesse deles (15 minutos não vai atrapalhar o andamento de suas aulas).
6
Fazer um levantamento dos pontos negativos apresentados pela mania nacional “Qual é a senha do wi-fi?” (em todos os lugares em que chega, um amigo meu pede a senha do wi-fi. Um dia, ao chegar numa igreja, olhou para mim e perguntou, com ar sério, qual era a senha do wi-fi. Juro a vocês que não acreditei, mas ele continuou perguntando. Minha única reação foi: “Tás doido?”).
Vejam alguns pontos negativos que podem ser dicutidos:
–O uso constante do celular pode provocar ressecamento nos olhos, além de causar a ilusão de que estamos acompanhados, sem, contudo, as demandas da amizade.
–Muitas vezes preferimos teclar a falar, o que de certa forma prejudica as relações interpessoais.
–Muitas pessoas iniciam e acabam um namoro pelo celular. Acho que aplicativos de mensagens instantâneas fazem com que as pessoas não tenham coragem de dizer o que pensam olho no olho.
Temos muito a fazer, portanto vamos nos unir e reverter essa situação. Estamos vivendo num mundo estranho, confuso, agitado. A cada dia, há uma novidade, um desastre, linguagens diferentes, mais vulnerabilidade humana… A tecnologia nos torna pessoas solitárias. Então, espero que tenhamos ânimo para renovar nossa esperança e plantar sementes que floresçam em um mundo melhor.
Feliz 2016.