Edição 33

Matérias Especiais

Marketing, pais e filhos

André Pessoa

Antigamente, as crianças se divertiam na rua, jogavam em família ou saíam para passear junto com seus pais. Hoje em dia, formou-se uma indústria fortíssima que assedia a família com seu marketing incansável… e, cada vez mais, imperdível.

A indústria do lazer descobriu o grande negócio do entretenimento das crianças. Os jogos de futebol dos filhos são organizados por profissionais formados em educação física, e não mais pelos pais. Você nem fica mais para assistir… deixa lá e pega depois. O mesmo acontece nas festas de aniversário, nos hotéis, nos clubes, etc. Os animadores infantis e juvenis são cada vez mais numerosos e, na melhor das intenções, terminam por reduzir o convívio familiar. Se já é escasso durante a semana, não engrena no fim de semana.

O computador é capaz de alienar a criança por horas. Os jogos eletrônicos são verdadeiras cachaças, no sentido de que viciam mesmo. As crianças, pela idade em que se encontram, têm ânsias de testar suas habilidades e vencer. É uma pena que essa gana se desperdice sentado numa cadeira, só, em vez da prática esportiva de jogos coletivos, que tanto melhora o convívio, desenvolve o equilíbrio emocional e proporciona saúde física.

A Internet é outro consumidor de tempo precioso. Perde-se a criança no meio de tanta informação que, muitas vezes, se faz inútil por se apresentar desconecta e distorcida. Há de existir uma diversidade de estímulos para desenvolver a imaginação, o que se consegue através da leitura de romances, aventuras dos grandes clássicos juvenis. Valem a pena a atenção e a orientação dos pais no uso da Internet.

A indústria de marketing cria necessidades virtuais. Estimula que as famílias tenham um quarto para cada filho, uma televisão em cada quarto, um aparelho de som em cada quarto, um computador para cada pessoa da família. O convívio familiar em casa termina por se limitar à hora da refeição, se a televisão estiver desligada.

Os pais devem aproveitar todos os meios de que dispõem para educar, para provocar o convívio familiar. Um deles é reduzir os recursos. Se há somente uma televisão no lar, e cada um quer ver um programa diferente… então é natural que haja negociação. Uns terão de ceder hoje para amanhã ter oportunidade de escolher a programação. Se o quarto é um só para alguns irmãos, terão de negociar a que horas se desliga a luz ao dormir, a divisão de tarefas para manter o quarto em ordem. Se o computador é um só, então haverá escala de uso… ou então os filhos poderão acessar os sites juntos ou jogar a dois. Trata-se de criar pequenas dificuldades para que haja maior interação entre os filhos.

A criança que não recebe sólida formação no caráter, sem critérios firmes do que é efetivamente bom, fica mais vulnerável aos assédios de marketing e aos modismos da sociedade.

Através da família é que, efetivamente, nossos filhos aprenderão a ser gente de verdade. A intimidade da família é o calor que permite que nossos filhos apurem o caráter e adquiram virtudes. Através da família é que nossos filhos terão noção de limites, sentido do dever, aprenderão a ser homens livres de verdade e a defender as próprias convicções no mundo complexo de hoje.

André Pessoa é pai de seis filhos e ministra cursos e palestras de educação de filhos desde 1995; graduado pelo IME (Engenharia), pós-graduado pela PUC (Administração), FGV (Contabilidade Gerencial), pelo ISE (Programa de Treinamento de Executivos) e Navarra (Orientação Familiar); consultor da Accenture.

E-mail: andre.pessoa@estradas.com.br.

Publicado no Portal da Família em 09/10/2006 – www.portaldafamilia.org.

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