Como mãe, como educadora, como cidadã

Mas ha de vir tempo bom…

Zeneide Silva

Este verso faz parte da estrofe de uma música do Quinteto Violado que eu cantava para meu pai nos momentos em que estávamos ilhados. Morávamos perto de um canal, e, quando chovia, entrava água na nossa casa que era feita uma parte de taipa e outra parte de alvenaria, bem abaixo do nível da rua. Enquanto esperávamos a “tempestade” passar, eu conversava muito com ele e cantava assim:

Mas há de vir um tempo bom
Aliviando essa dor.
Pois quem cultiva a semente
Rega em seu peito uma flor

Papai sempre escutava, mas todas as vezes dizia que não acreditava que esse tempo bom pudesse existir — e nem que chegaria. Mas eu continuava cantando todas as vezes.

Enfim, chegou o tempo bom. Saímos dessa casa e fomos morar noutra muito boa, longe do canal, e, nas tempestades, dormíamos bem.

Quando chovia, eu sempre lembrava a papai a música e dizia que nesta vida enfrentamos muitas tempestades. Lembrava-me do evangelho de Mateus 14, 22–36: os discípulos estavam em um barco, e Jesus foi ao encontro deles andando sobre as águas. Achavam que era um fantasma, mas Jesus disse: “Sou eu, não temas”. E Pedro disse: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ao teu encontro andando sobre as águas”. Jesus disse: “Vem!”. E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: “Salva-me, Senhor!”.

Quando Pedro deixou de olhar para Jesus, sentiu medo, mas mesmo assim enfrentou a tempestade. Nós vivemos em um mundo que pode ser representado por um mar em tempestade, onde precisamos ter força para enfrentá-la e encontrar pessoas que nos digam: “VENHA, não tenha medo, estou com você”.

Termino com um texto de Lya Luft que diz:

A gente precisa
continuar acreditando
que vale a pena ser honesto.
Que vale a pena estudar.
Que vale a pena trabalhar.
Que é preciso construir
a vida, o futuro, o caráter,
a família, as amizades e os amores

Que este texto de Lya Luft seja a nossa oração para o Brasil, que hoje está triste, como meu pai, na época em que não tinha esperança.