Edição 112

Professor Construir

Metodologia ativa: promover a aprendizagem a partir dos problemas ou acender novos problemas?

Nildo Lage

livro

O tempo expirou, estabelecendo que a escola ative mecanismos que esbocem estratégias e aloquem teores que seduzam. Ao professor, uma metodologia que incite a investigação e agencie a autonomia discente. A metodologia? Ativa! Para que os roteiros delineados pelo aluno o situem no centro das atenções. O tempo? Agora! Pois a metodologia ativa tem como preceito o eu, e o tempo desse eu é agora, instituindo que ensino e aprendizagem correspondam à cadência do seu agora… E mais, num ambiente sedutor, pois a metodologia harmoniza o livre arbítrio discente para aprender, e aprender do seu jeito; é fundamental que a comunidade escolar absorva a metodologia que tem como ponto basilar o individual… Em vez de salas de aulas tradicionais, sala de aula invertida… Fator que arremata o grande desafio: inverter a ação docente para que o desenvolvimento discente sobrevenha.

O que é metodologia ativa? Os antenados são práticos e explanam em poucas palavras: metodologia ativa é o processo que insere o aluno como agente responsável pela própria aprendizagem.

Os antenados exercitam, por meio de ações — muitas vezes, involuntárias —, a metodologia ativa, pois a busca de alternativas para promover uma aprendizagem satisfatória impele a tecer projetos para seduzir a turma e facilitar a absorção de conteúdos por meio de processos que acendem uma aprendizagem fundamentada em problemas. E, assim, perpetram estudos de caso, investem no individual, em grupo, em pares… times… E tais ações aliciam seus alunos pelo universo do ensinar coerente, alcançando o ponto almejado pela educação escolar: a construção do conhecimento. Ao se harmonizar o aprendizado por meio de procedimentos que acionam a proatividade e o aprimoramento pessoal, afloram-se debates que abordam ocorrências interdisciplinares: é a aprendizagem baseada em problemas. Os jogos são elaborados para atrair a atenção e alcançar os objetivos dos conteúdos: é a gamificação, que cada vez mais disputa o laboratório de Informática para mesclar as aulas e debater conteúdos no Whatsapp da turma, instituindo resultados individuais, perpetrando o pensar e aplicando o ensino híbrido.

criancas

O extraordinário é que a metodologia ativa desafia o professor a sair do lugar-comum, pois a regra é repartir informações, em vez de inserir conteúdos para promover a aprendizagem, e abolir, definitivamente, a retenção do conhecimento.

O destronamento é inevitável, e esse inevitável acarreta a inversão de papéis, abrindo um caminho paralelo para dilatar os horizontes da aprendizagem discente, que, finalmente, assume o comando do processo e dita as regras: “Quero modernidade. Se não acolher as ferramentas tecnológicas — que você se recusa a utilizar como ferramentas pedagógicas —, deleto-o! Se não me aceitar na ‘sua’ sala de aula, com um clique desvendo o universo! Se não quiser aprender comigo, fique aí plantado como poste sem luz, intercedendo o seu tempo remoto com as trevas da deficiência de saber!”.

Como veem, é descomplicado… A metodologia ativa é um caminho que pede para ser ladrilhado. De tão “verdade”, pode até gerar vida para reavivar a educação de uma moléstia histórica… Mas quem acionará a mola mestra para dar impulso para que, assim, a metodologia possa saltar do papel? No papel, o arco-íris tonifica, molda sonhos, pavimenta estradas… E na realidade? Quem ousa encará-la?

Vamos aproveitar que a metodologia paira e pousa no pátio da escola. Com os pés no chão, podemos ter uma conversa franca! Quem engana quem? Quem se permite ser ludibriado para granjear tempo? A “novidade” vem de lá… De lá mesmo… Lá da década de 20… Mas não é o 20 da nossa era, das coisas conectadas, não! É láááááá… láááááá… de 1920… Nessa época, muitos avós dos professores dos seus filhos nem estavam nas carteiras da escola. Os países adiantados, como a Inglaterra, a França, o Canadá, os Estados Unidos… visualizaram esse horizonte, mas ele só ganhou terreno a partir da década de 1960.

Ante o tsunami, não podemos nos conservar plantados, à espera do juízo final… Cruzar os braços e aguardar a primeira trombeta toar para sair do lugar-comum é nos contentar com o nada que temos e acolher o fracasso. A metodologia ativa não é um convite à sossegada comunidade escolar! É desafio! É hora de agir! É hora de descentralizar, professor! Não persista em crer que retém o conhecimento, com receio de romper as barreiras do tradicionalismo e de enfrentar o novo.

Se nos conservarmos alheios, estaremos permitindo o retrocesso, e este é de uma grandeza que aparta ensinar de aprender. Pois chegamos ao ponto de muitas escolas não terem o mínimo, como computador, impressora, Internet… Como trabalhar projetos? Agenciar a reflexão? Promover a inclusão? Não há criatividade, e, quando a criatividade é contida, dificilmente desperta o pensamento crítico. De tal forma, metodologia ativa é puro sarcasmo para um sistema que aprendeu a cumprir os 200 dias letivos para ostentar a escola acessível e pronto.

Se é escárnio, para que perdermos tempo com uma BNCC que deixa a comunidade escolar desnorteada? Professores transitam por salas e corredores como radares cegos por não terem orientações ou recursos para preencherem um formulário… De tal modo, para que discutirmos o sociointeracionismo ou alcunhá-lo de metodologia ativa se não há estrutura nem propósito de inserir o novo? Aulas dinâmicas, participativas… Quando? Instigar o aluno a arremeter para o universo online à busca de respostas… Quando? Encontrar retornos para as buscas do aluno… Onde? Ou a metodologia ativa é mais um transgênico geneticamente modificado no laboratório BNCC?

Entre o onde e o quando, o professor trilha o caminho que conhece: o método “aprenda o que eu ensino!”, conservando tudo na mesma… é confortável! Na mesma, não há propósito, um alvo a ser alcançado… Na mesma, não é preciso habilidades para romper o tradicional… Na mesma, as aulas expositivas prosseguirão como metodologia acessível… O educando? Que dê os seus pulos numa lan house se ambicionar novos horizontes… Aí sim… A meta de colocar o educando em movimento além da sala de aula será alcançada, pois muitos, principalmente os do campo, terão que regressar à cidade em busca de um ponto de conexão para se atrelar ao novo.

Essas idas e vindas atingirão o grande propósito da metodologia ativa: que a aula expositiva foi a única referência para se inteirar do conteúdo da disciplina… Porque, nela, a escola não esbarra em dificuldades para esboçar objetivos da metodologia, pois a escassez de ferramentas redireciona professor e aluno por dois caminhos: a biblioteca — para consultarem o livro didático — e a sala de aula — para se plantarem diante do quadro-negro, pois a maioria das unidades de ensino e seus professores ignoram o que é lousa digital… Assim, para que sobrepujar a neuroeducação?

 Como prosseguir a partir do ponto em que estamos?

Sabemos que metodologia ativa é tudo o que o educando necessita para trilhar o caminho do crescimento por meio de uma aprendizagem progressiva… Mas como voar sem asas? O sistema não proporciona ao professor formação e ferramentas para educar uma geração conectada. É possível adaptar o motor de um avião numa bicicleta? Se for admissível, o sistema conseguirá plantar o aluno numa carteira e professar: “Decole… Vá conquistar o mundo!”. E assim sobrevirá.

Ensaiar o primeiro passo estabelece atrevimento para desinfetar um sistema contaminado pelo vírus político. Vírus que nutre um câncer que, tendência após tendência, metodologia após metodologia, não arraiga os metatarsos que impedem o progresso de um tratamento que cure a educação, pois não oferece suporte, não valoriza aquele que dedica a vida para edificar vidas — o professor —, dilatando um problema que se arrasta, impelindo a educação a avançar na contramão dos passos do planeta, pois oferece tudo o que a metodologia reprova: péssimas condições de trabalho, salas de aulas superlotadas, ausência de valorização profissional, inexistência de formação continuada… Tecnologia? Deus sabe quando! Se não temos norte, ferramentas que arremessam o educando no centro das atenções para que assuma autonomia de edificar a base do próprio conhecimento, para que metodologia ativa?

Em meio aos tremores — devido às ações do gestor, que cumpre como pode a Operação Tapa-Buraco —, a escola faz o mínimo. Esse mínimo é graças à ação do professor, que tem que se virar nos trinta, quarenta, cinquenta… Cem… Proporcionar o ínfimo de subsídio ao aluno, cerrando os ouvidos para não desistir ante questionamentos que ecoam e não se perdem na distância, pois são gritos ininterruptos.

A deficiência de respostas originou o esgotamento que umedeceu os “porquês!”. Por quê? O que o sistema oferece não sacia a fome de uma geração que ambiciona uma escola que a despede com um “vai”… “Vaiiiii!!!!! Você está preparado para enfrentar os desafios de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo”.

Permita-se evoluir, professor, para se conectar com o seu aluno… Aproxime-se, compartilhe conteúdos e cresça aprendendo com aquele a quem acredita ensinar… Aprendendo a aprender, acionará a mais eficiente metodologia de ensinar: aprender ensinando. Quem aprende ensinando salienta determinação para renunciar ao velho… O aluno precisa apreender que desafiar os próprios limites, muitas vezes, conduz a erros, fracassos…. Assim, faça-o aprender com os erros, crescer com os fracassos… Errar e ter iniciativa para começar de novo, sem perder o impulso para prosseguir.

Não reprima o seu aprender… Supere a inexistência de programas de formação, suplante as deficiências de políticas educacionais que dificultam o seu agir… Cometerás erros… Mas quem não erra? Cumpra seu agir… E mesmo que a metodologia ativa não sobreviva… A sua de aprender ensinando pode fazer a diferença… Seja a diferença… O seu agir é ponte que conduz seu aluno para lá… E esse lá é o ponto exato onde ele ambiciona chegar para atingir suas pretensões.

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