Edição 51

Lá Vem a História

Muitas perguntas

pag40Era uma vez um menino que fazia muitas perguntas, o que, certamente, não
é ruim; aliás, é muito bom. Só que era difícil responder às perguntas daquele
menino.

Por exemplo, ele perguntava:

— Por que as gavetas têm mesas?

As pessoas o olhavam e, às vezes, respondiam:

— As gavetas servem para guardar os talheres.

— Eu sei para que servem as gavetas, mas não sei por que as
gavetas têm mesas.

As pessoas balançavam a cabeça e iam embora. Então, ele
perguntava:

— Por que os rabos têm peixes?

Ou:

— Por que os bigodes têm gatos?

As pessoas balançavam a cabeça e iam embora cuidar da
vida.

O menino cresceu, mas não parou de fazer perguntas. Mesmo
depois de adulto, andava de um lado para o outro perguntando
isto ou aquilo. Como ninguém lhe respondia, ele
se isolou numa casinha no alto de uma montanha e todo o
tempo pensava nas perguntas e as anotava num caderno.
Depois, pensava nelas para encontrar uma resposta, só que
não as encontrava.

Por exemplo, ele escrevia:

“Por que a sombra tem um pinheiro?”

“Por que as nuvens não escrevem cartas?”

“Por que os selos não bebem cerveja?”

De tanto escrever perguntas, ficava com dor de cabeça, mas
ele não ligava. Sua barba cresceu, mas ele não a cortou.

Aliás, ele perguntava: “Por que a barba tem o rosto?”.

Em suma, era um fenômeno. Quando morreu, um estudioso
pesquisou e descobriu que, desde pequeno, aquele sujeito
havia se acostumado a vestir as calças do lado avesso e nunca
conseguira colocá-las do lado direito, e por isso nunca
tinha conseguido aprender a fazer as perguntas certas. O
que aconteceu com ele acontece com muita gente.

 

Fonte: RODARI, Gianni. Fábulas por Telefone. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.

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