Edição 51

Projeto Didático

Notícia: do jornal para a sala de aula

Do bate-papo entre amigos às conversas formais, tudo gira em torno das notícias
que circulam na mídia. Lemos jornais, revistas periódicas, vemos telejornais,
ouvimos rádio, navegamos pela Internet, a fim de ficar por dentro dos
acontecimentos e mais bem qualificados para viver numa sociedade letrada.

É fundamental que os meninos e as meninas das escolas públicas dominem a
leitura, sejam aptos para compreender, interpretar, selecionar e criticar as notícias
veiculadas nos jornais.
Matéria-prima dos jornais, a notícia relata os fatos verdadeiros
que estão acontecendo na cidade, no país, no mundo.
A intenção da notícia é informar o leitor com exatidão.
Mesmo tendo a pretensão de ser neutra, confiável, ela traz,
em si, concepções, princípios, ideologia de quem a escreve.

Por isso, neste artigo, propomos a organização de uma sequência
de atividades focadas no ensino da leitura, para que
nossos alunos procurem as informações, compreendam seus
sentidos, formem opinião e tornem-se leitores autônomos.

Em pauta: leitura da notícia

Notícia na mídia

• Mapear o conhecimento dos alunos sobre o gênero notícia.

• Identificar notícias que estão sendo veiculadas no rádio,
na televisão e nos jornais da cidade.

Em uma conversa, pergunte aos alunos se eles acompanham
as notícias que circulam nos meios de comunicação.

A seguir, peça que digam o que foi notícia, o que mais chamou
atenção nos últimos dias.

Com base nos comentários da turma, anote os assuntos
citados e onde foram veiculados (jornal, rádio, televisão).
Observe se os alunos têm interesse e familiaridade com o
mundo da informação. Aproveite para discutir com eles as
características dos jornais impressos e dos telejornais.

As notícias buscam uma comunicação eficiente, precisa e
de confiabilidade social. São impressas no jornal de acordo
com o grau de relevância (das mais importantes para as menos
importantes).

No telejornal, também há uma relação entre a importância
do acontecimento e sua duração no noticiário: textos,
imagens e som (cenas mostradas, tom da voz dos apresentadores,
participação de comentaristas, repórteres, entrevistados).

Fatos que são notícia

• Esclarecer os objetivos da situação de leitura (buscar informação,
atualizar-se, conhecer determinado assunto).

Organize os alunos em grupos e distribua jornais ou parte
deles para que folheiem, explorem, leiam o material. Provoque
a turma com questões que direcionem a leitura: para
que lemos o jornal? Qual o nome do jornal lido? Que outras
informações aparecem nele? Como os textos estão distribuídos?
O que mais chamou a atenção no jornal? Oriente-
os para que anotem as respostas. Durante essa atividade,
aproveite para observar a participação dos alunos. Depois
de um tempo, proponha que os grupos comentem suas conclusões.

Ouça com atenção as opiniões expostas.

Continue o contato dos alunos com o gênero em estudo.
Selecione uma notícia que instigue a curiosidade da turma.
Antes de iniciar a leitura, explore o título, o nome do autor,

o espaço do jornal em que foi publicado (caderno, seção).
Leia em voz alta a notícia. Caso você preveja dificuldades
dos alunos quanto ao tema e ao vocabulário do texto, procure
informá-los antecipadamente, para facilitar a compreensão
do que você vai ler.

Deu no jornal

• Explorar a primeira página do jornal e identificar os assun-
tos noticiados.

Ofereça aos alunos o jornal do bairro ou da cidade. Proponha
a eles que leiam a primeira página e, a seguir, pergunte
quais são os assuntos noticiados nessa página. Peça que digam
o que mais chamou a atenção: manchete, título, tema
abordado, imagem ou envolvimento com a notícia. Questione
os alunos acerca do que já ouviram ou leram sobre esse
assunto e provoque-os para saber mais. Ajude-os a localizar
a notícia no jornal e a ler o texto na íntegra. Veja se há fotos,
diagramas, tabelas, gráficos, mapas e outros recursos
de apoio à compreensão do fato informado. Incentive a
turma a fazer comentários, opinar, argumentar. Repita essa
proposta com regularidade para que os alunos se tornem
leitores de jornal.

Isto é notícia

• Conhecer a estrutura do gênero notícia.
Selecione uma notícia interessante e reproduza cópias suficientes
para realizar o trabalho em duplas. Se possível, não
recorte a notícia escolhida, deixe-a na folha, para que os
alunos tenham indicadores daquele contexto: nome do jornal,
data, página, caderno ou seção. Peça aos alunos que
leiam atentamente a notícia. Após a leitura, oriente-os para
que retomem a leitura do primeiro parágrafo. Veja se conseguem
responder a algumas destas questões: Quem? Fez

o quê? A quem? Onde? Quando? Como? Por quê? Para quê?
Anote, na lousa, as respostas das duplas, chamando a atenção
para esses dados. Informe aos alunos a finalidade do
primeiro parágrafo: destacar as informações mais importantes
do fato noticiado, atraindo o leitor para a leitura do
restante da notícia. Esse primeiro parágrafo da notícia recebe
o nome de lead, que significa, em inglês, conduzir. Os
demais parágrafos continuam narrando o fato, com acontecimentos
colocados por ordem de importância.

Por trás da notícia

• Comparar manchetes, títulos e notícias sobre um mesmo
fato.

• Estabelecer relação do conteúdo da notícia com outros
textos lidos.

• Compreender e se posicionar criticamente diante da notícia.
Leve, para a sala de aula, notícias de um mesmo fato publicadas
em diferentes jornais.

Divida a classe em grupos e peça aos alunos que leiam as
notícias. Durante a leitura, oriente-os a anotarem em uma
tabela o que as notícias têm de semelhante e de diferente.
É importante que os alunos percebam que, embora o fato
seja o mesmo, os autores podem relatá-lo de forma distinta.

A seguir, mobilize a turma a pensar sobre as anotações do
quadro: qual o destaque dado para as manchetes ou títulos?
Que público leitor eles atraem? Converse com os alunos
acerca das informações extraídas durante a análise. Aproveite
para chamar a atenção quanto aos dados veiculados
(precisão da data e do lugar onde ocorreram), assim como
quanto ao uso da terceira pessoa, que dá um distanciamento
do fato e maior confiabilidade à notícia.

Faça perguntas à turma: as informações contidas nas notícias
são imparciais ou tendenciosas? Qual é a posição de
cada uma das publicações? Durante a leitura, observe se o
grupo consegue estabelecer relações entre o conteúdo da
notícia e outros textos. Instigue os alunos a concordarem,
discordaren, criticarem e assumirem uma posição diante
dos fatos.

Coisas de almanaque

Você é leitor de jornal? Está acostumado com a linguagem
jornalística? É hora de testar seus conhecimentos. Pesquise

o verbete correspondente a cada número abaixo e edite seu
dicionário jornalístico.

1. Registro de uma série de acontecimentos, a partir do fato
de maior relevância. A estrutura desse relato é lógica; o critério
de importância ou interesse envolvido em sua produção
é ideológico.

2. Texto que desenvolve uma ideia ou comenta um assunto.
Geralmente assinado por um especialista no tema, escritor
ou jornalista.

3. Procedência da notícia. Informante oficial ou oficioso.

4. Texto de estilo enfático e equilibrado, expressa a linha
editorial do jornal. Apresenta, com concisão, a questão tratada,
desenvolvendo os argumentos que o jornal defende,
refutando opiniões opostas e concluindo com a opinião do
jornal.

5. Introduz o leitor na notícia, despertando seu interesse
pelo texto já nas linhas iniciais. Responde as questões principais
em torno do acontecimento (o quê, quem, quando,
como, onde, por quê).

6. Palavra ou frase que, no jornalismo impresso, é colocada
antes ou acima do título da matéria, para introduzi-la e
complementá-la.

7. Título principal de um jornal ou de uma página.

8. Gênero jornalístico que consiste no levantamento de assuntos
para contar uma história verdadeira, expor uma situação
ou interpretar fatos.

Histórias descrevendo o futuro: costurando afetos e lembranças

Depois de estar entre as semifinais do Prêmio Escrevendo o
Futuro e ser premiada pelo melhor relato de prática, professora
é convidada a orientar netos que desejam escrever
livros com as memórias dos avós.

Luiz Henrique Gurgel

Quando o ônibus que vinha de Belo Horizonte, trazendo a
professora Ruth Rodrigues Oliveira e sua aluna Laís Goulart,
chegou à rodoviária de Piumhi, Minas Gerais, só faltou banda
de música para saudar as semifinalistas do Prêmio Escrevendo
o Futuro de 2006. Na plataforma de desembarque, as
duas eram aguardadas pela imprensa local, pela diretora da
escola, por professores, alunos, pais e parentes. Em meio a
buquês de flores, concederam entrevistas, foram beijadas
e abraçadas. Ruth trazia, na bagagem, o prêmio de melhor
relato de prática daquele polo, e Laís, o texto semifinalista,
mais tarde publicado no jornal da cidade.

A repercussão do feito de Ruth e de Laís não parou por aí. A
professora já não esperava novas surpresas quando, semanas
depois, foi procurada pelo diretor de uma das principais
empresas de Piumhi. Ele queria contratar Ruth para orientar
a escrita de um livro com as memórias de seu sogro, Roldão
Soares, fundador da empresa. O livro seria escrito pelos netos
de Roldão.

Seu Mena, como Roldão é conhecido em Piumhi, tem 76
anos. De origem humilde, filho de uma família de agricultores
pobres, começou a trabalhar cedo vendendo galinhas e
porcos. Muitos anos depois, teve uma empresa que comercializava
açúcar e álcool. Apesar do sucesso na vida, manteve
os costumes e o jeito simples e acolhedor de gente da roça:
gosta de acordar cedo, de prosear e de contar histórias.

Ao procurar Ruth, o diretor da empresa queria que a professora
orientasse os netos de Seu Mena sobre como ouvir
e transformar as lembranças do avô num belo livro de memórias.
Mais do que isso: queria que a nova geração, por
meio daquela história de vida, fortalecesse o sentimento de
pertença, os laços de grupo familiar.

A tarefa não era simples; os nove netos tinham idade entre
11 e 25 anos e cursavam desde o Ensino Fundamental até a
universidade. Ruth resolveu fazer, com os jovens escritores, as
oficinas sugeridas no fascículo Memórias do Kit Itaú de Criação
de Textos — o mesmo com que ela trabalhara com seus alunos
no Prêmio Escrevendo o Futuro. Também usou os vídeos da série
Mão e Giz, explicando como cada neto deveria proceder
nas entrevistas para conseguir melhores depoimentos.

Partindo da infância pobre, passando por suas fases naturais
— brincadeiras, sonhos e também por suas dificuldades
e dilemas —, os netos de Seu Mena foram construindo textos
e costurando lembranças. O trabalho ainda não terminou.
Ruth retoma as oficinas no segundo semestre de 2007. Desta
vez, vai trabalhar na elaboração e edição final dos textos,
com revisões e reescritas, levando em conta as distintas
impressões que netos de idade diferente tiveram do avô. O
livro, ilustrado com fotos das várias fases da vida de Seu
Mena, foi lançado no fim de 2007.

A experiência inédita desses “alunos” permitiu, além de conhecer
boas histórias, compartilhar valores e fortalecer afetos
e vínculos com esse avô tão especial.

 

Fonte: Na Ponta do Lápis. Almanaque do Programa Escrevendo
o Futuro. Ano III, nº 06, agosto de 2007.
Fonte: ESCLARIN, Antonio Pérez. Educar Valores e o Valor
de Educar: Parábolas. São Paulo: Paulus, 2002.

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