Edição 31

Em discussão

Novas posturas para as velhas relações com os filhos e com a Escola

Thereza Bordoni

Nossa sociedade mudou, temos uma inversão de papéis e valores, mais informação do que podemos absorver, a mulher trabalha fora, o avanço tecnológico foi grande, a família mudou, a criança mudou, o aluno e a escola também mudaram. Tanta mudança gera confusão e expectativas.

Buscando proteger os filhos das mudanças, os pais estão oferecendo proteção excessiva em vez de desenvolver as capacidades dos filhos para que eles vençam na sociedade. A família está perdida e acaba achando que a escola é que tem de educar seus filhos. A família é responsável pela educação; e a escola, pela formação de habilidades para competências na vida adulta.

Nesse contexto, o melhor que podemos fazer por nossos filhos é ser consistentes na sua formação desde bem pequenos. A frustração, o “não” dito com firmeza, as tarefas diárias, o dinheiro regulado, o tempo bem distribuído, entre outros limites, favorecem a conscientização cidadã. Mas nada disso terá qualquer significado se não for mediado pelo exemplo dos adultos; nossos filhos são frutos do meio, porém é na relação familiar que os verdadeiros valores se formam e se consolidam. De nada adianta os pais darem limites, como assistir à TV só em determinadas horas, proibir certos tipos de música, cobrar respeito ao próximo, exigir que não falem palavrão, se eles próprios burlam as leis e os valores morais e adotam a postura: “Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. Suas atitudes valem mais que mil palavras. Busque ações simples e concretas que possam ajudar seu filho a assumir responsabilidades de forma coesa e correta, como, por exemplo: peça a seu filho, principalmente os menores, para que o ajude com os afazeres (guardar os brinquedos, limpar a mesa ou guardar a roupa limpa), comente com ele os programas e músicas atuais, coloque-o a par da realidade financeira da família. A criança que aprende a ter responsabilidades desde pequena se sai melhor na escola e na vida!

Lembre-se: “A palavra convence, o exemplo arrasta”. Seja um modelo a ser seguido, que lê, acha a aprendizagem emocionante, gosta de resolver problemas, tenta coisas novas e respeita a si mesmo, o outro e as regras da sociedade.

Na relação com a escola, esteja seguro da escolha que fez e dê espaço para a instituição trabalhar. Demonstre respeito tanto pelo sistema escolar quanto pelo professor. As acusações verbais contra a escola podem engendrar em seu filho sentimentos contrários a ela e dão um pretexto para que não se esforce. Mesmo quando não estiver de acordo com uma política da escola, é seu papel estimulá-lo a obedecer às suas regras, assim como precisará obedecer às regras mais amplas da sociedade. Caso esteja descontente com a escola, procure o responsável e converse com ele.

Como pais, não questionamos o pediatra, o dentista, no máximo sugerimos, mas, na escola, nos achamos no direito de dar palpites, de determinar ações, de corrigir a metodologia ou a proposta educacional. Será que nós, pais, somos os especialistas nessa área?

Quando a criança entra na escola, ela começa a aprender a enfrentar a vida por conta própria. E, se os pais insistem em intervir nesse processo, só um sai perdendo: a criança ou o adolescente. Quase todos os pais têm a “mania” de perguntar aos filhos como foi o dia na escola. Isso é positivo, ajuda-o a sentir que a escola é importante para a família; porém, quando isso se torna uma cobrança e o filho é obrigado a falar sobre a escola, se transforma em um desrespeito. É preciso que os pais entendam que a escola é o primeiro lugar onde os seus filhos têm controle sobre uma situação que eles (pais) não têm. É o primeiro sentimento de privacidade! E é preciso que os pais respeitem isso. A criança não querer comentar sobre a escola não significa que não goste dela.

Na escola, seu filho deverá compreender que os deveres de casa, os trabalhos e as notas são questões estritamente entre ele e seus professores, que deverão estabelecer as metas para atingir um melhor aproveitamento. Seu filho deve sentir-se responsável pelos êxitos e pelos fracassos na escola. Muitas vezes, por ansiedade ou por necessidade de controle, invadimos o espaço escolar. A intenção sempre é a melhor, porém corremos o risco de passar a mensagem errada, assumindo a responsabilidade de estudar no lugar de nossos filhos. Os pais que se sentem responsáveis pelo aproveitamento escolar de seus filhos abrem a porta para que seu filho passe a responsabilidade disso para eles, os pais. Isso é muito comum na hora do “Para casa”. A cena é: pais cobrando e filhos enrolando. Não se torne o responsável pelo dever de casa. Dê autonomia para seu filho e também demonstre que confia em sua capacidade. Já pensou, em vez de cobrar o dever de casa, perguntar a que horas ele irá fazer e se irá precisar de algo específico para as atividades? Isso é ser parceiro no processo e não o dono do processo.

Assumir a responsabilidade pelos deveres de casa ajuda as crianças a crescerem e se tornarem adultos responsáveis, que cumprem suas promessas, respeitam seus limites e triunfam em suas tarefas. Um dos principais objetivos do dever de casa é ensinar a seu filho como trabalhar por conta própria. Por outro lado, não se esqueça, é muito importante que ele perceba sua atenção aos deveres de casa e também às atividades diárias da escola. Só não se esqueça de respeitar os diversos ritmos de aprendizagem. Cada um tem o seu ritmo e o seu tempo, não dá para ficar comparando, mesmo que o seu filho e o filho do vizinho tenham a mesma idade e estudem na mesma escola.

Tudo o que aqui foi dito precisa ter, como pano de fundo, uma escolha consciente pela escola para seus filhos. Hoje existem inúmeras propostas e metodologias. Cabe a cada família buscar aquela que melhor irá complementar a formação que deseja para seus filhos. Gostaria apenas de ressaltar, ainda, a escolha da escola para os pequenos, na Educação Infantil. A criança não vai à escola só para brincar; a Educação Infantil é a base para a vida escolar. De 0 a 6 anos, aprendemos comportamentos de que iremos precisar para a vida inteira; é também a época em que temos a maior capacidade de absorver informações. Assim, escolher uma escola para esse período requer muita seriedade e comprometimento. As formas de ensinar são lúdicas (brincadeiras, muitas vezes), mas a intencionalidade é que faz toda a diferença.

Para terminar, como educadora e mãe, deixo algumas sugestões:

Trabalhe com a escola. Escola e família têm papéis diferentes, mas um objetivo comum. Respeite o espaço de cada um.
Pergunte sempre a seu filho como foi o dia na escola, mas não cobre uma resposta. Respeite sua privacidade.
Compreenda que a responsabilidade das tarefas de casa é do seu filho. Seja parceiro quando necessário, mas não assuma a responsabilidade. Permita que ele arque com as conseqüências. Ah! Lembre-se de que não é objetivo de um bom dever de casa manter seu filho ocupado, assim não deve haver excesso.
Estimule-o a pensar por si só. Deixe que ele resolva os seus problemas, busque alternativas, ache soluções.
Não torne o horário de estudos uma batalha. Negocie e estabeleça metas. Cobre os resultados.
Preocupe-se menos com a nota e mais com a aprendizagem.
Confie na escola e, caso tenha dúvidas, resolva-as com a escola, e não com outros pais ou com seus filhos.
Escolha bem a escola em que irá matricular seus filhos, visite-a e conheça seu projeto político-pedagógico; após a escolha, acredite em sua proposta e aceite sua forma de trabalhar.
Ao ir ao shopping, visite também as livrarias com o seu filho.
Lembre-se: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Seus comentários e, principalmente, suas ações influenciam diretamente na vida escolar de seus filhos.

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Bibliografia: Entrevistas diversas com Tânia Zagury e Roseli Sayão.

Thereza Bordoni é Pesquisadora e Mestre em Educação, Presidente da Associação dos Estabelecimentos de Ensino do Oeste do Pará e Colaboradora do Projeto Saúde e Alegria – ONG PSA.
E-mail: therezabordoni@yahoo.com.br

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