Edição 87
Lá Vem a História
O Banco Especial
Daniela Cynthia de Sá Rocha
Como de costume, peguei um ônibus para ir ao trabalho de manhã bem cedo. Ônibus lotado de gente, é claro. E, para piorar, sempre há aquelas situações desagradáveis de pessoas que empurram, o mau cheiro de quem não toma banho e, além disso, ficar em pé já virou regra para a maioria dos passageiros.
Uma idosa entrou e procurou seu assento especial, que todos sabemos que é reservado por lei. Ela o encontrou e pediu que uma gestante se levantasse e desse o lugar.
O problema estava armado! A mesma lei que assegura o lugar especial à idosa também assegura à gestante. E esta falou:
— Desculpe, senhora. Não posso levantar, estou grávida, e este assento é reservado para mim também.
A idosa ficou pensativa, observando se alguém que estava em outros bancos se levantaria para lhe ceder o lugar, mas as pessoas fingiam não ouvir a conversa das duas para não ter que ficar em pé no ônibus.
Mais uma parada. Entrou uma moça com um recém-nascido no colo. A confusão estava pronta.
Ela olhou para um lado, depois para o outro, e nada de lugar para se sentar.
A idosa, a gestante e a lactante começaram a discutir o assunto do banco especial, e as pessoas que ali estavam continuavam fingindo não acontecer nada.
Todos com seus compromissos, apressados e preocupados cada um com sua própria vida…
Algo inesperado aconteceu: o motorista parou o ônibus! Levantou-se, espreguiçou-se e desceu do veículo como quem queria aproveitar o sol daquela linda manhã.
Começou a gritaria:
— Vamos, motorista! Tenho hora marcada numa entrevista de emprego.
— Volte para o ônibus e dirija! Tenho que trabalhar!
O motorista passou dez minutos fingindo que ninguém estava falando. Depois disso, ele subiu no ônibus, olhou para os passageiros e falou calmamente:
— Se vocês fingem que não tem uma idosa e uma lactante precisando de dois assentos, eu também finjo que vocês não precisam chegar aonde querem. Só saio daqui com a idosa e a lactante sentadas.
Imediatamente, todos que estavam próximos ficaram preocupados com elas duas. Então, iniciaram uma discussão para decidir quem ia se levantar para dar o lugar.
Só posso dizer uma coisa: quando cheguei ao trabalho, já era hora de voltar para casa.
Daniela Cynthia de Sá Rocha é Professora de Língua Portuguesa.