Edição 76
Matérias Especiais
O guia curioso das Copas
O que aconteceu de mais curioso na história do evento até a primeira conquista do Brasil, que a cada 4 anos faz o mundo parar para ver a bola rolando.
E o que pode acontecer em 2014.
Escócia, zero; Inglaterra, zero. O placar do primeiro jogo oficial entre seleções de futebol não foi dos mais empolgantes. Tudo bem: após aquele 30 de novembro de 1872, escoceses e ingleses se enfrentaram e se golearam várias vezes, inspirando outras pátrias a calçar chuteiras. Surgiram torneios regionais, continentais, olímpicos e, em 1930, a Copa do Mundo. Vencida pelo anfitrião, Uruguai, a primeira final foi vista por 90 mil torcedores; em 2014, será 1 bilhão de pares de olhos no Maracanã — nada há de mais audiência no planeta. Aqui contamos o lado mais inusitado dessa história.
1930 | Uruguai
Uruguai
Uruguai 4 x 2 Argentina
Stábile (ARG) 8 gols
18 jogos
80 gols
3,9 gols/jogo
6º lugar
O crash da bolsa, em 1929, acabou quebrando também a Copa: nenhum europeu queria bancar o navio até Montevidéu. Na última hora, apenas Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia toparam.
O primeiro gol da história das Copas foi marcado em uma arena que não existe mais: o Estádio Pocitos, em Montevidéu. Quem inaugurou as redes foi o francês Lucien Laurent, na goleada de 4 a 1 sobre o México. Pena que poucos testemunharam — o público não passou de mil torcedores.
A final teve duas bolas diferentes. No primeiro tempo, com a bola que os argentinos queriam, deu 2 x 1. No segundo, com a bola preferida dos uruguaios, o Uruguai virou, e o jogo terminou 4 x 2.
1934 | Itália
Itália
Itália 2 x 1 Tchecoslováquia
Nejedly (TCH) 5 gols
17 jogos
70 gols
4,1 gols/jogo
14º lugar
Foi a primeira Copa com eliminatórias: houve 32 candidatos para 16 vagas — número de participantes que permaneceu até 1982.
A campeã, Itália, jogou com quatro argentinos naturalizados (dois que haviam disputado a Copa anterior pela Argentina) e também com um brasileiro, o Filó (Anfilóquio Guarisi Marques) — o primeiro campeão do mundo nascido no Brasil.
Nossa seleção jogou apenas um jogo: uma derrota de 3 a 1 para a Espanha. Teve um saldo positivo anos depois: Waldemar de Brito, que perdeu um pênalti nessa partida, redimiu-se ao descobrir Pelé no Bauru Atlético Clube e levá-lo ao Santos em 1956.
1938 | França
Itália
Itália 4 x 2 Hungria
Leônidas (BRA) 7 gols
18 jogos
84 gols
4,7 gols/jogo
3º lugar
Em 1937, a Áustria se classificou para a Copa. No ano seguinte, foi incorporada à Alemanha nazista e deixou de existir nos mapas. Sua vaga não foi preenchida; o torneio teve quinze participantes mesmo.
Após a vitória italiana sobre o Brasil nas semifinais por 2 a 1, o jornal Gazzetta dello Sport, influenciado pela ideologia fascista de Mussolini, deu a manchete: Inteligência branca italiana vence força bruta dos negros.
Pela primeira vez, o Brasil chegou às semifinais e teve um craque: Leônidas da Silva. Além de artilheiro, ganhou o apelido de Homem Borracha, devido à sua elasticidade.
1950 | Brasil
Uruguai
Uruguai 2 x 1 Brasil
Ademir (BRA) 9 gols
22 jogos
88 gols
4 gols/jogo
2º lugar
Pouco antes da Copa, um desastre de avião matou o time do Torino, que era base da seleção italiana. Os bicampeões vieram ao Brasil enfraquecidos e de navio mesmo.
Em Belo Horizonte, rolou uma das maiores surpresas de todas as Copas: a inventora do jogo, a Inglaterra, perdeu para os EUA por 1 a 0, gol do haitiano naturalizado Larry Gaetjens.
A final teve o maior público da história da competição: 199.854 pessoas lotaram o Maracanã, construído para aquele torneio. Ninguém saiu ferido.
Foi a única vez em que um país chegou à final do Mundial com a vantagem do empate, por força do regulamento. Deu Uruguai.
1954 | Suíça
Alemanha Ocidental
Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria
Kocsis (HUN) 11 gols
26 jogos
140 gols
5,4 gols/jogo
5º lugar
Em 1953, houve um concurso para substituir o uniforme branco da seleção, manchado pelo trauma da Copa anterior. O projeto vencedor, do desenhista Aldyr Schlee, permanece até hoje.
É a Copa com maior média de gols: 5,4 por jogo. O número foi impulsionado por partidas como Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental e Áustria 7 x 5 Suíça — o maior placar da história das Copas.
A sensação foi a Hungria do craque Puskás. A esquadra detém o recorde de melhor ataque da história do torneio: 28 gols. Na final, porém, os húngaros sucumbiram à eficiência alemã.
1958 | Suécia
Brasil
Brasil 5 x 2 Suécia
Fontaine (FRA) 13 gols
35 jogos
126 gols
3,6 gols/jogo
1o lugar
Foi a primeira e até hoje única Copa que contou com a participação de todas as seleções do Reino Unido: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Só os dois últimos se classificaram para o mata-mata — e caíram no primeiro jogo.
Brasil e Inglaterra protagonizaram o primeiro 0 x 0 da história das Copas. Depois do jogo, o técnico Vicente Feola escalou Zito, Garrincha e Pelé no time principal, dando adeus à retranca. A seleção engrenou, claro.
Feito em cima da hora para a Copa, o hino brasileiro A Taça do Mundo É Nossa virou hit nacional. A música foi cantada por muitos carnavais nos anos seguintes. Um dos compositores, Maugeri Sobrinho, também é autor do hino do Santos e do jingle da vassourinha, da campanha do presidente Jânio Quadros.