Edição 58

A fala do mestre

O Jogo do Século

Dra. Debbie Cherry

Charles: Boa-tarde, pessoal! Bem-vindos ao show da pré-temporada. Sou Charles Itall e estou feliz em tê-los conosco. Durante a próxima meia hora, estaremos apresentando alguns fatos importantes das duas equipes que se enfrentarão hoje na batalha chamada Jogo do Século, ou seja, a batalha entre pais e filhos. Como a maioria de vocês sabe, temos acompanhado esse jogo durante anos. Nas últimas décadas, temos percebido um crescente domínio da equipe dos Filhos. Isso continua ocorrendo nesta temporada. Para o jogo de hoje, os Filhos são considerados favoritos pela plateia. O fator determinante de quem vencerá esse jogo tem a ver com a preparação da equipe dos Pais.

A única forma de a equipe dos Pais vencer (o que seria considerado uma zebra) é colocar em prática o plano estratégico aprendido nas últimas semanas. Será que eles finalmente juntaram forças e aprenderam a se comunicar? Essa é a nossa esperança. Infelizmente, foi constatada, no início desta temporada, muita desordem interna na equipe dos Pais. Brigas ao lado da quadra e nos vestiários eram comuns, e todos sabiam que não estavam entrando em quadra unidos. Todas as equipes que têm enfrentado os Pais durante a temporada saíram vitoriosas usando a mesma tática defensiva conhecida por dividir e conquistar. Embora os Filhos continuem sendo considerados favoritos hoje, existem rumores de que essa equipe dos Pais tem juntado suas forças. Ouça com atenção antes de apostar em equipe X ou Y, porque podemos ter surpresas mais adiante.

Para dar o pontapé inicial no nosso show da pré-temporada, vamos passar a palavra para Genie Ology, nossa historiadora residente do Jogo do Século. Ela apresentará alguns aspectos importantes das tendências do domínio no passado. Genie…

Genie: Obrigada, Charles. A rivalidade entre essas duas equipes começou com a criação da humanidade. As batalhas têm sido duras de tempos em tempos, mas, se acompanharmos as tendências ao longo dos anos, os Pais quase sempre saíram vitoriosos. Sua equipe teve a reputação de ser firme e rigorosa, e sua autoridade dominou a quadra de jogo. Isso mudou nas últimas décadas. Começamos a ver uma mudança substancial de poder. Na verdade, quando essas duas equipes se têm enfrentado ultimamente, observamos um completo desastre para todas as pessoas envolvidas.

Deixe-me explicar.

Parece que os Filhos estiveram desenvolvendo algumas habilidades novas e se tornaram um verdadeiro desafio para os Pais. Eles começaram a dominar a quadra com sua independência teimosa, suas manobras rebeldes e suas táticas “abaixo da cintura”. Eles se especializaram na tática de dividir e conquistar a equipe rival e desenvolveram estratégias secretas para sabotar os horários de treinamento e condicionamento físico do oponente. Nos últimos anos, essas técnicas têm derrubado diversas equipes de Pais na quadra.

Os Pais têm aparecido para os jogos despreparados, fora de forma, exaustos e desorganizados. Ou eles não têm um manual de táticas ou não o usam. Durante o jogo, vários jogadores estão indicando diferentes jogadas, resultando em caos completo na quadra. Isso torna a tarefa dos Filhos bem mais fácil.

Nas últimas décadas, enquanto temos observado a equipe dos Filhos dominar a quadra, temos percebido uma enorme briga interna na equipe dos Pais, o que sinaliza o início do fim do jogo. Os Pais vêm para a quadra desordenados, e as coisas só tendem a piorar. Na verdade, em mais de uma ocasião, alguns membros da equipe dos Pais pareciam mudar de lado no meio do jogo. Era como se estivessem jogando na equipe dos Filhos em vez de jogar na equipe dos Pais, além de começarem a sabotar os esforços do restante da equipe dos Pais. Temos visto membros da equipe dos Pais passarem para a equipe dos Filhos as jogadas do manual de táticas dos Pais e se recusarem a apoiar sua própria equipe durante o jogo. Não demora muito, e a equipe dos Pais está perdida na quadra e acaba saindo dela em direções opostas.

Um fato curioso a ser registrado é que, à medida que os Pais terminam a sua união, os Filhos também começam a se dispersar. Sem uma equipe rival organizada que possa prover estrutura e regras para o jogo, os Filhos percebem que já não o entendem mais. Eles admitem que imitavam as jogadas dos Pais. Só que agora não têm mais o que imitar. Eles ficam perdidos e não conseguem terminar os jogos sozinhos. Os Filhos não estão celebrando a vitória, porque percebem que não há jogo sem a outra equipe. Se não há jogo, não há vencedores.

Charles, nossa esperança é que alguma coisa mude. Talvez este seja o ano em que o jogo seja jogado até o fim. Passo a palavra para você.

Charles: É verdade! Esperamos que este seja o ano da virada. Obrigado, Genie, pelo relato. Como mencionei anteriormente, existem rumores de grandes mudanças no horizonte. Debaixo de uma nova administração, a equipe dos Pais tem trabalhado toda a temporada para superar os aspectos que resultaram em devastação no passado. Eles estão prontos para jogar com um novo conjunto de diretrizes. Em uma entrevista hoje, perguntamos aos Pais quais eram as mudanças que os estavam ajudando a permanecer unidos até o final do jogo. Aqui estão alguns trechos dessa entrevista.

Repórter: É verdade que a sua equipe está sob nova direção?

Membro da equipe dos Pais 1: Bem, na verdade o segredo é voltarmos nossa atenção para o treinador original — Deus. Veja bem, foi Deus que desenvolveu esse conceito. Como equipe, estávamos afinados ao seguir suas orientações e sugestões sobre como melhor jogar esse jogo. Mas, então, decidimos demiti-lo e achávamos que poderíamos jogar sem a Sua orientação. Bem, os nossos resultados não são segredos para ninguém. Temos falhado miseravelmente, e nossas falhas como equipe têm afetado a equipe dos Filhos.

Finalmente, percebemos que precisávamos do criador do jogo de volta se quiséssemos ter alguma chance. Quando nos aproximamos d’Ele e perguntamos se estaria disposto a ser nosso treinador, Ele aceitou imediatamente. E aqui estamos mais bem preparados para o jogo do que em muitos anos. Sabemos que a batalha continuará, mas esperamos ser capazes de permanecer comprometidos até o fim, porque sabemos que há vários elementos essenciais em jogo.

Repórter: O que exatamente são alguns desses “elementos essenciais”?

Membro da equipe dos Pais 1: Bem, para início de conversa, aprendemos que a equipe é tão saudável quanto são os seus membros individuais. Em outras palavras, tivemos de trabalhar bastante a área do treinamento pessoal. Procuramos trabalhar no sentido de nos tornarmos saudáveis tanto física quanto emocional e espiritualmente. Buscamos nos esforçar além do que achávamos serem nossos limites pessoais, os quais tínhamos definido a partir de experiências passadas. Sabemos, agora, como podemos aprender com o nosso passado sem repetir os erros. Isso foi uma ótima notícia, porque estávamos cansados de perder.

Repórter: Então, o que vocês estão me dizendo é que, se cada um de vocês se tornar pessoalmente mais saudável, isso vai ajudá-los a não desistir no meio do jogo?

Membro da equipe dos Pais 2: Sem dúvida, esse é um aspecto fundamental. À medida que nos tornamos mais saudáveis, temos como contribuir de maneira mais eficiente para a equipe. Um outro aspecto a que temos procurado dar atenção especial durante toda a temporada é a valorização de cada um. Como você sabe, enquanto nos acompanhava na última temporada, temos sido uma equipe egoísta. Sem dúvida, estas duas últimas palavras parecem um paradoxo. Muitas das nossas brigas que você e nossos fãs viram tinham a ver com a ideia de “quem é o número um”. Todos queríamos estar no topo, ditar as jogadas e fazer as coisas à nossa maneira. E adivinhe aonde isso nos levou? Infelizmente, a lugar algum. Tínhamos muita vontade de vencer. Consequentemente, acabamos brigando uns com os outros e facilitando as coisas para a equipe oponente. Isso realmente tem causado muita confusão.

Mas tudo isso está prestes a mudar. Quando nos virem na quadra hoje, verão um conceito novinho em folha, ou seja, nosso alvo é enfocar mais as necessidades do outro do que nós mesmos. Temos o mesmo alvo agora. Esse alvo visa terminar o jogo como vencedores, e sabemos como trabalhar juntos para alcançá-lo. Aprendemos o conceito do trabalho em equipe.

Repórter: Mal posso esperar para ver isso. Se for verdade o que vocês estão dizendo, será um jogo completamente diferente hoje. O que vocês vão fazer com os diversos manuais de táticas que estiveram usando no passado? Chegava quase a ser cômico, há algumas temporadas, quando a televisão mostrava o que acontecia nos pedidos de tempo ao lado da quadra. A equipe de vocês brigava para ver qual o manual de táticas que seria usado. De que maneira isso será diferente hoje?

Membro da equipe dos Pais 3: Muito obrigado por nos lembrar daquele momento horrível na história. Precisamos confessar que você está certo. Para o observador de fora, pode ter parecido cômico. Uma grande parte do problema consistia no fato de cada um de nós ter o seu próprio manual de táticas de jogo. Não havia nada necessariamente errado com esses manuais. O problema é que nenhum de nós tomava tempo para estudar o manual do outro. Conhecíamos somente nossas próprias jogadas e estávamos procurando, de todas as formas, explicá-las aos outros. Isso não é algo que se consegue fazer durante os pedidos de tempo. Nessa pré-temporada, separamos tempo para estudar os manuais uns dos outros e temos procurado tirar o melhor de cada um e compilar essa informação em um manual uniformizado que agora orienta a equipe dos Pais.

Repórter: Se vocês tivessem que resumir todas essas mudanças para nós, o que diriam?

Membro da equipe dos Pais 2: Mais do que qualquer outra coisa, aprendemos a tornar o outro — não o jogo ou o nosso oponente, mas o outro — o número um! Aprendemos que, a não ser que nossa equipe esteja unida e nós comprometidos uns com os outros a longo prazo e estejamos conectados durante todo o jogo, podemos não terminar o jogo como equipe. E é isto que realmente queremos mais do que qualquer outra coisa: permanecer juntos como equipe para o resto da nossa vida.

Repórter: Isso parece ótimo. Existe mais alguma coisa que gostariam de compartilhar com os seus fãs?

Membro da equipe dos Pais 1: Sim, existe mais um aspecto importante que gostaríamos de mencionar. Sabemos que poderemos perder mais alguns jogos para os Filhos. Mas faremos de tudo para jogar o melhor possível e esperamos que isso tenha efeitos duradouros sobre os membros da equipe deles. Porque, como você sabe, no fim das contas, muitos deles serão recrutados para compor a equipe dos Pais, e esperamos que sejam bem-sucedidos naquilo que estamos fazendo aqui hoje.

Repórter: Esse é um conceito excelente. Obrigado por estar aqui conosco hoje. Espero que tudo que aprenderam seja benéfico para o jogo. A palavra volta para você, Charles.

Charles: Pelo que estamos ouvindo, os Pais parecem estar mais confiantes e unidos. Creio que em breve poderemos checar se isso terá alguma influência no resultado do jogo. Logo após essa entrevista com a equipe dos Pais, achamos que seria interessante conhecer o pensamento dos Filhos. Por isso, mostramos esta entrevista aos Filhos. Ouça o que eles têm a dizer.

Repórter: Bem, Filhos, aí está. Vocês acabaram de ouvir seus oponentes explicarem o que aprenderam e como pretendem jogar esse jogo a partir de hoje. Como vocês se sentem a esse respeito?

Filho 1: Talvez você se surpreenda, mas estávamos torcendo exatamente por isso. Embora tenhamos provado que somos oponentes temíveis nas últimas décadas, sabemos que nossa habilidade em jogar esse jogo desintegra-se quando a equipe oponente se desintegra. Evidentemente, não somos capazes de jogar quando nos deixam fazer o que queremos. Quando jogamos contra os Pais, estamos constantemente observando e aprendendo com eles. Aperfeiçoamos nossas habilidades observando o jogo deles. E, infelizmente, quando eles decidem brigar entre si ou até sair da quadra, acabamos fazendo o mesmo. E, como se sabe, por vários anos, os fãs têm ficado muito desapontados com a maneira como se tem jogado e começaram a perder as esperanças em ver esse jogo terminar bem.

Filho 2: Mas, com base naquilo que os Pais compartilharam nessa entrevista, podemos ter esperança novamente. É claro, continuaremos usando nossas bem-desenvolvidas táticas de sabotagem, rebelião, dividir e conquistar e tentar roubar o tempo deles juntos, porque nisso somos bons. Mas, na verdade, estamos esperando que os Pais venham para este jogo mais unidos, em forma e prontos para jogar. Se eles estiverem preparados, nossas táticas não resultarão na destruição da equipe deles, e o jogo terminará bem. Afinal, é exatamente isto que queremos — terminar o jogo. Se eles abandonam o barco bem no meio do rio, ou mesmo próximo à margem, não deveriam participar do jogo. Mas, se permanecerem juntos, como uma equipe unida e comprometida, então jogarão, e todos sairão ganhando.

Repórter: Parece que a equipe dos Filhos não está interessada primeiramente em ganhar, mas em fazer parte do jogo até o fim. E é exatamente isso que todos estamos esperando, não é verdade, pessoal? Um jogo limpo que seja jogado até o fim. Então as duas equipes sairão ganhando. Charles.

Charles: Muito bem, acabaram de me informar que está na hora do jogo. Então, lá vamos nós. A bola acabou de ser lançada ao ar.

Você está pronto para jogar?

Se está lendo esta revista, provavelmente está pronto para começar ou está bem no meio do seu Jogo do Século pessoal. Quando um casal experimenta a mudança de ser apenas dois para tornar-se uma família, o desafio em manter o casamento forte e firme aumenta. E o maior desafio de todos é lembrar que vocês continuam um casal. O papel de criar filhos requer muito esforço e tempo, e, se vocês não tomarem cuidado, o relacionamento conjugal pode ser prejudicado nas atividades do dia a dia. Se os casais escolherem tornar o casamento à prova de filhos (assim espero) e se desejarem permanecer casados depois que seus filhos estiverem crescidos e saírem de casa, então precisam separar tempo juntos durante a época da criação dos filhos para proteger o casamento e continuar crescendo.

Debbie L. Cherry é Ph.D

CHERRY, Debbie L. Casamento à prova de filhos. Curitiba: A. D. Santos Editora, 2006.

cubos