Edição 112

Profissionalismo

O PRAZER DE APRENDER ATIVAMENTE COM AS METODOLOGIAS ATIVAS

Rosangela Nieto de Albuquerque | Diego Rafael Santos Silva | Raphael Costa da Silva

A educação contemporânea nos remete a reflexões sobre ensinagem e aprendizagem; assim, novos desafios implicam em novas soluções e em novas formas de encará-los. Em um paradigma na educação, com aprendizes que vivenciam variados tipos de estímulo, observamos a necessidade emergencial de mudanças nos métodos e nas técnicas de ensinagem. Há que se refletir sobre como nossos alunos apreendem e como estamos oportunizando a construção do aprender… As propostas educacionais trazem novas perspectivas sobre o espaço de aprendizagem (sala de aula), transformações necessárias que emergem de um grito de socorro do estudante, da escola, dos docentes e da educação na dinâmica escolar. Buscar novos métodos e metodologias no processo educativo se apresenta como fator de urgência no cenário atual. E como trazer para a sala de aula o despertar do desejo de aprender? Crianças e jovens que nascem ou nasceram em um período sócio-histórico tão veloz e conectado/plugado nos levam a clamar por mudanças estruturais, pedagógicas, comportamentais e na práxis educativa para que se estabeleça uma real aprendizagem.

O modelo tradicional industrial do século XIX, que, infelizmente, ainda permanece sendo aplicado aos alunos do século XXI, ou seja, a uma distância de quase 200 anos, é vivenciado em algumas escolas, promovendo muitas vezes o desprazer em aprender.
Frente à necessidade de mudanças, as metodologias ativas, que emergem em aprender ativamente, mostram-se mais eficientes quando comparadas às propostas tradicionais.

Repensando o Modelo Tradicional

O modelo educacional tradicional ainda permeia muitas escolas brasileiras. A Teoria Pedagógica Tradicional, também chamada de educação bancária, teve origem na Revolução Industrial, na qual o ensino é feito de forma padronizada para uma grande massa, não havendo a preocupação com as subjetividades e as individualidades de cada sujeito. Nesse modelo, a aprendizagem remete à memorização dos conteúdos, não se permitindo desenvolver a criticidade do estudante, sendo desconectado do significado — aprendizagem significativa — do aprender. A avaliação da aprendizagem é reduzida a simbologias numéricas num processo classificatório. Essas tentativas de manter vigentes modelos educacionais defasados têm se demonstrado ineficazes.
É necessário ressaltar que almejar uma escola diferente e inovadora é entender que a sala de aula não está restrita a quatro paredes, uma lousa e carteiras enfileiradas, onde o papel do professor é apenas a emissão de conhecimento, e o aluno é um mero receptor passivo. A escola e seus elementos constituintes, no processo de ensinagem-aprendizagem, devem valorizar as experiências nas trocas sociais do educando; assim, a dinâmica das aulas com as metodologias ativas — aprender ativamente — e com atividades extraclasse é de fundamental importância.

Diante de um cenário de mudanças, o estudante deve atuar como protagonista da sua aprendizagem e o professor passa a ser um mediador desse processo de ensino-aprendizagem (PEREIRA E SILVA, 2018).

Metodologias Ativas

Apesar de não muito disseminadas, as metodologias ativas têm trazido novos olhares sobre a forma de fazer educação quando se trata do aspecto ensinagem-aprendizagem. Ainda vivenciamos poucas escolas que utilizam as metodologias ativas no Brasil, sendo em sua maioria escolas da rede privada, apesar do grande esforço e de um número considerável de docentes da rede pública trazer essas metodologias para a sala de aula.
Certamente, desenvolvimento humano se constrói com ciência, educação e sujeitos críticos, que aprenderam a pensar, criar, descobrir, experienciar e a ser protagonistas e autônomos com capacidade comunicativa.

É o desejo de “todo” docente uma escola que oportunize ao estudante o desejo de aprender.
Para Moran (2017), brasileiro fundador da Escola do Futuro, os novos modelos educacionais estão focados em aprender ativamente, levando-se em conta problemas reais, desafios relevantes, jogos, atividades, laboratórios multiúso, celulares; portanto, uma ampla variedade de métodos que permitam ao estudante ser o protagonista de seu progresso. Se as metodologias ativas têm como foco principal aprender ativamente, busca-se então a modificação do sistema anterior propondo a inclusão, principalmente, de aparatos tecnológicos que facilitem a aprendizagem, tanto na teoria como nas possibilidades práticas; assim, promove-se o desenvolvimento da criatividade necessária na aplicação dos conhecimentos previamente estudados, indo, neste caso, na direção contrária da escola que conhecemos.

É o desejo de “todo” docente uma escola que oportunize ao estudante o desejo de aprender.

Pensar na construção do planejamento de aula com metodologias ativas é sair da perspectiva de traçar um trilho, que limita, para uma trilha que guia os alunos para um objetivo sem determinações restritivas ao aprender; é saber que, mais do que formar um sujeito, deve-se formar uma pessoa preparada para a vida. Uma pessoa que precisa aprender a cozinhar não vai entender os desafios que se apresentam na cozinha apenas lendo as receitas, onde estão registrados todos os ingredientes e o modo de fazer teórico. Saber cozinhar envolve conhecer o passo a passo e também improvisar um ou outro ingrediente, reconhecer características como ponto do alimento, tempo de cozimento, coloração, tenacidade, etc.
É comum pensar sobre novos modelos educacionais e logo associá-los a novas tecnologias, mas pensar sobre metodologias ativas não é apenas incluir a tecnologia dentro da sala de aula, deve-se pensar sobre questões como o papel do estudante dentro e fora da sala de aula, a cultura escolar, a função do professor, a participação da família, o papel da comunidade, o espaço físico escolar e o processo avaliativo.

Para Moran (2017), há três movimentos principais para uma aprendizagem ativa, a construção individual (pensando nos aspectos pessoais de cada sujeito), a grupal (na qual a aprendizagem acontece de maneira compartilhada) e a orientada (na qual o professor se torna uma espécie de tutor). A aprendizagem personalizada permeia a construção individual, já que, diferentemente do modelo tradicional, na metodologia ativa há uma maior preocupação com fatores subjetivos e individuais. Dentro do processo de aprendizagem, o estudante ocupa o lugar de protagonista, ressaltando o seu papel ativo. O planejamento de aula é focado não só no grupo, mas em aspectos de cada integrante deste, já que a construção e apreensão de conteúdos são diferentes para cada sujeito. Há demandas que precisam ser trabalhadas pontualmente com cada sujeito, como a dificuldade do estudante na execução de atividades, ou até mesmo a falta de interação grupal, ou a ampliação de conteúdos para potencializar essa aprendizagem.
O segundo movimento proposto por Moran (2017) é a aprendizagem colaborativa, em que as vivências individuais passam a ser compartilhadas em grupo, o que não está restrito ao tempo dentro da escola. O processo de socialização permite ao sujeito não só trabalhar questões teóricas ou a resolução de problemas propostos pelo tutor, mas as habilidades interpessoais, a resolução de conflitos e aprender a lidar com suas emoções e sentimentos, como a alegria, o medo, a raiva e até a rejeição. A interação grupal permite uma ampliação do processo de aprendizagem, identificando habilidades e competências que cada sujeito pode exercer nessa dinâmica.

A aprendizagem personalizada permeia a construção individual, já que, diferentemente do modelo tradicional, na metodologia ativa há uma maior preocupação com fatores subjetivos e individuais.

É na síntese dinâmica da aprendizagem personalizada e colaborativa que desenvolvemos todo nosso potencial com pessoas e com grupos sociais, ao enriquecer-nos mutuamente com as múltiplas interfaces do diálogo dentro de cada um, alimentado e alimentados pelos diálogos com os diversos grupos nos quais participamos, com a intensa troca de ideias, sentimentos e competências em múltiplos desafios que a vida nos oferece (MORAN, 2017).

O terceiro movimento é a aprendizagem por orientação com profissionais mais experientes, ou seja, o professor passa a exercer um papel de orientador. Caberá ao professor a tarefa do planejamento metodológico, pensando, como já falado anteriormente, nas habilidades e competências individuais e também grupais. É necessário pensar no processo de formação acadêmica do professor no que tange à visão de construção do sujeito, saber lidar com novos avanços sociais e aderir à inserção de novas tecnologias dentro e fora da sala de aula.

Para Silva, Lima e Andriola (2016, p. 90), “O uso das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) no currículo de formação de professores deve perpassar de forma transversal todas as disciplinas, articulando naturalmente as diversas formas de intervenção na aprendizagem”. Nesse sentido, a tecnologia não é o elemento central da metodologia ativa. Esta não deve ser utilizada como um fim em si mesmo, mas deve ser também utilizada como uma ferramenta pedagógica.

Segundo Moran (2015), o processo de aprender ativamente ocorre quando o estudante interage, ouvindo, falando, perguntando, discutindo, fazendo e ensinando, sendo sempre estimulado a não mais reproduzir informação, mas a construir o conhecimento. O professor atua como orientador, supervisor e facilitador do processo de aprendizagem, deixando de ocupar o papel de única fonte de conhecimento.
O professor atua como orientador, supervisor e facilitador do processo de aprendizagem, deixando de ocupar o papel de única fonte de conhecimento.

 

pessoas

Dentro das metodologias ativas, Moran (2017) enfatiza técnicas visando à melhoria no processo de aprendizagem:

 

• Modelo de ensino híbrido – meio pelo qual a metodologia ativa se expressa no mundo conectado e digital.

• Criação de histórias utilizando dispositivos móveis.

• Gameficação – aulas roteirizadas com linguagem de jogos.

• Técnica diversificada – diversidade de técnicas relacionadas com áreas de formação profissional.

• Inversão do foco e das estratégias ¬– o aluno busca as informações básicas e trabalha em sala a resolução de problemas com o suporte do tutor.

• Aprendizagem ativa por meio da investigação.

• Aprendizagem baseada em problemas.

• Aprendizagem baseada em projetos – nesse método o aluno produz projetos interdisciplinares, que permitem a integração de disciplinas, ou transdisciplinar, que amplia o diálogo entre áreas do conhecimento.

 

O autor ressalta ainda a importância de utilizar as várias técnicas, estratégias, recursos e aplicativos para o sucesso da aprendizagem.
A proposta pedagógica da escola é cada vez mais decisiva para a escolha dos pais de matricularem os filhos; assim, Moran (2017) denominou de Design Educacional e, certamente, tem-se mostrado o fator-chave na escolha da instituição educativa. Estas, que apostam em metodologias ativas, que são atraentes para o estudante, que desenvolvem o prazer em aprender, que utilizam aprendizagem significativa, certamente estarão contribuindo para a formação de um sujeito mais crítico, preparado para a vida, autônomo e cidadão.

 

 Considerações Finais

O ato de educar é um movimento fluido e constante entre os indivíduos, a escola necessita desenvolver no estudante o prazer em aprender. Certamente há muito que se fazer, mas o uso de metodologias ativas é o primeiro passo.

Pensando a longo prazo, é importante sincronizar todas as instâncias da escola em torno de uma prática ativa que esteja dentro da realidade e viabilidade; portanto, conciliar a qualidade do ensino com a viabilidade social.

É necessário repensar o processo de ensinagem-aprendizagem não como um ato estável e limitado tal qual concebe a educação tradicional, mas como um processo contínuo de atualização. A práxis pedagógica está relacionada com a formação de sujeitos para o futuro e, assim, é importante perguntar que sujeitos queremos formar? Desenvolver o indivíduo enquanto sujeito humano-social, promover a reflexão crítica, formar cidadãos éticos e autônomos, discutir valores e instigar a pesquisa são alguns tópicos oportunizados ao aluno quando a escola opta por uma metodologia ativa.

 

Rosangela Nieto de Albuquerque é ph.D. em Educação, pós-doutoranda em Psicologia, Doutora em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Linguagem, psicanalista clínica, professora universitária de cursos de graduação e pós-graduação, psicopedagoga clínica e institucional, pedagoga, licenciada em Letras (Português/Espanhol), autora de projetos em educação, autora e organizadora de treze livros e paricipou da implantação de uma clínica-escola de Psicopedagogia Clínica como projeto social.

E-mail: rosangela.nieto@gmail.com

Diego Rafael Santos Silva é graduando de Psicologia na Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), atuou como voluntário no Projeto de Extensão Saúde e Saber, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e estagiou na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Raphael Costa da Silva é graduando em Psicologia na Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire); atua como estagiário no Programa Criança Feliz, do Governo Federal; contribui amplamente no Grupo de Trabalho em Psicologia do Esporte do CRP 02.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Unesp, 2001.

MAYER, V. F. Aplicações do método caso em sala de aula. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 2012.

MORAN, J. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. Educatrix. Dossiê currículo. Ano 7, n. 12. São Paulo: Moderna, 2017. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-ontent/uploads/2013/12/metodologias_moran1.pdf

Acesso em: 13 de fevereiro de 2020.

MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens, v. 2, p. 15-33, 2015. Disponível em: Acesso em: 12 de Fevereiro de 2020.

PEREIRA, Z. T. G. e SILVA, D. Q. Metodologias ativas: sala de aula invertida e suas práticas na Educação Básica. 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6665947. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.

ROCHA, Henrique Martins; LEMOS, Washington de Macedo. Metodologias ativas: do que estamos falando? Base conceitual e relato de pesquisa em andamento. In: IX Simpósio Pedagógico e Pesquisas em Comunicação. Resende, Brasil. Anais do… São Paulo: Associação Educacional Dom Boston, p. 12, 2014. Disponível em: Acesso em: 16 Fevereiro 2020.

SILVA, F. C. M.; LIMA, A. S.; ANDRIOLA, W. B. Avaliação do suporte de TDIC na formação do pedagogo: um estudo em Universidade Brasileira. REICE. Revista Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio enEducación, 14(3), 77-93. 2016. Disponível em: https://revistas.uam.es/index.php/reice/article/view/3856/4813. Acesso em: 16 de fevereiro de 2020.

cubos