Edição 10

Matérias Especiais

O preto no branco

É engraçado como as pessoas sempre falam, nesta época do ano (maio) por causa da data da abolição, sobre os negros, principalmente nas influências e heranças deixadas. Porém, o mais estranho é que parece algo distante, que aconteceu há muitos anos, não percebem que estas influências estão mais vivas do que nunca no nosso dia-a-dia.

Podemos enumerar coisas com as quais estamos lidando cotidianamente,
mas fazem parte desse “diálogo” entre a África e o Brasil:

Culinária – os negros trouxeram uma gastronomia riquíssima, aqui reestruturaram pratos, e fizeram iguarias com ingredientes que trouxeram da África, como: coco, inhame, café, quiabo, gengibre, melancia, banana, azeite-de-dendê, também incorporaram elementos que não eram “seus” como: amendoim, pimenta, mandioca, milho; dessa “mistura” surgiram delícias como: cuscuz (no começo feito com arroz, mas aqui passou a ser feito com milho), feijoada, moqueca de crustáceos, caruru, entre tantas outras;

Música – instrumentos de manifestações culturais como: agogô, abê, berimbau, alfaias, ainda são amplamente utilizados e estão diretamente ligados aos negros;

Danças – algumas expressões culturais como os maracatus em Pernambuco, sambas baiano e carioca, capoeira, cocos e congados mineiros, estão vivíssimas e têm uma relação estreita com os negros escravos trazidos para o Brasil;

Religião – não podemos deixar de citar movimentos religiosos como: afoxés, orixás, xangôs, candomblés, que traduzem crenças e religiosidade de vida; e

Vocabulário – temos inúmeras palavras que foram modificadas ou adaptadas à língua portuguesa, como: chequerês, xodó, tanga, maracutaia, dando, assim, uma enorme contribuição à formação lingüística do povo brasileiro.

Mas isso todos nós estamos meio que cansados de saber, não é?! E, na área de educação, fala-se muito em construir uma postura crítica com os alunos. Isso pressupõe pesquisa, análise e reflexão.

Então, procure dar uma “cara” nova a esta data. Que tal analisar como vive atualmente a maioria dos negros brasileiros? Sabermos como o ontem se reflete no hoje e provoca o amanhã.

Para isso, você pode propor trabalhos de pesquisa, especialmente com alunos de fundamental 2 e médio, de dados sociais, estatísticas que caracterizam a vida do negro (já que o censo está aí para ser explorado.), penalidades para casos de preconceito (consulte o novo Código Civil!), entidades que atuam em defesa do negro, sugira pesquisas na internet, bibliotecas, livrarias, indique locais que eles possam entrevistar pessoas “anônimas”, mas ativas.

Estabelecer critérios para selecionar, classificar e analisar os dados coletados é muito bom e deve dar produtividade ao trabalho. Quanto à reflexão, ela pode caminhar no sentido de identificarmos quais os ranços que ainda existem e os avanços alcançados em todos esses anos de “abolição”, isto poderá contribuir bastante.
Enfim, entender melhor o país em que vivemos.

Caso você queira estender seu trabalho ainda mais. Pode optar por colocar em pauta os problemas mundiais. Como sugestão, aborde as condições da África de hoje, procure fazer com que sejam caracterizados e descritos os aspectos: econômicos, sociais, políticos, geográficos e culturais, enfocando, principalmente, as guerras que acontecem. Este tema tem muita coisa para ser trabalhada e um ponto que vai causar muito “furdunço” é lançar as seguintes questões: Por que a mídia está “dando” tanta importância apenas à guerra no Iraque, mas nem sempre destina a devida atenção ao que acontece no continente africano? Por que a ONU não interfere? Quem está “ganhando” com isso? Qual o futuro da África?

O fundamental é que você mobilize seus alunos, que eles passem a entender que o processo de construção do conhecimento acontece hoje de forma mais ampla. O livro didático com a data histórica da Abolição é seu ponto de partida para o entendimento do mundo contemporâneo, mas não deve ficar só nele, é preciso interagir com outras mídias, com outras fontes de informação.

Porém, para que seu aluno entenda a postura aqui proposta, você, professor, é peça essencial, porque a signficação ao abordar o dia da Abolição é você que vai direcionar, e neste direcionamento você terá duas opções: falar novamente o que se falou no ano passado sobre os negros ou propor uma releitura bem mais realista das condições de vida do negro hoje.

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