Edição 19

Matérias Especiais

O que a Escola pode aprender com…

aprender_musica… um compositor ou uma compositora?

Um(a) compositor(a) possui uma partitura, um instrumento, uma linguagem, uma forma de registro, um conhecimento e uma grande sensibilidade.

Quando algo sensibiliza um compositor ou uma compositora, ele(a), utilizando-se do seu conhecimento, da sua habilidade e da sua inspiração, compõe algo que não existe com as mesmas sete notas que conhece e que, ainda pequenino, aprendeu a distinguir.

Essas notas conhecidas vão se combinando de tal forma que, apesar de milhares e milhares de melodias que existem no mundo, aquela que resulta dessa combinação consegue ser original, diferente, e transmitir uma mensagem para quem quiser ouvi-la.

O(a) compositor(a) se utiliza de um conhecimento passado para produzir algo que será futuro e que, embora registrado em sua partitura, terá que, para sair dela e transformar-se em melodia, sempre ser produzido e interpretado como se fosse a primeira vez.

A melodia do conhecimento a ser produzida na Escola não precisa ficar presa à repetição das cantilenas da aprendizagem exclusivamente mnemônica. Os textos já registrados nos livros podem ser reinterpretados, tendo como pano de fundo a realidade de hoje e como ferramenta os instrumentos a serem dedilhados ou percutidos tanto pelo(a) professor(a) como pelos(as) alunos(as), num eterno exercício de fazer vir a ser, com novo sentido, algo que já existe, mas que pode sofrer novas combinações e interpretações e pode ser objeto de novas autorias.

A linguagem corrente pode produzir novos conhecimentos a partir daqueles que já existem, e a escola pode se transformar num conservatório que conserva as notas musicais nas composições já existentes, mas que permite que as mesmas possam dançar e subitamente fazer parte de uma criativa composição, de um novo laboratório, de uma nova pesquisa, resultando em uma “nova novidade”.

A música a ser produzida pela Escola pode ser diferente, pode considerar a realidade, pode se inspirar no passado, porém deve projetar-se para o futuro, sem medo de ser muito alegre, de produzir movimento e vontade de dançar. A música a ser composta pela Escola deve ser feita e interpretada por muitas mãos e mentes, pode ser tocada por vários instrumentos, regida por distintos maestros, ser executada em vários ritmos, registrada de diversas formas e interpretada pelos protagonistas da Escola, sem tirar-lhes o direito de deixar presente, em sua apresentação, seu estilo pessoal.

aprender_tecelao1… um tecelão ou uma tecelã?

Um tecelão ou uma tecelã possui seu tear, que é composto de um quadro de madeira e suas réguas, também de madeira. Para tecer, precisa de lã ou de fio, de uma só cor ou de distintas cores; de um plano que se delineia em sua mente e que pode esboçar no papel para poder pensar como realizá-lo; de uma grande vontade de fazer o plano tornar-se realidade; e de conhecimento de tecelagem para poder se aliar à vontade e produzir o resultado.

O tecido a ser tecido necessita de uma combinação de cores, caso o plano tenha previsto uma estampa colorida, que precisa se encadear logo na primeira montagem dos fios. É impossível chegar a um resultado colorido, a uma estampa xadrez ou floral, tecendo uma cor de cada vez ou cada uma em um tear separado.

O tecido da aprendizagem a ser tecido na Escola precisa de uma combinação adequada de conteúdos que não podem e não devem ser tecidos cada um em um tear diferente, como se os fios do saber pudessem, separadamente, produzir um saber interligado. Se cada disciplina é tecida em um tear, cada tear produzirá um diferente tecido, liso, sem estampas e sem relações com os outros fios. No final do ano, teremos uma porção de tecidos lisos com os quais poderemos montar algumas combinações, uma colcha de retalhos, talvez, mas não o tecido estampado que havia sido planejado.

É possível também tentar, através de colagens, recortar e colar os tecidos, uns sobre os outros, para tentar se aproximar da estampa planejada. No entanto, por mais que sejamos artistas, não conseguimos produzir algo como se tivesse sido tecido junto.

A Escola precisa aprender com o tecelão e com a tecelã que, para tecer uma estampa, é preciso planejar as relações e possibilitar uma tal disposição dos fios que eles possam, com a ajuda das réguas, da habilidade e do conhecimento do tecelão ou da tecelã, produzir um conhecimento que, como diz Morin (2001), “é tecido junto” e não remendado depois.

aprender_pesca5… um pescador ou uma pescadora?

O pescador tem em sua vara de pesca, sua rede ou sua mão, instrumentos importantes, mas que não são suficientes para o sucesso da pescaria. Além disso, precisa saber “ler” o rio e o mar, conhecer seus movimentos, identificar a temperatura ideal para que os peixes possam aparecer e ser pescados, saber a época da desova para não prejudicar a preservação das espécies aquáticas e muitos outros conhecimentos que dizem respeito à natureza dos rios e mares e da vida nesses meios. Também é importante saber utilizar a vara, a rede e a mão para que a pescaria possa ser suficiente e ele(a) possa contar muitas histórias de sucesso.

O pescador ou a pescadora necessita, também, ensinar seus filhos a pescarem ou a valorizarem, de alguma forma, aquilo que ele(a) pescou. Essa valorização também é extensiva aos clientes, parentes e a quem se interessa pelo produto de sua pesca.

Pescar requer técnica, além dos instrumentos e do conhecimento, e a aprendizagem é fator importante nesse caso.

A Escola também pode aprender a utilizar seus instrumentos, dos mais simples aos mais complexos, mas não basta aprender apenas a didática dos materiais, ter recursos eletrônicos e apostilas atualizadas: é preciso conhecer.

Conhecer o conteúdo a ser estudado no decorrer de um período escolar; aprender a ler o movimento dos pais, dos alunos, dos professores, da tendência educacional na sociedade, da mídia; poder decidir quando é a hora de promover pescarias e quando é o momento de integração, de reflexão, de recolhimento para a preservação de seus profissionais, de sua função, e para o crescimento de seu trabalho.

É preciso também desenvolver a técnica para a pesca de conhecimentos e para o ensino da pesca. Nessas técnicas, precisamos incluir a aprendizagem do arrastão, para a qual se utiliza uma grande rede e é necessário um grupo de pessoas a realizar essa tarefa. A Escola precisa introduzir a tarefa grupal e por isso tem a premência de aprender a teoria e a técnica do trabalho com grupos.

Por outro lado, a aprendizagem das técnicas supõe a aprendizagem para a articulação de conhecimentos; para promover a mobilização dos alunos para a aprendizagem e para integrar as tarefas grupais às individuais já existentes.

A técnica de pescar sozinho é importante, desde que os sujeitos aprendam a dividir os peixes que pescaram e não sofram de uma indigestão comendo tudo sozinhos. Saber por saber, para ocupar espaços internos do sujeito, sem sentido, pode intoxicar.

Faz parte também da aprendizagem individual, pescar e relatar a pescaria atrelada àquilo que aconteceu de fato. Essa é a única lição que a Escola aprenderá dos pescadores às avessas, já que eles costumam aumentar, e muito, o tamanho do peixe quando não há testemunhas.

Na pescaria escolar, uma das grandes aprendizagens que precisamos fazer é a de poder dar o peixe quando isso é necessário. Quando a criança é muito pequena, quando o clima está muito tenso, quando o aprendiz está enfrentando um momento de obstaculização intensa, ou mesmo quando é necessário dar um impulso a alguém que precise dele, é preciso saber ensinar a pescar e não dar o peixe quando o aprendiz já desenvolveu um grau de autonomia que lhe possibilite dar mais um passo, passo este que deve ser mediado e não provocado externamente.

A tranqüilidade do(a) pescador(a) e a sua certeza de que a agitação do mar vai acalmar num próximo dia também é uma grande lição que podemos aprender com o pescador ou com a pescadora.

Acreditar que um aprendiz agressivo não vai ser agressivo sempre e também não vai se transformar em calmo para sempre; que um aluno agitado pode se acalmar, e que essa calmaria depende também de condições externas a ele, como a temperatura do ambiente, a falta de nuvens no céu, a ausência dos ventos, etc.; que uma aluna que apresenta dificuldades não vai ter dificuldades o ano inteiro nem em todas as matérias — ela pode cansar de remar mas logo voltará à forma — é uma prática importante para o professor(a) pescador(a).

Os mistérios do mar e da sua relação com os outros elementos da natureza, assim como os mistérios dos rios, são mistérios a serem desvendados a cada viagem a ser realizada. O fato de termos feito uma viagem para um determinado lugar não significa que a pescaria vai ser igual, só porque vamos pescar no mesmo lugar, numa viagem muito parecida com a anterior. Cada turma é uma turma, e a relação do professor com o conteúdo, com os alunos e as alunas e com a Escola se modifica a cada ano. O fato de sabermos alfabetizar e de termos alfabetizado muitas turmas não significa que não temos nada a aprender e nenhum mistério a desvendar.

aprender_marceneiro1… um marceneiro ou uma marceneira?

Com muitas ferramentas, muitos pedaços de madeira, muita imaginação e muita experiência, Gepeto transformou um pedaço de árvore em um menino de verdade — lógico que com a ajuda da fada madrinha e do grilo falante. Muito embora seja uma história, a marcenaria quase chega a essa perfeição: é capaz de transformar um pedaço de madeira em uma renda, em um ovo colorido, em um baú de surpresas, em um brinquedo que alegra, em uma moldura que pode conter boas e más lembranças.

Com elementos brutos ou pouco trabalhados, podemos, enquanto Escola, construir algo, mesmo que esse algo já tenha sido construído. Sem reinventar a roda, mas a partir da roda, das invenções já realizadas, é possível construirmos a nossa roda também, aquela que vai ser necessária para o nosso carrinho de madeira, para o carrinho de rolimã a ser construído pelo grupo, etc.

Colher a “madeira-conhecimento” própria para determinada criação, buscar os instrumentos necessários e prepará-los, juntamente com os professores e as professoras, alunos e alunas, fazem parte da construção que podemos aprender com a marcenaria.

A bancada a ser utilizada, a organização necessária e a desorganização inicial, até que o resultado da aprendizagem vá tomando forma, também é algo a ser considerado.

Às vezes, o(a) marceneiro(a) encontra-se no meio de uma confusão. No entanto, esta vai dando espaço para seu produto.

No caso da Escola, o saber aprendido na bancada da sala de aula — em relação às bancadas do cotidiano, utilizando as madeiras que todos trazem para a escola e a madeira que ela mesma tem armazenada — promove inicialmente uma certa confusão que pode ser organizada à medida que o mediador ou a mediadora vai possibilitando que todo o material seja conhecido para realizar a tarefa grupal. A posição de mediador ou mediadora lhe permite que vá dando as dicas das melhores formas, trazendo experiências de outros(as) marceneiros(as) e ajudando o grupo a estabelecer o objetivo; enfrentar o problema que a realização trará; definir a escolha do conhecimento a ser utilizado; escolher a forma de trabalho a ser adotada (quando necessário); determinar o tempo a ser disponibilizado para aquela confecção e tudo que seja necessário combinar para que a confusão vá dando espaço à possibilidade de fazer e ao próprio fazer.

Esse fazer, no entanto, não está relacionado somente àquilo que se pode fazer com as mãos, mas a todo exercício de reflexão, de discussão, de elaboração e reelaboração que está envolvido em uma confecção com madeira simbólica e com instrumentos também simbólicos.

O produto que surge dessa ação pode ser uma produção grupal ou individual, dependendo do encaminhamento dado ao trabalho. No entanto, a aprendizagem acontecerá dentro de cada protagonista dessa prática e, com certeza, embora as caixinhas possam ser muito parecidas, o que cada um(a) aprenderá não será exatamente o mesmo. Surge o espaço interno para que todos(as) possam aproveitar essa aprendizagem para criar outras caixas e outros objetos diferenciados.

aprender_jardim3… um jardineiro ou uma jardineira?

Um jardineiro ou uma jardineira, como os outros trabalhadores aqui citados, possui seus instrumentos de trabalho e precisa aprender a utilizá-los, conhecer seu funcionamento e sua relação com os jardins que vai aparar, adubar e embelezar. Além disso, precisa conhecer também sobre os jardins, a terra, a grama, a influência do sol em cada muda, o papel da irrigação e da luz para o crescimento das plantas, etc.; conhecer distintas técnicas para que possa ser mais eficiente e mais cuidadoso(a) com seu jardim.

A aprendizagem principal a ser adquirida com esse(a) trabalhador(a) é a necessidade de estar constantemente cuidando do fruto do seu trabalho.

Cuidar não significa só olhar, passar a mão na cabeça e simplesmente livrar o jardim das plantas daninhas. Cuidar é olhar, acarinhar, limpar, mas é também oferecer a quantidade de água suficiente, preocupar-se com os excessos, permitir que a terra aproveite os nutrientes das folhas que caem e complementar sua nutrição caso seja necessário.

Cuidar significa colocar na sombra aquela planta que não pode receber muito sol, colocar ao sol aquela que dele necessita para crescer e se desenvolver, podar quando apresentar um crescimento desajeitado e transferir as mudas dos pequenos viveiros para os grandes jardins quando elas já estiverem preparadas.

aprender_lupaO cuidado da Escola é dinâmico, porém também é preciso:

Olhar e enxergar os alunos e as alunas, conhecer suas histórias, perceber suas qualidades e seus defeitos.

Acarinhar com o olhar, com as mãos e com as palavras todos aqueles que estiverem por perto (do mais simples funcionário, passando pelos professores, alunos e pais, e chegando ao mais alto escalão).

Limpar a comunicação, tirar os “ruídos” que nela possam existir, esclarecer os desentendimentos e contar para o outro sempre que você concorda com ele e sempre que sua opinião seja diferente.

Oferecer o conhecimento necessário para que os alunos e as alunas possam participar do mundo atual e daquele que se delineia em suas frentes.

Preocupar-se com o excesso de reprodução na sala de aula, com o excesso de permissividade, de comandos, de agitação ou de passividade.

Permitir que todos, assim como as folhas caídas que adubam as outras plantas, possam contribuir para que o conhecimento a ser veiculado na Escola seja mais rico.

Complementar e articular os conhecimentos trazidos e permitir que a análise, a síntese, as relações, as reflexões e as conclusões se façam.

Colocar alunos e alunas em vários lugares, permitir que exerçam vários papéis e auxiliá-los para que reconheçam suas individualidades, objetivando enriquecê-las, modificá-las sem inibi-las, invadi-las ou desrespeitá-las. No momento em que precisem da sombra do silêncio ou da luz do convívio, que isso possa ser considerado como parte do movimento de um grupo aprendiz.

Podar, no sentido de colocar os limites necessários para que o ensino–aprendizagem possa acontecer sem se perder na confusão. Fazer acordos e zelar pelos seus cumprimentos ou pelas suas reorganizações, para que todos saibam o que é possível e o que não é na convivência escolar e para que a aprendizagem possa acontecer.

Iniciar, com as crianças menores, um processo de cuidado mais próximo, graduando a passagem de heteronomia para a autonomia, para que tudo seja feito dentro de suas possibilidades biológicas, psicológicas, sociais e cognitivas. Depois, é possível transferi-las de canteiro e auxiliá-las a desenvolver cada vez mais a sua autonomia, sem que percam de vista a necessidade da convivência grupal e da interdependência pessoal.

Aprender com o músico a capacidade de valorizar o passado e integrá-lo à realidade presente, projetando-o para o futuro com novas composições e autorias; com o tecelão, a planejar a interdisciplinaridade entre os conteúdos a serem tecidos juntos; com o pescador, a ler a realidade e ensinar/aprender técnicas de pescaria grupal e individual; com o marceneiro, a construir a partir de elementos que tinham uma outra função usando conhecimentos que já foram explorados pelos outros, articulando-os de tal forma que surja uma nova caixa, uma nova construção; e com o jardineiro, a cuidar, sem impedir o crescimento e sem deixar de estabelecer os limites necessários faz com que a Escola se preocupe com sua dimensão histórica, com o conteúdo a ser ensinado/aprendido, com a produção do conhecimento e com as relações entre os protagonistas da Escola.

A Escola já discute tudo isso, portanto o leitor pode estar se perguntando: por que aprender com trabalhadores tão simples, que provavelmente nem na Escola estiveram e por isso trabalham em labutas consideradas, por muitos, inferiores? Como a instituição que veicula o conhecimento pode aprender com um jardineiro, pescador, marceneiro ou quem quer que seja, que nem na Escola conseguiu estudar?

Justamente por ser o local do conhecimento, no qual a racionalização caminha solta e a dificuldade de transformar o discurso em realidade é muito grande, a inspiração da Escola em fazedores que desenvolveram outras formas de lidar com a realidade, que passam também pela sensibilidade, pode auxiliá-la a fazer outras relações e a encontrar outros caminhos.

A presença da simplicidade em uma rede tão complexa de relações pode trazer a oxigenação, a abertura necessária para que novos ares circulem ou a mobilização de uma sensibilidade que, em última instância, pode contribuir humildemente para o objetivo de humanização estabelecido por todos os povos para este século.

Considerar as unidades e não escolher pólos resultantes das contradições existentes no mundo favorecerá a Escola a atingir melhor seus objetivos, sem permanecer numa luta inglória, objetivando derrubar aspectos que acredita terem de ser eliminados do quadro educacional.

O acerto, por exemplo, tão valorizado pela Escola, precisa caminhar ao lado do erro. A dança dialética entre esses dois pólos promove bem melhor a harmonização do que a fixação que a Escola possui em não admitir o erro e, com isso, sonhar com alunos que só acertem.

A idealização do acerto sem erro paralisa a Escola quando esta se encontra diante do não-acontecimento da sonhada harmonia, o que contribui para que ela não consiga avançar como instituição responsável pelo conhecimento.

Outras unidades, frutos da contradição, existem na dinâmica da sociedade e da Escola, que são polarizadas e dicotomizadas no cotidiano.

A consideração da ciência como a única forma respeitável de conhecer o mundo em detrimento de formas mais sensíveis; a valorização do objetivo em detrimento do subjetivo; a importância do comportamento observável e sua supremacia sobre o mecanismo interno do aprendiz; a forma de organizar a sala, na qual prevalece a aprendizagem individual sobre a grupal; e tantas outras precisam ser repensadas, pois a escolha de um pólo somente deixa a instituição capenga e constantemente indignada porque não consegue acabar com aquilo que acredita não ser bem-vindo ao espaço da academia.

Se o erro puder caminhar ao lado do acerto e ser visto como uma possibilidade de abertura à reflexão; se a ciência puder ser acolhedora da intuição e vice-versa; se a objetividade puder ser complementada pela subjetividade; se as atitudes puderem revelar os sentimentos para que eles possam ser compreendidos e colocados a serviço da aprendizagem; se a tarefa grupal puder se associar à tarefa individual; por que então escolher apenas um aspecto de uma unidade dialética e não considerá-la, como tal, capaz de favorecer a compreensão de um mundo mais real e concreto, possuidor de aspectos positivos e negativos, e menos idealizado? Esse mundo menos idealizado existirá, porém, sem se retirar dele a presença do mistério que, apesar da concretude, continuará existindo e sendo necessário para que a gente mantenha acesa a chama do desejo de aprender.

O confronto com a simplicidade vem contribuir para que a complexidade da Escola possa também se complementar e, dessa forma, permitir que, neste século, possa desempenhar papéis que antes eram tarefas de outras instituições sociais como a Igreja, a Família e o Estado. Além da articulação do conhecimento, a Escola de hoje precisa se preocupar com o desenvolvimento das aprendizagens básicas que eram realizadas à família; com o desen-volvimento da moral e da religiosidade, papel da Igreja; e com a preparação do cidadão, até então papel do Estado.

Isso não significa que a Escola tenha que se transformar em Família, Igreja e Estado, mas sim que precisa ser parceira, auxiliando no resgate e na reconstrução do papel de pais; da conduta de aprendiz; da necessidade de cumprir as normas necessárias para que o ensino–aprendizagem aconteça; do papel de cidadão que vai utilizar seus conhecimentos eticamente em prol da sociedade.

Se a Escola continuar insistindo em somente transmitir conhecimentos, ela possivelmente não dará conta de sua nova missão e não conseguirá competir com a mídia, que, na sociedade atual, encontra-se responsável por essa transmissão.

Na verdade, é preciso que a Escola se utilize das informações veiculadas pela mídia, que são muitas e fragmentadas, auxilie na organização e na crítica dessas informações e transforme-as em conhecimentos significativos, através dos quais os sujeitos possam se tornar mais humanos, capazes de saber, fazer, ser e conviver.

aprender-lauraLaura Monte Serrat Barbosa
Pedagoga há quase trinta anos, desenvolve trabalhos com crianças portadoras de necessidades educacionais especiais — com dificuldade de aprendizagem — desde antes de se formar em Pedagogia.

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