Edição 35

É dia...

O Que é Folclore?

Todos os povos possuem suas tradições, crendices e superstições, que são transmitidas através de lendas, contos, narrativas, provérbios e canções. Esses veículos de expressão popular são transmitidos de uma geração a outra e passam a pertencer a um determinado povo de tal modo que desconhecemos os seus autores. Além disso, os povos possuem usos e costumes peculiares, fabricam produtos manuais e artesanatos que os distinguem uns dos outros.

Folclore é o estudo dessas expressões populares. Tal palavra vem do inglês folklore e foi empregada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846 por G. J. Thoms, arqueólogo de nacionalidade britânica. Traduzido, esse vocábulo significa ciência do povo (folk = povo; Iore = ciência). Antes, porém, da criação desse termo, muitos estudiosos já se haviam preocupado em pesquisar e coligir as expressões da criatividade popular.

O folclore é uma ciência que se reveste de grande importância, pois nos leva a conhecer os fatores que constituíram a cultura de um povo, o que equivale a dizer que constituíram o próprio povo. O trabalho do folclorista é de difícil realização, principalmente quando o país é de grandes proporções. É preciso pesquisar nas regiões que mantiveram seus costumes, verificar criteriosamente antigos registros, para que as informações se transformem em eficiente material de estudo.

A comemoração do Dia do Folclore ocorre em 22 de agosto, data em que a palavra folclore foi empregada pela primeira vez.

eh_diaO FOLCLORE DO BRASIL
O folclore do Brasil é riquíssimo, um dos mais ricos do mundo. Para sua formação, colaboraram, principalmente, além do elemento nativo — o índio —, o português e o africano. Esses três povos constituíram, podemos dizer, as raízes da nossa cultura. Posteriormente, imigrantes de outros países, como Itália e Alemanha, deram sua contribuição ao nosso folclore, tornando-o mais complexo e mais rico.

A tendência dos costumes de povos diferentes é, quando se relacionam de modo íntimo, constituir expressões híbridas, ou seja, suas culturas se misturam, resultando em novas expressões de manifestação popular.

Como os grupos humanos influenciam uns aos outros, podemos dizer que o folclore não é uma ciência estática, morta. Ao contrário, ela é dinâmica, pois, além de pesquisar o passado, tem de estar atenta às transformações do presente.

Por ser o Brasil de dimensões continentais, o povo, embora mantenha basicamente uma unidade espiritual e lingüística, às vezes apresenta costumes bem isolados. O frevo, por exemplo, é uma dança que caracteriza Pernambuco. Já ocorre o contrário com o bailado boi-bumbá, que aparece em várias localidades do Brasil, sob outras denominações, como bumba-meu-boi, boi-surubim, boi-de-mamão e boi-calemba. Ele pode sofrer algumas transformações em suas características, conforme a localidade, mas o tema é o mesmo.

A Região Sul apresenta grande influência de italianos e alemães, além de poloneses, russos e outros. Já as demais regiões mantêm principalmente a herança que receberam dos portugueses, dos africanos e dos índios.

O caipira paulista é um elemento bastante representativo em suas tradições. Sua música, seus trajes e costumes são bem característicos. Em grande parte, o caipira descende de portugueses e índios, ou seja, é mameluco, e mantém a herança dos dois. Com a mesma origem, também em bom número, encontramos o caiçara, porém adaptado ao litoral. O meio exerce grande influência sobre a cultura dos grupos humanos.

O estudo do folclore e o respeito às tradições são um dever patriótico. Os povos mais civilizados dão o exemplo. Conhecendo nosso folclore, conhecemos a nós mesmos e sabemos que um povo se constitui lentamente, alicerçado em suas tradições. A aceitação de modismos estrangeiros que nada representam como cultura só pode prejudicar a estrutura e a evolução de um povo.

DANÇAS
Nas danças, os participantes se preocupam mais com sua expressão individual. Mesmo nas grandes manifestações, nota-se essa característica. A preocupação não é o enredo, mas, sim, a expressão corporal de cada um. Portanto, podemos considerar certas danças como verdadeiros rituais, pelo menos em sua origem.

Batuque – De origem africana, aparece em algumas localidades interioranas de São Paulo, nas festas juninas ou na Festa do Divino Espírito Santo. É realizado em praça pública ou em terreiro. Participam homens e mulheres. Há acompanhamento de cantos, palmas e toques de tambor.

Fandango – O fandango assume diversas modalidades em várias partes do nosso país. No litoral de São Paulo, aparece o fandango com batidas dos pés e o fandango valsado. No Sul, aparece como dança de pares ou individual.

eh_dia1Frevo – Representa o carnaval pernambucano. O povo sai às ruas e dança freneticamente ao som da banda. O frevo é quase um jogo de capoeira. A sombrinha serve para manter o equilíbrio dos passistas. Alguns estudiosos acreditam que frevo vem de fervo. Realmente é uma fervura coletiva. Mesmo nos salões, onde o carnaval moderno também se representa, o frevo impõe o seu ritmo. O frevo autêntico é somente tocado por bandas. Há, porém, muitos que possuem letras, o que por certo é de maior agrado do povo, porque permite maior participação. Neste ano de 2007, comemorou-se o centenário do frevo; todo o povo pernambucano festejou alegremente esse aniversário.

Coco – De origem afro-ameríndia, é bem possível que se encontrem em Alagoas os primórdios dessa dança. Aparece em outras localidades do Brasil. Embora sejam usados instrumentos, como tamborim e pandeiro, o ritmo é marcado principalmente com o bater das mãos em concha. O som lembra o quebrar de um coco, o que explica a origem do nome. É dançado e cantado das formas mais variadas, apresentando-se diferentemente em localidades do mesmo estado. Aparece principalmente em Alagoas, em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Uma das modalidades compõe-se de uma roda de homens e mulheres, tendo no centro o solista, que canta e executa passos. Terminada sua apresentação, ele é substituído por outro. O refrão é cantado pelos componentes da roda. Em Alagoas e na Paraíba, o coco já foi dança de salão da alta sociedade.

Dança de fitas – A dança de fitas é uma dança milenar européia que podemos considerar incorporada ao nosso folclore. É bastante característica de Santa Catarina por ocasião das festas natalinas. Um mastro guarnecido de fitas é mantido por um menino. De cima do mastro, saem vários pares de fitas. Segurando a ponta delas, os casais realizam passos de dança ao redor do mastro, obedecendo a um guia. O acompanhamento é executado através de violões, sanfonas e pandeiros. O ritual de consagração do renascimento das árvores foi o que originou esse tipo de dança.

Bailados – Os bailados constituem representações. São ensaiados e, de um modo geral, possuem enredo. Contam histórias, acontecimentos. São desempenhados por grupos e destinam-se a ser assistidos. Muitas vezes, a arte de representar passa de pai para filho.

eh_dia2Boi-bumbá – Aparece em várias localidades brasileiras e recebe várias denominações: bumba-meu-boi, boi-calemba, boi-mamão, entre outras. Costuma acontecer durante as festas natalinas e juninas, conforme a localidade. Basicamente, o enredo é o seguinte: o negro rouba o boi da fazenda do branco, de acordo com o capataz mulato. Depois de morto o boi, é necessário ressuscitá-lo, tarefa que compete ao índio (pajé). Há muitos personagens, cujo nome varia conforme a região: Pai Francisco, Calu, Mateus, Doutor e outros. O boi da representação não é verdadeiro, mas, sim, uma armação de ripas ou de taquaras recobertas de pano. A cabeça é real, de boi ou vaca. Dentro da armação, acomoda-se um dos participantes, que precisa possuir boas pernas para resistir às correrias da representação. Por certo, esse bailado foi introduzido pelos portugueses no Maranhão, e é aí justamente onde se apresenta com maior riqueza. O boi-bumbá deve ter sido a primeira representação dramática popular em nossa terra.

Moçambique – Não se conseguiu determinar sua origem. É semelhante à dança dos palitos, em Portugal, e, na Inglaterra, é conhecido por dança moura. Pode ser realmente de origem mourisca e ter influenciado os portugueses quando do domínio da Península Ibérica pelos mouros. Depois, foi introduzido no Brasil pelos catequizadores. Esse bailado possui várias danças. Os participantes usam bastões, que manejam como espadas e com os quais fazem desenhos no chão, dançando sobre eles. O acompanhamento é feito por diversos instrumentos, como reco-recos, pandeiros e violas. É encontrado em várias localidades do País, principalmente no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo.

Marujada – Esse bailado é uma evocação das heróicas lutas portuguesas nas conquistas de além-mar. Tem várias denominações aqui no Brasil, como chegança de mouros e fragatas. Os personagens são, entre outros, o capitão-de-mar-e-guerra, o padre, o rei mouro e o general. Comemora a derrota dos invasores mulçumanos pelos portugueses. É uma síntese de diversas tradições lusitanas.

Congada – Em sua essência, lutam cristãos e mouros. O fim da luta é simbolizado pelo batismo de todos. O padroeiro desse bailado é São Benedito. A congada foi criada pelos catequizadores, com a intenção de manter a harmonia entre os escravos, originários de diversas tribos. A congada é bem representativa de certas localidades do interior paulista.

eh_dia3Caboclinhos – De características indígenas, esse bailado compõe-se de um número de participantes (de dez a quinze anos) que varia conforme a localidade, não passando de vinte figurantes. Os componentes gesticulam e pinoteiam em silêncio, simulando estar guerreando. Costumam sair no carnaval ou na Festa do Divino Espírito Santo.

INSTRUMENTOS MUSICAIS
Além das danças, dos bailados, o povo criou instrumentos musicais característicos, primitivos, é verdade, porém expressivos, apropriados à expressão do sentimento que devem acompanhar. O índio e o negro muito contribuíram para isso, mas não se pode deixar de considerar, também, o elemento europeu. Dentre os inúmeros instrumentos musicais incorporados ao nosso folclore, vamos destacar o berimbau e a rabeca. De características completamente opostas, têm presença constante em nossa música folclórica.

eh_dia4Berimbau – Constitui-se de um arco de madeira preso por um arame, uma caixa de ressonância amarrada na parte anterior do arco — e que caracteriza a extremidade inferior deste —, uma rodela de ferro ou moeda para retesar mais o arame e um recipiente semelhante a uma cestinha, cheio de pequenas conchas ou sementes, com que se marca o ritmo. Para percutir o arame, usa-se uma vareta de madeira resistente. É conhecido também por berimbau-de-barriga por oposição a berimbau-de-beiço, o mesmo que marimbau — um instrumento que se prende aos dentes a fim de tocar. Hoje está em desuso. Os dois tipos originaram-se da África. O berimbau-de-barriga, ou somente berimbau, como hoje é conhecido, serve especialmente para acompanhar a capoeira.

Rabeca – É um violino rústico. Aparece com mais freqüência nas festas da Folia do Divino Espírito Santo, acompanhando os cantadores que se dirigem às casas pedindo esmolas e prendas. O rabequista toca o seu instrumento de modo peculiar, apoiando-o no peito, e não entre o ombro e o queixo, como o violinista. Esse modo de tocar rabeca data da Idade Média.

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FESTAS
As festas populares se caracterizam pela repercussão que têm entre o povo, mobilizando-o parcial ou quase totalmente para participar dos eventos ou a eles assistir. De caráter nacional, podemos considerar o carnaval e as festas juninas. Porém, enquanto o carnaval continua a empolgar multidões, as festas juninas tendem a desaparecer, pelo menos nas grandes cidades. Certas festas restringem-se hoje a algumas localidades interioranas, como as Folias de Reis, e não atraem senão pessoas das proximidades. Já a Festa da Uva, introduzida pelos italianos e incorporada ao nosso folclore, é uma festa local de grande repercussão, pois atrai visitantes de longas distâncias.

eh_dia6Carnaval – É a festa brasileira mais popular. O entrudo, que os portugueses trouxeram para o Brasil, tinha características bem diferentes das atuais. Uns jogavam nos outros farinha, água, polvilho. Depois, começou a se constituir o carnaval propriamente dito. Os grupos, os cordões, os corsos, os carros alegóricos. Uma das manifestações brasileiras mais marcantes foi o zé-pereira. Constituía-se de um grupo de foliões que saía à rua tocando bumbos e tambores. Com ele, nasceu o nosso carnaval. Transformando-se através dos anos, hoje o carnaval é representado especialmente pelas escolas de samba e pelos bailes em salões. Contudo, ainda subsiste, em algumas cidades, o carnaval popular de rua.

Festas Juninas – Entre as festas populares do Brasil, as juninas foram das mais consagradas. Tornaram-se cada vez mais raras, mais afastadas dos grandes centros. Não se entenderam com o progresso. São festas extremamente humanas, de promessas, de esperanças, de convívio, caracterizadas pelos fogos, pelos balões, pelas fogueiras, pelo mastro. Os comes e bebes: batata-doce, pipoca, vinho, quentão. As festas juninas constituem comemorações dos seguintes santos: Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho).
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Folia do Divino – A essência da Festa do Divino Espírito Santo é o agradecimento pelas colheitas. Conforme a localidade, aparecem o moçambique, a tourada, a cavalhada ou outros divertimentos. A nota característica é o grupo de cantadores que, empunhando a bandeira vermelha com a pomba, símbolo do Espírito Santo, visita as casas locais, pedindo esmolas e prendas. Esse grupo compõe a Folia do Divino. Essa festa é bem característica do interior de São Paulo.

Folia de Reis – Festa comemorativa do nascimento de Jesus, da adoração dos Reis Magos. Grupos percorrem a cidade e a zona rural, tocando, cantando e dançando. Pedem esmolas aos moradores. Às vezes, aparecem elementos mascarados em determinados grupos e recebem nomes como Bastião, Mocorongo e Palhaço. As Folias de Reis caracterizam localidades dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Essa festa costuma durar de 24 de dezembro a 6 de janeiro ou a 2 de fevereiro.

Festa da Uva – A colheita da uva, desde muito tempo, representa grande motivo de festa. É a comemoração do culto a Baco, ou Dioniso, o deus do vinho: o primeiro é seu nome romano, e o segundo, grego. A Festa da Uva foi introduzida pelos imigrantes italianos e já se incorporou ao nosso folclore. É característica de São Paulo, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

FOLGUEDOS
As expressões folclóricas que constituem um folguedo apresentam-se diversificadas, porém compõem um todo. Vários motivos podem aparecer ao mesmo tempo ou em seqüência, dentro do mesmo grupo. O maracatu, por exemplo, que desfila no carnaval pernambucano, além da parte estética e musical, apresenta uma parte dramática. Nos folguedos, os participantes folgam (divertem-se) de diversos modos.

eh_dia8Maracatu – Provavelmente de origem africana (Sudão), tornou-se muito popular em Pernambuco. Basicamente, o maracatu é um rancho carnavalesco que dança acompanhando a rainha. Esta conduz um bastão, em cuja extremidade está uma bonequinha (calunga) ricamente adornada. O maracatu é também uma representação teatral, acompanhada de cantos e danças. Além da rainha, há outros personagens, como o índio Tupi e D. Henrique. Antigamente, o maracatu era uma representação religiosa.

Reisado – Característico do Nordeste, é um verdadeiro espetáculo comemorativo das festas de Natal e Reis. Esse folguedo foi trazido pelo colonizador português. Os participantes visitam as casas e pedem esmolas. Enfeitam-se ricamente, destacando-se os chapéus — verdadeiras peças de arte que reproduzem a fachada de igrejas —, a tiara papal e outros motivos. Usam espelhos, que servem para rebater o mau-olhado, os maus pensamentos. Os participantes executam várias danças e simulam lutas de espada. Diversos são os personagens: Rei, Rainha, Governador, Estrela e outros. Entre os instrumentos musicais, aparecem a sanfona e o pandeiro.

Cavalhada (Jogo da Argolinha) – Diversos jogos fazem parte da cavalhada. Numa trave, é pendurada uma argola enfeitada com fitas. O cavaleiro deve, em plena corrida, introduzir a lança na argolinha e retirá-la da trave. Depois, presenteia uma jovem com a argolinha obtida graças à sua habilidade. Além dos jogos, a cavalhada apresenta uma parte dramática. Há luta entre cristãos e mouros, ou seja, entre o Bem e o Mal. Lembrança da Idade Média, a cavalhada foi introduzida no Brasil Colônia. Aparece em várias cidades brasileiras.

JOGOS ATLÉTICOS
É próprio do homem mostrar sua habilidade e força em jogos atléticos, cujo objetivo é a recreação, a disputa, e não a destruição do inimigo. Nossos índios costumam praticar tais jogos, que não só os divertem, como também possibilitam que se tornem mais habilidosos. Nosso folclore registra alguns jogos atléticos, dos quais estes são bastante expressivos: capoeira, luta de braço e bate-coxa.

eh_dia9Capoeira – Os escravos africanos foram os introdutores da capoeira no Brasil. Usavam-na como arma de defesa. Quando fugiam e eram acuados pelos perseguidores, defendiam-se com golpes de capoeira. Mais tarde, os capoeiras começaram a ser empregados como guarda-costas de políticos. Em suas investidas, usavam navalhas. Hoje é, sobretudo, um jogo atlético, uma demonstração pacífica de destreza. Formada uma roda de participantes, dois a dois entram no meio, acompanhados principalmente pela música do berimbau.

Luta de Braço – No Brasil, há uma luta de braço que podemos considerar folclórica. É a luta de braço dos índios carajás. Só que exige muita resistência, pois dura um dia inteiro, e os lutadores podem acabar com os braços bastante machucados. Vence quem derrubar maior número de adversários. Os carajás vivem em Goiás, principalmente na Ilha do Bananal.

Bate-coxa – Possivelmente de origem negra, esse jogo atlético é característico de Alagoas. Dois contendores, sem camisa, encostam peito com peito, apoiando as mãos nos ombros um do outro. Os assistentes entoam um canto em que há a expressão “Eh! Boi…”. Ouvindo isso, cada lutador afasta a perna, batendo a frente da coxa direita na do outro com a maior força possível. Vão trocando de coxa conforme ouvem a expressão “Eh! Boi…” até que um caia ou não resista mais.

CULTOS
Diante do universo desconhecido, todos os povos criaram cultos às divindades que imaginavam, não só para explicar os fenômenos, como para pedir ou agradecer a proteção. Muitos dos cultos primitivos desapareceram; alguns ainda vêm sendo praticados.

Iemanjá – É um orixá, ou seja, uma divindade dos iorubanos, que a trouxeram da África. Recebe outros nomes, como Rainha do Mar, Dona Janaína, Mãe- d’Água. Os devotos de Iemanjá lançam presentes ao mar: perfumes, flores, espelhos e outros. Se ficam no fundo, é porque foram aceitos por ela; caso contrário, vêm dar à praia. O culto a Iemanjá conta com grande número de devotos, e a cerimônia é realizada em vários pontos do litoral brasileiro.

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Candomblé – Culto africano introduzido no Brasil pelos escravos. Algumas de suas divindades são Xangô, Oxum, Oxumaré e Iemanjá, representando esta, por si só, um verdadeiro culto. De um modo geral, as cerimônias religiosas do candomblé são realizadas nos terreiros, locais especialmente destinados a isso. As cerimônias são conduzidas pela mãe-de-santo ou pelo pai-de-santo. Os orixás são divindades (santos) do candomblé. Cada orixá tem uma aparência especial e determinadas preferências. O toque de atabaque (espécie de tambor) e a dança individualizam um determinado orixá. Cada pessoa é protegida por um dos orixás e pode ser possuída por ele, quando, então, ela se transforma em cavalo-de-santo. Há uma correspondência, aqui no Brasil, entre orixás e santos católicos. Isso aconteceu por um estratagema dos escravos. Proibidos pelos seus senhores de seguirem a religião africana, continuaram a segui-la disfarçadamente, dando às suas divindades nomes de santos católicos. O candomblé, hoje muito difundido no Brasil, recebe outros nomes, conforme a localidade: macumba, xangô, tambor de mina e batuque.

FESTAS RELIGIOSAS
Entre as várias comemorações da Igreja Católica, algumas tomaram um cunho verdadeiramente popular, passando a integrar o nosso folclore. Incompatíveis com o tumulto das grandes cidades, continuam a ser realizadas em cidades mais pacatas do interior.

Procissão de Corpus Christi – A procissão é caracterizada pela pompa, pela diversidade no colorido das vestimentas das irmandades religiosas, dos anjinhos que caminham juntos, em passos miúdos de criança, tremulando as asas, parecendo voar. Nas janelas, colchas coloridas homenageiam o corpo de Deus. Ainda é possível ver essa procissão, com toda a sua beleza do passado, em Ouro Preto, Minas Gerais.

eh_dia11Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes – Realiza-se no Rio Guaíba, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É uma procissão fluvial. Centenas de barcos enfeitados transportam os fiéis. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, depositada em outra igreja, retorna ao seu templo com a procissão. Como acontece nas festas de Iemanjá, atiram-se às águas os presentes destinados à santa. As moças que fizeram promessa para conseguir casamento e foram atendidas jogam o vestido de noiva no rio. Depois da procissão é que, de fato, começa a festa. Uma profusão de barracas de comes e bebes mantém a alegria dos participantes. Essa festa, introduzida pelos portugueses, ocorre em 2 de fevereiro.

ARTE INDÍGENA
O índio brasileiro possui admirável habilidade artística. Mesmo limitado pelas condições primitivas em que vive, realiza os mais diversos trabalhos, alguns de difícil execução. Tal habilidade é fruto de uma arraigada tradição, que permite a total transferência dos conhecimentos de uma geração a outra.

Penas – Os trabalhos feitos com penas (arte plumária) têm grande destaque entre os índios, que gostam de se enfeitar, seja por simples vaidade, seja por princípios religiosos. É costume criarem aves com a finalidade de arrancar-lhes as penas para a confecção de adornos. Com elas, realizam trabalhos de grande senso estético, não só na confecção, como no equilíbrio das cores. Se desejam determinada cor não encontrada em estado natural, sabem consegui-la modificando, pelo aquecimento, a cor original das penas. Entre os seus trabalhos, destacam-se os cocares, enfeites que usam na cabeça.

Cerâmica – A produção de cerâmica é muito importante entre os índios. Peças dos mais variados feitios, algumas caprichosamente pintadas, têm os mais diversos usos. A cerâmica resulta do barro trabalhado e endurecido pelo aquecimento. Os mais divulgados produtos de cerâmica indígena estão na Ilha de Marajó, no Pará. Constituem peças de confecção aprimorada e de grande beleza.

eh_dia12Pintura – Dificilmente os índios enfeitam com pinturas as suas habitações. Também não se preocupam muito, nesse particular, com a cerâmica e outros objetos. É no próprio corpo que eles aplicam toda a sua habilidade de artistas. Há tribos que apresentam desenhos corporais maravilhosos, tanto pelas figuras como pelas cores escolhidas.

ARTESANATO
O artesanato é muito desenvolvido no Brasil. Diversos produtos aparecem, tanto destinados ao uso comum como para enfeitar. No primeiro caso, temos a moringa, o torrador de café, as panelas e outros. No segundo caso, aparecem os boizinhos, as figuras de presépio, as estatuetas… A cerâmica e a madeira são as matérias-primas para esses trabalhos. Há, porém, outros tipos de artesanato, como a escultura em pedra, as rendas e os tecidos.

Tecidos – Quando a fabricação de tecidos não se realizava em estabelecimentos industriais, certas artesãs fabricavam os tecidos manualmente, desde o preparo dos fios até o entrelaçamento no tear. Faziam tecidos para os seus familiares e também para vender. Alguns estabelecimentos agrícolas eram auto-suficientes em tecidos, ou seja, fabricavam todos os tecidos para uso de seus habitantes. Utilizava-se o algodão como matéria-prima. Para fabricação de tecidos, primeiro se separam dos caroços as fibras do algodão. Para ficarem bem limpas, são penteadas com a cardadeira (espécie de escova de aço). Depois, trabalham-se os fios na roca. Já em novelos de diversas cores, vão para o tear, onde é fabricado o tecido. Essa indústria caseira ainda subsiste em algumas localidades do Brasil e chega mesmo a revitalizar-se, graças ao valor que está encontrando junto aos turistas.

Rendas – Artesanato tipicamente feminino, geralmente transmitido de mãe para filha. A renda é produzida pelo entrelaçamento de fios, o que é obtido com os bilros, peças de madeira ou metal em que se pende a linha. Há rendeiras (mulheres produtoras de rendas) que mostram uma habilidade impressionante. Suas rendas possuem tal perfeição que parece incrível terem sido feitas por mãos humanas, e não por máquinas complicadas. O Estado de Santa Catarina é uma famosa região do artesanato de rendas.

Cerâmica – A cerâmica utilitária, isto é, a cerâmica de objetos para uso, é praticada em várias localidades do Brasil. Algumas regiões apresentam uma cerâmica bem característica, que as distingue em particular. Há peças torneadas ou simplesmente modeladas à mão, que é um modo mais primitivo de trabalhar o barro. Na região de Iguape, Estado de São Paulo, é produzida uma cerâmica utilitária bem peculiar, modelada a mão. Além da cerâmica utilitária, em algumas regiões aparecem os enfeites, os cavalinhos, os boizinhos, as figuras destinadas aos presépios, fabricadas pelos “barristas” ou “figueiros”.

Madeira – Mesmo nos tempos modernos, com a imposição dos metais e dos plásticos, a madeira é bastante utilizada na fabricação de móveis, portas e outras peças nas grandes cidades. Mas é no interior, principalmente na solidão das moradias sertanejas, que ela aparece na forma de artesanato. Com suas próprias mãos, o sertanejo fabrica os objetos de que necessita, como bancos, pilões, colheres, gamelas. É um artista nato e, muitas vezes, vai mais além, produzindo figuras expressivas das coisas que compõem o seu mundo. Basta uma faca ou um simples canivete para que ele transforme a madeira em verdadeiras expressões de arte.

USOS E COSTUMES
Cada povo tem seus hábitos peculiares: no modo de vestir-se, no gosto por certos tipos de comida, nos tipos de recreação e em outras coisas. Muitos usos e costumes dos brasileiros já desapareceram. Outros subsistem e podem ser encontrados nas localidades mais afastadas do nosso território.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Dividem-se os divertimentos infantis em brinquedos e brincadeiras. Classificam-se como brinquedos os jogos em que não há disputa: brincar com boneca, de cirandinha, empinar papagaio; como brincadeiras, os jogos em que prevalece a intenção de vencer: pegador, bolinha de gude, amarelinha. Além de seu valor folclórico, os brinquedos e as brincadeiras constituem uma forma salutar de divertimento infantil e, infelizmente, estão quase extintos nos grandes centros.

eh_dia13LITERATURA DE CORDEL
É no Nordeste que aparece esse tipo de expressão folclórica. Constitui-se de pequenos livros pendurados em barbantes ou em cordéis nas portas das lojas. Daí a expressão literatura de cordel. É uma literatura popular, sem pretensões, que conta em prosa ou verso os acontecimentos mais marcantes ou temas de ficção. Nem sempre os livros são pendurados em barbantes ou cordéis. Podem aparecer sobre esteiras ou caixotes. Mas a expressão permanece. É costume, nas feiras semanais, aparecerem os vendedores desses livros. Depois de arrumada a mercadoria, o vendedor apanha um livro e o lê ou declama para atrair os compradores. A literatura de cordel é classificada em três grupos: folhetos (8 páginas), romances (16 ou 24 páginas) e histórias (32 a 48 páginas).

BARCOS COM CARRANCAS
Os barqueiros do Rio São Francisco temem que o Negro d’Água vire as suas embarcações. Para assustá-lo, colocam na proa uma carranca. O Negro d’Água é um ser mitológico que o povo acredita habitar as águas do “Velho Chico”, como o eh_dia15Rio São Francisco é carinhosamente chamado. O Negro d’Água tem o hábito nem um pouco feliz de virar as embarcações conforme lhe dá na cabeça. As carrancas, esculpidas em madeira, não reproduzem expressões normais. São expressões imaginadas, monstruosas, para manter afastado o Negro d’Água. São preciosos trabalhos de arte, pela criatividade dos artesãos e esmero com que são executados. Outra função das carrancas é prevenir os barqueiros quando o barco vai afundar. Dizem eles que, nesses casos, as carrancas gemem três vezes.

CASA DA FARINHA
O uso da mandioca era conhecido pelos índios. Com a mandioca, produziam um tipo de bolo (beiju) ainda bastante popular no Nordeste. Os portugueses, percebendo o valor que representava a mandioca, trataram de industrializá-la. Para isso, utilizaram os princípios aplicados na transformação da uva e da azeitona. Surgiu, assim, a casa da farinha. A mandioca, depois de raspada, passa pela máquina de ralar. Colocada no tipiti, uma espécie de cesta, é espremida na prensa para a retirada do líquido venenoso (ácido cianídrico) conhecido por manipuera, pois é a mandioca brava que se utiliza para a produção de farinha. Mas esse líquido não é perdido. Devidamente tratado, obtêm-se o molho tucupi e o polvilho. A mandioca é retirada em blocos do tipiti, desmanchada em peneiras e levada ao forno para torrar. Geralmente, a casa da farinha é de aluguel, pois nem todos os interessados nesse tipo de produção podem possuir uma.

FORNO CAIPIRA
Feito de tijolos, lembrando a forma da casa de joão-de-barro, o forno caipira é uma das expressões mais singelas e marcantes do nosso folclore, insubstituível nas moradias distantes dos centros comerciais. Nele, cozinha-se o pão consumido pela família. Mas não é só isso. Nas reuniões familiares, nas festas, é nele que assam o leitão, o pernil, o lombo e os doces tradicionais. Primeiro, coloca-se, dentro do forno, lenha ou carvão. Fpecha-se a porta. Em cima, há um respiradouro para permitir a queima do combustível com pouca perda de calor. Depois, limpa-se o forno e se coloca o que vai ser assado. Desta vez, fecha-se também o respiradouro. O calor armazenado nos tijolos assa os alimentos de modo tão gostoso que não existe igual.

PILÃO
Um tronco escavado e uma haste de madeira resistente, com as extremidades mais grossas, compõem o pilão e a mão do pilão. Tão simples quanto valioso. Socam-se nele diversos produtos, para tirar a casca ou triturar. Também é nele que se prepara a paçoca de carne-seca e de amendoim. Faz parte da casa sertaneja. O pilão entoa a sua música compassada, monótona, misturando-se ao canto dos pássaros, aos mugidos da vaca leiteira — presença obrigatória na paisagem sertaneja. Ele é um símbolo da tranqüilidade comum de antigamente, que se afasta cada vez mais diante do progresso. Um representante do nosso folclore, o pilão é um verdadeiro símbolo sertanejo.

eh_dia16LENDAS
A narração de fatos acontecidos ou não, porém enriquecidos pela imaginação, tem sido uma das formas de arte mais apreciadas pelo homem. Por certo, desde que ele aprendeu a se comunicar, começou a fantasiar suas transmissões orais.

Um fato comunicado sem criatividade pode, conforme sua natureza, emocionar, mas não desafia a imaginação, o que é justamente um dos grandes prazeres do intelecto.

Nossos índios revelaram-se mestres na arte de criar lendas. Tudo o que os empolgava era explicado através de lendas: o nascimento do Sol, da Lua, do mundo, o surgimento de certas plantas, enfim, muitas coisas eram explicadas de um modo fantasioso e bonito, o que demonstra grande capacidade criativa. Muitas lendas indígenas chegaram até nós, como a do uirapuru, a da vitória-régia e a de como nasceram as estrelas.

Há lendas, porém, que tiveram outras origens: Negrinho do Pastoreio, o Vaqueiro Misterioso e muitas mais. Muitos personagens lendários são populares ainda em nossos dias: saci, boitatá e caipora, por exemplo. Há personagens que encontramos em várias regiões do mundo, como o lobisomem.

Em geral, as lendas apresentam um enredo que se baseia em conclusões filosóficas e ensinamentos morais. Lê-las com atenção e compreendê-las é entender muito da sabedoria popular, acumulada através dos séculos.

Fonte: Coleção Pesquisando e Aprendendo. Folclore Brasileiro e Ecologia. Editora Didática Paulista.

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