Edição 17

Pintando o 7

Oficina com sucata de lata

Lista básica de materiais

Latas de vários formatos e tamanhos: de manteiga, goiabada, óleo, azeite, leite em pó, bola de tênis e batata frita americana; arames; porcas e parafusos; chaves e chaveiros; benjamins; fios elétricos; bijuterias; ímãs; botões e buttons de metal; alfinetes; arandelas; restos de chapa de cobre e de zinco; moedas antigas; tampinhas de garrafa; tampas de todas as latas, de todos os formatos.

Elementos de ligação e de transformação

Arames; pregos e martelo; tesoura de ferreiro; fita crepe; papéis e cola branca; cola Araldite; papel machê; tintas (acrílica e esmalte).

Idéia inicial para sensibilização
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O Homem de lata

O Homem de Lata é um personagem da história O Mágico de Oz, escrita pelo norte-americano Lyman Frank Baum, obra mundialmente conhecida e aplaudida por causa da versão cinematográfica levada às telas vinte anos após a morte do seu autor. Como sensibilização para trabalhar com sucata de lata, podemos ler para as crianças essa história, traduzida para o português por Paulo Mendes Campos (Edições de Ouro, 1969), e, para crianças muito pequenas, contar versões simplificadas; ou, se possível, usar o filme estrelado por Judy Garland e dirigido por Victor Fleming (1939), tido como uma das maiores fábulas cinematográficas.

Na história original, o Homem de Lata está gemendo há mais de um ano sem que ninguém o socorra, até que Dorothy o encontra. Suas juntas enferrujam, e ele pede à garota que coloque gotas de óleo por todo o seu corpo — primeiramente no pescoço; depois, nos braços, nas pernas. Poderíamos, com as crianças, nos tornar homens de lata enferrujados e endurecidos e, aos poucos, imaginarmos Dorothy derramando óleo em todas as partes do nosso corpo que se dobram. Esse seria um relaxamento ótimo, até mesmo porque vamos “desenferrujando” e movimentando o corpo com mais maleabilidade e flexibilidade.

Com crianças maiores, podemos pesquisar o fenômeno da ferrugem; com o grupo todo, montar um Homem de Lata com a sucata de lata disponível.

Outra possibilidade de aquecimento seria ouvir e aprender a cantar o samba Lata d’água, composto por Luiz Antônio e Jota Júnior e imortalizado pela cantora Marlene:

Lata d’água na cabeça,
Lá vai Maria, lá vai Maria…
Sobe o morro, não se cansa.
Pela mão, leva a criança.
Lá vai Maria.
Maria lava a roupa lá no alto,
Lutando pelo pão de cada dia,
Sonhando com a vida no asfalto,
Que acaba quando o morro principia.
Lá vai Maria, Lá vai Maria…

Os participantes poderão dançar o samba com uma lata d’água na cabeça! Ou apenas com uma lata ou alguma sucata de lata disponível na sala, que não poderá cair…

Vale também uma abordagem mais política e social, com adolescentes e adultos imaginando a personagem Maria e a vida que leva. Na hora de construir, sugerimos objetos que tenham a ver com o morro e também com a “vida no asfalto, que acaba quando o morro principia” e que possam ser usados para representar uma cena teatral.

Assim, vamos do reino de Oz ao morro do Rio de Janeiro, da fantasia para a realidade, sempre atentos à realidade na fantasia (Dorothy estava sonhando ou não?…) e à fantasia na realidade (Maria pode sonhar com a vida no asfalto). Esse intercâmbio faz parte da poesia e do espaço potencial em cada um de nós.

O samba pode ficar ao fundo para inspirar mesmo crianças pequenas. Deixá-las à vontade para brincar com latas, juntar, separar, empilhar, derrubar, fazer barulho. Só após esse aquecimento, direcionamos a atividade para a construção de um objeto, brinquedo ou boneco. Ou não. Podemos deixar a proposta de construção para outro dia.

É importante lembrar que latas não se colam com facilidade, e a cola Araldite não é recomendável para crianças muito pequenas. É preciso explicar oralmente essa limitação da lata, não é fácil colar como a madeira ou o papel… mas tem suas especificidades, que deverão ser exploradas e descobertas pelas crianças. O uso do papel machê pode começar logo ou só num segundo momento. Cabe ao educador, e à sua observação do grupo, decidir como proceder.

Finalmente, os participantes da oficina são avisados de que terão mais quinze minutos para trabalhar, pois ainda vão arrumar a sala e sentar-se em roda para mostrar o que construíram. O educador sempre tem a oportunidade de fazer um fechamento e um gancho, quem sabe, para o próximo encontro. Eu me despediria das crianças (ou dos adolescentes ou dos adultos) com um versinho que fiz:

Era uma vez
o cachorrinho Pinho
(filhotinho!)
feito com uma lata
de leite Ninho.

Veja, no quadro abaixo, uma lista das sucatas mais utilizadas nas oficinas pedagógicas.

GRANDE LISTA DE SUCATA DE A a Z

Adesivos, alças de sacola, algodão, aparelhos domésticos, arandelas, argolas, agulhas, alfinetes, anéis, arames, areia, aviamentos.

Baldes furados, bambus, barbante, benjamim, bobinas de todos os tipos (fios, tecidos, máquinas de costura, papéis…), bolas, bolinhas de isopor, bambolês, bandejas (papelão, plástico, isopor…), bengalas, bijuterias, bolinhas de gude, borrachas, botões, brinquedos inutilizados, buchas.

Cabaças, cadernos, calendários, canos, carimbos, cabos de vassoura, caixas de diversos produtos, canetas, capas, caroços de frutas, carteiras, cartões (de época: Natal, Páscoa, aniversário…), cartolinas, cascas de nozes, cestas,    chapas de raio X, chaveiros, cigarreiras, colheres de brinquedo (metal / pau), conchas, copos plásticos, cortiças, cascalho, catálogos, chapas de metal, chapéus, chaves, cintas e cintos, confetes, corda, cubos (quaisquer).

Dados, dedais, discos, decalques, dinheiro antigo, dobradiças.

Embalagens, envelopes, espelhos, estojos (de lápis, de maquiagem, médico-farmacêuticos…), estopa, engradados, escovas (de: cabelo, dente, mamadeira, roupa, sapato…), espumas e esponjas, eucatex.

Fantasias, ferrolhos, fios (de ferro de passar, elétricos, encapados, metálicos…), fitas, flores secas, formas e forminhas, fraldas, ferragens, fitas cassete, folhas, fotografias (e seus negativos), frascos.

Gamelas, grades, garrafas, grampos.

Ímãs, impressoras (coloridas, com fotografias), instrumentos cirúrgico-odontológicos, instrumentos musicais, isopores.

Jornais e seus encartes.

Lanternas, lãs, lápis, latas de vários produtos, lata de manteiga (com tampa), linhas, lustres, lenços, listas telefônicas.

Malas, maletas, manuais, máscaras, meias, moedas, medalhas, miniaturas, molduras.

Óculos, ovos de costura.

Pedras, peneiras, perucas, plugues, pôsteres, pregadores, penas, percevejos, pilões, plumas, potes (de: bala, biscoito, creme de beleza), pregos, paina, palha de milho, palha da feira, palitos em geral, panfletos, pastas (de papéis, documentos, cartões), parafusos, panelas, papéis, papelões, pastilhas.

Raladores, réguas, relógios, revistas, redes (de: boneca, cabelo, pescar, deitar…), rendas, retalhos de tecido, rolhas.

Sachês, sacolas, sacos e saquinhos, sarrafos, sementes, serragem, solas, selos, serpentinas, sisal.

Tubos (de: papelão, plástico, PVC, Tupperwares), telefones, tiaras, toalha, trincos, tábuas de bater carne, tampas variadas, telas, terra, tigelas, toquinhos de marcenaria.

Zíperes.

MACHADO, Marina Marcondes. O brinquedo-sucata e a criança. Importância do brincar. Atividades e materiais. São Paulo: Loyola, 1994. p. 73 a 77.

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