Edição 58

Matérias Especiais

Para aproximar a escola do aluno

Márcia Helena Koboldt Cavalcante

Acreditamos que, por mais dificuldades que possamos enfrentar no desafio de lecionar, nós, professores, buscamos constantemente melhorar nossa prática. Com a série Projetos Pedagógicos, o Mundo Jovem busca contribuir para o aprimoramento do planejamento escolar. Mas será que estamos preparados para sermos pesquisadores ativos, e não apenas transmissores de conteúdos?

A pedagogia de projetos iniciou por volta de 1920 com a intenção de atender aos interesses dos alunos. Na década de 1970, passou por modificações e imprimiu fortemente na Educação um aspecto interdisciplinar. Chegou aos anos 1980 e até hoje se consolida em ser muito mais que uma metodologia. Segundo o professor Fernando Hernández, a pedagogia de projetos é uma forma de refletir sobre a escola e sobre a vida. Tem como uma de suas principais funções descompartimentar o currículo escolar. Assim, podemos afirmar que, quando uma escola faz a escolha de atuar com projetos, se desafia a reconstruir o conceito de escola.

A pesquisa e o desejo

Na medida em que um professor planeja suas aulas a partir do desejo dos estudantes, ele abre a possibilidade de romper com a ideia de que há um conteúdo a ser seguido depois do outro, uma ordem lógica para aprender. O que se torna fundamental é o interesse, a curiosidade, a vontade de conhecer o novo por parte do aluno, não mais aqueles conhecimentos mofados, definidos sabe-se lá por quem e que precisam ser ensinados a todo custo.

Isso não quer dizer que, ao optarmos em organizar nossa escola com a pedagogia de projetos, não ensinaremos e aprenderemos os conteúdos universais. Eles também estarão transitando no universo de aprendizagem da escola, mas mediados por conteúdos do interesse do aluno. Serão pontos de contato, garantindo assim a significação necessária para que a aprendizagem ocorra.

A opção de educar através da pedagogia de projetos ruma em busca de uma Educação das perguntas, da dúvida, da indagação. Esse processo de pesquisa se dá tanto por parte do professor, ao preparar as aulas, como por parte dos alunos, que irão construir o seu conhecimento cadenciado a partir de um conjunto de atividades que responderão às suas perguntas prévias. Fica a questão: estamos dispostos a isso?

Prática do professor

Um ponto importante para a prática de projetos é buscar descobrir um tema, que surgirá de um problema, uma dúvida negociada com a turma. Algo que curiosamente a maioria dos alunos queira conhecer.

Outro aspecto ao qual precisamos ficar atentos é o processo de pesquisa das fontes. Para que um projeto se realize plenamente, precisaremos selecionar fontes de informação em que o professor irá aprimorar constantemente seu planejamento. Aqui estamos falando de buscar livros, músicas, poesias, sites, pessoas que possam dar depoimentos, trechos de livros didáticos, instituições de referência que tenham conhecimento sobre o tema que iremos tratar em aula.

Também precisamos ficar atentos em estabelecer critérios de ordem e interpretação das fontes. O que seria mais importante e interessante para os alunos? Recolher novas dúvidas e perguntas com os estudantes constantemente alimenta o projeto e o deixa vivo durante sua realização.

Passos para elaborar um projeto

a) Determinar com o grupo a temática a ser estudada e os princípios norteadores.
b) Definir etapas: planejamento e organização das ações, divisão dos grupos, definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos e delimitação do tempo de duração.
c) Estabelecer com o grupo de estudantes os critérios de avaliação.
d) Compartilhar as fontes de informação recolhidas.
e) Socializar periodicamente os resultados nas investigações (identificação de conhecimentos construídos).
f) Avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários.
g) Fazer o fechamento do projeto propondo uma culminância. Pode ser a elaboração de um livro, a apresentação de um vídeo, de uma peça de teatro ou uma exposição que dê visibilidade a todo o processo vivenciado e possa servir de foco para um outro projeto educativo.

Fique atento!

Um projeto não pode ser repetido em sua íntegra. Podemos nos inspirar em uma experiência, mas um projeto requer autoria, por parte de professores e alunos, pois as dúvidas e as fontes de trabalho serão diferentes em cada lugar. E, claro, temos que considerar que cada turma é única e que, na mesma escola, um projeto pensado em conjunto seguirá por caminhos diferentes.

Márcia Helena Koboldt Cavalcante é Mestre em Educação, professora nas Faculdades Integradas de Taquara, compõe a equipe da ONG Cirandar e integra a equipe do jornal Mundo Jovem. Endereço eletrônico: cavalcantemarcia@hotmail.com.

Revista Mundo Jovem – um Jornal de Ideias. Edição n. 414, ano 09, março 2011.

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