Edição 54

Lá Vem a História

Pegadas na areia

historiaNa noite passada, sonhei que caminhava com Jesus na praia sob uma luz prateada. Apareciam, no céu, cenas de meu passado que eu contemplava atônito. Em cada cena, via duas fileiras de passos firmes que ficavam gravados na areia. Eram as minhas pegadas e as pegadas do Senhor. Mas observei que em alguns trechos do caminho de minha vida,
sobretudo nos momentos mais problemáticos e difíceis, quando meu coração se desfazia em angústia e tristeza, só aparecia uma fileira de pegadas. Olhei então para o Senhor e lhe disse com ar de protesto:

— Não entendo, Senhor. Tu me disseste que, se eu resolvesse seguir-te, sempre caminharias a meu lado, e agora vejo que, nas partes mais difíceis da minha vida, só há uma fileira de pegadas, indicando que me deixaste só quando eu mais precisava de tua ajuda.

Então, o Senhor me acariciou com o mais doce dos olhares e me disse:

— Compreendo sua confusão e surpresa. Mas eu nunca deixei você sozinho. Se olhar com atenção, você verá que nesses momentos de sua vida, quando só aparece uma fileira de pegadas, as marcas aparecem afundadas mais profundamente na areia. É que, nessas ocasiões, eu levava você carregado em meus braços.

Se de fato cremos que somos filhos de Deus, que ele nos criou por amor e nos acompanha solícito em todos os passos de nossa vida, nunca deveríamos temer nada e, apesar das dificuldades e dos problemas, teríamos de viver na felicidade. “Se Deus está comigo, quem poderá estar contra mim?” deveria ser o aguerrido e convicto grito em nossas aflições.

Recordo que, em certa ocasião, ouvi Pedro Trigo contar o caso de uma senhora exemplar, catequista, dedicada, sempre disposta ao serviço, de uma profunda espiritualidade. Essa bendita senhora visitava constantemente os becos mais sinistros do bairro, povoados de malandros, onde eram contínuos os confrontos e os tiroteios entre diferentes bandos. Em horas em que todos se mantinham fechados em casa, a boa senhora andava tranquila pelas ruas, visitando algum doente, catequizando, ajudando uma família que precisava de seu auxílio.

— E a senhora não tem medo de que algum dia lhe aconteça algo, que a assaltem, que a atinja uma bala perdida? — perguntou- lhe Pedro Trigo.

— Veja, padre, eu sei que Deus está sempre comigo. Por isso, se um dia me assaltarem ou uma bala me atingir, sei que nesse momento Deus também estará a meu lado, e então já não me importa o que possa me acontecer.

Martín Descalzo dedicou-se a criar o pai-nosso de Deus, isto é, a resposta de Deus à nossa oração quando rezamos o pai-nosso:

“Filho meu que estás na Terra preocupado, solitário, tentado, conheço perfeitamente teu nome e o pronuncio como santificando-o, porque te amo.

Não, não estás sozinho, mas habitado por Mim, e juntos construímos este reino do qual tu serás herdeiro.

Gosto que tu faças minha vontade, porque minha vontade é que sejas feliz, já que a glória de Deus é o homem vivente.Conta sempre comigo e tu terás o pão para hoje; não te preocupes, só te peço que saibas compartilhá-lo com teus irmãos.

Tu sabes que eu perdoo todas as tuas ofensas antes mesmo que tu as cometas, por isso te peço que tu faças o mesmo com aqueles que te ofendem.

Para que tu jamais caias em tentação, segura forte em Minha mão e Eu te livrarei do mal, pobre e querido filho Meu.”

O genuíno educador guia seus alunos no amadurecimento de uma fé que vê em Deus um Pai solícito e bom, que nos criou para a felicidade e nos convida a viver em relações de verdadeira fraternidade. Se realmente cremos que somos filhos de Deus e que todos somos irmãos, nossa fé deve assumir o compromisso de trabalhar em favor de relações verdadeiramente fraternais, rejeitando toda atitude egoísta, orgulhosa, hipócrita, ofensiva.

O educador fiel deverá refletir sua fé em sua vida. Por isso, dentro de suas limitações, procurará caminhar sempre ao lado de seus alunos, disposto a atendê-los com especial carinho e dedicação, sobretudo quando estiverem em sérios problemas e dificuldades. Que os alunos sintam que, façam o que fizerem, nunca estarão sós, porque sempre poderão contar com sua ajuda e compreensão.

ESCLARÍN, Antonio Pérez. Educar Valores e o Valor de Educar. São Paulo: Paulus, 2000.

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