Edição 12

É dia...

PROFESSORES, SINTAM-SE HOMENAGEADOS!

MOTIVOS & AÇÕES

O enfoque deste artigo está na função do professor. Agente educacional responsável pela transmissão de conhecimentos acadêmicos e pela transmissão de valores sociais, morais e éticos. Realmente é de grande responsabilidade a missão do professor. Mas muitos são os fatores interferentes nessa atuação, fatores estes que serão determinantes para o bom êxito do trabalho a ser realizado.

Como um ser social, o homem está inserido em vários segmentos, exercendo vários papéis, sejam familiares, profissionais ou de outras ordens, mas sempre está atuando como alguém que vive em sociedade, e, por isso, deve estar em constante interação. Em muitas profissões, essa “capacidade” é por vezes mais exigida, digamos que é a “ferramenta de trabalho”. Nesses casos, a exigência principal é saber “relacionar-se”, mesmo que essa tarefa não esteja totalmente explícita nas condições do ofício, mas, para que seja exercida com êxito e “perfeição”, possui essa condição de forma implícita, e muitos são pegos nessa “armadilha”.

Uma das profissões que apresentam as características mencionadas acima é a profissão de professor, que, me permita um aparte, é uma profissão de extrema importância e merecedora de grandes reverências. Ser professor não se constitui em tarefa simples ou fácil, ao contrário, apresenta complexidades e desafios que somente quem a exerce tem conhecimento. Não basta somente ser detentor do conhecimento acadêmico, tem que ser um conhecedor de relações humanas. Estas têm implicações pessoais, pois somente aquele que apresenta um certo “domínio” nessa arte poderá ter maiores chances de formar, com êxito, não somente alunos, mas pessoas.

Desde que nascemos, várias foram as influências em nossas vidas, interagimos logo no início com pessoas que foram extremamente significativas para nós. Geralmente aquelas que constituem a nossa família foram complementando a noção de quem somos nos contatos posteriores, principalmente quando ingressamos na escola. Adquirimos noções de convívio social, que fomos aprimorando para conseguirmos nos manter em interação. Nossos valores morais e éticos adquiriram configurações internas e atingimos a noção da pessoa que somos.

Quando comentamos esses aspectos citados, podemos dizer que estamos também falando de nossa auto-estima, um de nossos “termômetros” motivacionais. A auto-estima está relacionada ao valor que atribuímos a nós mesmos, com a forma como nos auto-avaliamos, seja em nossas qualidades ou em nossos “defeitos”. É formada, inicialmente, por um conjunto de fatores externos e internos que se conjugam e compõem a pessoa que somos.

No decorrer de nossas vidas, ainda continuamos a “formar” nossa auto-estima, mas muitas vezes não nos damos conta de que a sua influência pode trazer repercussões positivas ou negativas para nossa caminhada, seja em nossos relacionamentos pessoais, familiares, sociais ou profissionais.

Avaliar e conceituar auto-estima não se constitui em tarefa tão fácil. Podemos dizer que esse estado de valor apresenta repercussões, tanto positivas quanto negativas para o indivíduo e para o meio em que ele está inserido e, portanto, com o qual está interagindo.

Se esse conceito é tão complexo, sua estabilidade também o é. Sabemos que, como um ser em constante transformação, o ser humano está sujeito às investidas incertas do dia-a-dia. Essa condição provoca constantes retomadas pessoais e um posicionamento diante de fatos e de pessoas. O resultado será, assim, de acordo com “aquilo” que temos dentro de nós, da forma como analisamos a situação de nosso próprio ponto de vista, e reagiremos, sem dúvida, movidos por significações pessoais que aquele evento ou acontecimento suscitou em nós. A forma como reagimos provoca também reações. Será como um fluxo de retroalimentação positiva ou negativa, ou seja, se estivermos bem conosco (neste estado podemos dizer que estamos com nossa auto-estima equilibrada), colheremos respostas que poderão ser “digeridas” por nós de uma forma positiva, não nos deixando abalar pelos tropeços, mas se estivermos pendentes para uma rejeição pessoal, com certeza não conseguiremos absorver, nem tampouco transmitir algo que traga benefícios a nós mesmos e aos outros e poderemos entrar num “círculo vicioso” de retroalimentação negativa.

Como pode “formar” aquele que apresenta deficiências nessa área? Como pode um professor infeliz consigo mesmo estar bem para estar “inteiro”, de corpo e “alma”, para seus alunos?

Sabemos que vários são os fatores interferentes nessa condição, sejam assim, os baixos salários, a falta de recursos pedagógicos e didáticos, sejam as precárias condições físicas de sala de aula, sejam as constantes injustiças sociais, as desigualdades, seja a falta de reconhecimento profissional, as disputas por cargos ou condições profissionais entre os colegas de profissão, ou simplesmente pela falta de motivação pessoal por problemas pessoais vários, os quais o professor muitas vezes carrega para sua sala de aula; e a falta de recursos primários (alimentação, vestuário, higiene, moradia, assistência médica…) para uma sobrevivência digna a que muitos alunos são submetidos, e que se encontram sob o olhar do professor em sala de aula. Realmente entendemos que a auto-estima esteja sendo colocada à prova constantemente e que, para mantê-la, é necessário muito mais do que somente discursos de auto-ajuda.

Alguns aspectos precisam ser esclarecidos antes de tentarmos concluir com alguma sugestão. É necessário que o professor se autoquestione sobre alguns pontos que exercem um grande “peso” em sua jornada de trabalho, como: por que escolhi essa profissão? O que pretendo com ela? Quais são meus objetivos enquanto educador? Como avalio minha influência como pessoa em meus alunos? Sinto-me realizado pessoalmente nessa profissão? Sou professor por acreditar na minha profissão e por amá-la?

Esses questionamentos são necessários, pois tudo que é realizado com motivações positivas tem chances ótimas de resultar em sucesso. Somos seres humanos dotados de características físicas e psicológicas, somos formados por esse conjunto harmonioso, e assim nos constituímos como pessoas. Quando qualquer uma dessas áreas encontra-se em descompasso, podemos dizer que estamos correndo alguns riscos.

Se nos encontramos em condições pessoais desfavoráveis, existem possibilidades de surgimento de problemas de ordens física e emocional. Assim, comentando sobre o aspecto psicológico, podemos dizer que a constante insatisfação e o sentimento de descontentamento e às vezes de angústia poderão gerar grandes incômodos pessoais e resultarão em uma vida de incompletude, repercutindo negativamente nos contatos estabelecidos e na qualidade dos feitos realizados, implicando muitas vezes nos vários segmentos de nossa vida e daqueles que nos cercam.

Para saber estar, é preciso saber ser. Essa afirmativa está fundamentada na base autêntica do ser humano, no sentimento de realização a partir de uma consciência pessoal amadurecida, centrada em valores refletidos e que repercutem em posicionamentos de vida. Por isso, somente poderemos nos sentir completos a partir de nós mesmos. Nosso grande erro é sempre atribuirmos a “culpa” ao outro. O olhar para si mesmo é inevitável quando se almeja o equilíbrio interior.

Quando o professor sente-se “mal” em todos os aspectos diante de seus alunos, o sinal de que algo não vai bem já está sendo dado. De nada adianta achar que todos são os causadores desses problemas, é necessário o “olhar para si”, buscar organizar-se internamente para estar inteiro externamente. O professor deve, assim, buscar ajuda especializada.

Sabemos que vários são os fatores desencadeantes de conflitos e “crises” pessoais e profissionais na área docente e que, dependendo do grau desses problemas, quadros sintomatológicos diversos poderão causar danos físicos e psicológicos mais graves, quando não observados atentamente nos primeiros sinais detectados. Um exemplo disso, menciona Lipp (2002) com relação ao burnout, é um tipo de estresse ocupacional, caracterizado por profundo sentimento de frustração e exaustão em relação ao trabalho desempenhado. É um risco ocupacional a que muitas pessoas estão expostas quando trabalham em profissões de ajuda que possuem em comum os contatos interpessoais intensos, como acontece com o professor. Esse quadro se instala muitas vezes a partir de expectativas elevadas e não realizadas. Assim, podemos incluir que muitas vezes a baixa auto-estima, provocada por situações de expectativas não atendidas, e a falta de reconhecimento poderão ser os estressores necessários para o aparecimento desse quadro, que poderá causar impedimentos pessoais e profissionais comprometedores.

Já sabemos que muito da dinâmica dos alunos em sala de aula é reflexo da conduta adotada pelo professor; assim, segundo Morales (1998), existe uma influência mútua, um círculo de ação e reação agindo e interferindo na dedicação e no desempenho dos alunos e do professor em sala de aula. Aquele professor que consegue desempenhar seu ofício com maior autoconfiança conseguirá motivar mais e obterá resultados mais positivos com relação ao interesse e à dedicação dos alunos. Estratégias de ensino–aprendizagem devem também ser adotadas de acordo com o perfil de cada turma de alunos, afinal cada grupo possui suas próprias características e necessidades. Dificuldades sempre existirão, bem como novos desafios estarão presentes a cada aula a ser dada, mas, sem dúvida, a condição emocional do professor é extremamente significativa nesses casos, podendo comprometer seu bom desempenho enquanto educador, por maiores experiências acadêmicas ou formação profissional que possua.

Outro aspecto importante a ser salientado é a afetividade. Quando o professor consegue estabelecer vínculos afetivos com seus alunos, poderá conseguir melhores resultados. Nery (2003) cita nesse enfoque a inteligência relacional, que é a capacidade de as pessoas, nos vínculos, complementarem papéis que atualizam lógicas afetivas de conduta favorecedoras do crescimento psicossocial dos envolvidos. Esse tipo de interação social mais próxima favorece a empatia, que é a capacidade de “olhar com os olhos do outro”, conseguir interagir de modo a tentar compreender o porquê e auxiliar na busca de alternativas para os problemas. Agindo assim, o professor conseguirá estar mais próximo da realidade de seu aluno, podendo compreendê-lo e auxiliá-lo melhor. Mas, para isso, a auto-estima do professor também poderá ser determinante para o êxito desse trabalho.

Assim, a relação do professor consigo mesmo é de extrema importância no contexto educativo. Sabemos que, com certeza, a qualidade da interação professor–aluno estará sendo extremamente influenciada por essa condição pessoal e, também, refletida na aprendizagem satisfatória das crianças em sala de aula.

LAURA FOGAÇA SAUD
Psicóloga Escolar e Mestre em Psicologia Escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Puccamp (SP).

Referências Bibliográficas:
Lipp, M. O Stress do Professor. São Paulo: Papirus, 2002.
Morales, P. A relação professor–aluno: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1998.
Nery, M. P. Vínculo e Afetividade – caminhos das relações humanas. São Paulo: Ágora, 2003.

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