Edição 19

Professor Construir

PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL: um enfoque educativo e profilático

FÁTIMA TÔRRES – Profa. de Educação Física e Psicomotricista Relacional

A temática deste trabalho fundamentou-se tomando por base livros especializados na Psicomotricidade Relacional, confrontados com outras obras, não de ficção, mas baseadas nos conhecimentos profissionais de reconhecido saber, quando afirmam, nos diálogos desenvolvidos, que o olhar convence melhor do que qualquer outro tipo de pesquisa social.

A Psicomotricidade Relacional é um método criado pelo eminente educador francês André Lapierre, com fundamentos na teoria de Henry Wallon.

Difundido no Brasil desde 1983, tem seu alicerce na comunicação não-verbal, enfatiza os aspectos relacionais, psicofísicos, socioemocionais, cognitivos e afetivos do ser humano.

É uma ciência que lida com o ser humano e suas variadas formas de manifestação. É uma práxis que procura dar espaço de liberdade onde a criança aparece inteira: com seu corpo, suas emoções, sua fantasia, sua inteligência em formação.

A Psicomotricidade Relacional destaca-se como uma ferramenta essencial para a compreensão do ser humano em sua globalidade. Atualmente, é um diferencial na atuação profissional, tornando-se indispensável em vários segmentos, a exemplo de escolas, clínicas, empresas, centros de segurança social, dentre outros.

É através do nosso corpo que mostramos nossos desejos, nossas frustrações, nossas necessidades, desde a mais tenra idade. Como nos diz André Lapierre, “A qualidade da vida é a qualidade do ser, e não do ter”.

Segundo os grandes educadores, é quando vencemos nossas dificuldades que nos tornamos livres para a aprendizagem e, conseqüentemente, para a vida.

Vivemos num momento social, econômico e político muito delicado, em que percebemos e sentimos muito próximos de nós a discriminação, a violência, o descaso com os valores morais e éticos, a falta de limites ou o excesso deles.

Na prática escolar, presenciamos constantemente relatos de pais e professores de que muitos filhos e alunos apresentam dificuldades na aprendizagem e no relacionamento, não conseguem se expressar adequadamente.

Segundo André Lapierre, “A Educação Infantil é a fase escolar que tem maior importância, pois é quando ainda é possível melhorar a estrutura para uma boa adaptação à realidade, com menos defesas neuróticas. O ideal seria uma educação psicomotora relacional numa seqüência, da Educação Infantil até a quarta série do Ensino Fundamental”.

A Psicomotricidade Relacional vem ao encontro dos alunos como prevenção, levando-os a alcançar o equilíbrio no seu desenvolvimento…

Por meio de trabalhos em grupo em que se privilegia a comunicação não-verbal, a Psicomotricidade Relacional na escola proporciona:
Despertar para o desejo de aprender.
Prevenir dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica.
Estimular a criatividade.
Facilitar a integração social, elevando a capacidade da criança para enfrentar situações novas e criar estratégias positivas em suas relações.
Estimular para o ajuste positivo da agressividade, inibição, dependência, afetividade, auto-estima, entre outros distúrbios do comportamento.

É ainda um espaço de desenvolvimento pessoal e interpessoal, de estruturação da criança como ser, de investimento não em dificuldades e sintomas, mas nas suas possibilidades de crescimento.

Trabalhar com a psicoprofilaxia é tutelar a saúde sem necessariamente ocupar-se da patologia ou do problema já instaurado e identificado, o que torna o campo preventivo um espaço privilegiado da Psicomotricidade Relacional.

A Psicomotricidade Relacional é importantíssima para se compreender o desenvolvimento humano, por nos apontar uma perspectiva contemporânea. Isto é, o seu método está alicerçado num conjunto de teorias, que podem nos apontar o sofrimento psíquico sem, com isso, ter que enquadrá-lo em uma única teoria; o que está em foco é o ser humano, e não o seu sintoma. A partir dessa teorização, procura-se potencializar as soluções ativas de cada criança, tendo como intenção, portanto, ajudá-la a construir e conservar um equilíbrio pessoal dinâmico.

Essa construção acontece à medida que a criança vai, através do jogo espontâneo, integrando as suas dificuldades, necessidades e linguagem, de forma harmônica, com a realidade familiar e socioeducativa, ou seja, com o meio em que está inserida.

Em grandes linhas, as crianças são encaminhadas a um trabalho com a Psicomotricidade Relacional por três motivos principais:

Comportamento: excessiva agressividade, inibição, falta de limites, baixa tolerância à frustração, hiperatividade, etc.

Aprendizagem: queda de rendimento, dificuldade de expressão verbal ou gráfica, problemas de orientação espaço-temporal, dificuldades de assimilar novos conteúdos apesar de apresentar um desenvolvimento cognitivo normal, distúrbios de atenção, entre outros.

Socialização: dificuldade de integração no grupo, recusa em participar em atividades grupais, dificuldades de enfrentar situações novas, etc.

Lapierre nunca esqueceu de salientar a máxima da Psicomotricidade Relacional: movimento é vida, e vida é relação. E foi justamente na compreensão dos significados e simbolismos contidos nos movimentos e nas interações humanas (o eu e o outro) que o fisioterapeuta francês estruturou essa forma interessante de abordagem sobre o ser humano.

No Recife (PE), o Ícone – Desenvolvimento Psicomotor, localizado na Rua Pe. Anchieta, no bairro da Torre, que tem como Diretor Científico Ibrahim Danyalgil, é o representante do método Psicomo-tricidade Relacional. Nesse centro de pesquisa, dentre outros serviços prestados, se desenvolve o curso de especialização em Psicomotricidade Relacional, com duração de três anos.

Fátima Tôrres é Graduada em Ed. Física pela UFPE e Pós-graduada em Psicomotricidade Relacional pelo Ícone – Desenvolvimento Psicomotor. Professora de Ed. Física e Coordenadora de Esportes no Colégio Fazer Crescer. Psicomotricista Auxiliar no Ícone – Desenvolvimento Psicomotor.

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