Edição 26

Lendo e aprendendo

Quem são os deuses e os heróis gregos

monstro02A história dos deuses e heróis acontece numa época remota, anterior à Era Cristã. Os primeiros registros escritos da mitologia grega encontram-se nas obras de Homero e Hesíodo, há mais ou menos mil anos antes de Cristo.

Havia, na Grécia, várias cidades independentes umas das outras, governadas como se fossem estados ou países diferentes. Cada cidade desse país montanhoso tinha, no centro, a acrópole, uma rígida fortaleza construída na parte mais elevada, que protegia o rei, os habitantes que viviam em torno dele e os templos consagrados às divindades. Em sua grande maioria, os reis das cidades gregas são personagens heróicos das nossas histórias. O povo grego criou seus deuses baseando-se em si próprio, isto é, em sua imagem e semelhança. Os deuses gregos eram humanizados. Até então, nenhum deus tinha tido uma aparência real. Num torneio, os artistas tomavam como modelo o corpo de um jogador e aperfeiçoavam tanto seu físico como suas atitudes, tornando-o, por exemplo, o deus Apolo. A partir da imagem, as histórias dos deuses passaram a ser contadas; muitas deram margem à comédia, como as que narram os casos amorosos de Zeus, descobertos pela ciumenta esposa Hera.

monstro01Como os demais povos antigos, os gregos acreditavam que o mundo tivesse sido criado por seus deuses. Eles não faziam distinção entre o real e a fantasia. E a imaginação popular era tão criativa que se acreditava ver ninfas passeando no meio das florestas. Para isso, era preciso não fazer barulho, a fim de que não se assustassem e fugissem! Esses deuses cotidianos ou participantes dos fenômenos da natureza adquiriam as qualidades e os defeitos humanos. E a eles dava-se pleno poder sobre toda forma de vida existente na Terra.

O povo fazia oferendas aos deuses e heróis, sacrificando animais e produtos da terra. E organizava festas e competições para agradar a um deus em particular e dele obter proteção e benefícios.

Os gregos tiveram necessidade de personificar os deuses. Ao mesmo tempo que a noite era uma abstração, era também uma deusa representa da com longas asas levando uma tocha nas mãos. Hélio, o deus sol, tudo via e nunca perdia a hora. Ao mesmo tempo que havia o sol, existia, também, o deus representado como um ser de cabelos longos e loiros, rosto brilhante, carregando, na cabeça, uma luminosa coroa de esmeraldas. Pela manhã, ele montava em sua taça dourada puxada por ágeis cavalos de freios de ouro e iluminava o dia até chegar a hora de voltar a seu palácio, quando o Sol se punha.

monstro03Os bosques, as águas e os campos eram habitados pelas ninfas — jovens mulheres muito belas que habitavam a natureza e dela tomavam conta. As ninfas passavam grande parte do tempo nas grutas, onde fiavam e cantavam. Normalmente, elas se uniam a seres masculinos da natureza, mas também eram amadas pelos deuses. Além dos seres divinos que a elas se uniam, jovens mortais por elas se apaixonavam.

Os deuses jamais apareciam a um ser humano “em todo o seu esplendor”, como deuses. Os mortais os percebiam sob outras formas, para que o olhar humano pudesse suportar tal aparição.

Os deuses mitológicos mais importantes, em número de doze, ocupavam seu trono no Olimpo, junto a Zeus. O Olimpo era a morada dos deuses, o espaço mais luminoso do universo, que ficava no ponto mais alto do céu, nos confins do Éter.

Zeus, o grande deus, deus dos deuses e dos homens, era representado pelo raio. A tempestade, por exemplo, simbolizava a fúria de Zeus. A ele, a cada quatro anos, eram oferecidos os Jogos Olímpicos. Acreditava-se conseguir aplacar a fúria do deus pelo efeito de prazer que esses jogos públicos provocariam nele. Nesse torneio atlético, as cidades esqueciam suas divergências — todo o país participava. Havia várias disputas para o público masculino, como o lançamento de disco ou dardo. Os vencedores tinham suas glórias cantadas por um poeta e recebiam uma coroa de louros. Os Jogos Olímpicos permitiam que os gregos se sentissem uma mesma civilização, apesar das grandes diferenças existentes entre as cidades-Estado. Também tinham caráter de cerimônia religiosa.

Os poetas e os músicos passeavam de cidade em cidade, cantando as histórias dos heróis e de seus deuses, transmitindo-as, a princípio, oralmente. Só muito mais tarde é que elas foram escritas. Assim, essas histórias foram passando de geração para geração e formaram a mitologia grega.

monstro04Havia uma necessidade muito grande de explicar os fenômenos existentes na natureza, e os mitos gregos conseguiam dar conta da curiosidade humana, que se questionava: como surgiu o homem? Como surgiu o Universo e tudo quanto existe, desde uma simples flor até os sentimentos mais recônditos?

Por intermédio dos poetas Homero e Hesíodo, é que ficamos conhecendo a maioria das histórias da mitologia grega.

Entre os personagens mitológicos, além dos deuses, destaca-se o herói, em geral descendente de ancestrais famosos ou de pais da mais alta nobreza. Normalmente, é filho de um rei. Pode também ser filho de um deus com uma mortal ou de uma deusa com um mortal. Na maioria das vezes, ele é bonito, alto e forte, embora possa ser pequeno e feio. Geralmente, o herói é bom e defende o seu povo; mas, quando é irritado, podemos esperar dele vinganças catastróficas!

O nascimento do herói é precedido por dificuldades. A união dos pais é secreta, devido à proibição de um oráculo ou de algum castigo que pesa sobre a família. Durante a gravidez, ou antes dela, surge uma profecia. Sob forma de sonho ou previsão do adivinho, a mãe é advertida sobre o perigo que o nascimento dessa criança representa. Ela porá em risco a vida do pai ou da cidade, ou poderá causar algum outro problema muito grave. Nessa linha, temos, por exemplo, a história de Alexandre, a de Édipo e outras.

Então, quando o menino nasce, é colocado num cesto, num pote ou numa urna e abandonado no campo ou nas águas. Mas é recolhido e salvo por pessoas humildes, como pastores e pescadores, ou por animais.

monstro05Separado dos pais verdadeiros, inicia suas atividades, passando por ritos iniciáticos. Começa com as proezas comuns até chegar aos prodígios sobrenaturais. Defronta-se com forças fabulosas e consegue triunfar. Regressa vitorioso das misteriosas façanhas.

Durante a infância, já fica evidenciada sua condição e natureza superiores. E, então, o menino consegue descobrir sua origem nobre. Retorna à sua família original. Depois de praticar atos heróicos, algumas vezes, vinga-se do pai, tio ou avô. Casa-se com uma princesa e consegue reconhecimento de seus méritos. Alcança, assim, posto e honras a que tem direito.

O herói também protege bravamente sua cidade e seu povo, mas está condenado a um fim trágico — tem suas glórias, porém acaba fracassando. Após muitas lutas, ele morre; não é um deus, é apenas um herói. Os deuses não permitem serem igualados a um mortal. A grandiosíssima glória é reservada para após a morte.

A leitura das histórias mostra que a organização da família era totalmente diferente da nossa. Os deuses uniam-se entre pais e irmãos. A moral, portanto, era outra. Importava, para eles, a descendência. Sem ignorar uma certa ligação afetiva, principalmente do ponto de vista feminino.

A vida dos heróis já era um pouco diferente. Édipo, por exemplo, pertence a uma família grega, e ele será castigado por ter se unido à mãe. Porém, é preciso sempre ter presente que se trata de uma outra realidade cultural e histórica, embora se encontre nas entrelinhas desses fantásticos enredos explicações para o mundo inconsciente do ser humano. Talvez, seja exatamente isso que arraste as pessoas a ler com tanto interesse, até hoje, as narrativas da mitologia grega.

Viajando no tempo passado, descobriremos o presente, se os deuses assim o quiserem!

pagina09

Fonte: Randon, Maria Augusta Mantese. Os deuses e seus enigmas.
São Paulo: DCL, 2003, pp. 6, 7 e 8.

cubos