Edição 36

Matérias Especiais

Relato de Experiência – As Estações da Minha Vida

Regina Pinheiro

estacoes_vidaExiste uma relação interessante entre o passado e o presente. Essa relação analógica entre significados e acontecimento, eu chamo de trajetória de vida. Passamos por situações em nossa vida em que sentimos ter controle. Estas, nós arquivamos nos lugares das lembranças das ações bem-sucedidas. Mas existem aquelas que fogem à nossa compreensão lógica e racional, aquelas que não nos permitem nenhuma possibilidade de controle. O que fazer, então? Temos o dever de ressignificá-la para que possamos escolher em que lugar da memória iremos arquivá-las. Ressignificar é fundamental, é passar a limpo, na mente e no coração, sentimentos que nos atordoam. Assim como as letras mal escritas nos incomodam, perturbam e inquietam nossa visão, situações não revistas perturbam nossa alma e distorcem a percepção.

Ora, situações difíceis irão sempre existir, não temos como fugir. Elas são como as estações do ano, não dá para pular nenhuma delas, o máximo que pode acontecer é não sentirmos tanto os efeitos de uma devido às ações causadas por outras. Mas sempre haverá os invernos e os outonos de nossa vida, quer estejamos estruturados para eles, quer não. É bom lembrar que inverno fraco não significa inexistência de chuvas, e sim ausência de grandes tempestades, e outono curto não quer dizer que folhas não cairão.

Pensando, então, nas minhas mais recentes e difíceis estações, gostaria de compartilhar o inverno: Vivi, sim, meu inverno. Foi um momento frio e doloroso, mas ele passou, e eu pude descobrir que nem tudo morre debaixo da espessa camada de gelo trazida pela dor. Quando o gelo derrete — e ele sempre derrete, pois o mais rigoroso inverno também tem seu fim —, existem flores vivas que resistem às mais baixas e cruéis temperaturas. Essas flores não nasceram no inverno; elas vieram antes dele, mas, mesmo aparentando fragilidade, são resistentes a tais temperaturas. Na verdade, elas são a ressignificação da esperança trazida por Deus para nossa vida. Então, pense: em nosso jardim, estamos plantando essa espécie? Vale a pena cultivar flores mais resistentes.

O outono – Tão doloroso quanto o inverno que vivi foi meu outono; perdi, sim, minha folhagem, talvez — ou melhor, nesse momento —, a mais relevante delas, mas aprendi. Aprendi que fruto é algo subjetivo, e que, ainda que não consiga mais frutificar de uma forma, Deus já me deu outra, pois qual é o educador que não frutifica? Enquanto puder tocar o coração de alguém com o ensino, estarei frutificando. Um outono pode levar minha folhagem, mas não me impedirá de frutificar. O que tem lhe impedido de dar frutos? Uma perda de folhas? Lembre-se, você é educador, então comece educando a sua dor e ensine a outros que Deus sempre, sempre nos renova a esperança e nos faz crescer.

Quero ainda compartilhar que, independentemente da estação por que você esteja passando ou irá passar, tenha certeza: sua primavera e seu verão irão chegar. Não apresse as estações, apenas prepare-se para elas. Não importa os invernos que nos sobrevêm, o que importa é saber quem temos para nos proteger e passar conosco a tempestade. Deus foi o teto que me abrigou nessa chuva, Cristo e meus amigos estão me ajudando a passar pelo temporal. Portanto, a minha dor não é maior que as lições que aprendi, e a mais significativa de todas foi dada por Deus: Ele me ensinou que não há o que temer, há o que aprender e, quando aprendemos com Ele, criamos asas, nos tornamos mais leves, mais alegres e mais convictos de que todas, absolutamente todas as coisas cooperam para os que amam a Deus, aqueles que são chamados segundo o seu decreto (Rm 8:28).

Tenha fé, ainda existem muitas estações a serem vividas, nem todos os invernos e outonos são iguais. Mas o Sol é sempre o mesmo, e ele vai brilhar sobre sua vida novamente. O Sol da Justiça brilhará sobre você, derretendo o gelo e aquecendo a planta que mais forte crescerá. Esteja acordado para ver: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer” (Sl 30:5). Sorria, a manhã já chegou! Com Deus, tudo fica mais fácil.

Regina Coelli Pinheiro de Carvalho é formada em Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda – Facho, e em Psicopedagogia (pós-graduação) pela Universidade de Pernambuco – UPE.

Atualmente é Coordenadora Pedagógica dos ensinos Fundamental I e II do Colégio Exponente – Centro Educacional, no Recife/PE.

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