Edição 59

Matérias Especiais

Resistência versus resiliência

Frei Tiago Santos

Apoiando-me em um material apresentado pelo Frei Rubens Nunes da Mota, por ocasião de um encontro com jovens religiosos em abril de 2010, gostaria, mesmo que de maneira ainda tímida, de falar um pouco desse tema, que, apesar de ainda não muito conhecido, já está ocupando a cabeça de muita gente, ressignificando a história de tantas pessoas.

O assessor iniciava o assunto com uma pergunta: Para que serve a história? E, segundo ele, bem como segundo alguns participantes, a história nos ajuda a ter outra visão de mundo. O estudo e a revisão da história nos inspiram a ver o mundo com outro olhar. A história de cada pessoa deve ser assumida apesar de suas limitações e seus erros: é a sua história. Não é que devamos repeti-la e cair naquela conversa de que “É, sempre foi assim, não vai mudar” ou “Fazer o quê, a vida é assim”, mas, antes, olhá-la e questioná-la e, é claro, com isso, enriquecê-la. É preciso vivê-la contextualizadamente. Diria, ainda, que precisamos sempre ressignificar as experiências que tivemos.

Algumas vezes, as palavras são pequenas para definir “as coisas”, e ainda corremos o risco de reduzir “a coisa” a um conceito fechado. Contudo, podemos aprofundar um pouco mais aquilo que gostaríamos de saber.

1. Resistência

Comecemos falando de resistência. Em uma definição simples, poderíamos dizer que esta é o ato ou efeito de resistir; que é uma força que se opõe à outra, que não cede à outra. Ainda poderíamos pensá-la como a força que defende um organismo do desgaste, da doença, do cansaço, da fome, etc.; ou seja, aquilo que se opõe ao deslocamento de um corpo que se move.

Como brasileiros conhecedores de nossa história e portadores de uma miscigenação tão forte, somos sabedores de quanto foi e é resistente o nosso povo.

E aqui, de maneira especial, lembramos os negros violentamente trazidos para o Brasil, os quais de nobres em suas terras passaram a escravos; os indígenas violentamente privados de sua liberdade, seu jeito de ser, seus costumes, sua religiosidade. E, claro, não nos restringimos somente a esses grupos aqui no Brasil, mas sabemos também de brancos expulsos de suas terras pela fome, guerra, exclusão.

Diante dessas constatações, nos perguntamos: Como resistiram? Como resistem tantas pessoas a tantos problemas que afetam a raça humana?

2. Resiliência

Por um momento, deixemos a resposta dessas perguntas para mais adiante. Vamos agora pensar um pouco, ou melhor, ver o que se anda pensando sobre resiliência. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “É a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal formação elástica”. E poderíamos acrescentar que resiliência é a capacidade concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação crítica. Podemos definir ainda como a habilidade que uma pessoa tem de voltar rapidamente para o seu estado de saúde ou de espírito depois de passar por problemas, sejam eles doenças, dificuldades, etc. Há quem diga que pode ser vista como a capacidade humana de superar obstáculos, tirando proveito dos sofrimentos inerentes às dificuldades que atingem a condição humana. Ou seja, o ser humano resiliente desenvolve a capacidade de recuperar-se e moldar-se novamente a cada obstáculo e a cada desafio. Um indivíduo submetido a situações de estresse que tem a capacidade de superá-las sem lesões mais severas, sem consequências mais drásticas, é um resiliente.

3. Os resilientes

Numa definição, os resilientes são aqueles que são capazes de vencer as dificuldades, os obstáculos, por mais fortes e traumáticos que eles sejam. A resiliência trata-se de um dos atributos da saúde mental e da boa capacidade de aprender. Como está ligada a diversas áreas da subjetividade humana, ela carece de um alto grau de flexibilidade no trajeto da vida. E aqui entendemos flexibilidade como o que a pessoa necessita para descobrir novas formas de lidar com a vida e seus desafios e, a partir dessa experiência, se reorganizar de maneira eficaz.

4. Conclusão

Estamos certos de que precisamos pesquisar ainda mais sobre esse assunto, que aparentemente ainda é pouco explorado, mas tem sido vivenciado por muitos em suas experiências diárias. Aqui faz jus lembrar que, no Brasil, apesar dos avanços no desenvolvimento do País, ainda encontramos situações que, como diriam alguns, nem são humanas, de tão miseráveis que se mostram ser. Contudo, há vida e há resistência com resiliência; ou melhor, há sonhos. Mesmo nas mais mesquinhas situações, as pessoas são capazes de ressignificar a sua vida e sonhar que “Isso um dia vai mudar”. Há uma esperança.

Encontramos muitos exemplos de superação de crises e adversidades, seja em indivíduos, grupos ou organizações. Todo ser humano, no decorrer de sua história, seja individual ou coletivamente, há de se deparar com situações que demandam uma tomada de decisão, por se encontrar entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Oxalá sejamos resilientes o suficiente para, como a fênix, renascer das cinzas.

Frei Tiago Santos é frade capuchinho da Província do Nordeste do Brasil e estudante de Teologia na Unicap.

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