Edição 98

Em discussão

Respeito e Amor … Modelos Distintos ou Complementares?

Lucieudo Ferreira

A sociedade conviveu durante muitos anos com um modelo de educação formatado por culturas que não resistiram ao modelo educacional elaborado para os dias atuais.

Entre as culturas tidas como clássicas, é fácil distinguirmos o preconceito, com pecados inaceitáveis; o machismo, que gerou o feminicídio e outros males; as classes sociais, com o empoderamento de poucos e a inferiorização de muitos; a intolerância religiosa, com o desrespeito à espiritualidade individual e grupal; a sociopatia, que explicita um comportamento antissocial profundo; o antissemitismo — a brutalidade do nazismo, em relação aos judeus, jamais será esquecida; o desrespeito a etnias, com suas especificidades socioculturais incompreendidas; o escravismo, que gerou uma profunda chaga social e inúmeras outras formas preconcebidas que emolduraram culturas de um passado social e que não tinham como sobreviver aos dias atuais.

Todo esse classicismo cultural deixou um grande aprendizado para as gerações atuais que optaram por extingui-lo do modelo moderno de educação.

É claro que existiram culturas que não tinham como sobreviver. Mas será que todas elas, por serem clássicas, mereciam, sem exceção, ser erradicadas?

O respeito, como um componente indispensável na construção do amor, merecia ser riscado do modelo moderno da educação?

Farei um rápido paralelo entre respeito e amor focado no modelo clássico e no modelo moderno de educação.

O respeito tornou-se, no modelo clássico, uma marca de educação muito forte, prioritária e plenamente aplicável pelas famílias, pelos entes sociais e pelas pessoas de um modo em geral.

O respeito tornou-se um princípio educacional de fácil definição, de fácil entendimento e de fácil aplicabilidade. Por essas e outras características, o respeito foi uma marca educacional poderosa no modelo clássico, atravessando gerações, provocando o equilíbrio social, corrigindo rapidamente o desrespeito e, o melhor, fazendo nascer e crescer dentro de cada ser humano o sentimento do verdadeiro amor. Somente assimilando o respeito, pode-se entender corretamente a essência do amor e praticá-lo em todas as suas dimensões. A construção do amor tem como pressuposto fundamental uma educação alicerçada no princípio do respeito. Só se ama plenamente quando se é educado no princípio do respeito.

O amor, principal expressão do modelo moderno de educação, se nos apresenta sob várias faces e definições. Luís Vaz de Camões (1524–1580), considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona definiu amor como:

“Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”.

Os terroristas da Al–Qaeda, segundos antes de explodirem as Torres Gêmeas, disseram: “Por amor a Alá. Alá é o maior”. Nos programas policiais das televisões, é comum vermos e ouvirmos assassinos confessos que assim se pronunciam: “Matei por amor”. Outras tantas definições de amor são encontradas com frequência nas novelas, nas torcidas organizadas, no mundo marginal das drogas, enfim, no universo social onde o respeito parece nunca ter existido.

Jesus Cristo, o maior gênio e benfeitor da humanidade, percebendo que o amor seria esfacelado por várias interpretações, deixou- -nos um legado de respeito e, sobretudo, de amor verdadeiro e incondicional à humanidade.

O mundo moderno exige de nós a adequação a novos valores, a novos comportamentos, a novos princípios, a novas vivências e a novos aprendizados.

É fundamental que façamos uma leitura detalhada das culturas do modelo clássico e que dessa leitura possamos separar as que foram negativas das que foram positivas para a sociedade. As culturas negativas devem ser excluídas, enterradas e apenas registradas para que a moderna sociedade veja os males que ela gerou, mas as positivas devem ser exaltadas e continuadas. Dentre as positivas, está a cultura do respeito.

Lucieudo Ferreira é diretor do Colégio Manuel da Silva e conselheiro do Conselho Municipal de Educação de Fortaleza/CE. E-mail: lucieudo@manueldasilva.com.br

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