Edição 102

Professor Construir

Rótulos que incomodam

Fabiani Ortiz Portella

O ato do aprender é um desafio e também a maior conquista do ser humano ao longo da vida. As pessoas necessitam aprender o tempo todo em qualquer contexto, seja formal, seja informal. Essa demanda vai além do currículo escolar de leitura, de escrita e do cálculo.

A grande expectativa é de que a aprendizagem ocorra de forma natural e sistemática, aliada ao processo de socialização e ao reconhecimento de cada sujeito. Porém, quando isso não ocorre, surge uma indagação: qual(is) o(s) motivo(s) da não aprendizagem?29

Buscar essas respostas envolve pais, professores, orientadores educacionais, pediatras, neurologistas, psiquiatras, psicopedagogos, psicólogos, enfim, aciona-se uma rede de especialistas que atuam na promoção da saúde. O difícil trajeto em busca do diagnóstico coloca em xeque muitas questões: por onde começar? Onde está o erro? Como ajudar?

O diagnóstico

O papel do diagnóstico na vida escolar do sujeito é um ponto que merece uma boa reflexão: qual a funcionalidade desse diagnóstico?

No caso da abordagem escolar, ele deve servir para orientar a equipe pedagógica em adaptações curriculares em consonância com as necessidades do educando, objetivando sua aprendizagem. Mesmo com todas as propostas de educação inclusiva, percebe-se um grande mito em torno do tema, pois algumas famílias, por medo do rótulo e do preconceito, insistem em negar a dificuldade de aprendizagem de seu filho.

Algumas procuram ajuda profissional, mas preferem manter segredo. Também preocupa o fato de muitas instituições de ensino adotarem uma metodologia quase hegemônica no ato de ensinar.

Segue-se um longo e árduo caminho, para os sujeitos, familiares, professores e especialistas da educação, em superar os obstáculos gerados pelos preconceitos e rótulos. Dificuldades como os transtornos de aprendizagem estão cada vez mais presentes no cotidiano escolar.

A escola do século 21 precisa formar cidadãos que estejam constantemente preparados, que sejam resilientes, criativos, competitivos, éticos e solidários.

Devido à leitura generalizada do transtorno, a análise do caso isoladamente, o foco na intervenção pedagógica (desconsiderando a especificidade do sujeito com seus desejos, sua história, seus erros e acertos) acabam valorizando questões que o impedem de aprender e não levam em conta o fato de que aquele sujeito também tem muito a ensinar.

 

Humanizar a sociedade

A escola do século 21 precisa formar cidadãos que estejam constantemente preparados, que sejam resilientes, criativos, competitivos, éticos e solidários. Se cada aluno é diferente, como os professores devem trabalhar com essa diferença? Explicando o conteúdo da mesma forma? Aplicando a mesma avaliação? Considerando o mesmo tempo de aprendizagem para todos os sujeitos?

Não há uma única forma de aprender ou de ensinar. É visível que o professor da atualidade não está preparado para trabalhar com essa demanda. Frequentemente, observa-se o uso inadequado dos diagnósticos pelos diferentes sujeitos envolvidos, a fim de justificar as causas da não aprendizagem, tornando-se um dos fatores que rotulam os sujeitos, causando sérios obstáculos ao processo de aprendizagem escolar, bem como ao convívio social. O laudo clínico deve ser visto como um balizador, e não como um determinante da vida dos sujeitos.
O preconceito é uma grande barreira que impede o aprender. Crianças e adolescentes são rotulados como preguiçosos, mal-educados, desatentos e teimosos, tornando-se desacreditados pelos seus pares, pais e professores e assumindo uma identidade danosa, que é um verdadeiro desafio a superar.

Cabe aos envolvidos (famílias, professores e especialistas) descortinar a diferença, projetando tantas ações quantas se façam necessárias para alcançar o êxito com cada sujeito que lhes é confiado. A sociedade se humaniza ao conviver de forma inclusiva com a diversidade e com a multiculturalidade.

Fabiani Ortiz Portella é orientadora educacional, Mestre em Educação, psicopedagoga clínica e institucional em Porto Alegre, RS.

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