Edição 59

Profissionalismo

Trabalho com valores na Educação Infantil Abordando a temática História e Cultura Afro-brasileira

“Rosemeire Auxiliadora Hernandes Ruegger
Liliane Maria Consoni Pedron”

Justificativa

Buscamos, por meio de um trabalho com valores, desenvolver um clima de harmonia entre as crianças das nossas salas de aula, abordando de forma agradável a pluralidade cultural.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, o trabalho com a diversidade cultural possibilita a ampliação de horizontes tanto para o professor como para o aluno. Assim, não podemos nos limitar às comemorações festivas para explorar o assunto. Devemos refletir durante todo o ano letivo sobre as expressões e manifestações das crianças, valorizando e respeitando a diversidade.

Desse modo, a adesão de princípios e valores, como solidariedade, respeito, tolerância, humildade, amor e paz, vem ao encontro do que dispõe a Lei n° 10.639/2003, que introduziu na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional os artigos 26-A e 79-B, referentes à temática História e Cultura Afro-brasileira, normatizada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais como Educação das Relações Étnico-Raciais e Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Portanto, motivados pela curiosidade e criticidade diante do mundo, sentimos a necessidade de fazer algo e acrescentar, por meio do Projeto Valores na Educação Infantil, situações de aprendizagem em que a questão da diversidade fosse tema de conversa ou de trabalho; ir além do puro ensino de conteúdos, pela observação do que ocorre no espaço da escola; propor atividades que resgatem o sentido da espécie humana, esfacelada pelo sistema social vigente, rompendo com a segmentação da vida, com a divisão, seja ela de raça, etnia, religião ou cultura, trabalhando por igualdade, convivência harmônica em grupo, construção do coletivo e respeito às individualidades.

Trabalhar com valores implica mudança na prática pedagógica, que vai muito além da formalidade das áreas do conhecimento. É uma forma diferente de Educação, com base nas relações pessoais, na consciência de si e do outro, nas necessidades de cada um e na adequação ou não das suas atitudes, tornando a sala de aula um exercício para a vida em sociedade, com crianças conscientes da sua participação na construção de um mundo melhor.

Objetivos gerais

• Desenvolver a percepção da existência de valores em ações realizáveis no dia a dia e exercitá-las na vida escolar, na família e na comunidade.
• Identificar os valores contidos em suas atitudes e entender as implicações decorrentes dessa inclusão.
• Fortalecer a identidade e a autonomia, a partir das relações socioculturais, de forma autêntica, consciente e contextualizada.

Objetivos específicos

• Valorizar ações de cooperação e solidariedade desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração e compartilhando vivências.
• Explorar elementos de músicas para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo.
• Interessar-se pelas próprias produções e das outras crianças e pelas diversas obras artísticas com as quais entra em contato, ampliando seu conhecimento do mundo e da cultura.
• Ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando-se por conhecer vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas.
• Familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas e outros portadores de texto e da vivência de diversas situações nas quais seu uso se faça necessário.
• Estabelecer relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e o de outros grupos.
• Confiar em suas próprias estratégias e em sua capacidade para lidar com situações matemáticas novas, utilizando seus conhecimentos prévios.

Programa

Para desenvolver o projeto, foram selecionados os conteúdos a seguir:
• Identificação progressiva de algumas singularidades próprias e das pessoas com as quais as crianças convivem no seu cotidiano em situações de interação.
• Participação em situações de brincadeira nas quais escolham parceiros, objetos, temas, espaços e personagens.
• Participação em situações que envolvam a combinação de algumas regras de convivência em grupo e referentes ao uso dos materiais e do espaço, quando isso for pertinente.
• Utilização expressiva intencional do movimento nas situações cotidianas e em suas brincadeiras.
• Escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas e da produção musical brasileira.
• Valorização de suas próprias produções, das de outras crianças e da produção de arte em geral.
• Leitura de obras de arte a partir da observação, narração, descrição e interpretação de imagens e objetos.
• Uso da linguagem oral para conversar, brincar, comunicar e expressar desejos, necessidades, opiniões, ideias, preferências e sentimentos e relatar suas vivências nas diversas situações de interação no cotidiano.
• Participação em situações de leitura, ainda que não a façam de maneira convencional.
• Participação em situações cotidianas nas quais se faz necessário o uso da escrita.
• Participação em atividades que envolvam histórias, brincadeiras, jogos e canções que digam respeito às tradições culturais de sua comunidade e de outras.
• Valorização do patrimônio cultural do seu grupo social e interesse por conhecer diferentes formas de expressão cultural.

Desenvolvimento

A metodologia foi construída a partir da constatação de que valores como respeito, honestidade, humildade, tolerância, simplicidade, cooperação e outros foram deixados de lado pela família e pela sociedade atual, não fazendo mais parte do cotidiano das crianças.

Projetos que visem a discutir e apresentar esses valores às crianças da Educação Infantil, de maneira compreensível, podem ajudar a minimizar as manifestações de preconceito e desigualdade, alargando a visão de mundo dos elementos do grupo.
Por isso, consideramos imprescindível para o convívio em sociedade o conhecimento e a prática consciente de tais valores. Relacionamos um conjunto de atividades baseadas na sensibilização, reflexão e ação nos planos pessoal e coletivo, perpassando pelos âmbitos cognitivo, afetivo, simbólico, cultural e político-social e por uma metodologia fundamentada no saber acumulado culturalmente pela comunidade, com atividades que trabalhem a criatividade e a imaginação.

As atividades para se trabalharem valores na Educação Infantil podem ser exploradas de inúmeras maneiras: por meio de poesia, dança, cantos, histórias, cartazes, exposições, estímulo das linguagens oral e corporal, desenho, lista de palavras referentes aos valores trabalhados, pintura, painéis coletivos, apreciação de obras de arte e suas releituras.

Com base no livro Atividades com Valores para Crianças de 3 a 6 Anos, de Diane Tillman e Diana Hsu, elencamos os seguintes valores para aplicar em nosso projeto: paz, respeito, amor, responsabilidade, felicidade, cooperação, honestidade, humildade, tolerância, simplicidade, união e igualdade.

O início do trabalho se deu em uma roda de conversa, essencial para descobrir o real interesse e as necessidades das crianças. A partir daí, foram desenvolvidas todas as outras atividades programadas dentro de um contexto significativo para o aluno.

Trabalhando a paz

A primeira atividade foi propor aos alunos que fizessem silêncio, procurando ficar quietos e respirando fundo e devagar. Em seguida, perguntamos: Qual é a sensação de ficar quieto, de estar em silêncio? Se a paz fosse uma cor, qual seria? Então, colocamos à disposição dos alunos tinta para dedo e pedimos que pintassem a paz. Depois, solicitamos aos alunos que pensassem em outras pessoas que vivem longe, em outros lugares. Será que essas pessoas também vivem em paz?

Propusemos a construção coletiva de uma lista de palavras que pudessem expressar a paz e trabalhar a releitura dos dizeres mencionados pelos alunos, como, por exemplo: amor, amizade, tolerância, felicidade, respeito, simplicidade, humildade, solidariedade, honestidade, igualdade, união, responsabilidade, cooperação. Então, colocamos a música Cultive o Amor, de Vera Lúcia, para que os alunos ficassem por alguns minutos em silêncio, reforçando a capacidade de concentração. Ainda trabalhando o valor paz, em conversa com as crianças perguntamos como poderíamos representar a paz. Pedimos para que pensassem em algo que significasse paz para elas (uma pomba, uma estrela, um biscoito, um gato, um lago, etc.). Propusemos fazer o desenho de uma pomba com o contorno das mãos.

Depois de confeccionar as pombinhas, orientamos cada criança a escolher uma palavra (da lista coletiva) que gostaria de escrever dentro de uma pombinha para presentear um colega. Os colegas se presentearam com as pombinhas; ao se abraçarem, falaram sobre a palavra com a qual foram presenteados. Também foram presenteados os funcionários da escola com pombinhas da paz. As pombinhas foram coladas em um belo cartaz coletivo, e fizemos a contagem oral. Para trabalhar a resolução de conflitos e a manutenção da paz, foi confeccionado um cartaz com os dizeres “Gosto quando você faz…” e “Não gosto quando você faz…”, em que os alunos expuseram seus sentimentos e a professora os anotou, valorizando as respostas.

Trabalhando o respeito

Chamamos atenção para a realidade das mãos fazendo o bem ou das mãos fazendo o mal, como bater ou beliscar. Perguntamos às crianças que coisas boas ou que boas ações elas gostariam que suas mãos fizessem. Escrevemos as respostas e colocamos ao lado das mãos impressas na folha de papel kraft, fazendo um cartaz coletivo. Em roda de conversa, procuramos levar as crianças a refletirem sobre respeitar os outros, ouvindo quando eles falam. Nesse momento, utilizamos a história Lily, a Leoparda, de Tillman e Hsu, valorizando as qualidades individuais de cada um e respeitando diferentes formas de cumprimento em vários países, mostrando que respeitar o outro também é conhecer sua cultura.

Trabalhando o amor

Apresentamos o tambor como um instrumento musical e mostramos a proximidade cultural entre África e Brasil, criando um ritmo com variações de movimentos rápidos e lentos. Solicitamos às crianças que colocassem a mão sobre o peito, do lado correspondente ao coração, e sentissem suas batidas, explicando que o coração de todas as pessoas bate e produz barulho como se fosse o de um tambor. Depois, em duplas, tentaram sentir as batidas do coração do colega. Explicamos que em cada um existe algo muito valioso: um coração! Mostramos que, em outras partes do planeta (utilizando o globo terrestre), existem crianças que, como elas, também têm um coração que bate. Perguntamos às crianças se poderíamos representar o amor desenhando um coração. Elas fizeram um coração de papel colorido, e cada uma colocou seu nome atrás. Recolhemos os corações e, em seguida, os distribuímos aleatoriamente entre as crianças e pedimos que escrevessem uma qualidade da pessoa cujo nome estava no coração (escrevemos na lousa algumas qualidades). Então, formamos grupos de acordo com a cor dos corações, colocando-os em um outro coração maior, fazendo a contagem oral e comunicando a quantidade.

Uma outra atividade desenvolvida no decorrer do projeto foi a narração da história Esponjas Felizes, de Tillman e Hsu, seguida do Jogo das Esponjas, em que os alunos confeccionaram esponjas de papel colorido e, dançando, distribuíram aos amigos, levando-os a refletir sobre a importância da doação e da roda de conversa, pensando sobre amar e repartir.

Para voltar à calma, ouvimos a música tranquila e relaxante Cultive o Amor, de Vera Lúcia.

Em outra oportunidade, apresentamos uma atividade com o desenho do contorno do Brasil e da África. Pedimos que escrevessem o nome da localidade e que ligassem uma à outra com um arco-íris. Solicitamos que completassem a atividade desenhando como elas gostariam de demonstrar a paz e o amor entre os dois países. Trabalhando a linguagem escrita, disponibilizamos o alfabeto móvel para que escrevessem as palavras paz e amor.

Trabalhando a felicidade

Falamos com os alunos sobre o modo de vida dos pais e avós, se eram mais felizes, e o que nos deixava felizes no momento e como podemos dar felicidade. Completamos a atividade com a narração da história Escola do Coração, de Tillman e Hsu, e a confecção de um cartão de sugestões para as crianças: “Como ser mais feliz”. Depois, cada criança tirou um cartão e fizemos a leitura trocando ideias sobre o que estava escrito. Fizemos a contagem oral dos cartões colocados dentro da Caixa Feliz, confeccionada pela turma. Solicitamos que fizessem um desenho de um mundo mais feliz, de paz e amor.

Esta atividade oportunizou trabalhar a linguagem oral e escrita e, também, o raciocínio lógico matemático: em caixas de fósforos, colocamos as palavras paz, amor, amizade, felicidade, igualdade, honestidade, humildade, etc., que haviam sido escritas na lista coletiva. Em seguida, formamos grupos de quatro alunos e propusemos as regras do jogo (quem será o primeiro, o segundo e assim por diante…); viramos para baixo o lado que continha a palavra e demos início ao jogo, procurando as palavras iguais e formando pares. Depois, os alunos fizeram a contagem oral de quantos pares formaram, comparando quem havia feito mais ou menos pares. Ainda desenvolvendo a linguagem escrita, apresentamos aos alunos a atividade que propunha encontrar no diagrama (fazendo uso do banco de palavras) palavras que fizessem a vida ser melhor: paz, carinho, união, amizade, perdão, amor.

Trabalhando a responsabilidade

Em uma roda de conversa, explicamos às crianças a responsabilidade que é fazer o seu trabalho e também cuidar de alguém. Falamos sobre o cão-guia, que ajuda o cego. O cão é muito responsável e age de modo cuidadoso com a pessoa cega. Quando é hora de ajudar, não corre atrás de outros cachorros e só brinca quando é hora. Pedimos às crianças que formassem pares. Uma delas fez de conta que era o cão–guia, e a outra, que era cega. A criança cega colocou a mão no ombro do cachorro e foi conduzida por um pequeno trajeto, depois os papéis foram trocados. Voltamos a fazer a roda e perguntamos “Como foi ser o cão-guia?”, “Como se sentiu como cego e quando o cão-guia foi cuidadoso e responsável?”, “Alguém teve medo de que o cão-guia não fosse responsável?”, “O que você deseja que o seu cão-guia faça?”.

Retomamos com os alunos o papel do cão-guia: ser responsável e cuidadoso. Discutimos sobre o que é responsabilidade e o que ela significa. Levamos os alunos a perceberem quais são as suas responsabilidades e qual é a tarefa deles como alunos. Depois, cada um completou a seguinte sentença: “Eu sou responsável quando…”. As respostas foram as mais diversas, sendo que um deles respondeu: “Sou responsável quando ajudo minha mãe ou, ainda, quando guardo meus brinquedos”.

Trabalhando a tolerância

Com a história Menina Bonita do Laço de Fita, de Machado, discutimos com as crianças as diferentes etnias existentes, quais são as origens e os costumes de cada uma, suas principais características, etc. Depois, fizemos uma pesquisa, em revistas de ilustrações que apresentassem o negro, o japonês, o branco e o indígena de forma positiva. Com o material pesquisado, fizemos um mural.

Deixamos que as crianças percebessem as diferenças e aproveitamos a oportunidade para valorizar a diversidade de características culturais e físicas de cada etnia. Trabalhando a observação, cada aluno fez um desenho que representou o negro, o japonês, o branco e o indígena.
Esta atividade, além de ajudar no desenvolvimento infantil, foi também muito prazerosa para as crianças. Em uma roda de conversa, comparamos o arco-íris aos seres humanos. Todos somos seres humanos, com olhos, boca, nariz, mãos, pés, etc., mas com diferentes cores de pele. Toda cultura é importante e única, assim como as cores do arco-íris. A humanidade é como um arco-íris de muitas culturas. Foi então que solicitamos às crianças que pintassem um arco-
-íris fazendo uso de tintas coloridas e pincel.

Ainda em artes visuais, oportunizamos o cantinho do mural, em que fizemos a observação de diferentes obras de arte que retratassem o negro e o índio. E, então, nos detivemos nas obras O Negro, de Candido Portinari, e A Negra, de Tarsila do Amaral, levando a criança à reflexão sobre as obras e também sobre as diferentes culturas. Fornecemos dados sobre a vida dos autores, de suas obras e outras características. Orientamos a fazerem a reprodução das obras através de desenho e pintura. Outra forma de trabalhar a cultura foi através de histórias da cultura negra (Nzuá e o Arco-íris) e da cultura indígena (Mani, a Menina que Brotou da Terra).

Fizemos uma roda de conversa e refletimos sobre a tolerância, levando a criança a entender o sentimento de aceitação de todos e de respeito às diferenças. Ler histórias de diferentes culturas, como as que sugerimos anteriormente, apontando as qualidades e características de cada uma, ajudou a promover nos alunos a vivência de sentimentos de paz, amor, coragem e tolerância.

Trabalhando a honestidade

Em conversa com os alunos, refletimos sobre a honestidade. Devemos dizer sempre a verdade. Fizemos o jogo dos achados e perdidos. Cada criança recebeu um brinquedo. Depois, metade das crianças fechou os olhos, enquanto a outra metade escondeu os brinquedos. As crianças abriram os olhos e procuraram pela sala os brinquedos escondidos; as demais davam dicas como “Está perto”, “Vire para o outro lado”, etc., explorando o espaço físico da sala de aula. Quem foi encontrando o brinquedo perguntava à classe “De quem é o brinquedo?” e o entregava ao dono. Trocaram-se as posições para que todos participassem. Ao fazerem o exercício de devolver o brinquedo ao dono, reforçaram o sentimento da honestidade.

Trabalhando a igualdade

Usamos a história Floquinho da Noite (revista Projetos Escolares: Educação Infantil), oportunizando aos alunos o desenvolvimento da percepção de que todos somos iguais nas nossas diferenças. Confeccionamos máscaras de ovelhinhas para representar a personagem Floquinho da Noite. E, ainda, trabalhamos a releitura da obra Operários, de Tarsila do Amaral, focando a pluralidade cultural brasileira. Para completar a atividade, as crianças declamaram a poesia Casos da Negra Velha, de Raul Bopp, ressaltando a igualdade entre os povos.

Trabalhando a cooperação e a união

Em uma roda de conversa, refletimos com os alunos sobre cooperação e união e concluímos que o trabalho embasado nesses dois valores pode transformar-se numa atividade divertida quando estamos elaborando-a juntos, fazendo as grandes tarefas parecerem fáceis. Perguntamos aos alunos “Como você coopera em casa? E na escola?”, “Como podemos ajudar?”. Propusemos aos alunos que fizessem um piquenique cooperativo. Perguntamos onde poderíamos fazer um piquenique e o que comeríamos. Mostramos aos alunos diferentes paisagens, como campo, praia, fazenda, etc. No final, indagamos: “E aqui, na escola, onde podemos fazer o nosso piquenique?”. Muitas foram as respostas: embaixo de uma árvore, na varanda, na escada da entrada da escola. Levamos os alunos a escolherem o local para o piquenique através de votação, e o local escolhido foi a escada da entrada da escola. As brincadeiras do piquenique também foram escolhidas pelas crianças através de votação, e elas optaram por amarelinha, pular elástico, lenço-atrás e telefone sem fio. Depois, definimos o lanche para o piquenique: sanduíches e suco.

Preparando o nosso piquenique, fizemos sanduíches de pão com patê de cenoura e suco de laranja. Aproveitamos para trabalhar conceitos matemáticos, identificando as figuras geométricas do sanduíche (quadrado/triângulo); fizemos a contagem dos sanduíches e de quantos cada criança poderia comer. Depois de tudo pronto, hora do piquenique cooperativo no local escolhido pelos alunos. Saboreamos o lanche e nos divertimos com as brincadeiras. Em uma roda de conversa, deixamos que relatassem a experiência de se fazer um piquenique na escola. Então, mostramos, aos alunos, diferentes livros e revistas de receitas e fizemos a anotação da receita do patê de cenoura.

Trabalhando a humildade e a simplicidade

Na atividade Árvore das Boas Palavras, escrevemos em letra–bastão na lousa as palavras paz, amor, amizade, tolerância, respeito, igualdade, união, alegria para que os alunos pudessem fazer a escrita espontânea na sua árvore de Natal. Depois, em uma roda de conversa, pedimos que cada um falasse sobre o significado e o sentimento que cada palavra lhe trouxe ao escrevê-la.

Avaliação

As observações e os registros em fichas descritivas foram os apoios utilizados para a prática pedagógica, possibilitando acompanhar o desenvolvimento das aprendizagens das crianças. As informações foram utilizadas para redefinir critérios e planejar novas estratégias que permitam o avanço no processo de construção do conhecimento. Essas informações também foram compartilhadas com as crianças, incentivando a autoavaliação como forma de superar as dificuldades.

Com essa forma de avaliação, foi possível perceber que, no início do projeto, houve certa resistência por parte de alguns alunos, que demonstraram comportamentos inadequados, tais como brigas entre colegas, desrespeito com os funcionários e colegas, disputa por brinquedos, levando as professoras a utilizarem estratégias adequadas ao projeto para resolver os conflitos.

No decorrer do projeto e com a continuidade das atividades baseadas em valores, observamos a conscientização dos alunos (principalmente dos mais resistentes), barreiras foram rompidas, e, no final, a interação e a harmonia foram alcançadas. Os conflitos não deixaram de existir, mas passaram a ser resolvidos de forma crítica e coerente com o trabalho desenvolvido. Percebemos claramente que os alunos aplicaram os exercícios realizados nas aulas para resolver situações cotidianas.

Culminância

O projeto teve como ponto culminante o piquenique cooperativo, em que as crianças puderam colocar em prática os valores abordados. A escola promoveu uma exposição dos trabalhos realizados durante o decorrer do ano, principalmente os do Projeto Valores na Educação Infantil, focando a aprendizagem de História e Cultura Afro–brasileira e Africana. A exposição teve a participação dos pais dos alunos, que demonstraram bastante interesse nos trabalhos artísticos de seus filhos, e também da comunidade. Isso mostra o cuidado crescente dos pais pela educação de seus filhos, tornando-os, assim, parceiros da escola para educar e formar cidadãos.

Projeto Nacional de Intercâmbio de Experiências Educacionais

Trabalho realizado com alunos do Jardim de Infância I e II da Escola Municipal de Ensino Professora Maria de Lourdes Mattar, na cidade de Araras, Estado de São Paulo.

Executores e relatores do projeto

Rosemeire Auxiliadora Hernandes Ruegger é licenciada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil. Professora de Educação Infantil da Rede Pública Municipal de Araras-
-SP. E-mail: rose_ruegger@hotmail.com.

Liliane Maria Consoni Pedron é licenciada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil. Professora de Educação Infantil de Rede Pública Municipal de Araras-SP. E-mail: lilianemariacp@hotmail.com.

Referências bibliográficas

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______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v. 1 e 2. Brasília, 1998.
BOPP, Raul. Casos da Negra Velha. In: Antologia de Poesia Brasileira para Crianças. São Paulo: Girassol, 2002.
MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita do Laço de Fita. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
Revista Projetos Escolares: Educação Infantil. São Paulo. v. 1. n. 3. p. 30. jan. 2004.
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TILLMAN, Diane; HSU, Diana. Atividades com Valores para Crianças de 3 a 6 Anos. São Paulo: Confluência, 2004.
Vera Lúcia. Cultive o Amor. In: ______. O Amor. Andirá: VL Santos Disc, 2005. 1 CD-ROM.
Site consultado: www.veralucia.art.br.

Fonte: Revista do Professor. Porto Alegre: CPOEC. Ano XXV. n. 100. out./dez. 2009.

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