Edição 44

Em discussão

Um olhar sobre o semiárido

Na última edição da revista Construir, com o tema Há de se Cuidar da Vida, fomos desafiados a lançar um novo olhar para a região semiárida mais populosa do planeta: a nossa, a brasileira.

semiarido

Como professores, nós somos convocados a repensar os conteúdos dos livros, principalmente os de Geografia e Ciências. Acrescentar ao trabalho desenvolvido as diretrizes da Conferência das Partes da Convenção do Combate à Desertificação e à Seca (COP3). Esse encontro aconteceu há dez anos no Recife, quando foi criada a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) e organizada segundo o documento-síntese das discussões da COP3. Para nós, educadores, fazem-se leitura e comunicação obrigatórias. As informações contidas nos livros didáticos não propõem uma solução para o problema de quinhentos anos, a seca. Um semiárido para convivência e vida, onde o homem possa desenvolver suas atividades com dignidade, foi apontado no encontro, e nós, pedagogos da esperança, temos que contemplar os nossos estudantes com essa informação.

Paulo Freire nos diz: “Ninguém liberta ninguém, as pessoas se libertam em comunhão”. Comentamos neste artigo algumas experiências pedagógicas realizadas, outras em andamento e, mais uma vez, chamamos escolas para fazerem parte desta mesa que se chama Um Olhar sobre o Semiárido Brasileiro.

Uma escola

O projeto 100 Cisternas no Centenário de Nascimento de Dom Helder Camara nasce de uma experiência exitosa encampada nos anos de 2004/2005 pelo Instituto Capibaribe do Recife, resultante do trabalho interdisciplinar da turma do 8º ano em parceria com a Cáritas brasileira, através do programa de formação e mobilização social para a convivência com o semiárido chamado 1 Milhão de Cisternas Rurais.

Assim comunicam os alunos César Augusto e Amanda sobre a sua experiência em 2004/2005:

“Em um mundo tão individualista como o nosso, a simples ideia de pensar no próximo é sempre algo muito importante. O fato de estarmos ajudando pessoas do sertão nordestino tão necessitadas foi algo muito gratificante para todos os que participaram do projeto.”
Augusto Cezar Bezerra Martins

“Tive a oportunidade de vivenciar uma realidade ainda desconhecida por mim e por muitos jovens da minha geração — a vida no semiárido nordestino —, e o privilégio de participar da elaboração de um projeto que contribui para amenizar o flagelo da seca através da construção de cisternas.”
Amanda Raissa Abreu e Lima (ex-aluna do Instituto Capibaribe)

Na ocasião, a Campanha da Fraternidade enfocava o tema da água e a preservação do meio ambiente, e o Instituto Capibaribe decidiu estudar o livro Água de Beber, editado pela Cáritas brasileira, o que o motivou a interagir com a turma de educandos para a campanha das cisternas. Daí, em 2005, a entrega à Cáritas regional dos recursos angariados equivalentes à construção de uma cisterna de placas.

Projeto desenvolvido

Título: Água Boa Não É Favor, É um Direito

Introdução

Um novo mundo é possível e já existe: a solidariedade na superação dos desafios.

Objetivos

Esclarecer que o acesso à água de qualidade e sua manutenção é um direito de todo cidadão.

• Desmistificar a compreensão da fatalidade da seca, popularizando o conceito de convivência com o semiárido.

• Sensibilizar para a importância da cisterna, construindo uma consciência coletiva responsável.

• Divulgar o programa 1 Milhão de Cisternas.

• Compreender a construção das cisternas segundo o modelo criado por Nel, pedreiro de Sergipe.

• Conhecer e divulgar a Moringa Oleifera e sua importância no processo de floculação e limpeza da água.

• Promover a multidisciplinaridade.

Metodologia

Pesquisas em locais nos quais cisternas já foram construídas ou estão em processo de construção.

• Análise de textos coletados em livros e teses.

• Comparação entre o conhecimento acadêmico e o popular.

• Palavras-chave: água, semiárido, solidariedade, cisterna, direito.

• Fontes de pesquisa: www.cliquesemiarido.org.br; www.caritasne2.org.br; livros didáticos de Geografia e Ciências.

Como resultado desse processo, vários educandos foram até as comunidades onde há cisternas construídas e/ou em fase de construção para conhecer o programa concretamente. Então, a partir da visita, vem o encantamento para somarem-se ao mutirão da construção de 1 milhão de cisternas.

Por isso, a coordenação do Instituto Capibaribe procurou, no ano de 2008, a Cáritas brasileira, e, em diálogo, surgiu então a proposta do projeto com as demais escolas.

Cem escolas, 100 Cisternas no Centenário de Dom Helder Camara. A partir de convites a algumas escolas da Região Metropolitana do Recife, lançamos o projeto na CNBB.

Repleta de fotos, a próxima edição trará tudo que aconteceu no evento. Aguarde!

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