Edição 20

Ambiente-se

UMA BOMBA CHAMADA CIGARRO

Câncer de boca, língua, esôfago, faringe e pulmão, impotência sexual, problemas cardíacos, derrames… Esses são alguns dos problemas provocados pelo cigarro. Dados do Ministério da Saúde revelam que o fumo é responsável pela maioria das mortes causadas por câncer no pulmão (90%), cardiopatia (25%), derrame (25%), bronquite e enfisema (85%) e pela metade dos casos de câncer de pele em todo o País.

Os números são assustadores e acabam mostrando que o cigarro, com aquela estrutura tão pequena que deleita e vicia o fumante, é, por assim dizer, uma verdadeira bomba, de efeitos devastadores para a saúde. Num passado não muito distante, o fumo já foi mostrado ao mundo como símbolo de glamour. Não raro, estrelas do cinema e da televisão apareciam em filmes e novelas ostentando um cigarro entre os dedos, em meio a longas baforadas. Com isso, pareciam exalar valores como elegância, nobreza, sobriedade e força.

As propagandas da indústria do fumo sempre se esmeraram em mostrar que cigarro seria, contraditoriamente, sinônimo de saúde. Basta lembrar que normalmente os anúncios estavam associados aos esportes e à juventude. Exemplo bem claro do quanto se associava o cigarro ao imaginário buscado pelas pessoas está no caubói forte e viril que aparecia nas propagandas do Marlboro. Vale lembrar que aquele ator morreria de câncer, anos depois.

Nicotina – Essa substância é extraída de uma planta chamada Nicotiana tabacum, mais conhecida como tabaco. No trago de um cigarro, a nicotina leva aproximadamente nove segundos para chegar ao cérebro — daí se pode imaginar a força com que ela entra no organismo. “A nicotina é um alcalóide. Fumada, é absorvida rapidamente nos pulmões, vai para o coração e, através do sangue arterial, se espalha pelo corpo todo e atinge o cérebro”, explica o médico oncologista Drauzio Varella, que apresentou a série Fôlego, no Fantástico, da Rede Globo.

Na reportagem, o especialista alertava a população para os males do cigarro e mostrava um grupo de dependentes que tentava abandonar o vício. O aumento do nível de humor, a diminuição do apetite e a sensação de relaxamento são alguns dos prazeres apontados no cigarro pelos fumantes. Trata-se de uma droga. Lícita, é verdade, mas não deixa de ser uma droga. Entre os efeitos tóxicos provocados pela nicotina estão náuseas, dores abdominais, cefaléia e bradicardia. Isso sem falar que a substância leva à dependência do fumo e pode aumentar os batimentos cardíacos, a pressão arterial, além de alterar a atividade motora e a freqüência respiratória.

Mas não é só a nicotina que agrega males ao cigarro. No tabaco existem mais de 1,5 mil substâncias tóxicas. Isso antes de queimar. Depois de queimado, com a mudança na estrutura dos componentes, calcula-se que podem ser encontradas mais de 4 mil substâncias no cigarro. Na sua fumaça há, por exemplo, monóxido de carbono, furfural, alcatrão e benzopireno, que pode provocar câncer.

Fumantes passivos – As pessoas que estão perto dos fumantes também são prejudicadas com o vício, mesmo sem fazer uso direto do cigarro. Por isso, são chamadas de “fumantes passivos” ou “fumantes solidários”. Estes são três vezes mais expostos a doenças como bronquite, pneumonia, sinusite e outras infecções respiratórias do que as pessoas que fazem uso direto dos cigarros. Fetos de mães fumantes são atingidos pelos efeitos maléficos do cigarro. Entre os problemas que a nicotina pode levar ao feto estão: baixo peso, menor estatura do recém-nascido, aumento dos batimentos cardíacos, graves alterações neurológicas e má-formação de órgãos. Além disso, o risco de aborto aumenta consideravelmente. Os componentes tóxicos da nicotina também podem ser transmitidos através do leite materno.

No difícil processo de tentar largar o cigarro, é durante as crises de abstinência — que, tal como com o álcool e as drogas ilícitas, podem acometer o ex-usuário —, muitos fumantes desistem. Aumento do apetite, ganho de peso, mudanças de humor, irritabilidade, distúrbios do sono, ansiedade e diminuição da freqüência cardíaca são alguns dos problemas que o ex-fumante enfrenta durante a crise de abstinência. Porém, vale lembrar que, por mais difícil que pareça, esse período é passageiro. Depois dessa fase, o que vem pela frente normalmente é mais fácil (a não ser, claro, que o fumo já tenha levado conseqüências mais danosas ao organismo, que precisam ser devidamente tratadas).

Propaganda – Hoje já existem leis regulamentadas pelo Governo Federal que restringem a propaganda de cigarro. O patrocínio da indústria de cigarros a eventos culturais e esportivos, por exemplo, está proibido, bem como a venda do fumo a menores de 18 anos. Além disso, a propaganda é restrita a ambientes internos (como bares e boates).

O questionamento é: se o cigarro é quase como uma “bomba atômica” dentro do organismo da pessoa, por que, de uma vez por todas, não se proíbe a sua venda? Será que a indústria do tabaco é mais importante do que a saúde da sociedade? A proibição total e um trabalho educacional de conscientização dos males do cigarro não poderiam fazer surgir uma sociedade mais saudável e, por conseqüência, até a saúde pública também estaria gastando menos, uma vez que as doenças derivadas do fumo seriam menos freqüentes nos hospitais? Fica o questionamento.

O QUE ACONTECE QUANDO A PESSOA DEIXA DE FUMAR?

cigarro2Após 20 minutos do último cigarro: deixa de poluir o ambiente; a pressão arterial e a freqüência cardíaca voltam ao normal.
Após 8 horas: o nível de monóxido de carbono no sangue cai para o normal, e o nível de oxigênio se eleva.
Em 24 horas: a chance de um ataque cardíaco diminui.
Após 48 horas: melhoram o paladar e o olfato.
Depois de 72 horas: aumenta a capacidade pulmonar e melhora a respiração.
Depois de 2 semanas a 3 meses: melhoram a circulação e a função pulmonar.
No período de 3 a 9 meses: melhoram a tosse e a congestão nasal; os pulmões passam a eliminar melhor as secreções e o risco de infecção diminui; aumenta a energia.
Depois de um ano: a chance de morte por ataque cardíaco se reduz em 50%.
Depois de cinco anos: chance de morte por um ataque cardíaco se reduz ao nível da de um não-fumante; a chance de um câncer de pulmão se reduz a 50%.
Após 10 anos: a chance de câncer de pulmão cai a níveis semelhantes às de um não fumante; a incidência de outros cânceres, como de boca, laringe, esôfago, bexiga, rins e pâncreas também se reduz.

Fonte: Tobaco Free Schools – University of Colorado Health Sciences Center.
Matéria publicada na Revista Fácil – Ano VIII – edição 11 – 2003.

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