Edição 76

Como mãe, como educadora, como cidadã

Vamos comer pizza?

Zeneide Silva

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“Vamos comer pizza?” Essas foram as palavras que pronunciei ainda no cemitério, logo após o sepultamento de meu pai.

Comer pizza lembra alegria, família, aniversário, comemoração e outros significados, pois acredito que era este o sentimento que senti naquela hora: alegria.

Alegria de ter enterrado meu pai com 82 anos (a tristeza e a saudade fazem parte do momento do luto e devem ser vividas).

Temos receio de falar de morte. Precisamos aprender a viver, como também precisamos aprender a lidar com a morte. Precisamos saborear a morte não como uma coisa macabra, mas como uma realidade da qual não se pode fugir, cujos sentimentos mais profundos precisamos descobrir. Sabemos que vamos morrer, por isso deveríamos pensar sempre que a vida é uma grande semeadura. Em nossa vida terrena, estamos semeando o que iremos colher na vida eterna. Nossas obras nos seguirão. A morte também nos diz que temos de parar de infernizar a vida do outro; só temos esta vida para deixarmos rastros.

Alegria de passar para nossos filhos que devemos aceitar a vontade de Deus na certeza de que Ele sempre faz o melhor.

suerz-deposit“Enterramos o vô, mas ele continuará vivo em nosso coração!” Levar meus filhos a orar pelo vô é levá-los a acreditar que a vida não termina com o último suspiro. É acreditar na eternidade da vida. É acreditar que a pessoa falecida continua sendo a mesma, porém melhorada, plenificada, transformada. Ela continua crescendo no plano espiritual. Esse crescimento nunca para. É o eterno louvor.

Alegria de ter a consciência de dever cumprido — como filha, fiz tudo o que era possível, já que o impossível só pertence a Deus.

Alegria de passar por uma experiência de fé.

Recentemente, fui ao velório do pai de uma amiga minha, chamada Margareth. Tive a alegria de estar perto dele horas antes de sua partida. Sabíamos que ele estava partindo. Mesmo estando seus filhos ao lado dele, a experiência da morte cada um enfrenta só.

No outro dia, depois do sepultamento, minha amiga olhou para mim e disse: “Zê, meu pai partiu. O que faço agora?”. Alisei sua cabeça e disse com firmeza: “Vá comer pizza”. Ela parou, olhou para mim e disse: “Comer pizza?”. “Sim, comer pizza”, respondi. Fui embora e, depois de algumas horas, liguei para saber como estava, e ela, sorrindo, me falou: “Zê, estou na pizzaria com minha mãe, minhas irmãs e meu filho”. Simplesmente sorrimos.

É isso: aprenda a viver a morte, sofra! Não tome remédio, sinta essa dor diante de Deus, compartilhe-a, mas não esqueça de comer pizza.

Um grande abraço.

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