Edição 91

Profissionalismo

Você é um educador-líder?

Armando Correa de Siqueira Neto

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Conheça as 14 competências da liderança servidora

Os conceitos adquiridos sobre liderança — desde a mais tenra idade, através dos diversos comportamentos sociais, sejam na família, na escola ou em associações e entidades — acabam por introjetar as ideias de hierarquia e dominação como sendo o sistema existente no Brasil.

Atribui-se também tal compreensão ao antigo sistema escravocrata e senhorial, o modelo de dependência que ainda prevalece, baseado em concepções de liderança que convertem a educação em símbolo social dos privilégios e do poder dos membros das camadas dominantes.

Todavia, situados no terceiro milênio, percebem-se mudanças de grande vulto nas relações humanas e busca-se compreender, cada vez mais, a essência do que vem a ser o ato de liderança e educar. Tais mudanças se devem ao fato de o homem lançar novos olhares para o seu meio, preocupando-se com uma percepção mais abrangente das dimensões humanas.

É preciso ampliar a visão de liderança, fazendo com que esta compreensão se estenda às várias esferas sociais, especialmente às organizações pelas quais passamos: escola, empresa, Igreja e comunidade do bairro. Então, surge um novo paradigma, o do líder-servo, o qual demonstra ser adequado para as novas necessidades de relacionamento humano — que são estreitar a ação entre liderança e educação — extraindo de ambas as mais profundas essências: servir e aprender.

A liderança servidora e o educador-líder

Faz-se necessária a compreensão dos fundamentos e das competências à formação do perfil de liderança servidora para a atuação do educador que pretende aprofundar o seu relacionamento com o educando. Esse modelo de liderança demonstra ser pertinente e de vital importância para a formação de profissionais que objetivam o crescimento e o desenvolvimento de seus seguidores, levando-se em conta a relevância da aprendizagem neste tipo de relacionamento que preza a autonomia.

Veja abaixo as competências — divididas em cinco gerais e catorze específicas — necessárias para os professores que desejam desenvolver a liderança servidora.

Pessoais e educacionais

1. Adotar fundamentos éticos (como confiança, transparência e responsabilidade social) através de ações colaborativas voltadas às comunidades de convivência.

2. Aplicar teorias e estratégias de aprendizagem, instituindo a cultura do aprendizado de mão dupla continuamente.

Interpessoais

3. Valorizar o desenvolvimento de pessoas, estimulando o seu aperfeiçoamento através do potencial disponível (criatividade, reflexão, inteligência emocional, etc.).

4. Desenvolver relacionamentos e comunicação interpessoal, aprofundando e valorizando o contato humano entre as pessoas.

5. Trabalhar em equipe, oferecendo a abertura necessária para a diversificação proporcionada na ação conjunta.

6. Transitar na diversidade, ampliando as oportunidades de cooperação entre os colaboradores, respeitando-os nas suas mais diversas formas de se manifestar.

Organizacionais

7. Implementar mudanças, criar e inovar, gerando a cultura das transformações mais bem planejadas e comunitárias.

8. Promover o desenvolvimento organizacional, visando o todo na relação entre os colaboradores.

Cognitivas

9. Conhecer os fundamentos e as teorias de liderança, amparando-se nos modelos para refletir e compreender a dinâmica de funcionamento nas múltiplas possibilidades de emprego que a relação líder-seguidor demanda.

10. Pesquisar e analisar dados, embasando-se com conhecimento prévio, organizado, sem perder de vista, contudo, o desenvolvimento da intuição e da exploração dos recursos criativos.

11. Gerir informação e gerar conhecimento, fazendo uso do saber colaborador e ultrapassando os portões do conhecimento acumulado.

Profissionais

12. Solucionar problemas e tomar decisões.

13. Empreender e administrar, tratando do planejamento, da estruturação, da direção e do controle das atividades organizacionais, haja vista a necessidade de existir três tipos de habilidades para a prática do administrador:

Técnica – Uso de equipamentos, técnicas, métodos e conhecimentos para a realização de tarefas específicas.

Humana – Capacidade de se trabalhar com pessoas, entendendo as suas motivações e atitudes.

Conceitual – Consiste na capacidade de lidar com ideias e conceitos abstratos, fomentando filosofias e princípios gerais de ação.

14. Implementar projetos, estimulando a participação comunitária de interesse desde o planejamento até a implementação e o consequente acompanhamento.

O educador-líder surge oportunamente. Vivemos um período de adaptações constantes. Percebemos a necessidade de enxergar holisticamente. Contudo, não conseguimos agir em prol dessa evolução nas relações humanas e educacionais.

Através do serviço prestado pela liderança servidora, é possível obter mais do estudante que participa por meio das suas reflexões e intervenções críticas. As pessoas descobrem em si, com o apoio de uma boa relação educacional, os valores que as motivam a serem criativas, singulares, comunicativas, reflexivas, participativas e aptas a desenvolverem mudanças com maior autonomia.

Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas e professor universitário.
E-mail: selfcursos@uol.com.br.

Fonte: Revista Profissão Mestre. Curitiba: Humana
Editorial. Ano 7, n. 76.

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