Edição 95

Profissionalismo

A importância do desenvolvimento psicomotor para a aprendizagem no âmbito escolar em crianças de 2 a 4 anos

Maria Yhasmym Pinto Bezerra

Introdução

O conhecimento sobre o processo de desenvolvimento psicomotor se encontrou inicialmente dentro dos estudos em Psicologia do Desenvolvimento e foi de grande importância para a compreensão de um dos modos de interação do homem com o meio. De acordo com Alves (2012), o movimento é o meio de interação e atuação da criança com o mundo externo. Em cada fase do desenvolvimento psicomotor, os movimentos vão se desenvolvendo e se aperfeiçoando conforme as necessidades e o meio em que a criança se encontra, objetivando torná-la um ser único, social e integral. Para que ocorram esses movimentos, faz-se necessário o desenvolvimento das capacidades motoras, intelectuais e afetivas, o que resulta no chamado desenvolvimento psicomotor.

O psicólogo do desenvolvimento deve levar em conta que cada criança possui sua forma de ser no mundo, sua individualidade, que deve ser respeitada, assim como precisa tematizar tal forma de ser em sua relação com o ambiente em que está inserido. É comum que, no âmbito escolar, professores se deparem com alunos que apresentam problemas de aprendizagem, e esses déficits muitas vezes afetam o desenvolvimento escolar e geral. Nem todos os problemas de aprendizagem estão ligados a problemas neurológicos; atualmente, essa ideia vem se ampliando graças aos estudos sobre a relação entre desenvolvimento psicomotor e aprendizagem.

O desenvolvimento psicomotor é um tipo de aprendizagem que só se efetiva a partir das experiências do sujeito, tal como podemos observar durante a fase em que a criança está aprendendo a andar (desenvolvimento motor). É importante ressaltar que essas experiências devem ser bem exploradas e aproveitadas. Para um bom desenvolvimento psicomotor, a criança necessita de um ambiente diversificado e que estimule ao máximo seu desenvolvimento.

Justifica-se pelo fato de que foi encontrada, na literatura, uma publicação acerca dessa dificuldade de desenvolver e relacionar de forma correta a psicomotricidade e a aprendizagem com crianças, o que reflete a relevância do presente trabalho para alertar os pedagogos, pais e psicólogos escolares sobre a importância do desenvolvimento psicomotor para a aprendizagem no âmbito escolar em crianças de 2 a 4 anos, bem como sobre os benefícios dessa relação para um melhor aproveitamento da aprendizagem e das relações sociais.

Segundo Martinez, Peñalver e Sánchez (2003), muitos profissionais apresentam dificuldade em desenvolver os trabalhos no âmbito escolar e relacionar de forma correta as práticas psicomotoras com a aprendizagem na Educação Infantil.

Levando em consideração que o âmbito escolar é um dos principais lugares de desenvolvimento da criança, espaço onde ocorre sua interação com o meio e com as pessoas, é possível observar as diferentes estratégias de adaptação de cada criança e como ela faz para se desenvolver no ambiente escolar.

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A presente pesquisa é feita a partir de revisão bibliográfica e possui cunho exploratório que se realiza a partir da consulta da literatura especializada. Para a realização deste estudo, as referências foram divididas em duas categorias, a saber, primária e secundária, sendo a primária formada pelos autores clássicos da literatura psicomotora; e a secundária, por textos complementares, tais como artigos.

Nem sempre sendo notada, a psicomotricidade se encontra nos gestos mais simples e em todas as atividades que desenvolve a parte motora, tendo como objetivo o conhecimento e domínio pela criança, do próprio corpo. Nesse sentido, a psicomotricidade passa a ser um fator indispensável para o desenvolvimento geral e a aprendizagem da criança. Para Alves (2012), o processo de aprendizagem na Educação Infantil tem como base a educação psicomotora; por isso, a raiz dos problemas de aprendizagem, na maioria dos casos, está na base do desenvolvimento psicomotor.

A psicomotricidade passa a ser um fator indispensável para o desenvolvimento geral e a aprendizagem da criança

Breve histórico da Educação Infantil no Brasil

No Brasil, recentemente, as metodologias pedagógicas e escolares da Educação Infantil foram alvo de estudo. Durante muitas décadas, a família era responsável pela educação das crianças, a partir do convívio com os membros da família, ela aprendia as normas e regras da sua cultura. Sobre isso, Machado e Paschoal (2009) apontam que, na sociedade contemporânea, a criança tem a oportunidade de frequentar um ambiente de socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura por meio da interação com seus pares.

Diferentemente dos países europeus, no Brasil a inserção de crianças em creches e pré-escolas se tornou mais comum e significativa nas últimas décadas. Consequentemente houve mudanças nos comportamentos e costumes dos brasileiros, como, por exemplo, em relação ao papel da mulher na sociedade. Isso por conta da entrada da mulher no mercado de trabalho, que, na maioria dos casos, não tinha com quem deixar os filhos e recorria às instituições de ensino (BARRETO, MELO, SILVA, s/d). Essa reorganização social, em especial com a chegada das novas indústrias, alterou os hábitos e costumes das famílias.

No Brasil, as primeiras tentativas de organização de creches surgiram com caráter assistencialista, com o objetivo de auxiliar as mulheres que trabalhavam fora de casa. Até o fim dos anos 1970, pouco se fez em relação à legislação para garantir o ensino na infância.

Foi a partir da Constituição de 1988 que a Educação Infantil do Brasil reconheceu o direito das crianças de frequentarem a creche e a pré-escola. Nesse período, ocorreu a reafirmação do direito ao ensino público para todos os níveis. Tanto as creches como as pré-escolas passaram a ser incluídas na política educacional do País, mudando de uma perspectiva assistencialista para uma perspectiva pedagógica, que vê a criança como um ser social e histórico e que pertence a uma determinada cultura (BARRETO, MELO, SILVA, s/d).

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A educação é um processo pertencente ao desenvolvimento humano. No início da vida, os pais e a família são os principais responsáveis por esse processo, pois é no ambiente familiar que se começa a aprender o que é certo e errado, o que pode ou não ser feito. Nem tudo o que é ensinado são verdades concretas, porém isso só é sabido quando o sujeito passa a compreender sozinho os significados e valores educativos que lhes foram repassados. Tal compreensão ocorre no início da vida escolar, já que é no processo de aprendizagem escolar que acontece o confronto entre os conhecimentos transmitidos pela família e os conhecimentos transmitidos pelos professores, que devem trabalhar o incentivo à criatividade, à busca pelo conhecimento e pela criticidade (NASCIMENTO, 2011).

De acordo com Machado e Paschoal (2009), é significativo o avanço em relação aos direitos da criança, uma vez que a Educação Infantil, além de ser considerada a etapa básica da educação objetiva possibilitar condições adequadas para o desenvolvimento do bem-estar infantil, assim como os desenvolvimentos físico, motor, emocional, social e intelectual e a ampliação de sua experiência.

É sabido que a educação, não só a infantil, mas em todos os seus níveis, tem uma função pedagógica, ou seja, um trabalho voltado para a realidade e o conhecimento das crianças e que, baseada nisso, desenvolve atividades com significado concreto para a vida delas. O educador infantil deve ter um olhar amplo e possuir como objetivo principal a organização e a boa prática de atividades que ajudem no desenvolvimento das crianças.

A organização do trabalho pedagógico deve ter como ponto de partida proporcionar o desenvolvimento da autonomia à criança, isto é, desenvolver a capacidade de ela construir suas próprias regras, comportamentos e meios de interações, para que possam ser negociados com outras pessoas, adultas ou crianças. Barreto, Melo e Silva (s/d) enfatizam que, para se organizar o dia a dia das crianças da Educação Infantil, faz-se necessário conhecer o grupo de crianças com que se vai trabalhar e, consequentemente, partir para o estabelecimento de atividades diárias de acordo com as necessidades e realidade delas. Vale ressaltar que o educador deve estar atento aos espaços onde as crianças mais gostam de brincar, como essas brincadeiras se desenvolvem e em quais momentos são mais tranquilas e mais agitadas. Esse conhecimento é importante para que a estruturação espaçotemporal tenha significado e possa desmistificar a origem de cada atividade.

É fundamental para a Educação Infantil não esquecer que cada criança possui suas particularidades. Segundo Barreto, Melo e Silva (s/d), o maior desafio da Educação Infantil e dos profissionais é compreender, conhecer e reconhecer que cada criança possui sua subjetividade, seu jeito único de ser e estar no mundo. É preciso considerar que as crianças são diferentes umas das outras e que cada uma tem um tempo diferente de aprendizagem. Por isso, faz-se necessário uma preparação por parte dos pedagogos para que, assim, possam proporcionar às crianças uma boa educação levando em conta as condições de aprendizagem e considerando a subjetividade de cada criança.

Segundo Nascimento (2011), atualmente, no Brasil, está sendo vivido um momento histórico para a reflexão e a prática em relação às políticas públicas voltadas para as crianças, pois é possível observar que a educação e o cuidado na primeira infância estão sendo tratados como assuntos prioritários por parte dos governos Federal, Estadual e Municipal e também pelas organizações da sociedade civil, por um número crescente de profissionais da área pedagógica e de outras áreas do conhecimento, que veem na Educação Infantil uma verdadeira ligação para a formação integral do cidadão.

A Educação Infantil deve ser entendida em um sentido amplo, que leve em consideração todas as práticas educativas vividas pela criança no âmbito familiar e no âmbito social. Envolve tanto a educação familiar e social como a educação que é recebida na escola.

Desenvolvimento psicomotor

De acordo com Passos e Rabelo (s/d.), a noção de desenvolvimento está ligada à continua evolução, que na maioria das vezes não é linear, e se dá por meio de vários aspectos, como afetivo, cognitivo, motor e social. Essa contínua evolução não deve ser vista nem determinada apenas por processos biológicos, mas, sim, pelo meio (cultura, sociedade, interações e práticas), que é o ponto de maior importância para o desenvolvimento humano.

O desenvolvimento infantil vai ser determinado pela própria vida da criança, ou seja, quanto mais oportunidades a criança tem de desenvolver suas capacidades, maiores serão as chances de se apropriarem da cultura em que estão inseridas (ARIOLI, 2007).

Os primeiros anos de vida são de grande importância para o desenvolvimento; nesse momento, é fundamental que a criança pertença a um ambiente favorável para seu desenvolvimento e que disponha de estímulos.

Segundo Ariole (2007), o desenvolvimento psíquico da criança se inicia com sua inserção no mundo que é mediado pelos adultos, em especial pelos pais, elas sofrem a forte influência das condições sociohistóricas, culturais, econômicas e políticas do local onde irão se desenvolver. Com isso, se apropria do mundo em que vivem. No processo de apropriação, são formadas funções e habilidades que não são totalmente inatas, e sim estimuladas e desenvolvidas a partir das características biológicas de cada uma e de sua relação com o ambiente em que está inserida e com as pessoas.

Silva (2010) diz que psicomotricidade é a relação entre a motricidade, a cognição e a afetividade. É uma ciência da educação que objetiva educar e desenvolver os movimentos envolvendo as funções da inteligência, além de estudar o homem através do seu corpo em movimento, tanto em relação ao seu ambiente quanto em relação a si próprio, estando presente nos gestos mais simples e tendo como objetivo o conhecimento e o domínio da criança do seu corpo. A psicomotricidade é um elemento essencial e indispensável para o desenvolvimento geral e uniforme e para a aprendizagem da criança.

No processo de desenvolvimento psicomotor, a criança é vista em sua totalidade, ou seja, não separa o ser intelectual do emocional e racional, sempre considerando suas habilidades como um campo a ser desenvolvido de modo prazeroso e significativo. Para que esse processo ocorra de forma adequada, é crucial considerar e respeitar a subjetividade de cada criança.

Segundo Alves (2012), para compreender o desenvolvimento psicomotor, faz-se necessário ressaltar que cada criança é única, possuindo assim sua subjetividade. Mesmo as fases do desenvolvimento sendo comuns para todos, os aspectos físicos, afetivos, o meio social e o ambiente familiar variam de criança para criança. Prova disso é que crianças com a mesma idade se comportam de forma diferente mesmo estando em um ambiente igual, como, por exemplo, a mesma sala de aula. Um dos fatores de maior relevância no âmbito da Educação Infantil na atualidade é o de reconhecer a criança como um ser único, ou seja, reconhecer sua subjetividade.

A estimulação do desenvolvimento psicomotor é fundamental para que aconteça a interação dos movimentos com a emoção e a cognição do indivíduo (Silva, 2010). Para que essa estimulação ocorra de forma adequada, é fundamental que a criança disponha de um bom ambiente e de facilitadores para auxiliar no desenvolvimento das capacidades psicomotoras.

Alves (2012) ressalta que, no trabalho da psicomotricidade, o professor deve assumir o papel de facilitador do desenvolvimento da capacidade de aprender, dando para a criança tempo para suas próprias descobertas, oferecendo estímulos cada vez mais variados, proporcionando experiências concretas e vividas com o corpo inteiro.

Sobre as fases do desenvolvimento psicomotor, Silva (2010) diz que não devem ser consideradas somente como uma maturação neurológica, mas, sim, como um processo relacional. Levando em consideração as relações do indivíduo com o ambiente em que está inserido e as relações com os demais. As fases do corpo podem ser resumidas em três fases até chegar à perfeição; primeiro, o corpo é percebido; em seguida; é conhecido; e, finalmente, é vivido.

Vamos aqui passear brevemente pela escala do desenvolvimento psicomotor ressaltando as principais características de cada fase dos 2 aos 4 anos segundo Fonseca (2009):

Aos 2 anos:
Chuta uma bola, explora intencionalmente os brinquedos, faz traços horizontais, utiliza frase de pelo menos quatro palavras, consegue abrir uma porta e/ou gaveta, ajuda ativamente a se vestir ou a se despir, consegue juntar brinquedos de encaixe, imita movimentos verticais e horizontais.

Aos 3 anos:
Prevalece a vontade de se afirmar; geralmente nessa fase a criança expressa interesse em atividades em que é solicitada que faça desenhos; brinca com outras crianças e já assume papéis na brincadeira, apresenta uma melhor percepção do espaço, equilibra-se em um pé e na ponta dos pés por um pequeno período de tempo, controla-se em equilíbrio com os olhos fechados, coordena a marcha e a corrida, demonstra o domínio da coordenação motora grossa.

Aos 4 anos:
Nessa fase, já consegue desenvolver atividades como segurar o lápis na posição correta e pedalar; demonstra interesse pelos sentimentos das pessoas que estão ao seu redor, como, por exemplo, perceber que sua mãe está triste e tentar confortá-la; consegue fazer desenhos do corpo e de casas, apresenta noção em relação ao corpo, sobe e desce escadas alternadamente, sabe seu nome completo, sexo, idade e, em alguns casos, o endereço; sabe esperar sua vez.

Para Fonseca (2009), nos primeiros anos de vida a criança é compreendida por meio dos gestos, o movimento constitui grande parte das expressões de suas necessidades até o momento em que a linguagem começa a ser constituída.

Psicomotricidade no âmbito escolar

A aprendizagem da criança tem como base a Educação Psicomotora. De acordo com Silva (2010), o período da Educação Infantil possui como principal objetivo auxiliar a criança a ter uma percepção adequada de si mesma, entendendo suas reais possibilidades e limitações, e, assim, passar a se expressar com maior liberdade, aprendendo e aperfeiçoando novas capacidades motoras. A interação da psicomotricidade com a aprendizagem faz com que a criança crie possibilidades para desenvolver habilidades motoras que vão ajudar no conhecimento do seu próprio corpo, em sua movimentação livre, para explorar o ambiente em que está inserida e para facilitar nas expressões verbais e não verbais. A psicomotricidade é favorável à aprendizagem, pois reconhece que diferentes fatores, tanto de ordem física quanto psíquica e social, não atuam separadamente, mas, sim, em conjunto, para que se dê a aprendizagem.

Segundo Pereira e Calsa (2009), as práticas psicomotoras estão sendo deixadas em segundo plano pelas escolas, que ainda hoje pensam no ato de escrever como um ato motor que pode ser fixado por meio dos movimentos mecânicos e sem sentido. Na maioria das vezes, a principal preocupação dos educadores em relação ao processo de aprendizagem se restringe a habilidades como coordenação motora, discriminação visual e organização espacial. A metodologia usada pelas escolas e pelos próprios educadores ainda está presa às aulas tradicionais que se resumem às quatro paredes da sala de aula, deixando de lado a interação com as pessoas e com o ambiente em que estão inseridas as crianças, não lhes dando oportunidades de experimentar outros caminhos que levem a aprender o que é proposto pela escola.

Mesmo com os educadores sabendo da importância de relacionar o desenvolvimento psicomotor com a aprendizagem, ainda é frequente encontrar escolas que apresentam um caráter mecanicista muito forte no que diz respeito às práticas educadoras na Educação Infantil, fazendo o uso incorreto das práticas psicomotoras nas séries iniciais, que são base para séries seguintes.

De acordo com Martinez, Peñalver e Sánchez (2003), as práticas psicomotoras devem ser entendidas como um processo de ajuda que acompanha a criança em seu próprio percurso de desenvolvimento, que vai englobar as capacidades motoras, cognitivas e afetivas. As práticas psicomotoras respeitam as potencialidades de cada criança e seu direito de ter um lugar na sociedade. A criança pode se expressar por meio de diversos caminhos de comunicação, interação, expressão e criatividade, o que auxilia de forma direta nas questões relacionadas à aprendizagem.

No âmbito escolar, é fundamental que os professores utilizem-se das práticas psicomotoras, já que estas são fundamentais para o processo de aprendizagem de seus alunos, como, por exemplo, o desenvolvimento do esquema corporal, da lateralidade, da estruturação espacial, da orientação temporal e pré-escrita. Porém, se essas práticas forem utilizadas de forma errada (o que acontece frequentemente), poderão causar danos bastante relevantes para a aprendizagem e o desenvolvimento psicomotor dos alunos. O aluno que tem o desenvolvimento psicomotor mal constituído tem alta probabilidade de apresentar problemas na escrita, na leitura, na diferenciação e no reconhecimento das letras, no desenvolvimento da relação com o outro e com o meio em que está inserido, entre outros.

Segundo Silva (2010), para que o desenvolvimento psicomotor contribua de forma positiva e construtiva para a aprendizagem da criança, é indispensável que o professor esteja atento à fase do desenvolvimento em que se encontra essa criança, assumindo o papel de facilitador no processo de aprendizagem, tendo como base de trabalho o respeito, a confiança e o afeto mútuo. É importante que o professor da Educação Infantil estabeleça com seus alunos uma relação de ajuda, ficando atento para as atitudes e percepções deles.

É fundamental, para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, a interação e o conhecimento dos objetos que a rodeiam e o uso que faz deles em relação a si mesma e aos outros. O modo como a criança utiliza os objetos, em relação a si e aos outros, é informativo sobre sua maneira de ser. Para Martinez, Peñalver e Sánchez (2003), as sensações que a criança tem ao atuar com objetos se manifestam em percepções e, mais tarde, em representações que lhe proporcionam a possibilidade de operar com eles, associando, classificando, ordenando e seriando, o que constitui o início da lógica matemática e do acesso à leitura e à escrita. Vale ressaltar o valor afetivo que os objetos têm para a criança. Esse valor dado aos objetos e apresenta uma vasta informação sobre seu desenvolvimento afetivo e emocional e sobre sua maturação social.

Segundo Bee (2003), no ambiente escolar, é facilmente percebido como a interação entre o meio social e os objetos são de fundamental importância para o desenvolvimento psicomotor da criança. Podemos tomar como exemplo uma criança que vai para seu primeiro ano escolar; na maioria dos casos, ela chega à escola chorando pela ausência da mãe, com um repertório de palavras bem reduzido e com a coordenação motora e o esquema corporal pouco desenvolvido. Com o passar do tempo, ela já interage com os colegas e professores, para de chorar, vai expandindo seu repertório de palavras com músicas e diálogos e passa a desenvolver sua coordenação motora fina e global a partir do uso de atividades. Note que nesse exemplo foi citada a interação da criança com o social, como os colegas e professores, e com os objetos, com o uso de brincadeiras e músicas para o desenvolvimento do esquema corporal, da relação de confiança entre aluno e professor, dos movimentos e da cognição.

A todo o momento, é possível observar os benefícios e a importância do desenvolvimento psicomotor para a aprendizagem no âmbito escolar em crianças nas séries iniciais. Faz-se necessário que as práticas psicomotoras orientadas pelo professor no que diz respeito a essa interação aconteçam de forma correta, e que o respeito e o conhecimento sobre seus efeitos na subjetividade da criança sejam sua base de trabalho.

O uso de atividades psicomotoras no âmbito escolar vai ajudar a criança a desenvolver a interação com os demais

Considerações finais

O presente estudo, mediante pesquisa bibliográfica, reforçou que o desenvolvimento psicomotor possui íntima relação com o processo de aprender, além de relatar sua importância para a aprendizagem no âmbito escolar em crianças de 2 a 4 anos.

Vale ressaltar a participação do educador no dia a dia da criança, já que possui um papel importante no processo de aprendizagem, devendo respeitar e compreender a subjetividade de cada criança, bem como o ambiente em que está inserida, e objetivar uma boa estimulação do desenvolvimento psicomotor. É fundamental que o educador faça uso das práticas psicomotoras de forma adequada na elaboração das atividades, saindo da educação tradicional e investindo mais em uma educação que proporcione não apenas o desenvolvimento motor, mas também um desenvolvimento cognitivo e afetivo. Percebe-se como é importante proporcionar aos professores informações e formações sobre a psicomotricidade no âmbito escolar e dessa forma oferecer possibilidades de elaborar um trabalho voltado para as necessidades das crianças.

O foco principal deste trabalho foi de explicitar como é importante que as crianças tenham oportunidades de vivenciar situações positivas no âmbito escolar, em especial nas séries iniciais, e assim passem a conhecer e confiar em seu próprio corpo e no seu desenvolvimento global, evitando ao máximo que elas passem por experiências que as desvalorizem, mas, sim, proporcionem a descoberta das suas habilidades e os melhores meios para aprender aquilo que lhe for proposto.

Para finalizar este artigo, porém sem concluir, espero que outras pesquisas sejam feitas a partir da temática Psicomotricidade e Aprendizagem na Educação Infantil e, dessa forma, venham a contribuir de forma positiva no desenvolvimento das crianças, ampliando o conhecimento e diversificando as práticas pedagógicas.

Maria Yhasmym Pinto Bezerra é formada em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio. E-mail: yhasmymbezerra@outlook.com

Referências

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