Edição 66

Espaço pedagógico

A moral da história

Paulo de Camargo

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É isso que está faltando na educação das crianças. Saiba como lidar com a formação de valores sem escorregar para o autoritarismo.

Cena 1: A mãe chega afobada na escola, com cara de desconsolo, um uniforme na mão e uma criança birrenta, de 4 anos, ainda de pijama. Diz para a professora: “Veja se consegue colocar seu uniforme, porque eu não consegui”.

Cena 2: Os pais de um menino de 10 anos dão uma bronca na coordenadora pedagógica: “Meu filho não sabe segurar o garfo. Vocês não ensinam essas coisas, não?”.

Cena 3: A mãe do adolescente liga aflita para a diretora do colégio. “Por favor, convença meu filho a não pegar mais escondido o carro de meu marido.”

As três cenas acima são reais e aconteceram em escolas particulares de São Paulo. Longe de serem exceção, ilustram uma situação que vem se tornando uma regra na educação de crianças e adolescentes: escola e família vivem hoje um jogo de empurra sobre até onde vai o papel de cada uma. Enquanto isso, avolumam-se as queixas sobre indisciplina e problemas de aprendizagem decorrentes. E não estamos falando aqui só de adolescentes. Trata-se de um problema que não escolhe idade. Escolas e famílias compartilham um universo de dilemas que vão desde crises de birra infantil até o envolvimento crescente e precoce dos jovens com álcool, cigarro e drogas ilegais. Ao lado de uma sensação de impotência dos adultos, que não conseguem mais impor suas regras, há entre pais e professores uma perplexidade que os leva a lotar salas de terapeutas e auditórios atrás de informações e alternativas.

A onda rebelde ganhou vários nomes ao longo dos últimos anos, dependendo do diagnóstico: perda de autoridade, falta de limites, protagonismo juvenil e até “geração da coxa de galinha”, criada por psicólogos para descrever as crianças de hoje, que, ao contrário das crianças das gerações passadas, recebem dos pais a parte do leão (no caso da galinha, a coxa). Para o psicoterapeuta e consultor organizacional José Ernesto Bologna, a realidade de hoje é consequência de um conjunto de transformações que marcaram o século XX, como a perda do papel da religião como fonte de moralidade, a desestruturação da família e o nascimento de um novo status para o jovem, que passou a ser reconhecido como uma força social com vontade própria — para transformar, para reivindicar e, claro, para consumir. E quem é que vai negar poder ao único sujeito da casa ou do escritório que sabe instalar o programa antivírus no computador, programar o DVD e arquivar telefones na agenda do celular? “Ser jovem passou a ser um ideal para toda a sociedade, mesmo para os idosos”, afirma Bologna.

Uns acham que é perda da autoridade; outros, falta de limites. O fato é que há uma crise na Educação

Hoje pode parecer que as crianças e os adolescentes sempre foram assim, mas não é verdade. Essa crise começou a ser sentida a partir dos anos 1980 e tem traços próprios. A rebeldia, que leva os jovens às ruas desde a metade do século passado, não é um dos mais marcantes. Hoje, trata-se mais de um tipo de laissez-faire debochado e individualista, que às vezes descamba para a impertinência. Não foram poucos os professores ou bedéis a ouvir a célebre frase: “Você não pode me mandar embora, pois sou eu quem paga a escola e o seu salário”.

Basta procurar na memória e logo cada um tem um caso para contar, muitas vezes na própria casa.

A boa e velha moral

Pressionadas pelas famílias, as escolas começaram a reforçar o trabalho de formação dos jovens, especialmente ao longo dos últimos anos. “Coxas de galinha” e outras explicações, talvez verdadeiras, mas provisórias, perderam espaço. Cada vez mais educadores e pais vêm percebendo que, quaisquer que sejam as abordagens, elas representam, tão somente, a ponta do iceberg, a face mais visível de uma questão que remete às raízes do relacionamento humano e do processo educativo: o dilema é desenvolver atitudes e valores positivos. Moral da história é o que está faltando.

Mas, antes de torcer o nariz para a moral, essa palavra tão desgastada, que tal olhá-la sem preconceito? Afinal, o que é moral? Bem, a resposta já deu muito pano para manga na filosofia, especialmente por sua diferença com a ética. Segundo o psicólogo Yves de La Taille, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, autor de Vergonha – A Ferida Moral, a pergunta da ética é: “Que vida eu quero viver?”, enquanto a da moral é: “Como devo agir?” e, por consequência, “Quem eu quero ser?”. Ambas, portanto, estão ligadas ao sentido que cada um dá à própria vida. Ou seja, o problema é maior do que simplesmente falta de limites. Muitos autores, entre eles Yves, avaliam que o Ocidente padece de uma crise moral que se manifesta, por exemplo, pelo excessivo individualismo e pela violência que se alimenta da pouca importância que se dá ao outro, considerado muitas vezes apenas como um degrau para se obter algum prazer.

Ficou mais complicado hoje ser pai ou mãe? De maneira geral, sim. Para Bologna, assim como não se pode mais arrancar os dentes em barbeiros, a Educação também deixou de ser um tema de senso comum. Hoje requer informação e apoio, e isso exige trabalho. Se o que nossos pais faziam antes não funciona mais e se não dá para pedir ajuda ao bispo, o jeito é recorrer à escola.

Socorro, professor!

Em assuntos complicados, ajuda profissional é sempre bem-vinda. O problema é que, ao mesmo tempo que pedem socorro, os pais têm suas próprias soluções. Nesse ambiente sem regras claras, falar de valores é como uma discussão sobre futebol numa roda de amigos: todo mundo tem razão. “Cada vez mais, quando a escola toma medidas disciplinadoras, a primeira providência dos pais é passar a mão na cabeça dos filhos, justificando seus atos e posicionando-se contra a escola”, recla-ma a diretora de um colégio de elite na zona sul de São Paulo.

Papel da escola é papel da escola. Papel de pai é papel de pai. Ambos precisam definir claramente seus códigos de conduta e têm o dever de fazer com que sejam seguidos pelos jovens, afirma o médico e escritor Flávio Gikovate, diretor do Instituto de Psicoterapia de São Paulo. Mas, assim como na fábula de Esopo — em que os ratinhos tiveram uma ideia genial: atrelar um sino ao gato para denunciar sua chegada —, a questão não está apenas em diagnosticar o problema, mas em resolvê-lo. Quem irá pendurar o sino no pescoço do bichano? Ou, no nosso caso, quem é que vai estabelecer as regras? A resposta é: o adulto que o estiver educando. Na escola, o professor. Em casa, os pais.

Adolescentes…

A adolescência traz alguns ingredientes a mais para temperar a grande salada da formação de valores.

Os adultos precisam entender que, nessa fase, a palavra principal não é formação, e sim transformação. “Os jovens colocam os valores em dúvida e querem testá-los, o que é fundamental para seu amadurecimento”, diz o psicólogo e educador Paulo Gaudêncio. Isso, segundo ele, fará com que escola e família percam importância, enquanto crescerá muito a influência do grupo de convívio.

O psicólogo Bologna considera importante também levar em conta que, entre os valores principais da juventude, estão a imitação (dos amigos), a cumplicidade (com os amigos) e a transgressão (de limites).

Os pais não devem se incomodar com isso, o que não significa que não precisem ficar atentos. O apelo do grupo é muito forte, e colocá-lo em questão pode ser um tiro pela culatra. Por isso, nada de desqualificações na frente de amigos. “A família tem de ter cuidado com a imagem pública do adolescente e fazer os acertos necessários em particular”, recomenda Gaudêncio.

Mãos à obra

Segundo uma das definições mais aceitas na Educação, proposta pelo biólogo suíço Jean Piaget (1896–1980), valores são investimentos afetivos. Isso quer dizer que eles se apoiam em conceitos, sim, mas estão ligados a emoções, positivas ou negativas. Ou seja: educar para os valores é convidar alguém a acreditar naquilo que apreciamos — por exemplo, que vale a pena ouvir enquanto outro estiver falando. Ou que, se ficar muito tempo no chuveiro, a água vai faltar para todos. Ou ainda que cada um é responsável por seus atos. Você pode compactuar com os exemplos, mas tenha certeza de que muita gente discorda. E ninguém está certo ou errado, porque não há valor absoluto. Cada um abraça os seus.

Mas todo mundo abraça algum. Por isso o primeiro pecado (já que estamos falando de moral) nesse trabalho é lavar as mãos. Quem acha que está poupando os filhos de uma educação moralista pode estar fazendo pior: passando valores de que nem tem consciência ou abrindo espaço para que outros façam isso.

O segundo pecado é tentar impor o pacote todo. Na marra é pouco provável que isso aconteça, embora muitas vezes também seja necessário. Se não houvesse multas, certamente poucos obedeceriam aos sinais de trânsito. Mas, na complexidade do relacionamento cotidiano, relações baseadas apenas na autoridade rapidamente se desgastam. Afinal, se o espírito do jovem é, desde que o mundo é mundo, transgredir, conquistar e ser “grande”, passar por cima de regras vira esporte.

Daí que é hora de levar a sério um ditado antigo: “Não há ladainha que sobreviva a um mau exemplo”. Esse é o terceiro pecado da má educação. Professores que cobram disciplina, mas chegam atrasados e não cumprem acordos; pais que cobram posturas cidadãs, mas levam a vida com “jei-tinhos”; ou, bem mais comum, que fazem promessas e não as cumprem. Todos eles abrem caminho para a formação de pessoas que dão mais valor à imagem do que à palavra.

Casa de ferreiro…

Então, antes de sairmos buscando normas de conduta para os pequenos, que tal olharmos para o próprio umbigo? Numa época de tantas transformações, tantos apelos de consumo e conforto, tanta massificação, nem pais, nem professores, nem escolas têm muita clareza dos próprios valores. E isso é essencial. Para Gikovate, os pais também precisam ter um código de valores claro e definido, mas não têm. “Desse ponto de vista, a grande maioria das famílias continua muito parecida com a que conheci quando comecei a trabalhar, há quase 40 anos”, diz. “O relacionamento entre professores, pais e adolescentes está muito ruim. E o resultado disso é que os jovens não têm onde se segurar”, afirma o psicólogo e educador Paulo Gaudêncio. Quanto à instituição escola, se não se mobilizar com urgência para definir os valores nos quais embasa seu projeto, também não irá longe. Ficará restrita a um conjunto de adultos com diferentes visões, que dão um recado pessoal em sala de aula.

Então você buscou ajuda, informou-se, definiu seu código de conduta, cumpriu-o à risca e deu o exemplo, no entanto tem os mesmos problemas dos pais dos amigos do seu filho. Pode estar se perguntando agora: “Onde foi que eu errei?”. Claro, não há relações diretas e mecânicas entre educação, valores e sucesso pessoal ou profissional. Existem muitos outros fatores que interferem no comportamento, como, no caso da adolescência, o grupo de amigos, a necessidade de afirmação e aceitação no grupo e a própria pulsão de ser diferente dos pais.

Mas isso não diminui o papel dos pais nessa educação. Os laços afetivos entre pais e filhos são dos mais fortes. “Hoje, sabe-se que o ambiente moral da casa tem grande importância na formação moral das crianças”, diz José Ernesto Bologna. Para ele, os filhos acabam assumindo os valores da família, mas também podem consolidar valores opostos só para recusá-los.

O papel da escola também é fundamental, mas não pode ser comparado ao da família, diz a professora de Educação Infantil Andréa Félix Dias, doutoranda em Psicologia. Segundo ela, na escola a criança e o adolescente estão em um ambiente de grupo e têm de se adequar a um conjunto de regras bastante diferentes das que têm em casa. É ali que farão suas principais amizades, encontrarão referências de outros adultos, como os professores, e iniciarão uma vida independente da de seus pais.

Por isso, também, a importância de se escolher uma escola afinada com os valores das famílias. Pais que querem ver seus filhos como operadores do mercado financeiro não devem procurar escolas antroposóficas. Pais conservadores, daqueles que vão buscar os filhos nas festas, não se darão bem em escolas liberais. Educar, formar pessoas completas, requer diálogo. Para que os diálogos sejam produtivos, é importante que partam de conceitos compartilhados. E, já que essa parceria é tão importante, vale a pena analisar o que ela anda fazendo e deixando de fazer.

O que é a escola hoje

O filósofo e educador Mário Sérgio Cortella costuma contar aos professores, em suas conferências, a seguinte anedota: um monge que foi congelado na Idade Média desperta e se apavora com tudo. Tudo lhe é estranho, até que encontra um lugar familiar: um colégio. Não é curioso que as escolas sejam tão semelhantes ao redor do mundo? Senão, vejamos: é um espaço onde os alunos, sentados em fila, uns após os outros, voltados para o professor, frequentam aulas que duram cerca de uma hora, praticamente das mesmas matérias — e que são as mesmas há décadas, apesar da evolução tecnológica.

Pois essa uniformização — criada para atender ao enorme afluxo de alunos que chegavam à escola, após 1800 — está chegando ao fim. Após séculos, a sociedade recomeça a questionar não apenas os métodos e os recursos que devem ser utilizados no ensino, mas algo mais: afinal, para que serve a Educação e qual deve ser o papel da escola?

Ninguém sabe que modelo de escola substituirá o atual. O que se tem certeza é de que como está não fica. “As coisas mais importantes da vida de um aluno são aprendidas fora da sala de aula”, diz o pesquisador Rui Canário, da Universidade de Lisboa, um dos mais reconhecidos autores na área de inovação educativa na Europa.

Essa sensação de conhecimento inútil, em uma escola inútil, da qual todos nós já reclamamos, não deve ser encarada apenas como um enfado da adolescência. A Educação precisa recuperar o sentido, a razão de ser, recuperando a originalidade do termo. No latim, educar significa algo como conduzir para fora, ou seja, desenvolver as potencialidades do ser humano. Potencialidades intelectuais, artísticas e, por que não?, a capacidade de ser feliz.

Um dos consensos aos quais os educadores chegaram é que não basta mudar o currículo, trocar as matérias, reorganizar o conteúdo. Fazer com que o aprendizado tenha sentido na vida do aluno é uma operação que concilia razão, mas também uma grande dose de sensibilidade. E esbarra na questão de buscar sentido para o aprendizado e para a vida. Ou seja, nos valores.

Há valores melhores que outros?

Se alguém lhe perguntasse se você preza valores como cooperação, solidariedade e espírito colaborativo, provavelmente diria que sim, não é? Mas, na

hora de escolher a escola de seu filho, você optaria por uma que promete prepará-lo para competir e sobressair em um mundo que tem lugar para poucos ou uma que prega a formação de alunos que cooperam pacificamente com os colegas?

Ficou mais difícil, né? Mas calma. Não é preciso viver entre a cruz e a espada para dar a melhor educação possível aos pimpolhos: muitas vezes há soluções que combinam as duas opções. Mas esse exemplo da dicotomia competição/cooperação, comum para pais que vão escolher a escola de Ensino Médio dos filhos, serve para mostrar que não há espaço para ingenuidade. Em uma vida de escolhas também escolhemos valores, e muitas vezes a opção recai sobre alguns que não estão na moda nem são politicamente corretos.

É claro que soa bonito falar de valores humanistas, que quase sempre se referem aos preceitos que vêm norteando a ética do nosso tempo, como o famoso Igualdade, Liberdade, Fraternidade, da Revo-lução Francesa, ou as palavras iniciais da Constituição norte-americana: “Todos os homens nascem livres e iguais…”. Mas a verdade é que valores são relativos: os que servem para uns não servem para outros. E ninguém é melhor ou pior por isso. Não há certo ou errado. Mais importante é ter clareza das próprias posições, reconhecer as próprias crenças, os limites e as aspirações e saber o que embasa nossas escolhas. É isso que permitirá que as ações não se distanciem tanto dos atos. Tanto melhor se nossos valores caminharem em direção a ideais mais universais. “Alguns valores estão presentes na grande maioria das culturas, como a coragem, a perseverança, a compaixão”, diz Bologna. “Do ponto de vista da Educação, é melhor buscarmos esses valores mais estáveis.”

Reflexões como essas são importantes para que os pais encontrem um ponto de equilíbrio na parceria com a escola. Sem dúvida, as escolas devem trabalhar sobre questões de ética, moral, valores. Mas de forma nenhuma podem tratar dos temas como verdades inquestionáveis ou, usando uma velha expressão, “fazer a cabeça” dos alunos. “Por exemplo, professores podem procurar mostrar o quanto o deslumbramento pelo consumo e pela beleza física tem poucas chances de realmente corresponder a um ideal de felicidade factível. Todavia, se os alunos permanecerem achando que os shoppings são o melhor lugar do planeta, eles têm todo o direito de fazê-lo”, afirma o psicólogo Yves de La Taille. “Acima de tudo, as individualidades precisam ser respeitadas”, diz Bologna.

Está acontecendo

Dentro da escola, cada vez mais ganha força a ideia de que ensinar conteúdos não é muito diferente de formar atitudes e valores. Quer dizer, não se resolve o problema da formação de cidadãos criando disciplinas como Educação Moral e Cívica, mas deve-se recuperar a ideia de um conhecimento mais amplo. Por exemplo, um dos grandes desafios hoje na educação da adolescência é mostrar os perigos da gravidez precoce, sem deixar de informar sobre a iniciação sexual e os relacionamentos.

Isso pode perfeitamente acontecer dentro de traba-lhos que os educadores chamam de transversais, envolvendo disciplinas diversas, como Biologia (onde se fala de hormônios e maturidade sexual) ou Português (onde se expressam os sentimentos). Outro exemplo: em tempos de consumismo desenfreado, já existem experiências em que os alunos aprendem a dosar o consumo de recursos naturais em aulas que envolvem Matemática, Ciências, Artes.

Não há receitas prontas. A regra que une os projetos é a de que eles vão além do discurso e se concretizam no cotidiano dos alunos. Ações genéricas têm pouca eficácia, dizem os educadores.

É o que aconteceu recentemente, por exemplo, no projeto Diga Não aos Maus Hábitos, desenvolvido com alunos da Educação Infantil da Escola Mágico de Oz, em São Paulo. Crianças de todas as idades se envolveram, ao longo de um semestre, em diversas situações em que o aprendizado continha boa dose de formação. Por exemplo, elaboraram gráficos sobre o tempo que seus familiares levavam no chuveiro, fizeram comparações, discutiram sobre a necessidade de economia de água. “Dessa forma, introjetaram conceitos importantes de forma muito lúdica”, diz a diretora Cláudia Tricate.

Abordagens como essa devolvem sentido ao discurso politicamente correto e são capazes de transformar posturas. Melhor ainda quando envolvem as rotinas e os comportamentos da família e colocam as crianças e os jovens como formadores de atitudes positivas.

Para encerrar

No Colégio Sidarta, também na capital paulista, alunos desenvolvem o projeto Carta de Princípios. Seus primeiros passos são pesquisar cartas de referência para os valores humanos, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Depois, elaboram sua própria carta de valores e culminam com o aprendizado com ações de voluntariado e intervenção na comunidade.

Há outros caminhos. Yves de La Taille, por exemplo, vem propondo uma abordagem diferenciada sobre valores, a partir da discussão sobre virtudes, especialmente com crianças. Sim, virtudes, como justiça, lealdade, coragem. “As virtudes incidem justamente sobre a identidade, pressupõem uma reflexão existencial. Creio que muitas pessoas veriam com bons olhos a moral se percebessem sua relação com a vida e a construção de si mesmas”, diz.

Em sua dissertação de mestrado, a professora de Educação Infantil Andréa apresentou um caso desenvolvido em uma escola particular em que as crianças trabalharam os conceitos de coragem e generosidade. Em sua pesquisa, ela descobriu que o tema desperta grande interesse e faz parte do universo das crianças, que percebem as virtudes até nos personagens das histórias em quadrinhos. “Sempre discutimos o que se deve e o que não se deve fazer. Quando se fala de virtudes, fala-se sobre o que é desejável, e as regras ganham sentido”, afirma.

E essa é a ideia-chave. Ao contrário do que muitos adultos pensam, jovens gostam, sim, de falar sobre valores. O caminho é não fugir do tema. Do que estamos falando quando cobramos determinados comportamentos? A resposta não está lá fora. Está dentro de cada um. E fazer a ponte entre o que está dentro e o que está fora é justamente o papel da Educação.

Revista Educação. Ano 9, n. 103. São Paulo: Segmento, novembro, 2005.

Para saber mais

Estação Desembarque, José Ernesto Bologna, Deleitura.

Limites – Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, Ática.

A Arte de Educar, Flávio Gikovate, MG Editores.

O Tesouro das Virtudes para Crianças, Ana Maria Machado, Nova Fronteira.

O Livro das Virtudes, William J. Bennett, Nova Fronteira.

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