Edição 26

Matérias Especiais

Administração escolar

11 maneiras de perder um aluno
por Brasílio A. Neto

Não entendo direito por que, mas perder alunos parece ser um dos objetivos de todas as escolas. Deve ser pelo visual que salas de aula vazias têm ou, então, é uma tentativa de se economizar na limpeza. Sem alunos, nada de pipoca e migalhas derrubadas na cantina. Sei lá. Hoje, as escolas fazem tanta coisa para afastar os estudantes que deve haver alguma vantagem por trás disso.
Agora, se sua escola é uma daquelas que detesta essa situação, que deseja manter os estudantes, tome cuidado para não cometer estes erros:

01. Manter uma equipe que não tem orgulho em ensinar – Poucas coisas afastam mais os alunos do que ter um “educador” burocrático, que papagueia as matérias com má vontade. Caso você tenha alguém em sua equipe que só está dando aulas por falta de opção melhor, cuidado. Passe para sua equipe a visão correta de um professor. Mostre a ela todos os motivos para se orgulhar da profissão e da instituição de ensino. Caso isso não funcione, pense em substituir aqueles que menosprezam a missão de educador.

02. Não dar atenção aos pais – O relacionamento com os pais de alunos não começa e termina na matrícula. No caso de instituições de Ensino Fundamental, você pode preparar um pequeno manual de dicas para os pais de primeira viagem estimularem a inteligência e outras habilidades dos filhos. Distribua os livretos em creches e maternidades. Isso é garantir as matrículas até 2008. Para os pais dos alunos de hoje, envie correspondências freqüentes. Informe o que seus filhos estão aprendendo, como é possível auxiliá-los no estudo em casa. Existem também outras ações menos óbvias que encantam os pais. Elabore, por exemplo, um texto com cinco passos para abater da melhor maneira possível os gastos com educação do Imposto de Renda.

03. Oferecer muito show sem conteúdo – Computadores de última geração, laboratório de química de fazer inveja à Unicamp, professores que, literalmente, fazem malabarismo, cantam, fazem mágica, etc. Ajuda, mas não permita que esses efeitos especiais tornem-se a única razão de ser de sua escola. Caso a qualidade de ensino não acompanhe as novidades ou o conteúdo programático tenha de ceder espaço para a performance dos professores, seus alunos não voltarão no próximo ano letivo.

04. Perder a unidade – Você gastou dias formulando o projeto pedagógico de sua escola, pesquisando a fundo novas e antigas teorias de ensino… e seus professores dão aula cada um de um jeito. Vamos fazer uma analogia com nosso corpo: se cada um de nós tivesse órgãos dispostos de maneira diferente, os médicos gastariam horas para se adaptar de um paciente para outro, e, no final, o resultado não seria satisfatório. Com seus alunos, acontece o mesmo. Cada professor deve ter seu estilo próprio, sua maneira de dar aula, mas não deve desviar das diretrizes principais de sua escola e do projeto pedagógico. Do contrário, isso poderá gerar estresse nos alunos e entre os membros da equipe pedagógica.

05. Acreditar que ensinar é falar muito e ouvir quase nada – Deus nos deu dois ouvidos e uma boca, o que indica que devemos usar mais os primeiros. A única maneira de você descobrir quais são realmente os anseios e temores de um aluno é fazendo-lhes perguntas e ouvindo-os.

06. Falar apenas sobre si mesmo – Sua instituição de ensino ganhou conceito “A” no MEC, tem os melhores equipamentos, localização central, frota de ônibus para transportar alunos. O prédio foi projetado por um famoso engenheiro e virou marco na cidade. Há um jardineiro trabalhando diariamente para cuidar do jardim e, principalmente, assegurar que o gramado do campo de futebol seja sempre um tapete. Falando em tapete, todos os carpetes receberam um caro tratamento antiácaro…
Se é isso que você (ou sua publicidade) fala para os possíveis alunos ou seus pais, é provável que muitos nem passem perto de sua escola outra vez. O que eles querem é uma instituição de ensino que resolva seus problemas, que forneça uma sólida formação para o mercado de trabalho, que os ajudem a atingir todo seu potencial. O foco de sua conversa não deve ser sua instituição, mas o que ela pode fazer pelo possível aluno à sua frente.

07. Confundir empatia com simpatia – É fácil entender a diferença. Ser simpático é como ser aquele vendedor de loja, sempre cheio de sorrisos e atenção. Sabe aquele tipo que está a um passo de se tornar chato, que usa expressões como “querido” e “fofinha”. Já empatia, para o professor, é a capacidade de ver cada aula com os olhos do aluno. Lógico, simpatia é importante, ninguém gosta de ter aula com um professor carrancudo. Porém, mais importante é ter, em sua equipe, educadores que percebam como anda o ritmo da aula e o ambiente da classe, que identifiquem os próprios erros e os corrijam.

08. Não procurar alunos – Já tentou achar um trevo-de-quatro-folhas no meio de um gramado gigantesco? Pois essas são mais ou menos as mesmas chances de um aluno novo entrar em sua sala pedindo que você, por caridade, permita que ele estude naquela escola, e, se precisar, paga o dobro. Analise a vizinhança. Alguma escola está fechando ou reduzindo o número de vagas disponível? Há algum prédio residencial sendo construído por perto? Existem grandes empresas nas redondezas, cujos funcionários gostariam de ter seus filhos estudando perto deles? Não espere que seus alunos venham até você.

12maneiras0109. Falar mal da concorrência – A primeira coisa que um possível aluno pensa quando um diretor ou coordenador fala mal da concorrência é: “esse cara está tentando puxar a sardinha para seu lado”. A segunda coisa é que todas as escolas da região são ruins e incompetentes (incluindo a sua). A terceira é que “daqui a pouco ele vai sair e começar a falar mal de mim também”. Ou seja, não existe benefício nenhum em denegrir a concorrência. A melhor coisa a se fazer é elogiar tecnicamente outros colégios, dizendo logo depois algo do tipo: “Mas nós temos cinco vantagens em relação a eles, que são…”.

10. Não se adaptar ao nível mental, social e cultural inicial do aluno – É simples entender. No Jardim de Infância, os professores tratam os alunos com todo o cuidado e usam uma linguagem cheia de amor e citações a coelhinhos e gatinhos. Na faculdade, o professor pode até xingar os alunos de brincadeira. Esses são exemplos extremos, existem dezenas de graduações para cada série, diferenças entre escolas de grandes centros urbanos e cidades pequenas, entre outras. De nada adianta olhar e achar que os alunos dessa escola têm jeito disso ou daquilo. Um bom diretor, orientador ou coordenador não “acha” nada: pesquisa e vai atrás da verdade. Descubra o nível de seus alunos (para isso, faça perguntas e escute-os — já leu isso em algum lugar, não?) e adapte-se a eles.

11. Transferir responsabilidades – Também conhecida como síndrome do “Não é comigo”. O aluno tem um problema qualquer, e o professor manda ele falar com o coordenador, que manda-o para o supervisor, e assim por diante, até que o pobre estudante vê-se frente à secretária municipal de ensino, que olha a papelada sobre o caso, coloca tudo num arquivo e pronto.

12. Esteja pronto para ouvir e resolver os problemas de seus alunos. É básico, por exemplo, que sua escola conte com alguém encarregado de ouvir as queixas de seus alunos. Ou, pelo menos, explicar a todos os professores que providências devem ser tomadas em cada caso. Não deixe seus alunos na mão, ou eles o farão com você.

Fonte: Este artigo foi gentilmente cedido pela Revista PROFISSÃO MESTRE, Edição 34º, pg. 7 e 8, junho/2002, uma produção da Humana Editorial.

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