Edição 25

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Alcoolismo: da Curiosidade ao Vício

coposTudo começa com um embalo de fim de semana. Um golinho aqui, outro ali, e pimba! O álcool logo provoca aquela sensação de euforia e desinibição. Parece que tudo fica mais engraçado com o pilequinho. Mas é só aparência. Com o tempo, o que era divertido pode virar uma doença. De cada dez pessoas no mundo, uma torna-se alcoólatra — ou seja, vira um escravo da bebida. A ação do álcool é devastadora em todos os sentidos: provoca doenças, causa crises familiares, está por trás da maioria dos acidentes de trânsito e prejudica o desempenho na escola e no trabalho.

Você sabia?
A venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos é proibida por lei. Quem não a respeita comete um crime previsto no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. O infrator pode ficar preso por até dois anos.

Falso prazer
O erro mais comum de quem consome álcool é associá-lo ao prazer. Se ingerida com moderação, a bebida pode até dar uma sensação instantânea de prazer e não causar tanto mal. Mas a dose deve parar por aí. Se o consumo continuar, só tende a causar problemas. Passado o breve instante de euforia, instalam-se os sintomas: sobrecarga do fígado, dor de cabeça e, mais grave ainda, diminuição dos reflexos e aumento da irritação. Isso é só o início. As conseqüências podem ser trágicas. Calcula-se que 75% dos acidentes de trânsito têm como causa o consumo de álcool. As brigas também aumentam porque bêbados ficam com “pavio curto”.
Quase todas as denúncias de mulheres agredidas, registradas nas delegacias da mulher, resultam de brigas motivadas por um parceiro alcoolizado. Lembre-se disso na próxima vez em que ouvir alguém dizer que tomar um pilequinho é divertido. A Organização Mundial da Saúde – OMS, classifica a dependência de álcool como uma doença. O alcoolismo toma forma quando alguém se torna dependente da bebida e não consegue mais viver sem ela. Está pensando que isso só acontece com os outros? Não se engane. Essa realidade está ao lado de todos: o problema atinge 10% da população mundial. Ou seja, de cada dez pessoas, uma não vive sem o álcool.

“Caindo pelas tabelas”    
Um provérbio japonês diz: “Primeiro, o homem toma a bebida; depois, a bebida toma o homem”. É uma verdade tão cristalina quanto a mais pura cachaça. Por ser sutil o limite entre o beber socialmente e a embriaguez, um descuido é o que basta para sair por aí “caindo pelas tabelas” e passar da brincadeira ao vício. O álcool, assim como o cigarro ou qualquer tipo de droga, causa dependência. Por isso, o primeiro sinal de que algo está errado é a necessidade de consumir doses cada vez maiores e com mais freqüência. Para obter os mesmos efeitos prazerosos, o organismo precisa cada vez mais de álcool. É um abismo sem fim e com efeitos terríveis para o usuário e para as pessoas que o cercam.

copo_garrafaCrises doentias
O leque de doenças de um “bebedor de carteirinha” é bastante amplo. O fígado pode ficar inutilizado (cirrose hepática), o estômago pode criar feridas (gastrite e úlcera), a pressão pode aumentar (hipertensão arterial), o coração pode ser atingido (moléstias cardíacas), e vários tipos de câncer podem surgir. Outra informação assustadora: o dependente que decide parar de beber não está a salvo. Uma das fases mais difíceis é justamente o período da abstinência. Durante essa fase de transição, a pessoa pode ter delírios, tremores, crises convulsivas e outros sintomas que levam à morte em 30% dos casos.

Brigas em família
Um dos maiores danos do alcoolismo é a destruição da família. O alcoólatra passa a viver exclusivamente em função da bebida e não consegue mais controlar seus impulsos. O resultado são brigas em casa, agressões contra filhos e a conseqüente desagregação da família. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos revelou que metade das crianças que se dirigem aos serviços psiquiátricos vem de famílias que têm parentes alcoólatras. Ampliando o círculo social, o doente também começa a apresentar rendimento ruim na escola ou no trabalho.

Causa de acidentes
O alcoólatra põe em risco a vida de outras pessoas. No Brasil, metade dos acidentes automobilísticos com vítimas fatais é causada por motoristas alcoolizados. A estimativa foi feita pela Associação Brasileira de Acidentes e Medicina de Tráfego. Isso significa que, por ano, milhares de vítimas inocentes perdem a vida nas ruas e estradas por causa de pessoas irresponsáveis que bebem antes de pegar o carro.

“Liberado geral”
Quando se fala de prevenção ao consumo de álcool, percebe-se que o Brasil não tem nada parecido com a já difundida campanha contra o cigarro. No caso do cigarro, o Ministério da Saúde determina que mensagens sobre os danos do tabaco sejam vinculadas ao produto. Já para o álcool, tudo é liberado. Por enquanto, o Ministério da Saúde não adverte sobre as conseqüências do consumo excessivo de álcool. Assim, as propagandas de bebidas alcoólicas correm soltas, para quem quiser — e até para quem não quiser — ver, sejam adultos ou crianças.

Da boca para o cérebro
Depois que o álcool deixa a sua boca, ele faz uma viagem por todo o organismo, antes de ser completamente eliminado. Acompanhe, abaixo, como é esse trajeto, seguindo a seqüência dos números de 1 a 6.

1 – Estômago 2 – Intestino
Esses dois órgãos encarregam-se da absorção do álcool e de sua distribuição pelo sangue.

3 – Fígado
Local onde o álcool é metabolizado. Quando o órgão não dá conta, vem a ressaca.

4 – Cérebro
Ao atingir o cérebro, o álcool altera as funções cerebrais. Pode comprometer o raciocínio e causar dor de cabeça.

5 – Pulmões 6 – Rins 7 – Pele
Pulmões, rins e pele são os órgãos encarregados de eliminar o álcool do organismo, por meio do hálito, da urina e do suor.

garrafaTiro e queda
O excesso de álcool faz um tremendo estrago no organismo. Tudo porque a pessoa não dá conta de processar tamanha quantidade de substâncias tóxicas. Um a um, os órgãos internos são atingidos: estômago, fígado, cérebro…
Não adianta tomar nem café, nem banho frio, nem tentar qualquer tipo de simpatia. Uma vez ingerido, o álcool começa a percorrer o corpo inteiro até ser totalmente eliminado — cerca de oito horas depois. Mas, antes, causa a popular ressaca. Depois de engolida, a bebida é absorvida pelo estômago e pelo intestino. Cai na corrente sangüínea e espalha-se por todos os órgãos, enquanto é lentamente transformada pelo fígado. Quando atinge o cérebro e o sistema nervoso, prejudica, entre outras funções, os reflexos, a fala, a coordenação motora e o julgamento. A sensação de euforia que caracteriza o pilequinho logo pode se transformar em depressão, e a pessoa tende a ficar mais infeliz. Se o consumo for exageradamente grande, sistemas vitais, como a respiração e a circulação, podem entrar em colapso — e isso pode ser fatal. Por fim, o álcool não processado pelo fígado acaba eliminado pelos pulmões, pelos rins e pela pele, em forma de mau hálito, urina e suor, respectivamente. É por isso que os bêbados exalam aquele odor desagradável de álcool.

Genes do álcool
Estudos indicam que os genes têm sua parcela de participação nos casos de alcoolismo. Certos tipos de genes permitem a determinadas pessoas beberem mais do que outras sem ficar de ressaca. Com uma tolerância maior, o viciado tende a aumentar o consumo da bebida. Um filho ou neto de um alcoólatra pode ter predisposição genética à doença. Mas isso não quer dizer que alguém esteja condenado só porque seus pais ou avós são dependentes do álcool.

A dose de cada bebida
Pinga, cerveja, vinho, uísque, vodca. Em excesso, todas essas bebidas deixam qualquer um bêbado. Mas algumas são mais fortes do que outras. As bebidas destiladas (uísque, vodca, cachaça, rum e conhaque) têm maior concentração de álcool do que as fermentadas (cerveja e vinho). O teor alcoólico do uísque, por exemplo, chega a ser cinco vezes maior do que o da cerveja.

sombraO perigo da “alcoolescência”
O álcool é a droga mais consumida pelos jovens brasileiros. É que, apesar de proibida a venda a menores de idade, encontra-se bebida alcoólica em qualquer bar. O dado preocupante é que o hábito de beber começa cada vez mais cedo. Atualmente, a garotada experimenta bebida entre 12 e 13 anos, mas esse é um dado relativo. Uma pesquisa de 1997, feita pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – Cebrid, constatou que 51,2% dos estudantes entre 10 e 12 anos, entrevistados em dez capitais do País, já tinham ingerido álcool. O início é quase sempre igual. Tudo começa com uma “experiência” em busca de diversão. Aos poucos, as doses aumentam até chegar ao abuso do álcool. Se isso acontecer com freqüência, crescem as chances de o adolescente tornar-se um futuro alcoólatra.

Salvação anônima
Uma das mais populares instituições de apoio aos dependentes de álcool é a Alcoólicos Anônimos (AA). A entidade, sem fins lucrativos, presta assistência aos doentes e seus familiares. Criada nos Estados Unidos, na década de 30, atualmente, a AA está presente em dezenas de países. No Brasil, existem cerca de 5 mil grupos da associação. A recuperação, segundo o tratamento da AA, não envolve medicamentos, mas exige um esforço supremo do viciado. São doze passos. O primeiro é o paciente reconhecer sua dependência e a perda de controle da própria vida. O último estágio é a transmissão dos princípios para outros alcoólatras. Em todas as fases da recuperação, um requisito é fundamental: é preciso encarar o álcool como um verdadeiro inimigo da vida.

Fonte: Este artigo foi gentilmente cedido pela revista semanal Lição de Casa 2000. Klick Editora, São Paulo – SP, nº II, 2000. p. 26 a 29.

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